54 E,
quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é
mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está
escrita: Tragada foi a morte pela vitória.
55
Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
56 O
aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
57
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo (1 Co 15.54-57).
Introdução
A
morte é uma das maiores e mais dolorosas realidades da vida. Para que venhamos
a perceber o sentido da vida entender o significado da morte é de extrema
importância. E qual é o significado da morte? Por que ela é presente neste
mundo? O que a morte representa para o ímpio? E o que ela representa para o
crente? Encontrar as respostas a estas perguntas nos fará desfrutar de uma
segurança suficiente para morrer e de uma esperança suficiente para viver,
porque veremos que a morte nada mais é do que uma maldição resultante do
pecado, mas Deus a transforma em bênção para o Seu povo.
É
impressionante a mistura que existe neste mundo entre a morte e a vida. Ela
pode ser vista na futilidade da busca pelos prazeres do mundo por uns, enquanto
a realidade da morte assola a outros; na loucura dos homens que vivem para
satisfazer seus caprichos, enquanto muitos ficam prostrados e abatidos pela
morte. O fato é que, nada é mais certo a respeito da vida do que a morte, mas é
impressionante o quanto os seres humanos conseguem ocultar de si mesmos essa
verdade. Boettner disse:
Há, dentro de nós, uma espécie de sentimento de imunidade em relação à
tragédia e a morte (BOETTNER, Imortalidade. P.10).
Quando
somos jovens, a vida parece radiante e a morte distante. Ano após ano a vida prossegue,
vivemos nosso dia a dia, fazemos planos e nos envolvemos em muitos projetos.
Frequentemente vemos na televisão que pessoas estão morrendo, mas em seguida
retornamos para a nossa vida normal e tudo sobre a morte foge de nossa mente.
Também, de repente, morre um querido ou um conhecido, e vamos ao funeral, vamos
ao enterro, confortamos a família, e ficamos alguns momentos abalados com a
morte, mas logo continuamos nosso trabalho e voltamos à normalidade da vida, a
rotina do dia a dia. Mas, subitamente, a morte bate à porta de nossa casa,
levando um de nossos entes queridos, quando, então, uma tremenda tristeza cai
sobre nós e uma imensa confusão se estabelece em nossa mente, surgindo de toda
essa agonia uma pergunta: por que isso tinha de acontecer? É o abalo que a
morte provoca. Precisamos estar preparados para aquela que é a mais certa da
vida e apesar dos horrores que ela provoca, a morte pode ser encarada de uma
forma mais prática quando meditamos sobre ela.
01 – A ORIGEM DA MORTE
Por
que a morte adentrou à criação de Deus? A Bíblia mostra com muita claridade que
a morte entrou no mundo como consequência do pecado. Quando Adão e Eva foram
criados e colocados no Jardim do Éden, Deus lhes fez uma única exigência:
16 E o
SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente,
17 mas
da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn
2.16,17).
A
morte é uma anomalia, ela não faz parte da criação original de Deus; ela é uma
intrusa. Por isso que, quando conversamos sobre a morte, sentimos um grande
desconforto, de forma que muitos fogem, cortam, evitam o assunto apesar dela
ser tão presente em nossas vidas. E no texto acima vemos a razão da existência
da morte: O homem comeu do fruto que não lhe era permitido comer.
Claro
que Adão e Eva não morreram, fisicamente, logo depois de comerem do fruto
proibido, pois ainda viveram por centenas de anos. Esta expressão “no dia em
que dela comeres, certamente morrerás” é, na verdade, uma expressão idiomática
da língua hebraica que significa “se você comer você vai morrer com certeza”.
Deus estava apenas garantindo que a morte viria, mas não estava se referindo ao
momento. E Paulo diz:
12
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram (Rm 5.12).
Se
não houvesse pecado, não haveria razão para pensar que a morte existiria e
tanto o homem quanto a criação foram amaldiçoados pela Queda. Paulo nos mostra
isso quando diz:
20
Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na
esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção,
para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
22
Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta
angústias até agora (Rm 8.20-22).
Paulo
está falando aqui que a criação é prisioneira da corrupção por causa da entrada
do pecado no mundo. Não há como fechar os olhos para a morte, ela é a realidade
mais concreta que conhecemos. A morte tornou a vida muito breve e esta é uma
declaração de causar uma tremenda inquietação. Pedro nos fala sobre isso:
24
Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor (1
Pd 1.24).
