Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie (Ef 2.8,9).
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos
que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável
perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei,
em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem
lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;
justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os
que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de
Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que
há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,
mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância,
deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a
manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o
justificador daquele que tem fé em Jesus. Concluímos, pois, que o homem é
justificado pela fé, independentemente das obras da lei (Rm 3.19-26,28).
INTRODUÇÃO:
A salvação em Cristo é o bem mais
precioso que existe. Ela é totalmente gratuita, a despeito de seu valor e de
todas as tentativas humanas de merecê-la. Ter méritos pessoais na salvação é
uma velha ilusão humana, fruto de velhas tradições do homem e infundadas na
Palavra de Deus, que ensina claramente que a salvação do homem é somente pela
graça de Deus mediante a fé, não de obras para que nenhum ser humano se
vanglorie diante de Deus.
Entender o projeto de Deus para a
salvação do homem ajuda a compreender o porquê da atribuição absoluta da graça
de Deus na salvação. A Bíblia fala da culpa universal dos seres humanos
pós-queda, de como ele é pecador e carente da glória de Deus e de como ele está
irremediavelmente perdido. Fala também da ira de Deus que se manifesta contra
todo pecado e não pode deixar de punir o culpado. Diante da impossibilidade do
homem de salvar-se a si mesmo, Deus arquiteta um plano para salvá-lo e lhe faz
uma proposta pública expondo a ele o caminho da salvação. Essa proposta foi a
entrega de Seu Filho Unigênito como propiciação pelos pecados do homem, o que
traz a ideia de justificar o homem e aplacar a ira divina. E foi exatamente
isso que Jesus fez lá na cruz do Calvário. Ele desviou a ira de Deus de sobre
nós e atraiu-a para si mesmo. Jesus tomou sobre si a nossa culpa, justifica-nos
diante de Deus e assim somos inocentados, perdoados e salvos.
Apesar da salvação ser totalmente
gratuita, não falta quem tenta achar um jeitinho de ser salvo sem precisar
demonstrar justiça pessoal conquistada em Cristo. Nunca faltaram heresias na
história da Igreja que oferecesse um caminho mais curto para o Céu. Por um
lado, tem alguns que pregam a salvação pelo legalismo, destacando uma
participação do homem em seu processo de salvação, enquanto que por outro lado
alguns pavimentam o estreito e apertado caminho que conduz à salvação a fim de
torna-lo razoavelmente confortável e extremamente fácil. Mas não é assim que a
Bíblia nos ensina. Ela ensina que:
01 – NÃO EXISTE ATALHO PARA O CÉU:
Jesus deixou isso muito claro quando
esteve por aqui em sua dolorosa missão de justificar o homem diante de Deus,
remindo-o de seus pecados que o condena. Ele disse:
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14.6).
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo
6.44).
E prosseguiu: Por causa disto, é
que vos tenho dito: ninguém poderá vir a
mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido (Jo 6.65).
Tudo me foi entregue por meu Pai.
Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar
(Mt 11.27).
Pense na lógica da questão: Se
houvesse outro caminho, outra forma de salvação, você acha que Deus teria feito
o que fez? Acha que o preço que Cristo pagou pelo nosso resgate foi pouco? Acha
que foi uma negociação fácil? Se houvesse um anjo ou qualquer ser humano capaz
de satisfazer a justiça de Deus, certamente Ele não teria escolhido Seu único
Filho para esta árdua tarefa. Deus fez o caminho de volta até Ele e o homem,
sob a influência do diabo, prepara atalhos que satisfaz a sua soberba em sua
participação na salvação, mas estes caminhos tortuosos jamais o conduzirá até
Deus. São alguns destes atalhos:
a) O sistema das indulgências:
Este é um sistema criado pelo
catolicismo medieval e ele supostamente facilitava bastante a salvação dos
pecadores. Segundo a doutrina católica, para se obter o perdão dos pecados era
necessário seguir uma ordem. Primeiro o arrependimento interno, depois a
confissão perante um sacerdote, e por fim, a penitência, que era uma espécie de
reparação pelo erro cometido e que dependia da gravidade da falta. Note neste
procedimento a ausência da graça de Deus, a inutilidade da fé e a participação
humana na penitência. Notem também que a absolvição era sacerdotal, ou seja,
aplicada por um homem. E a Bíblia nos ensina que: Todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23).
Não há exceção nesta menção para qualquer ser humano.
