1 Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois.
2 Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.
3 Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.
4 Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais (2 Co 11.1-4).
Introdução
A igreja de Corinto havia sido fundada pelo apóstolo Paulo. Ela era uma igreja que havia sido muito abençoada por Deus em diversos aspectos. Quando Paulo escreve aos coríntios ele reconhece que Deus havia abençoado aquela igreja com toda sorte de bênçãos espirituais, de dons espirituais, ao ponto de “não lhes faltar dom nenhum”. Corinto era uma igreja carismática, pois tinha os dons do Espírito de Deus, através dos quais desenvolvia seu serviço prestando culto a Deus e cumprindo a sua missão neste mundo. Infelizmente, esta igreja começou a desviar-se dos padrões de conduta e de doutrina que o apóstolo havia estabelecido por ocasião de sua fundação.
No texto que lemos, Paulo diz ter receio de que aquela Igreja seja enganada e não permaneça firme em Deus. Hoje, há muitos caminhos à nossa frente e muitas escolhas a serem tomadas, mas este mal não é específico de nossos dias, pois ele sempre esteve presente na humanidade e estava assombrando a Igreja de Corinto.
Paulo enfrentou muitas ideologias que estavam se propagando juntamente com o cristianismo e muitos cristãos estavam sendo enganados por estas ideologias apóstatas e abandonando a legitimidade da fé. Aconteceu com a igreja de Corinto e também com a igreja da Galáxia, os gálatas, e Paulo repreende duramente estas igrejas por darem ouvidos a heresias. Vamos tirar algumas lições desta repreensão de Paulo.
1 – A LOUCURA DO APÓSTOLO PAULO
1 Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois.
A princípio aquela igreja aceitou bem os ensinos de Paulo, mas logo começaram achar algumas coisas absurdas e começaram a achar que Paulo estava louco. Eles não foram os únicos que pensaram assim. Quando Paulo estava se defendendo diante do rei Agripa, Festo o interrompeu em sua defesa e lhe disse:
24 Dizendo ele estas coisas em sua defesa, Festo o interrompeu em alta voz: Estás louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!
A – A loucura de Deus diante dos homens
Que o Evangelho entoaria aos ouvidos humanos em som de loucura, isso Paulo vem dizendo desde o início da sua primeira carta àquela igreja:
18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1 Co 1.18).
23 mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios (1 Co 1.23).
Mas esta loucura é a única verdade e ela entoa assim não devido ser algo louco, falso, que não mereça mérito, mas o problema está nos ouvidos humanos que se corromperam com o pecado e não aceita mais as coisas de Deus.
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (1 Co 1.25).
O Evangelho passa por loucura por ele dizer que o homem é justificado e salvo pela fé, independente de obras, e isto é muito difícil de ser aceito pelo homem caído e contrário as ideologias mundanas que dizem que precisamos fazer alguma coisa para sermos salvo. Mas Paulo indaga seus leitores a refletirem sobre isso quando diz:
26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento;
27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes;
28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são (1 Co 1.26-28).
Os apóstolos achavam que dificilmente os pobres seriam salvos e que os ricos teriam maiores chances de salvação. Jesus vem e diz ao contrário e isto por um único motivo:
29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus (1 Co 1.29).
A Deus seja toda glória pela nossa salvação.
B – A loucura dos homens diante de Deus
Para defender e esclarecer a respeito de sua loucura, Paulo menciona também a loucura dos homens e a relaciona com a loucura de Deus:
19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles (1 Co 3.19).
E diz como Deus tornou vã a loucura dos homens:
19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.
20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? (1 Co 1.19,20).
Isto porque através dela os homens jamais voltariam para Deus:
21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação (1 Co 1.21).
14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1 Co 2.14).
E era justamente isso que estava acontecendo com a igreja de Coríntios, eles não estavam aceitando, entendendo, discernindo as coisas espirituais.
2 – O ZELO DO APÓSTOLO PAULO
2 Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.
Paulo, que entendia e aceitava a loucura de Deus, sabia o que significava as heresias que estavam sendo ensinadas, sabia que elas conduziam os homens para longe de Deus e sabia que a única maneira de se estar com Deus era se mantendo puro diante dele.