E
o Salmo de Moisés contrasta a eternidade de Deus com a temporalidade do ser
humano:
2
Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade, tu és Deus.
3 Tu reduzes o homem ao pó e dizes:
Tornai, filhos dos homens.
4 Pois
mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília
da noite.
5 Tu
os arrastas na torrente, são como um
sono, como a relva que floresce de madrugada;
6 de madrugada, viceja e floresce; à tarde,
murcha e seca (Sl 90.2-6).
Não
somos imortais enquanto estivermos neste corpo corrompido pelo pecado. Nossa
alma sim é imortal, mas ela não pode, no momento, viver para sempre neste corpo
mortal. Ela tem de se separar dele quando chegar o momento.
2 – A MORTE E SEUS
SIGNIFICADOS
Vimos
que a origem da morte foi a Queda do homem, sendo ela consequência do pecado,
mas a morte não é uma consequência natural do pecado. Isso porque, se não
houvesse pecado, não haveria a morte. Nesse sentido a morte não é natural, mas
um desvio. Berkhof diz:
A morte não é descrita como algo natural na vida do homem, mera falha de
um ideal, e sim, assaz decisivamente como algo alheio e hostil à vida humana
... e enche os corações dos filhos dos homens de temor e tremor, justamente
porque é tida como uma coisa antinatural (BERKHOF, Teologia Sistemática, p.
676).
Então,
como podemos considerar a morte? Como uma imposição penal de Deus em relação à
desobediência do homem. A morte, portando, antes de qualquer outra coisa, é uma
punição de Deus, não somente ao homem, mas em toda a criação. E Paulo confirma
isso quando diz:
23
porque o salário do pecado é a
morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor (Rm 6.23).
A
morte é a doença e Jesus Cristo a cura. Mas quando pensamos em morte,
precisamos, precisamos entender que há três sentidos para ela: espiritual,
física e eterna e estudaremos cada uma delas. Vamos começar com a morte
espiritual.
A – A Morte Espiritual
O
que é a morte espiritual? É a separação de Deus e a incapacidade de agradá-lo.
Este é um dos sentidos da morte que Deus estava se referindo quando disse a
Adão a respeito do fruto da árvore proibida: “no dia em que dela comeres,
certamente morrerás”. Todos os dias Deus vinha e conversava frente a frente com
Adão e este nunca fugiu de Sua presença, até o dia em que comeu da fruta
proibida e, no mesmo dia, vindo Deus conversar com ele, o que aconteceu? Fugiu
e tentou se esconder da presença de Deus. Hoekema diz:
Uma vez que, de acordo com as Escrituras, o significado mais profundo da
vida é a comunhão com Deus, o significado mais profundo da morte tem de ser a
separação de Deus (HOEKEMA. A Bíblia e o Futuro. P.108).
E
foi isso que aconteceu com Adão e Eva no mesmo dia em que pecou. Após comerem
do fruto da árvore proibida, tanto Adão como Eva tomaram consciência de sua
nudez e fugiram da presença de Deus, tentando se esconder entre as árvores do
Jardim:
6
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e
árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe
do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
7 Abriram-se, então, os olhos de ambos;
e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para
si.
8
Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração
do dia, esconderam-se da presença do
SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim (Gn
3.6-8).
A
comunhão estava quebrada! Adão e Eva experimentaram a morte espiritual. E essa
morte é a forma como todos os descendentes de Adão e Eva vivem hoje, ou seja, a
forma como eu e você vivemos. Paulo confirma isso quando diz:
1 Ele
vos deu vida, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados,
2 nos
quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
3
entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações
da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por
natureza, filhos da ira, como também os demais (Ef 2.1-3).
Morto
espiritual é o estado em que o homem se encontra sem Cristo, o qual resgatou a
comunhão perdida lá na Queda, pois não consegue agradar a Deus e nem sequer dar
um único passo em direção a Deus por vontade própria. Isso porque esse estado
de morte espiritual torna o homem completamente cego e incapacitado de ir até
Jesus Cristo sem que antes Deus realize uma obra de Sua livre graça no coração
do homem, mudando seu coração e sua disposição. Jesus confirma isso quando diz:
44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me
enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.44).