Entretanto, o perdão pelas
indulgências se estendia apenas às consequências eternas do pecado, ou seja, a
única coisa que ele conseguia era libertar o culpado do inferno, justamente
aquilo que Cristo conquistou na cruz e nada mais precisava ser feito a não ser
crer nele:
Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê
não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus (Jo 3.16-18).
Era assim que a igreja deveria
ensinar ao povo, mas para enaltecer a seus líderes e tornar o povo subjugado a
eles, criou-se atalhos que não conduz a Deus e nem salva o homem, pois se anula
o sacrifício de Cristo na cruz e o torna dispensável.
As indulgências foram inicialmente
usadas nas Cruzadas, em que os soldados lutavam em troca da remissão para si e
para seus familiares, mas com o tempo achou-se uma forma mais lucrativa de
aplica-las, pois começou-se a vende-las por uma boa quantia de dinheiro.
Andava-se pelas ruas anunciando que, quando a moeda caia no cofre, e se ouvia o
seu tilintar, naquele exato instante saia do purgatório a alma em favor de quem
se havia comprado a indulgência e ia diretamente para o Céu.
Para o povo, em um tempo em que a
igreja pregava ser tão difícil conseguir a salvação pessoal, aquela era uma
rara oportunidade de adquirir a salvação. Não era por acaso que multidões se
arrastavam atrás dos vendedores de indulgências. Afinal, comprar com um pouco
de dinheiro algo que não tinha preço, na visão do povo era um excelente
negócio. Mas caso você pudesse comprar a sua absolvição, estaria anulando o
preço que Cristo pagou lá na cruz pelos nossos pecados.
b) O purgatório:
O purgatório é outro atalho até o Céu
criado pelo homem. Ensina-se que o purgatório era um local intermediário entre
o Céu e o inferno, onde aqueles que não haviam sido maus o suficiente para irem
ao inferno e nem bons o bastante para irem diretamente para o Céu ficavam por
algum tempo até serem purgados os seus pecados. Tal ensino é totalmente
desencontrado pela Escrituras Sagradas que ensina que há dois únicos caminhos
para o homem após a sua morte. Jesus deixou isso muito bem claro quando disse:
Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que
conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho
que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela (Mt
7.13,14).
Somente estes dois caminhos foi
apresentado ao homem por Jesus Cristo. Os demais são invenções humanas. Além do
mais, oportunidade de salvação existe somente nesta vida. O convite de Deus
para o homem crer e aceitar a Jesus Cristo como único e suficiente Salvador é
para ser ouvido enquanto se está vivo. O chamado para a salvação é coletivo,
mas a decisão é pessoal. A morte significa a decretação final de qualquer
oportunidade de salvação. Depois dela não há mais nada o que se fazer para
mudar o destino do indivíduo. É isso que a Bíblia ensina quando diz:
E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o
juízo (Hb 9.27).
E o pó volte à
terra, como o era, e o espírito volte a
Deus, que o deu (Ec 12.7).
Depois da morte tudo que resta é o
juízo de Deus. Se depois da morte houvesse possibilidade de mudança anularia a
fé, pois que sentido teria a fé depois de você contemplar o além? É justamente a
certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não veem (Rm
11.1) que explica a fé.
c) A intermediação de santos:
Este é outro atalho criado pelo homem
no caminho até Deus. Segundo este ensino, os santos estão conscientes no Céu e
sabem o que se passa aqui na Terra, pois se encontram em um grau superior ao
nosso. Portanto, você pode orar a eles e eles podem intermediar com Deus.
Realmente, todos os que estão no Céu estão conscientes, não estão nem dormindo
e nem em estado vegetativo, mas nada mais sabem do que se passa por aqui, pois
estão limitados quanto ao tempo e espaço, pois somente Deus não é ilimitado
quanto ao tempo e ao espaço. Jesus, para nos ensinar sobre isso, contou a
parábola do homem rido e Lázaro. Estando no inferno após sua morte, o homem
rico pediu:
Então, clamando, disse: Pai Abraão,
tem misericórdia de mim! E manda a
Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque
estou atormentado nesta chama (Lc 16.24).
Deus refutou a este pedido,
mencionando que o estado da alma depois da morte é inalterável. Aquele homem
faz, então, um outro pedido:
Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa
paterna, porque tenho cinco irmãos; para
que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento.
Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos (Lc 16.27-29).
Deus descarta qualquer intermediação
e intervenção de qualquer um, além dele, no relacionamento entre os vivos e os
mortos, entre o Céu e a Terra. E Jesus explica o porquê desta impossibilidade:
E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e
vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os
de lá passar para nós (Lc 16.26).
