13 Sucedeu um dia, em que
seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa do irmão primogênito,
14 que veio um mensageiro a
Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles;
15 de repente, deram sobre
eles os sabeus, e os levaram, e mataram aos servos a fio de espada; só eu
escapei, para trazer-te a nova.
16 Falava este ainda quando
veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos,
e os consumiu; só eu escapei, para trazer-te a nova.
17 Falava este ainda quando
veio outro e disse: Dividiram-se os caldeus em três bandos, deram sobre os
camelos, os levaram e mataram aos servos a fio de espada; só eu escapei, para
trazer-te a nova.
18 Também este falava ainda
quando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo
vinho, em casa do irmão primogênito,
19 eis que se levantou
grande vento do lado do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu
sobre eles, e morreram; só eu escapei, para trazer-te a nova.
20 Então, Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e
lançou-se em terra e adorou;
21 e disse: Nu saí do
ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito
seja o nome do SENHOR!
22 Em tudo isto Jó não
pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma (Jó 1.13-22.
INTRODUÇÃO
Todos,
sem exceção, vivenciamos a dor e o sofrimento em muitos momentos da vida. Neste
ponto não há distinção entre um e outro, pois todos nós estamos susceptíveis à
dor e ao sofrimento, independente de nossa situação social. Mark W. Baker, em
seu livro: Como Deus cura a dor, diz:
Sofrer não é uma opção, pois muitas
vezes o sofrimento se impõe.
Então,
se estamos procurando uma solução para a dor e o sofrimento que nos aflige,
temos que descartar a possibilidade de sua eliminação da nossa vida, por mais
que venhamos a implorar isso a Deus, porque a dor e o sofrimento na vida são
inevitáveis; a distinção que existe entre uns e outros neste ponto é a forma
como lidamos com eles. Mark Baker diz:
Mas a forma de sofrer é uma escolha nossa. Contudo,
independente da forma escolhida, devemos aprender a melhor maneira de sofrer se
quisermos fazer da dor uma ferramenta para o nosso crescimento.
Deus,
na Sua infinita graça e sabedoria dá-nos a capacidade de lidar com a dor.
Contudo, quando nos aproximamos de Deus com a nossa dor devemos estar
conscientes de que os seus métodos de cura nem sempre são aqueles com os quais
contamos e seu agir nem sempre é da forma como queremos. Aprender como Deus
lida com a nossa dor é um passo muito importante para a superação do nosso
sofrimento e com certeza isso vai promover nosso crescimento e nossa felicidade,
pois apesar de nos surpreendermos com os métodos sublimes de Deus, o poder
curativo de seu amor é inquestionável, não sendo encontrado remédio melhor.
01
– A DOR PROVOCA EM NÓS PROFUNDAS TRANSFORMAÇÕES
Qual
a consequência do sofrimento na vida? Responder a essa pergunta talvez seja até
fácil, o difícil é esclarecer sua resposta para quem está afetado por algum
trauma. Noemi saiu de sua terra natal e foi peregrinar em uma terra estranha
por causa da fome com seu marido e seus dois únicos filhos. Lá morreram seu
marido e também seus filhos. Transtornada pela dor volta a sua terra natal e
diz:
Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara (que quer dizer águas
amargas), porque grande amargura me tem
dado o Todo-Poderoso (Rt
1.20).
Palavras
de uma mulher traumatizada, transtornada pela dor. O Apóstolo Paulo foi um homem
que soube o que é sofrer. Homem que era perseguido e maltratado por causa do
Evangelho por onde quer que fosse. Mas este homem, apesar de todo seu
sofrimento dizia:
Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa
de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi
todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Fp
3.7).
Dois
exemplos, dois resultados diferentes. Fato é que o sofrimento pode nos
transformar em uma pessoa tanto melhor como pior. Conheço muitas pessoas
vitoriosas, de caráter (este lapidado pelo sofrimento), mas também conheço
muitas que se tornaram amargas por causa da dor, consequências de algum trauma
sofrido na vida. Difícil entender as implicações da dor e do sofrimento em
nossas vidas. Mark Baker, diz:
A dor é uma força poderosa que nos empurra para uma determinada direção.
Ela pode nos guiar para a maturidade e a sabedoria ou para o desespero e a
alienação.
O
caminho a seguir depende da decisão tomada diante da dor. Mas isso não torna o
sofrimento um vilão, em algo totalmente maléfico para a vida. Tiago confirma
isso quando diz:
Meus irmãos, tende
por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a
provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1.2,3).
