18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para
os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.
19 Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos
sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.
20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o
inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do
mundo?
21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não
o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela
loucura da pregação.
22 Porque tanto os judeus pedem sinais, como os
gregos buscam sabedoria;
23 mas nós pregamos a Cristo crucificado,
escândalo para os judeus, loucura para os gentios;
24 mas para os que foram chamados, tanto judeus
como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que
os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto
que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem
muitos de nobre nascimento;
27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas
do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para
envergonhar as fortes;
28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e
as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;
29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença
de Deus.
30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se
nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,
31 para que, como está escrito:
Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (1 Co 14.18-31).
Introdução
Qual é o pensamento
secularista? A de conceber uma suposta autonomia do ser humano e elevar a
ciência como senhora de todas as respostas. Com todo o seu egocentrismo, o ser
humano achou que conseguiria uma vida independente e feliz sem Deus e depositou
na ciência a esperança de conseguir as respostas para as perguntas primordiais
de sua existência.
Após décadas de atividade
desse pensamento, o cristão finalmente pode chamar a atenção da sociedade à
realidade do fracasso das filosofias da cosmovisão secular, porque elas
falharam ao não apresentarem respostas para a existência humana e para os
variados problemas dos seres humanos, antes vindo a acentuar ainda mais as suas
mazelas. Mas apesar de seu fracasso, o pensamento secularista continua em
vigência, tentando ludibriar as pessoas com a ideia de que o ser humano é
autossuficiente e de que a ciência ainda encontrará todas as respostas para
ele.
Talvez esse fracasso pudesse
significar alguma vitória para a cosmovisão cristã bíblica, mas infelizmente
não. As pessoas nunca deixam de praticar alguma religiosidade em busca de Deus.
E o ser humano jamais conseguirá aquietar o seu coração enquanto não descansar
em Deus. Entretanto, os caminhos da religiosidade do ser humano e da busca
verdadeira a Deus são opostos, de forma que ele jamais conseguirá chegar até
Deus pelo caminho que segue, com suas vãs filosofias.
A cosmovisão secular, em
resposta ao seu colapso, sofre uma transformação. E assim como em sua formação,
uma cosmovisão não é substituída de forma automática, mas ela sofre desgastes e
sua alteração vai sendo gradual. Nesta lição vamos analisar os estágios de
transformação da cosmovisão secular com seu pensamento antropocêntrico em face
ao seu fracasso.
01 –
O SÉCULO XX E SEUS DEUSES
O século XX foi o berço do
desenvolvimento do materialismo secularista. Este desenvolvimento ocorreu de
forma gradual, através da inserção de valores que dominaram a mentalidade
moderna, sendo eles: a ciência, a tecnologia e a economia. Estes valores foram
tão admiráveis ao ser humano a ponto de se tornarem em deuses para a humanidade.
A –
Século XX, o século da ciência
O século XX começa com um
desenvolvimento surpreendente da ciência após a febre do cientificismo dos
séculos XVII a XIX, e o homem começou a entender que a ciência estava se
desenvolvendo a ponto de oferecer todas as respostas para a vida humana. A
confiança do homem moderno na ciência cresceu tanto que ela se tornou em um
deus para ele, o qual passou a ser movido pela chamada “certeza cientifica”,
segundo a qual, tudo que é “comprovadamente científico” é digno de confiança.
Como a fé e seus milagres
não podem ser comprovados cientificamente, eles foram bombardeados pelos
adeptos do pensamento secularista. E como resultado disso pode-se notar o alto
grau de apostasia nos tempos modernos. Podemos comparar este mal com outro que
ocorreu com Israel e que foi digna de exortação:
1 Ai dos que descem ao Egito em
busca de socorro e se estribam em cavalos; que
confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui
fortes, mas não atentam para o Santo de
Israel, nem buscam ao SENHOR (Is 31.1)!
A ciência se tornou o grande
paradigma do homem moderno, um dos grandes ídolos da sociedade moderna. Essa
confiança extrema na ciência gerou um exacerbado orgulho humano e o fez cair em
um erro gravíssimo:
5 Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem,
faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR (Je 17.5)!