Esta linha do tempo e do espaço só
pode ser ultrapassada por Deus e seus anjos, quando estes são enviados por Ele
para determinadas missões.
Para que possa haver intermediação
dos santos é necessário responder positivamente alguns questionamentos: Os
santos podem realmente ouvir as orações realizadas a eles aqui na Terra? Eles
podem ouvir a todos instanteneamente e até intimamente nas orações silenciosas?
Isso demanda poder. Será que há neles este poder? Este poder pertence tão
somente a Deus e assim Ele diz quanto a isso:
Eu sou o Senhor, este é o meu nome;
a minha glória, pois, não a darei a
outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura (Is 42.8).
A glória de ser digno de toda
adoração pertence somente a Deus. Somente a Ele nossos joelhos podem se dobrar.
João, um dia, prostrou-se diante de um anjo. Veja qual foi a reação deste anjo
diante daquela situação:
Eu, João, sou quem ouviu e viu
estas coisas. E, quando as ouvi e vi,
prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo.
Então, ele me disse: Vê, não faças isso;
eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as
palavras deste livro. Adora a Deus (Ap 22.8,9).
E olha que os anjos são seres muito
superiores a nós. Todos nós, independente de quanto somos santificados, somos
limitados no tempo e no espaço, sendo somente Deus ilimitado. Outro
questionamento é: Existe intermediação entre o Céu e a Terra além do próprio
Deus e de seus anjos que são enviados por Ele com missões específicas? Ou seja,
os santos podem realizar esta intermediação? A Bíblia apresenta apenas um único
que pode realizar esta intermediação:
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho
que se deve prestar em tempos oportunos (1 Tm 2.5,6).
Jesus conquistou isso com sua morte
na cruz do Calvário quando derramou seu precioso sangue para nos remir. Se
outro pudesse fazer isso, Jesus não teria pago tão alto preço.
Resumindo, para que qualquer santo,
por maior que ele seja, para ouvir as orações de seus súditos aqui na Terra ele
teria que ser onisciente e onipresente. Para um santo morto atender as orações
de alguém, muitas vezes até mesmo em seu inconsciente, ele sem dúvida deve ter
o atributo da onisciência. E para um santo morto ouvir as orações de pessoas
que rezam a eles, simultaneamente, no Brasil, na Arábia, no Cazaquistão, na
China e etc., eles devem estar cientes do que acontece em todos os lugares ao
mesmo tempo, tendo assim o atributo da onipresença.
Contudo, estas características são
atributos exclusivos do Todo-Poderoso. Só Deus pode atender várias orações ao
mesmo tempo, pois isto é intrínseco à sua divindade. E não se esqueça da
doutrina da Trindade, em que Deus é um só, mas que subsiste em três pessoas:
Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Portanto, Jesus é um Ser Divino.
Ele é Deus na mesma plenitude do Pai. Ele sim pode intermediar entre Deus e os
homens porque Ele é Onisciente e Onipresente. O que passar disso cai na linha
da idolatria.
Por fim, com a morte de Cristo na
cruz, temos livre acesso ao Pai, pois quando Cristo morreu o véu do santuário foi
rasgado ao meio, significando que um novo e vivo caminho para a presença de
Deus estava aberto. Nada mais nos impede de chegarmos ao Pai! Temos livre
acesso ao Pai mediante a morte redentora de Cristo Jesus por nós. Não
precisamos passar por nenhum santo para isso, pois o véu que separava já não
separa mais.
Todos estes atalhos existem somente
por causa da falta de entendimento de como funciona a salvação e de qual é a
natureza do evangelho. O homem não entende ou não quer entender que a salvação
é pela graça, tornando-a a mais onerosa tarefa que o ser humano pode realizar.
02 – A SALVAÇÃO DO HOMEM PROVIDENCIADA POR DEUS:
A salvação de Deus para o homem não é
nenhum atalho e nem um plano de emergência por algo ter dado errado, mas é um
procedimento eficaz, eficiente e com custo zero para o justificado, para que
este não tenha nenhum motivo de vangloriar-se, mas tão somente bendizer a Deus
por tão grande salvação. Isso que Paulo quer dizer quando falou:
Tendo em vista a manifestação da
sua justiça no tempo presente, para ele
mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus (Rm 3.26).