As
palavras de Tiago vão contra a maioria de nossas orações. Apreciamos mesmo é o
“livra-nos do mal” (Mt 6.13). Apesar
de odiarmos sofrer, Tiago fala o quanto o sofrimento pode beneficiar nossa
formação. Portanto, não é o fato de sofrer que nos torna uma pessoa feliz ou
amarga, mas as atitudes que tomamos diante do sofrimento farão o diferencial na
transformação que a dor gerará em nossa vida. Nosso posicionamento diante da
dor fará toda a diferença. Não temos a opção de escolha no tipo de sofrimento
para enfrentar na vida, mas podemos escolher a direção a seguir na hora da dor.
E o que fazer na hora da dor para ir na direção certa?
A)
Lembre-se de que não estás sozinho
Sentir-se
abandonado por Deus na hora do sofrimento é quase que impossível, todavia este
sentimento nem sempre é uma declaração de falta de fé, pois ele pode ser um
sentimento natural de um ser decaído e incapaz, no qual se tornou o homem sem
Deus, mas também um sentimento que demonstra nossa insegurança e nossos medos
diante de um gigante que é a dor e o sofrimento. Este sentimento nos faz sentir
sozinhos e abandonados à mercê de nossa dor e esta sensação de solidão nos leva
ao desespero. Creio que nenhuma palavra expressa o mais completo abandono
quanto às ditas por Jesus na cruz quando disse:
Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste
(Mt 27.46)?
Jesus
assim bradou porque se sentiu sozinho naquela cruz. E isso aconteceu porque,
naquele momento, Ele estava nos representando em sua missão de resgatar o homem
perdido, algo que somente Ele poderia fazê-lo. Portanto, se em algum momento de
dor você já se sentiu sozinho e abandonado lembre-se de que o próprio Senhor
Jesus já experimentou esse tipo de dor e, por isso, Ele saberá o que fazer e
como ajuda-lo.
Apesar
de sentir-se desamparado e só na hora do sofrimento ser um sentimento natural
de um ser que tem grande tendência de viver se lamuriando diante de Deus,
precisamos lidar com ele corretamente, porque certamente conseguiremos superar
a dor, desde que não estivermos atravessando sozinho o deserto árido do
sofrimento. A coisa mais importante que Deus nos concede para que a dor e o
sofrimento nos aproximem dele e não nos afaste ainda mais é a sua presença. Davi
dizia:
Na
minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao
meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe
penetrou os ouvidos (Sl 18.6).
Davi
buscava a presença de Deus na hora do sofrimento e foi socorrido por Ele. E Jó,
depois de sua angústia disse:
Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me
arrependo no pó e na cinza (Jó
42.5,6).
A
presença de Deus na vida destes homens foi o diferencial para suas vitórias.
Portanto, quando estiveres sofrendo, volte-se para Deus e deixe que Ele seja a
sua força. Não sofra sozinho! Não guarde rancor! Deus não deseja isso e promete
estar presente para nos sustentar na hora da tribulação.
B)
Não precisa ficar calado diante da dor: Grite
Gritar
na hora da dor não é errado e nem pecado. Sofrer calado é muito perigoso! Jó é
conhecido pela sua paciência, mas se tem uma coisa que Jó não ficou foi calado
diante da dor. Constantemente ele expressava sua dor e seu sofrimento a Deus.
Ele dizia:
Os meus olhos se
desfazem em lágrimas diante de Deus (Jó
16.20). Por isso, não reprimirei a boca, falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma (Jó 7.11).
Davi
foi o homem segundo o coração de Deus, mas também não se calou diante da dor.
Ele dizia:
Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago (Sl 6.6). Por pão
tenho comido cinza e misturado com
lágrimas a minha bebida (Sl 102.9).
E
o profeta Jeremias dizia ao Senhor:
Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e
não admite cura? Serias tu
para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam (Je 15.18)?
Como
nos identificamos com Jó, Davi e Jeremias em muitos momentos da vida! Na hora
da gratidão expressamos louvor e sentimos Deus nos acolher em seus braços e
ouvimos a voz dele falar ao coração, mas na hora do desespero, quando clamamos,
às vezes a sensação que temos é de encontrar uma porta fechada e tudo que
conseguimos ouvir é o barulho de uma tranca sendo passada na porta. Aí dizemos
como o salmista:
Por que, SENHOR, te conservas longe? E te escondes nas
horas de tribulação (Sl 10.1)?