Este foi o principal erro do
pensamento secularista, um erro que persegue a humanidade desde a sua queda lá
no Jardim do Éden, o de deixar de confiar em Deus, Seu Criador, e achar que
consegue achar o caminho de volta sem Ele, através de suas próprias filosofias
que nada mais refletem a não ser as trevas em que se encontra o coração humano.
B
– Século XX, o século da tecnologia
O cientificismo do século XX
não se desenvolveu só, algo mais acompanhou o seu desenvolvimento, algo que
mudaria para sempre a humanidade em sua interação: a tecnologia. Não que
sejamos contrários a ela, afinal, ela sempre esteve presente na humanidade,
pois o homem não nasceu e nem viveu nos tempos das cavernas (mas é lógico o
fato de alguns as usarem como moradia). Logo na sétima descendência de Adão,
com os filhos de Lameque, já temos o registro de muitos avanços tecnológicos:
19 Lameque tomou para si duas esposas: o nome de
uma era Ada, a outra se chamava Zilá.
20 Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado.
21 O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai
de todos os que tocam harpa e flauta.
22 Zilá, por sua vez, deu à luz
a Tubalcaim, artífice de todo
instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá
(Gn 4.19-22).
E ainda podemos mencionar a
Torre de Babel, a Arca de Noé, grandes monumentos como as pirâmides do Egito e
etc. Em tudo isso a tecnologia esteve presente e ela sempre tem se desenvolvido
ao longo dos séculos. A sabedoria tem uma origem:
6
Porque o SENHOR dá a sabedoria,
e da sua boca vem a inteligência e o
entendimento (Pv 2.6).
Deus foi o criador do homem.
Ele foi criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, o homem não precisou
passar pelas experiências brutais dos tempos da caverna para chegar ao
raciocínio da tecnologia, pois ele não vive por instinto como os animais, mas
tem a capacidade de pensar, a capacidade de ser tecnológico.
A tecnologia moderna
enfatizou a realização e também se tornou um ídolo para a humanidade, pois
consumou a crença do homem de que ele seria capaz de realizar todas as coisas
por meio da ciência e da tecnologia. As caravelas, a máquina a vapor, o
telégrafo, o telefone, os automóveis, os microchips e etc., são as descobertas
que colaboraram para aumentar ainda mais o egocentrismo do homem e o seu senso
de autonomia e independência de Deus. Se antes ele já negava a Deus, muito mais
o faz nos tempos modernos, porque a tecnologia em nada melhorou o seu coração
perverso e exacerbou ainda mais a sua soberba, e a Bíblia diz que:
4 O perverso, na sua soberba,
não investiga; que não há Deus são todas
as suas cogitações (Sl 10.4).
Não podemos negar os
benefícios da tecnologia para a humanidade, o tanto que ela tem facilitado a
vida humana e quantas vidas foram e são salvas por ela, mas a tecnologia nunca
trouxe tantas más consequências para o ser humano como nos últimos tempos e também
nunca deixou o homem tão dependente dela.
C
– Século XX, o século da economia
A era industrial foi o
resultado prático do desenvolvimento científico e tecnológico e com ela
aconteceu uma significativa melhora na condição de vida do ser humano. Isto
favoreceu o despontamento de mais um elemento que se tornaria em mais um ídolo
da sociedade moderna: o dinheiro. E assim como a ciência e a tecnologia, a
riqueza também tomou a proporção de ser a solução para toda a humanidade. O
amor ao dinheiro é um antigo ídolo do coração do homem, mas no século XX a
riqueza tomou proporções gigantescas, aguçada pela cobiça e ambição do homem, a
busca por ela fez muitos a abandonar e a deixar para segundo plano alguns
valores absolutos como a família, a fé e a própria saúde.
As respostas aos problemas
da humanidade jamais serão encontrados somente na ciência, na tecnologia ou no
dinheiro, porque eles não são somente externos, mas são principalmente
internos, do coração do ser humano. Com a queda o coração do homem se envolveu
em trevas e as trevas de seu coração usaram o desenvolvimento científico para
convencer o homem de sua autossuficiência. O desenvolvimento tecnológico, por
sua vez, deu a ele um falso senso de poder. Ambos mudaram a esperança do homem
e o tornaram essencialmente materialista, negando o valor da eternidade,
apegando-se à temporalidade das riquezas.