Paulo conhecia muito bem a loucura dos homens, pois ele mesmo, em sua idéia de zelar por Deus, perseguiu e prendeu a muitos cristãos antes dele se converter. Sabia como a loucura do homem o engana e o confunde, conhecia muito bem a natureza terrena e como o homem se perde em suas paixões carnais. Por isso, pregava o Evangelho puro, livre de impurezas que o contamina, e foi duramente perseguido por causa disso.
Por amar e pregar o amor puro, Paulo era amado pelas igrejas, que tinham um zelo especial por ele. Este zelo se tornou motivo de inveja de muitos e para usurparem este zelo é que contradiziam os ensinos de Paulo:
17 Os que vos obsequiam não o fazem sinceramente, mas querem afastar-vos de mim, para que o vosso zelo seja em favor deles (Gl 4.17).
O que estava em jogo era a salvação daquelas vidas e Paulo sabia muito bem que aquele que ouve as loucuras deste mundo despreza a loucura de Deus, que aqueles que ouvem e seguem as heresias vãs do mundo não chegarão salvos à eternidade.
Paulo zelava pela pureza da Igreja porque sabia que o esposo da Igreja, que é Cristo, ausentou-se por um tempo, mas que voltaria um dia para buscar Sua noiva e levaria com Ele, para as bodas do Cordeiro, aqueles que se mantiveram puro.
Estes e muitos outros eram os motivos do zelo excessivo de Paulo. E em Romanos ele diz:
11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor (Rm 12.11).
Ser remisso é ser descuidado, negligente, desleixado, frouxo, vagaroso, lento.
3 – A PREOCUPAÇÃO DO APÓSTOLO PAULO
3 Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.
Pelo fato de alguns estarem se desviando da loucura do Evangelho, e motivado pelo zelo que ardia em seu peito, Paulo temia que a Igreja fosse enganada e desviada da verdade.
A – O engano da serpente
Qual foi o engano da serpente? Como ela enganou Eva? Ela mudou o que Deus havia dito:
1 Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2 Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3.1-5).
O maior engano e o maior perigo é mudar o que Deus disse. Mudar o que Ele estabeleceu por estatuto perpétuo. Mudar o que Deus disse é amenizar a ira e o julgamento de Deus.
B – A astúcia da serpente
A serpente foi muito astuciosa quando inverteu o que Deus havia dito e despertou a ambição no coração de Eva. Suas ações não são diferentes hoje e Paulo adverte isso aos coríntios em outra ocasião:
10 A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia.
11 Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe.
12 Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam.
13 Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo.
14 E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.
15 Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras (2 Co 11.10-15).
Esta astúcia está presente nas ideologias de hoje. Elas pregam a paz, o amor, a alegria, o bem-estar pessoal e esquecem da pureza, da santidade, de honrar e glorificar somente a Deus.
Esta astúcia está também nas igrejas apóstatas que não mais queimam na fogueira os seguidores do evangelho verdadeiro, não mais enforcam aqueles que pregam este evangelho, mas que hoje se confunde falando a mesma linguagem, realizando os mesmos shows, cantando os mesmos louvores, só que ao mesmo tempo que fazem isso a Deus, fazem também aos seus ídolos, e isso Deus jamais vai tolerar.
8 Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura (Is 42.8).
C – As conseqüências de ouvir e atender a serpente
Adão e Eva deram ouvidos a serpente e perderam sua pureza e foram separados de Deus. Este é o temor de Paulo, que a igreja venha a perder sua pureza, pois é isso que acontece quando ouvimos a voz da serpente.
Até hoje querem nos tirar da simplicidade e da pureza de Cristo. Tentam nos convencer de que Deus é amor e que Ele não é tão rígido assim com o pecado e tentam nos induzir a uma vida de liberalidade igual a que vivem. Não consintas que tais pessoas te influenciem e te induzem ao erro.
Não deixa a serpente te enganar. Ela quer tirar o brilho de Jesus de teu coração te mostrando coisas aparentemente melhor. Até ao dia em que Eva deu ouvidos a serpente, ela não havia percebido o brilho do fruto proibido, o quanto ele era belo.