O
silêncio de Deus nos perturba! A demora de Deus deixa-nos inquietos! A falta de
urgência de Deus nos deixa no mais completo desespero! Entretanto, Deus não
está inerte, Ele apenas lida com a nossa dor de uma forma que não entendemos e
até mesmo não aceitamos no momento, mas no final, quando Deus completa a sua
ação, enxergamos o quanto Ele esteve conosco e como nos amparava em todo
momento. Só não o víamos por causa do nosso censo de urgência, porque a Bíblia
diz que Deus:
Não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o
rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro (Sl 22.24).
C)
Deus não nos livra da dor, mas nos capacita a lidar com ela
Deus
não acaba com o nosso sofrimento, mas nos ampara nas tribulações. Ele faz algo muito
melhor que o livramento, ele nos dota de força e de recursos para enfrentar o
gigante do sofrimento, porque Ele sabe que este confronto pode nos transformar
em pessoas melhores, mais fortes, resistentes, e não destruídos pela dor.
O
aprendizado com a dor e o sofrimento é como o desenvolvimento com as
frustrações. Quantas vezes na vida não somos afetados pela frustração? Quantas
vezes não somos impedidos de atingir as nossas realizações? Quantas vezes não
somos bloqueados em nossa motivação por barreiras que surgem ao longo da vida e
que nos impede de alcançar nossos objetivos? A frustração causa uma
desestruturação emocional em vários níveis que acarreta consequências muito sérias
na vida. Mas é a partir das experiências frustradas que mais aprendemos e
crescemos na vida. Entretanto, a frustração pode também dominar uma vida e
deixa-la completamente sem ação, sem reação e a faz desistir de seus sonhos e a
lança na cova da autocomiseração.
Sei
que é muito sufocante quando nossas necessidades parecem inesgotáveis, que por
mais que lutamos mais elas surgem, sei que não é fácil ter fé quando não
sabemos o que esperar, mas não podemos permitir que sejamos dominados pela
desesperança, não podemos consentir que o sofrimento nos transforme em pessoas
amargas e revoltadas com a vida. Digo que mesmo desanimado e, talvez, revoltado
com Deus, precisamos escolher o caminho da vida e não o da morte, o caminho da
superação e não o da desistência, porque Deus, de algum modo, nos dará forças
para sobreviver. Isso nos colocará em um processo de transformação rumo ao
crescimento.
Nossa
luta contra a desesperança e a frustração é diária, a convivência com os
traumas da vida pode perdurar até ao fim de nossos dias e a coisa mais certa
nesta vida são as dificuldades, a dor e muito sofrimento. Que Deus nos capacite
a lidar com as mazelas da vida e não permita que venhamos a ficar prostrados no
meio do caminho, lamuriando e derrotados pelas tribulações da vida, mas que seu
agir em nossas atitudes nos transforme em vencedores e assim venhamos a
resistir até a consumação de nossos dias esperando pela vitória final porque
ela é certa. Lembre-se de Noemi que passou pelo trauma da fome, da
peregrinação, do trauma de perder seu marido, perder seus dois únicos filhos,
tanto que quando retornou para sua terra exprimiu a sua amargura com Deus. Mas
não muito tempo depois disso, assim lhe falaram:
Então, as mulheres disseram a Noemi: Seja o SENHOR bendito, que não deixou, hoje, de te dar um neto que
será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e
consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos (Rt 4.14,15).
Aquele
neto foi o avô do grande rei Davi. Deus não livrou a Noemi de tremendas dores e
fortes sofrimentos, mas tratou dos seus traumas e certamente Ele também quer
cuidar dos seus traumas, das suas perdas insubstituíveis. Descanse nele. Não
sofra sozinho. Não fique calado na hora da dor, mas clame, implore, suplique,
porque Deus não vai te livrar de passar por sofrimentos na vida, mas certamente
Ele quer muito estar ao seu lado para te amparar e passar contigo suas
tribulações.