Todo mérito de nossa salvação está em
Deus. O homem não tem condições para qualquer participação em todo seu
procedimento. Não existe nem um único motivo para o homem se vangloriar diante
de Deus pela sua salvação. E os homens são alcançados por esta salvação
mediante algo que jamais pode ser excluído:
a) A salvação é concebida mediante a fé:
Ao contrário do que se pensava na
Idade Média e muitos ainda pensam hoje, justiça não se compra, nem se conquista
por meio de obras. Justiça se ganha! E o meio de ser alcançado por esta
justiça, que não é uma justiça qualquer, é a fé, que é o único requisito
exigido de Deus ao homem para que este seja salvo. Quando o carcereiro de
Filipos jogou-se desesperado aos pés de Paulo e Silas na prisão, suplicando
como poderia ser salvo, eles lhe responderam: Crê no Senhor Jesus e
serás salvo, tu e tua casa (At 16.31). E na mais famosa declaração de
Paulo sobre a salvação, ele diz:
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom
de Deus; não de obras, para que ninguém
se glorie (Ef 2.8,9).
Por isso que os reformadores
apregoavam o Sola Fide (Só a fé),
pois é só pela fé que podemos ser salvos. Mas nem todo tipo de fé salva. Há uma
fé que não serve para nada, que não produz coisa alguma na vida daquele que,
supostamente, crê. A Bíblia assim diz sobre esta fé:
Porque, assim como o corpo sem
espírito é morto, assim também a fé sem
obras é morta (Tg 2.26).
Paulo diz que somos salvos pela graça
de Deus independente de obras. Tiago aqui relaciona a fé com as obras no
sentido de que quem tem fé tem obras. Ele apresenta as obras como consequência
da fé, pois antes das obras vem a fé. Neste texto, Tiago não está dizendo que a
justifica de Deus vem pelas obras, mas ele está respondendo a uma questão:
Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é
inoperante (Tg 2.20)?
Tiago não está falando de
justificação, ele está falando a respeito do requisito exigido por Deus que é a
fé. E ele estava tão convicto de que não é possível ter fé sem ter obras que
desafia:
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu
tenho obras; mostra-me essa tua fé sem
as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé (Tg 2.18).
Observe que ele aqui classificou a fé
em dois tipos. E temos na Bíblia uma demonstração desses dois tipos de fé. Para
aqueles que possuem a fé salvadora, será dito:
Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo (Mt 25.34).
E por que lhes estavam sendo dada a
posse do Reino de Deus? Jesus diz:
Porque tive fome, e me destes de
comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava
nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me (Mt
25.35,36).
Primeiro eles creram, e
consequentemente reagiram a esta fé com obras. Mas para o outro grupo de fé
será dito:
Então, o Rei dirá também aos que
estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de
mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos
(mt 25.41).
E por que estes, apesar da fé, não
foram justificados? Jesus diz:
Porque tive fome, e não me destes
de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me
hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não
fostes ver-me (Mt 25.42,43).
A fé que aqueles tinham era uma fé
inútil, infrutífera, morta, porque não tinham obras. E você pode falar: Mas
estes não tinham fé. Tinham sim! Eram convictos de que estavam no caminho
certo. Em outro momento Jesus confirma isso quando diz:
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em
teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos
muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniquidade (Mt 7.21-23).
Estes eram os que ouviam a Jesus,
creram nele, mas não praticavam suas palavras. Ou seja, tinham uma fé
improdutiva. Jesus diz que quem tem a fé salvadora obtém outro resultado:
Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra;
e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada (Jo 14.23).
Portanto, a fé salvadora é uma fé que
produz diferença na vida daquele que crê. Ela não é uma fé que se orgulha de
suas obras e nem de sua capacidade de crer. Somente possui a fé salvadora quem
reconhece perante Deus seu estado de completa inaptidão para agradá-lo e sua
absoluta incapacidade de conquistar a salvação e a vida eterna. Quem tem uma fé
assim, recebe a justiça que garante a salvação nos moldes da graça de Deus.
b) A salvação é ofertada a todos:
Apesar de nem todos serem salvos, a
salvação é para todos. A justiça de Deus, conquistada e manifestada em Cristo é
oferecida a todos os homens e não somente a um grupo especial de pessoas que
desempenham essa ou aquela tarefa. Essa verdade reflete a vontade de Deus:
Isto é bom e aceitável diante de
Deus, nosso Salvador, o qual deseja que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade
(1 Tm 2.3,4).
Paulo não está dizendo que todos são
salvos, mas que Deus deseja que todos sejam salvos. Para Deus não há distinção
de raça, mas todos se encontram em uma mesma situação: Decaídos!
Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória
de Deus Rm 3.22,23).
E Deus não faz distinção entre pecado
e pecadores:
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna
culpado de todos (Tg 2.10).
A lei jamais será capaz de justificar
o homem. No tempo das Cruzadas, o Papa concedia indulgências a todos que
lutassem pelo cristianismo contra os muçulmanos e também aos que a comprassem
com dinheiro, sendo que havia diferença de preço entre um perdão e outro.
Entretanto, a Bíblia ensina que para Deus não há diferenças entre pecados. Mas
a notícia maravilhosa é que todos podem ser salvos e que Deus não faz distinção
entre pecadores escolhendo os mais bonzinhos. Você pode estar perguntando:
Então todos são salvos? Não! A fé salvadora em Jesus Cristo garante a salvação
para todos, mas quem são estes todos? São aqueles que creem em Jesus Cristo:
Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção,
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus Rm 3.22,23).
E temos ainda a famosa declaração de
João que diz:
Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome (Jo 1.12).
Todos são criaturas de Deus, mas nem
todos podem ser chamados de seus filhos. O convite da salvação é estendido a
todos, exigindo de seus ouvintes uma reação: A fé! Mas nem todos aceitam o
convite e são justificados diante de Deus, mas somente aqueles que foram
capacitados por Deus a crer e crer com a fé salvadora. Os demais continuam em
seu estado decaído. É neste ponto em que haverá, na volta de Cristo, a
separação entre as ovelhas e os cabritos. E quais são as qualidades que
distinguem estes dois grupos?
Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água
e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne; e o que é nascido do Espírito é espírito (Jo 3.5,6).
E João, quando distinguiu entre
aqueles que são criaturas de Deus e os que são seus filhos, complementa dizendo
quem é que são os filhos:
Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus (Jo 1.13).
Os filhos são aqueles que nasceram de
Deus. E Paulo fala da transformação que ocorre naqueles que nascem de Deus e se
tornam seus filhos:
E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas (2 Co 5.17).
Todos nós nascemos na carne um dia
quando fomos concebidos, mas nascemos no espírito somente quando e se crermos
em Jesus Cristo com a fé salvadora. Todos nós estamos em igualdade diante de
Deus: Pecadores e absolutamente indignos da salvação, mas pela graça de Deus
podemos ser alcançados e sermos salvos mediante a fé.
Não existe absolutamente nada que
você possa fazer para ser justificado e salvo a não ser crer em Jesus Cristo.
Não se iluda! Não confie seu bem mais precioso, que é a sua alma, a nenhum ser
humano, pois seja ele quem for se encontra em uma mesma igualdade com você, precisando
tanto quanto você de também ser justificado por Deus. De nada adianta um
sacerdote humano te absorver se você não for absolvido diante de Deus por Jesus
Cristo. Mas aleluia! Também de nada adianta qualquer pessoa te condenar se você
foi justificado diante de Deus.
c) A salvação é totalmente de graça:
A parte mais difícil do homem
entender e aceitar é a gratuidade da salvação. É muito difícil para ele
conceber a ideia de que ele não tenha nenhuma participação na salvação, afinal,
ela é mediante a fé e fé sou eu quem sinto, logo, a fé é um mérito meu, algo
como uma obra minha. Contudo, a Bíblia diz que a salvação não é conquistada,
mas sim recebida gratuitamente. Paulo diz que todos os homens são pecadores, ou
seja, estão mortos em seus delitos e pecados, e quem está morto não consegue
fazer nada por si mesmo. Por isso que ele diz:
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora
atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos
outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais
(Ef 2.1-3).
Preste muita atenção a este texto e
veja como que Paulo nos coloca em uma situação completamente inerte quanto a
nossa disposição para buscar a Deus. Paulo está nos dizendo que a nossa
desgraça está em nossa essência. Ele mesmo se inclui na impossibilidade de
buscar a Deus por si só, por um despertar íntimo de seu coração ligado a sua
própria vontade, mencionando o que éramos antes de sermos despertados pelo
Espírito Santo. Depois de falar da impossibilidade humana de realizar qualquer
obra meritória para sua salvação, ele diz:
Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que
nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois
salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus; para
mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para
conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus; não
de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.4-9).
Em Romanos ele diz:
Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm
3.24).