O mundo globalizado é o
mundo da economia, da tecnologia e da ciência. Mas é justamente este mundo
globalizado dirigido pela economia que mais gerou distorções e injustiças
sociais, além de deixar os seres humanos no vazio, sem direção ou propósito que
não fosse o de consumir mais e mais. Nestes pontos podemos fundamentar o
fracasso da cosmovisão guiada pela ciência, pela tecnologia e pela economia.
02
– O FRACASSO DO PENSAMENTO SECULARISTA
Em nosso tópico anterior
falamos sobre o desenvolvimento do mundo moderno com grandes evoluções na
ciência, na tecnologia e na economia, mas acontece que este desenvolvimento não
ocorreu em berço esplêndido. O homem sempre cai no abismo das trevas que domina
o seu coração. Isso acontece porque ele anda desconectado de Deus.
Embora o século XX tenha
sido marcado pelo desenvolvimento, também foi quando a elevada autoestima do
homem moderno sofreu um grande abalo, principalmente na Segunda Guerra Mundial,
o maior conflito armado da História da humanidade que ocorreu de 1939 a 1945, e
neste conflito as grandes potências investiram boa parte dos seus recursos
científicos, tecnológicos e econômicos.
O ponto mais assustador
dessa empreitada bélica foi o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades
japonesas Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos, ocorrido, respectivamente,
em 6 e 9 de agosto de 1945. Como a bomba atômica é um fruto do desenvolvimento
cientifico, toda esperança redentiva do homem moderno, que estava depositada na
ciência, entra em colapso, comprovando que a ciência, a tecnologia e a economia
não conseguiram vencer a malignidade do coração humano, antes, tornaram a
humanidade ainda mais egocêntrica e ambiciosa.
A –
O fracasso da ciência
Com as novas descobertas do
Século XX houve uma revolução no pensamento científico. Percebeu-se, com as
descobertas, que não existe verdade absoluta em ciência, como até então se
acreditava. Isso é uma marca do século XX. Infelizmente esse conceito
ultrapassou os limites da ciência e alcançou a fé e balançou os alicerces das
Escrituras Sagradas, mas jamais a derrubou por terra, porque passa as gerações
e a verdade de Deus permanece intocável e imutável.
O século XX é um século de
paradoxos, palco de uma série de genialidades, mas também de muitos horrores.
Apesar dos inegáveis avanços, o homem não conseguiu responder a questões
elementares, sendo uma das maiores delas: como ser feliz no curto tempo de vida
que se passa na Terra? E o grande desafio é tentar encontrar uma resposta a
este dilema: de que forma o homem vai conseguir usar o alto desenvolvimento
científico e tecnológico disponível para encontrar a felicidade individual e
coletiva? Uma coisa é verdade, distante de Deus a humanidade jamais encontrará
esta resposta!
O século XX transformou a
vida, o mundo e o conhecimento que deles se tinha. Os especialistas afirmam
que, em termos de avanços científicos e tecnológicos, caminhamos mais nos
últimos cem anos (especialmente na sua segunda metade) do que em toda a
história anterior da humanidade. Graças ao progresso nas comunicações e nos
transportes, por exemplo, pela primeira vez o homem teve noção da totalidade do
planeta que habita, das diversas culturas, religiões e etnias que nele existe.
Esse conhecimento levou a humanidade a uma maior interação, e este nível de
integração tem reconfigurado os processos culturais de maneira geral, porque as
pessoas têm cada vez maior capacidade de estabelecer intercâmbios.
No século XX ficou evidente
a capacidade do homem para criar, descobrir e superar limites. No entanto, ele
não conseguiu ainda estabelecer uma relação de harmonia com seu semelhante,
pois com todo o progresso conquistado na interação das sociedades em nada aproximou
a humanidade de Deus, e nem mesmo extinguiu os seus conflitos étnicos, antes o
intensificou; e muito menos encontrou as respostas de seus questionamentos
internos. É evidente o fracasso da ciência no pensamento secularista de ser ela
a solução dos problemas da humanidade.