02 – A DOR PODE NOS LEVAR A
VIVER NO PASSADO E IGNORAR O PRESENTE E O FUTURO
Qual
relação pode haver entre a dor e a nostalgia? Nostalgia é um termo que descreve
uma sensação de saudade idealizada, que às vezes pode ser irreal, por momentos
vividos no passado associada a um desejo sentimental de regresso, impulsionado
por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. Temos uma
tendência muito forte de voltar ao passado, principalmente nos momentos de
tribulação. E por causa disso muitas pessoas estão presas às lembranças do
passado de forma que não conseguem viver o presente. São pessoas que mesmo
estando no meio de uma multidão sentem-se isoladas, solitárias, tão diferentes
que se sentem estranhas ao grupo. São pessoas que vivem tanto no passado que
perderam a identidade, que não conseguem mais estabelecer ligação com seu
próximo. Estas pessoas sentem que ninguém, nem mesmo Deus, pode entender ou
avaliar a intensidade de sua dor e por causa disso se isolam, mas este
isolamento só piora a situação.
A)
As causas de um sentimento nostálgico
São
muitas as causas que podem nos traumatizar e nos tornar um saudosista e nos
deixar dependentes do passado. Uma delas pode ser a perda de um ente querido,
de uma pessoa que amamos de forma sem igual, principalmente se ocorrer de forma
trágica. Pode ser a perda da mãe ou do pai, de um filho ou de uma filha, de um
irmão ou de uma irmã, da esposa ou do marido. E quando isso acontece não há
como evitar os questionamentos, os conflitos interiores a partir de então.
Muitos porquês vão tinir em nossa mente como um sino. Constantemente seremos
pegos pensando: Como Deus que tanto amo pode permitir que algo tão terrível
acontecesse? O sentimento do nosso coração é que não vamos conseguir sobreviver
a esta dor. Sei que muitas perdas são insubstituíveis, mas caso não cuidemos
adequadamente desta dor ela pode criar um abismo entre nós e os outros, e até
mesmo entre nós e Deus.
Veja
que mais uma vez nos encontramos diante de um dilema em que a atitude que
tomarmos fará toda diferença. E qual é a melhor atitude a ser tomada?
B)
A melhor solução para o sentimento nostálgico: Buscar ajuda
Novamente
reforçamos que se sofrermos sozinhos e recusarmos ajuda corremos o risco de terminar
nossos dias isolados e largados em um saudosismo que nada mais fará do que nos
fazer viver no passado e perder tanto o presente quanto o futuro. Mas se
buscarmos e aceitarmos ajuda, poderemos até viver em conflito por um período de
tempo, contudo logo encontraremos o caminho novamente e sigamos a vida, mesmo
que machucados, pois logo perceberemos que não estamos sozinhos, mesmo que
assim o pareça.
Sei
que não é fácil, e não estou dizendo que se você lidar corretamente com a dor
ela terminará e vai embora, mas o que digo é que a melhor opção é tomar uma
atitude que nos conduza a superação, porque é muito mais fácil fugir da
realidade e viver no mundo dos sonhos (como que se lá a dor não existisse),
assim como é muito melhor viver nas lembranças do passado do que encarar os
desafios do futuro.
O
sofrimento pode acabar com as nossas esperanças e nos afastar das pessoas. Mas
na hora da dor a presença dos amigos é o melhor remédio, mesmo que suas
palavras pareçam inúteis. Afinal, Deus nos criou com a capacidade de nos
relacionarmos com os outros. E quando nos sentimos desesperadamente sós,
interagir faz muito bem ao coração machucado. Podemos até achar que não
queremos a companhia de alguém, mas escolhermos estar com os amigos é a melhor
opção de superararmos a dor. Se agirmos assim não vamos ficar presos ao
passado, mas vamos caminhar para o lado certo da vida: Para frente!
Não
fique aprisionado entre o passado e o futuro, como se o aqui e o agora não
existissem. Seus amigos estão aí! Eles podem não compreender a intensidade da
dor que estás sentindo, mas eles querem estar ao seu lado! Os amigos de Jó não
entenderam o que estava se passando com ele e falaram o que não era verdade,
tanto que Jó assim falou deles:
Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois
consoladores molestos (Jó 16.2).
Mas
eles ficaram do lado de Jó o tempo todo. Quando sentirmos profundamente que
ninguém pode compreender o tamanho do nosso sofrimento, quando sentirmos que os
comentários superficiais e consoladores mais parecem um insulto do que um
conforto, lembremos que Jesus também conheceu a dor da perda de um ente querido
e quando isso aconteceu a Bíblia diz que Jesus
chorou (Jo 11.35). Ele chorou porque amava a Lázaro e a morte de seu amigo
irmão abalou seu íntimo e a dor da morte, da perda o fez fazer o que é mais
natural nesta hora: Chorar! E chorar não é errado, mas a Bíblia diz:
Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã (Sl
30.5).