Todo mérito da salvação pertence a
Deus. Desde o momento em que você teve fé e através dela foste justificado em
Cristo. Você não teve fé por iniciativa própria, porque estava morto, antes,
teve fé porque foi despertado pelo toque do Espírito Santo que agiu em meio a
sua impossibilidade de voltar-se para Deus. Na salvação não realizamos uma
troca com Deus. Não oferecemos a Ele a nossa fé recebendo em troca a salvação,
pois tudo o que acontece em relação a nossa salvação é regido pela palavra “gratuitamente”.
Para esclarecer bem isso vou lhe
citar um exemplo. Se alguém lhe oferecer algo preciosíssimo, de elevado valor
que você não tem como pagar e este alguém lhe der essa coisa, então você ganhou
de graça; foi um presente. Mas se alguém lhe oferecer algo valiosíssimo, por um
valor que você não pode pagar, mas este lhe oferece por um centavo e você paga,
não é mais de graça. Pode ser muito barato, mas não é mais de graça. Você pagou
por ele. É justamente isso que acontece em nossa salvação. Não contribuímos com
absolutamente nada. Isso que Paulo quer nos dizer quando fala:
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie
(Ef 2.8-9).
Todo mérito de nossa salvação
pertence a Deus. Estávamos mortos espiritualmente, o que significa nossa
inaptidão para sentir e fazer qualquer coisa. E nesta situação Deus nos deu
vida e esse ato de dar vida significa capacitar o ser humano a crer e
finalmente poder ser salvo. Portanto, a fé não é um mérito seu, mas ela faz
parte do pacote da salvação. E este pacote você recebe gratuitamente de Deus.
03 – A NOSSA CONTA PARA COM DEUS FOI PAGA POR JESUS CRISTO:
Não é nosso dinheiro, nem nossas boas
ações que garantem nossa salvação, mas tão somente o sacrifício de Jesus
Cristo. João Batista, quando viu a Jesus pela primeira vez, disse:
No dia seguinte, viu João a Jesus,
que vinha para ele, e disse: Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29)!
Deus não perdoa o pecador sem que a
conta pelo pecado seja quitada. Alguém precisava pagar a conta e Deus propôs
que esse alguém fosse Jesus Cristo, seu único Filho. Podemos ser salvos porque
há uma redenção em Jesus Cristo providenciada por Deus. Essa redenção Deus
propôs que fosse feita por meio do sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus.
Esse direito é exclusivo de Jesus, tanto que o autor de Atos diz:
E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos
At 4.12).
Cristo realizou um único sacrifício e
este sacrifício foi perfeito, completo e suficiente. Através dele Jesus se
tornou a ponte entre nós e Deus. Sua cruz liga os Céus à Terra e atravessa o
imenso abismo que havia entre Deus e nós. Portanto, pensar na salvação sem
pensar exclusivamente na obra de Jesus é afrontar a Deus, pois Ele investiu
tudo de si mesmo para salvar o homem. Ele providenciou e executou o mais
perfeito plano de salvação e o homem não teve e nem tem qualquer participação
nesse procedimento. Deus oferece a salvação gratuitamente a todo aquele que
crê. Entretanto, o fato de a salvação ser de graça, não significa que ela tenha
custado barato e nem que seja fácil, pois custou a personificação de Jesus
Cristo e sua morte na cruz.
Devemos eliminar de nossa mente toda
ideia de que de alguma maneira podemos colaborar para o processo da salvação.
Nosso dinheiro não pode comprar a salvação e nossas boas obras são inúteis para
garantir a salvação. Quem não for salvo pela graça, não poderá ser salvo de
maneira alguma.
Falar da salvação somente pela graça
mediante a fé dentro dos moldes bíblicos é muito impopular, pois dizer que o
homem não tem poder algum para se salvar é algo inaceitável para aquele que
quer conquistar a salvação por elas mesmas. Não é nada fácil ao ser humano
reconhecer sua completa incapacidade de crer por si só e descansar em Jesus
Cristo. É por isso que a salvação é ao mesmo tempo de graça e a mais difícil de
ser obtida.
CONCLUSÃO:
A Bíblia nos ensina que a graça de
Deus abarca todo o procedimento de salvação sem qualquer participação do ser
humano, sendo ela toda uma obra exclusivamente divina. A fé é o instrumento
humano que se apropria da bênção de Deus que é a salvação, mas mesmo nessa fé
não há mérito algum no homem, pois ela não é originária no homem, mas
totalmente em Deus. Que Deus te abençoe e lhe capacite a crer com a fé
salvadora! Amém!
Luiz Lobianco