Somos filhos da luz e aonde a luz chega, as trevas se dissipam. Jamais podemos compartilhar as práticas daqueles que andam nas trevas e não agradam a Deus. Não podemos nos comportar como os pecadores. Somos filhos de Deus, criados para a obediência, por isso não podemos ter prazer no caminho do pecado, por mais atraente que ele nos pareça.
É necessário cuidar do coração, dos desejos, das paixões, para que não venhamos a desejar as panelas de carne do Egito. Aquilo que para o mundano parece não fazer nenhum mal, é venenoso para a vida cristã.
A Palavra de Deus nos chama a viver vidas santas e retas. Nos chama a aborrecer o pecado e se necessário, tomar as devidas providências para que ele não tenha livre acesso em nosso meio, nas nossas vidas, nas nossas famílias. Tomar a providência necessária em amor, em espírito de brandura, olhando para nós mesmos para que não sejamos também levados pelo pecado.
Cuidado com os cochichos do diabo em nossos ouvidos como: Você ainda segue a Bíblia? Ela é ultrapassada; escrita por homens; hoje a onda é outra. Querem colocar em nossa mente e em nosso coração de que não vale a pena ser fiel. É necessário vivermos em constante estado de alerta, senão, de repente, por alguma distração, podemos nos ver enganados pela serpente.
4 – A EXORTAÇÃO DO APÓSTOLO PAULO
4 Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.
Paulo expressa sua tristeza pelo fato daquela Igreja estar dando ouvidos as heresias que estavam sendo pregadas na época. Eles recebiam o evangelho com pedras nas mãos, enquanto que seus braços estavam abertos para as heresias.
Estamos vivendo uma época em que o Evangelho está cada vez mais sendo recusado, seja por rejeição plena ou por relativização e sincretismo. Hoje se diz que a verdade é relativa e que cada pessoa tem sua própria verdade. Estamos vivendo a relativização dos valores morais. Hoje se diz que a vida de cada um é governada por aquilo que a pessoa sente que é melhor. Se a pessoa está se sentindo bem em determinado lugar, se algo está fazendo-lhe bem, então, não importa outras questões, outros critérios. O critério que é usado é sentir-se bem e isso passa a ser o principal para governar a conduta das pessoas.
Esses conceitos têm predominado em nossa sociedade e em muitas igrejas. A relativização está presente na mídia, nas músicas, nos escritos modernos, nas universidades, nos debates da ética e da moralidade e na boca dos formadores de opinião pública nacional. Tudo isso acaba minando a vida da igreja. Mas temos de fazer a escolha. É um momento sério de decisão da Igreja, se vamos viver à luz da Palavra de Deus e de seus valores absolutos ou se vamos nos deixar levar pelos ventos de doutrina.
Até hoje querem nos confundir quanto a nossa fé. Começam a nos questionar quanto a existência de Deus: Se Deus existe mesmo por que nunca ninguém o viu?
Mas não questionam somente a existência de Deus, colocam em dúvida Suas obras e Sua vontade Soberana: Se Deus existe mesmo e é tão bom, por que existe céu e inferno? Por que tantos sofrem?
É difícil para a mente humana entender Deus em toda a Sua Soberania. Por que Ele escolheu o mais novo ao invés do mais velho? Por que escolheu um trapaceiro no lugar de um equilibrado. Não sabemos, são escolhas do Altíssimo. Nosso papel é somente crer neste Deus imensurável. Se Deus não tivesse o direito de fazer estas coisas, não seria Deus. Seria apenas alguém refém do homem, um belo mordomo às nossas ordens.
Conclusão
Não se deixe enganar. Não deixe que nenhuma serpente te engane. Foi o que ela fez no paraíso e continua fazendo até hoje. Paulo era detentor do verdadeiro evangelho e seu zelo excessivo por ele o consumia, mas ele nunca desistiu. Não desista também e nunca se esqueça do que ele disse aos Gálatas:
6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (Gl 1.6-9).
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com