O
choro não pode ser eterno de forma que se viveres chorando viverás trancado
dentro de si, em meio a sombras que insistem em pairar sobre sua cabeça e,
então, não mais viverás, mas apenas existirás. E quanto ao passado olhe para
ele com prudência, porque o passado pode ser fonte de bem-estar emocional, mas
também de depressão. Se queres algo do passado busque o exemplo de que Tiago
nos oferece quando diz:
Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os
profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes
os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que
fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e
compassivo (Tg 5.10,11).
Devemos
nos lembrar dos bons exemplos a serem seguidos. Busque a Deus e diga como Davi:
SENHOR,
meu Deus, clamei a ti por socorro, e tu
me saraste (Sl 30.2).
E
caso tenha sofrido a dor da perda de um ente querido, a Bíblia diz:
Preciosa é aos olhos do SENHOR a
morte dos seus santos (Sl 116.15).
Apesar
de triste e da mais intensa separação até mesmo na morte pode haver esperanças.
Estas palavras não trarão seu ente de volta, mas tem o poder de aliviar a sua
dor e confortar seu coração. E é justamente isso que Deus quer fazer em tua
vida. Ele quer estar contigo, porque ninguém suporta sofrer sozinho. E na hora
da dor, por mais que venhamos a desejar estar só, interagir ajuda a superar a
dor, principalmente com Deus.
03 – APESAR DA DOR E DO
SOFRIMENTO, SEJA UM SOBREVIVENTE E NÃO UMA VÍTIMA
É
muito difícil dimensionar a dor para poder afirmar qual é a pior, mas creio que
a dor da violência e do abuso está entre as piores; e todos os dias pessoas são
vítimas destes crimes. Portanto, todos os dias pessoas são jogadas à mercê de
um mal tão grande que pode tornar suas vidas sombrias, amarguradas e
depressivas.
Falamos
que a dor não é opcional porque ela se impõe sobre nossas vidas. Falamos também
que conforme as atitudes que tomarmos diante da dor e do sofrimento nossas
vidas tomarão determinado destino. Da mesma forma, ninguém escolhe ser vítima
da violência e nem de abuso, pois estas tragédias simplesmente acontecem e
alguém se torna alvo delas sem que estas tenham a oportunidade de opinar.
Embora você não escolha e não seja culpa sua for vítima, continuar na situação
de vítima pode ser uma alternativa, porque somos dotados de força para poder
reagir.
Quem
foi vítima de violência ou de abuso sempre será uma vítima deste mal, mas você
pode sair dessa situação como um sobrevivente ou permanecer nela como uma vítima.
Mark Baker explica o que é um e outro. Ele diz:
Sobreviventes
são
pessoas que, apesar das dificuldades e sofrimentos mantêm seu poder pessoal e a
crença de que podem agir de forma diferente quando surgirem novas provações. Vítimas
são aquelas que, a partir do que sofreram, passam a se sentir impotentes e
derrotadas.
Às
vezes, as dificuldades da vida se tornam tão difíceis que parece que nossas
vidas são interrompidas naquele ponto. Essa situação pode nos deixar com medo
de não mais conseguir prosseguir com a trajetória de sucesso como outroramente
e pode representar que nossa vida acabou quando estava ainda começando. A
partir daí nos sentimos impotentes para recomeçar. Podemos até nos sentirmos
impotentes em relação ao que nos acontecera, mas devemos rejeitar a ideia de
sermos uma vítima. Mark Baker diz:
Se você se considera uma vítima do que lhe aconteceu no
passado, corre o enorme risco de se sentir impotente em relação ao que
pode lhe acontecer no futuro (grifo meu).
Para
que isso aconteça é muito importante você se ver como uma pessoa batalhadora e
esse poder mudará a direção de sua vida. Mark Baker diz:
Os sobreviventes são pessoas que foram vítimas de
sofrimento, mas conservaram seu poder, enquanto que as vítimas o perderam.