Somente
depois dessa ação de Deus o homem consegue se voltar para Deus. Chamamos isso
de conversão. Portanto, conversão não é entrar em uma religião, mas é ouvir e
atender ao chamado de Deus. Aí sim, revitalizamos a nossa comunhão com Deus.
Por isso a conversão é uma ressurreição espiritual, pois aqueles que ouvem a
voz do Filho de Deus e atende ao chamado do Evangelho passa da morte para a
vida:
24 Em
verdade, em verdade vos digo: quem ouve
a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida
(Jo 5.24.
B – A Morte Física
O
que é a morte física? Nada mais do que a separação entre a alma e o corpo. É
dessa forma que a morte deve ser entendida neste sentido. Tiago menciona isso:
26
Porque, assim como o corpo sem
espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta (Tg 2.26).
Lembra
quando Deus criou o homem? Foi assim:
7
Então, formou o SENHOR Deus ao
homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem
passou a ser alma vivente (Gn 2.7).
O
corpo Deus fez do pó da terra e o espírito veio de Seu sopro. Deus uniu corpo e
alma. Na Queda o homem foi punido com a morte e a separação entre corpo e alma
compõe o elemento punitivo da morte. O que Deus uniu acaba sendo separado:
corpo e alma. E é neste ponto em que se cumpre a Palavra de Deus dirigida ao
homem após seu pecado:
19 No
suor do rosto comerás o teu pão, até que
tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3.19).
Salomão
confirma isso em Eclesistes:
20
Todos vão para o mesmo lugar; todos
procedem do pó e ao pó tornarão (Ec 3.20).
Precisamos
entender que até o momento daquele corpo de terra receber um espírito, ele não
passava de uma estátua. Por isso a vida não está no corpo, mas sim na alma. Por
isso que o espírito não vira pó como o corpo, porque ele é eterno; e com a
morte cada um deve voltar para as suas origens:
7 e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu (Ec
12.7).
Mas
a Bíblia ensina que Jesus Cristo salva o homem todo: corpo e alma. E é
justamente por isso que a ressurreição marca a consumação da redenção do homem.
Deus criou o ser humano com duas partes constituintes, a espiritual e a física,
e por essa razão a alma que se separou de seu corpo por causa da morte, não
encontrou, no além, o seu destino final, pois este final será somente no dia da
ressurreição do corpo, quando o ser humano completo ressurgir em corpo e alma.
A
crença em que o destino final do ser humano é habitar, incorpóreo, em algum
lugar do universo imaterial faz parte da mitologia grega e não das Escrituras.
A crença de que a alma retorna em outros corpos até ser purificada faz parte do
espiritismo e não das Escrituras, pois não pode existir vários corpos e uma
alma, mas sim uma alma para cada corpo, afinal, na ressurreição, cada alma
receberá o seu corpo ressurreto. E assim como não existe vida no corpo sem a
alma, o espírito sem o corpo não tem sentido de ser. Além do mais a Bíblia
afirma:
27 E,
assim como aos homens está ordenado
morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9.27).
A
morte física é a separação entre corpo e alma, ela é a punição de Deus pela
desobediência do homem, mas esta punição o atinge apenas uma única vez, vindo
depois disso o juízo de Deus, tanto na alma como no corpo, pois ele se
consumará somente depois da ressurreição.
Há
duas coisas que estão absolutamente nas mãos de Deus: A vida e a morte. Nenhum
ser humano tem qualquer controle sobre eles, nem um médico, por mais
especialista que seja, nem um cientista, por mais conhecimento que tenha e nem
qualquer autoridade, por mais poderoso que seja, possuem qualquer influência
tanto na vida como na morte. E Jesus estava se referindo a isso quando disse:
27
Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida (Mt 6.27)?
C – A Morte Eterna
E
o que é a morte eterna? É a mais terrível de todas as mortes, pois ela é a
separação definitiva de Deus. A morte eterna é a consumação da morte espiritual
e da morte física e esta morte se realizará no inferno. Por isso que o inferno
é tão terrível. Quem for para lá, nunca mais desfrutará da presença benéfica de
Deus. Muitos dizem que o inferno é aqui. Ora, esse mundo, apesar de cruel e
violento, não chega nem perto do horror do inferno, pois aqui ainda desfrutamos
de chuvas, do sol, de lindas belezas naturais e o homem ainda nos surpreende
com coisas boas. Tudo isso são bênçãos pela presença de Deus, o que faz desse
mundo perverso um lugar habitável. Nenhuma dessas bênçãos existirão no inferno,
pois a única presença de Deus no inferno será como Juiz. Falando da morte
eterna, Berkhof diz:
As restrições do presente desaparecem, e a corrupção do pecado tem a sua
obra completa. O peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, e isto
significa morte no sentido mais terrível da palavra (BERKHOF, Teologia
Sistemática, p. 262).