B –
O fracasso da tecnologia
Dentro dos laboratórios e
centros de pesquisa surgiram grandes invenções e descobertas. Elas não se
sucederam de forma contínua, dentro de um processo único, mas são os resultados
de avanços de conhecimentos acumulados. Algumas descobertas e invenções merecem
ser consideradas.
Nas ciências médicas e
biológicas, o avanço pode ser medido pelo aumento da expectativa de vida. A
descoberta da penicilina foi uma das mais importantes contribuições no campo da
Medicina. Os transplantes de órgãos, a descoberta do DNA, as experiências
transgênicas com a manipulação de genes, a identificação de doenças
hereditárias e a clonagem, são algumas das consequências do progresso da
genética.
A invenção do transistor
possibilitou enorme avanço, inclusive no âmbito das comunicações e no
surgimento do computador. As antes onerosas e enormes máquinas de armazenar e
processar informações se converteram em computadores pessoais. E hoje é
possível, sem sair de casa, conectar-se com qualquer pessoa no outro extremo do
planeta através da Internet. Mas a rapidez dos processos de comunicação
acelerou brutalmente o ritmo de vida das pessoas.
São boas descobertas, sem
dúvida, mas outras estatísticas mostram que, apesar da melhora, subsistem
mazelas incompatíveis com o nível de progresso alcançado pela humanidade. Não
obstante a todos os avanços atingidos pela medicina, ainda acontecem mortes por
diarréia ou fome e o número de desnutridos crônicos no mundo subdesenvolvido
subiu a níveis alarmantes. Doenças consideradas vencidas pelas vacinas surgem
em surtos aqui e ali.
E as contradições não param
por aí, porque ainda existem bilhões de pessoas que não têm acesso a saneamento
básico, que vivem sem eletricidade, que não dispõem de água potável, que não
contam com moradia adequada e que não usufruem dos serviços básicos de saúde. Definitivamente,
o arsenal de benesses trazidas pela ciência e a tecnologia não puderam
extinguir, como se chegou a pensar no início do século, a todos os problemas
humanos.
O século XX deixou uma
incomparável herança de conquistas técnico-científicas capazes de tornar a vida
melhor do que nunca. Só que esse progresso ficou restrito, não alcançando toda
a humanidade. O desafio do novo milênio é o de mudar esse quadro de profunda
injustiça social, usando as elevadas conquistas do conhecimento para deixar
para trás a fome, a violência, o analfabetismo, a mortalidade infantil, os desequilíbrios
ambientais e muitas outras misérias que, paradoxalmente, povoaram o século do
progresso. Também na tecnologia se vê o evidente fracasso do pensamento
secularista, que esperava que ela solucionasse as mazelas da sociedade.
C –
O fracasso da economia
Em nenhum outro tempo
anterior a humanidade teve tantas possibilidades de realização como no século
XX em função do aumento das riquezas. Mas as benesses desta riqueza estão
concentradas em algumas regiões do globo terrestre, deixando um considerável número
de contingente às margens das mais significativas vitórias do progresso.
As doenças infecciosas e
parasitárias, típicas da pobreza, deixam milhões de mortos ao redor do planeta.
As taxas de analfabetos de adultos entre os países subdesenvolvidos ainda são
altíssimas. A expectativa de vida média em alguns países subdesenvolvidos pode
chegar a apenas 28 anos. Se nós vivemos em um tempo marcado por uma
hiperevolução tecnológica, era de se esperar que ela trouxesse algumas soluções
e desfizesse uma série de nós que afetam a sociedade, mas a expansão
tecnológica só reforça a condição das áreas do planeta onde há mais empregos,
com maior poder aquisitivo e melhor distribuição de renda.