O
poder de lutar nos permite sermos sobreviventes e não vítimas. E assim como nas
demais situações difíceis já mencionadas, a cooperação dos amigos é fundamental
na superação do sofrimento decorrente de alguma violência ou de abuso. No caso
de abuso muitas vezes é resultado de uma traição e sermos traído por alguém a
quem estamos ligados afetivamente ou de quem dependemos afeta a nossa
capacidade de confiar e de se relacionar com os outros, porque achamos que
voltar a acreditar torna-nos vulneráveis, o que pode ser muito arriscado e destrutivo.
Mas afastar ou evitar as pessoas nos deixa solitários e não é fácil superar tão
grande dor sozinho.
Caso
nos rendemos ao isolamento que o trauma provoca certamente nos tornaremos em
pessoas amargas. Às vezes, por desconfiança, achamos que os outros nos
atrapalha, que se intrometem, tachamos suas palavras de inúteis por acharmos
que ninguém nos entende, mas agindo assim não damos a oportunidade aos outros
de estar conosco e recusamos o suporte que elas nos oferecem.
Sempre
enfrentamos e sempre enfrentaremos situações difíceis na vida, mas Deus jamais
nos abandona em nossos sofrimentos. A Bíblia diz que:
Deus Faz forte ao cansado e multiplica
as forças ao que não tem nenhum vigor (Is 40.29).
Deus
não nos promete uma vida sem sofrimento, mas promete nos dar forças. A presença
de Deus é o elemento que fará toda a diferença entre sermos sobreviventes ou vítimas.
A Bíblia diz:
Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos
caem, mas os que esperam no SENHOR
renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam (Is
40.30,31).
Não
se sinta culpado por estar cansado ou debilitado, mas escolha sobreviver
recorrendo aos recursos que Deus nos oferece, porque Deus nos dá recursos e nos
dota de forças para que possamos deixar de sermos vítimas e tornarmos
sobreviventes. E este Deus que nos capacita diz:
Não temas,
porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento
com a minha destra fiel (Is
41.10).
A
presença de Deus em tua vida fará toda diferença na hora do sofrimento. Não
fique à mercê da dor, mas faça o que a Bíblia nos diz:
Afasta, pois, do teu coração o desgosto e remove da tua carne a
dor, porque a juventude e a primavera
da vida são vaidade (Ec 11.10).
A
vida é curta e muito passageira para perdermos tempo na lamúria. É muito danoso
ficar parado no tempo lamentando o que aconteceu. Sacudamos o pó adquirido na
queda e sigamos em frente na luta.
CONCLUSÃO
Precisamos
aprender a lidar com a dor e o sofrimento! Precisamos parar de exigir que Deus
retire de nós a dor e o sofrimento! Precisamos nos posicionar corretamente
diante deste gigante que nos atemoriza, porque conforme o nosso posicionamento
a dor e o sofrimento nos aproximará ainda mais de Deus, mas ele também pode nos
afastar ainda mais de Deus e das pessoas. E na hora da dor e do sofrimento não
queira sofrer sozinho! Aceite a presença de Deus e peça a Ele para lhe dar
forças para sobreviver, porque não podemos permitir que a dor nos isole e nos
empurre para a solidão e amargura.
Tiago
diz que o sofrimento deve produzir em nós a perseverança, ou seja, em algo bom,
proveitoso, benéfico, e para que o sofrimento contribua para o nosso bem é
necessário mais do que suportá-lo. Não podemos tirar de nós o sofrimento, mas
podemos responder a ele com atitudes nobres e não apenas aguardar que algo melhor
aconteça. Não devemos simplesmente manter uma atitude positiva diante da dor,
mas reagir diante dela com amor e optar em fazer o bem todos os dias. Esse é o
tipo de comportamento que nos ajudará a superar a dor e nos levará a uma
transformação sem igual na vida. É como a metamorfose de uma lagarta que assim
entra em um casulo e sai de lá uma linda borboleta. Entramos no sofrimento
inexperiente e devemos sair de lá amadurecidos. Só não se esqueça de que esta
metamorfose pode ser brusca, mas provavelmente será lenta e permanecerá por um
longo período que exigirá de nós perseverança.
Que
Deus lhe guie e te dê sabedoria para fazeres a escolha correta diante da dor e
ao fazeres a melhor escolha verás a diferença entre ser um sobrevivente e ser
uma vítima. Que Deus assim te abençoe! Amém!
Luiz Lobianco
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e
Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
BAKER, Mark W. Como Deus Cura a Dor. 1ª Edição. Rio de
Janeiro: Sextante, 2008.