Há
um consolo na morte eterna. A morte espiritual atingiu a todos, sem exceção.
Também a morte física atinge a todos, apenas não passarão por ela aqueles que estiverem
vivos na volta de Cristo, os quais terão seus corpos transformados. Mas a morte
eterna não é para todos, pois ela atingirá somente aqueles que não estão em
Cristo. É para não ser alcançado pela morte eterna que o homem precisa de um
novo nascimento, conforme Jesus mesmo afirmou:
3 A
isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo
3.3).
E
Paulo confirma isso:
17 E,
assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (2 Co
5.17).
Portanto,
quem nasce uma vez somente (nascimento natural), morre duas vezes (morte física
e morte eterna), mas quem nasce duas vezes (nascimento natural e espiritual),
morre apenas uma vez (morte física).
A
morte eterna sempre deve ser associada com o inferno. Durante essa vida, embora
a maioria das pessoas vivam em estado de morte espiritual, Deus concede muitas
bênçãos a elas e restringe a maldade do ser humano mediante a graça comum. No
entanto, na morte eterna, isso não ocorrerá mais, o que a torna a mais terrível
das mortes.
3 – A MORTE: O ÚLTIMO INIMIGO
A CAIR
A
morte é o pior de todos os inimigos do ser humano. No capítulo 15 de 1
Coríntios, Paulo, falando a respeito da morte e ressurreição, disse:
24 E,
então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver
destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.
25
Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo
dos pés.
26 O último inimigo a ser destruído é a morte
(1 Co 15.24-26).
E
Jesus conhece muito bem esta inimiga, pois já se encontraram antes e Ele
conheceu em si mesmo os poderes da morte. Mas o abalo da morte também pode ser
visto em outro episódio na vida de Cristo: na ressurreição de Lázaro.
33
Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se.
34 E
perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê!
35 Jesus chorou (Jo 11.33-35).
Qual
teria sido o motivo de Jesus ter chorado? Certamente não era por causa das
mazelas da vida. Jesus não precisaria chorar para ressuscitar a Lázaro. Na
verdade, o choro de Jesus era o choro de alguém que sabia o quanto a morte
havia deteriorado a criação perfeita de Deus. Era o choro de alguém que não se
conformava com a morte, esta intrusa da Criação de Deus, este desvio da Criação
que levou Deus a aplicar tal punição. Mas tarde, Ele próprio experimentou a
fúria da morte dependurado no madeiro. Jesus, mais do que ninguém, sabe o significado
da morte. Entretanto, três dias depois, na maior demonstração de poder depois
da Criação, o Senhor derrotou a morte ressuscitando gloriosamente. A partir
daquele momento, os dias da morte estão contados, porque, assim como em Adão
todos morreram, em Cristo seremos glorificados:
21
Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.
22 Porque,
assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Co 15.21,22).
E
essa promessa de vitória sobre a morte descansa sobre a vitória de Cristo. Ao
ressuscitar, Jesus abriu o caminho para a vitória sobre a morte e agora
poderemos transitar por ele.
20
Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem (1 Co 15.20).
A
ressurreição de Jesus garantiu a vitória sobre a morte, porém, ainda falta o
dia em que ela será totalmente derrotada. Jesus já venceu a morte uma vez e, na
segunda vinda, Ele a destruirá completamente. Em breve, o último inimigo cairá
definitivamente. Até mesmo Satanás, o grande inimigo de Deus, encontrará sua
derrota final antes de Deus destruir a morte.
4 – A MORTE: UM MAL
TRANSFORMADO EM BEM
Você
pode estar perguntando: Mas como a morte pode ser um bem? A afirmação de Paulo
responde muito bem a esta pergunta:
21
Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.
23
Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor (Fp 1.21,23).
Se
a morte não tivesse algo de bom, Paulo não diria estas palavras. O fato é que a
morte não é uma imposição penal sobre os crentes, pois apesar da morte ser um
mal, afinal é uma intrusa, Deus pode transformá-la em bem, uma vez que é
através dela que Ele leva os crentes para perto dele. Outra razão de a morte
dos crentes não ser considerada como punição também está nas palavras de Paulo:
1
Agora, pois, já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).
E
ainda diz:
38
Porque eu estou bem certo de que
nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do
presente, nem do porvir, nem os poderes,
39 nem
a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor (Rm 8.38,39).
Deus
poderia trasladar todos os cristãos para o céu como fez com Enoque e Elias, sem
que passassem pela morte. Porém, Deus resolver deixar que a natureza seguisse o
seu curso normal, pois apesar de nascidos de novo pelo Espírito, nossos corpos
ainda são decaídos, uma vez que, com o novo nascimento, nosso corpo não é
aperfeiçoado como o é nosso espírito, e a prova disso é que continuamos
adoecendo.
Nesse
sentido, a morte do crente realmente ainda tem um sentido negativo, mas possui
um aspecto imensamente positivo: ela abre as portas para a eternidade. No
momento da morte, a alma fica livre de todo peso da corrupção, e passa a
aguardar o dia quando for reunida ao corpo aperfeiçoado da ressurreição, porque
ambos, corpo e alma, foram feitos para permanecer unidos. A alma precisa do
corpo para se expressar, e o corpo precisa da alma para agir. Somente juntos,
glorificados, serão completamente felizes.
Por
isso que a morte para o crente é o portal para uma situação imensamente melhor
do que a presente. Por essa razão, a atitude dos crentes perante a morte deve
ser totalmente diferente da atitude do mundo que não tem esperança. E não
devemos nos esquecer que é por causa da obra vitoriosa de Jesus Cristo que
podemos desfrutar de uma segurança maravilhosa que descrentes desconhecem. Veja
que consolo a Bíblia nos fornece:
13
Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim,
diz o Espírito, para que descansem das
suas fadigas, pois as suas obras os acompanham (Ap 14.13).
Na
Soberania e graça de Deus, a morte do crente é um mal transformado em bem.
Conclusão
O
crente não tem motivos para se esquivar de tratar do assunto da morte. Afinal,
para ele, ela não marca um momento de desespero pela expectativa do severo
juízo de Deus, mas a transição para a maravilhosa companhia do Senhor Jesus
Cristo. Uma vez que a Palavra de Deus garante a vitória de Cristo sobre a
morte, e que essa vitória também será nossa, não precisamos teme-la, mas
devemos viver neste mundo conscientes de nossa transitoriedade, em contraste
com a eternidade de Deus. Desfrutemos da paz que o Senhor oferece, pois,
mediante a Obra de Cristo, podemos ter segurança suficiente na hora de morrer e
esperança suficiente para continuarmos a viver, porque a morte para o crente
não é uma imposição penal, mas o reencontro com o Senhor. Concluo contando uma
história de autor desconhecido que nos ajuda a entender o que é a morte:
Eis-me
numa praia. Um barco, perto de mim, abre as velas brancas ao vento e parte em
direção ao alto mar. Este barco é belo e forte. Fico ali de pé, a contemplá-lo,
até que por fim parece como uma pequenina mancha, lá longe, precisamente no
sítio em que o mar e o céu parecem juntar-se. Alguém, ao meu lado, diz, nesse
momento: Desapareceu. Desapareceu para onde? Desapareceu da minha vista, eis
tudo. Continua a existir da mesmíssima maneira que existia quando partiu de
junto de mim; e continua tão capaz, como antes, de levar a sua carga ao porto
de destino. O seu tamanho diminuiu para mim, nada mais; e, precisamente no
momento em que alguém diz, ao meu lado, desapareceu, noutra praia, lá longe, há
outros olhos que esperam a sua chegada; e é assim a morte.
Que
o Senhor te abençoe e que estas palavras venham confortar e fortalecer seu
coração. Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia
Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada
no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Leandro Antonio de Lima.
Revista Expressão: Estudos Bíblicos Sobre
o Final dos Tempos, O que devemos saber e que diferença faz. São Paulo:
Editora Cultura Cristã.
Loraine Boettner: Imortalidade. Lisboa: Edições Vida Nova,
1957.
Louis Berkhof: Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para
o Caminho, 1992.
Anthony Hoekema: A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1989.