E o que é inacreditável,
embora seja a mais pura verdade, ainda existem milhões de habitantes do planeta
os quais vivem com menos de US$ 2 por dia. E o cenário é ainda pior, pois não
há condições, dentro do sistema capitalista em que vivemos, de dar a todos os
habitantes do planeta o mesmo padrão de vida, por exemplo, dos americanos. Se
todos os países fossem consumir a energia que eles consomem, a sustentabilidade
da Terra desapareceria.
Portanto, a margem de
excluídos é necessidade do próprio sistema capitalista. Por isso que o sistema
econômico mundial favorece a exclusão. E a globalização tem sido um instrumento
de aprofundamento do fosso que separa os mais ricos e os mais pobres. E tudo
isso é consequência de um capitalismo monetarista, cujo único objetivo é o
dinheiro, muito diferente do pensamento neoliberalista que tinha a ideia de
que, organizando a economia, os outros âmbitos da vida social se arrumariam por
si mesmo, mas o Estado capitalista é incapaz de resolver os problemas criados por
suas próprias contradições.
Vivemos em uma sociedade
anti-humanista. Em um mundo dominado pela ótica de mercado, No mundo atual, as
pessoas não se questionam sobre o sentido da vida ou o que é, de fato, a
felicidade. Valores como a dignidade, a solidariedade, a fraternidade, o
perdão, a coragem e o amor são esquecidos ou postos de lado. Apesar de termos
alcançado progressos materiais incríveis nos últimos tempos, o mesmo não aconteceu
na área do humanismo. A humanidade inventa remédios para prolongar a vida, mas,
na verdade, aos 40 anos, as pessoas já começam a ser descartadas pelo mercado.
Também fica em evidência o fracasso do pensamento secularista, que achava que
poderia comprar com suas riquezas a felicidade da humanidade.
De fato, as aquisições
trazidas pelo progresso técnico-científico mudaram o panorama da vida. O homem
aprendeu a voar, a manipular a genética, a curar doenças, a comunicar-se a
longas distâncias. O século XX é um tempo de glória da ciência e da tecnologia,
que trouxeram tantas possibilidades, que se chegou a imaginar que o homem
conseguiria resolver todos os seus problemas. Apesar disso, este século também
foi marcado pela destruição produzida, sobretudo por duas grandes guerras, pelo
perigo atômico, pela guerra fria, por conflitos étnicos e religiosos, por
desequilíbrios econômicos e sociais em várias partes do mundo, e também por um
crescente individualismo.
3 – SÉCULO
XX E SUAS TEOLOGIAS
Apesar de seu fracasso o
homem não abandonou o pensamento secularista, antes tem realizado adaptações na
tentativa de acomodá-lo a nova realidade da humanidade.
Toda cosmovisão procura uma
teologia que a justifique, quer seja ela uma teologia bíblica, natural, ateísta
ou de outra matriz qualquer. Isso acontece porque o homem jamais abandonou a
ideia da existência de Deus, pois essa necessidade espiritual faz parte da sua
estrutura. Por isso que, mesmo vivendo sob o espírito de um secularismo
materialista, o homem não abandona a espiritualidade.
A busca teológica do homem
moderno tende a seguir dois caminhos: a negação do cristianismo ou a adequação
do cristianismo ao pensamento moderno. E é exatamente isso que podemos notar
nas teologias modernas.
A –
A teologia secular
No século XX, quando surgiu
a teologia liberal, começou a tentativa de adequação entre a teologia cristã e
a ciência. A ênfase desta teologia é muito mais científica do que teocêntrica,
pois ela propõe uma busca da fé cristã tendo a ciência como a principal
ferramenta de avaliação. Significa que aquilo que na fé cristã fosse
anticientífico, ou seja, que não pudesse ser comprovado cientificamente deveria
ser rejeitado ou reinterpretado.
Uma das propostas de
reinterpretação da fé cristã foi defendida pelo teólogo alemão Rudolf Bultmann
e ficou conhecida como desmitologização, que é a retirada do que se
consideravam mitos na Bíblia. Entram nesta lista os milagres, a encarnação de
Cristo, a ressurreição e etc., verdades que são inegociáveis para a fé cristã
bíblica. Quanto aos milagres, eles são realizados pela fé e, quanto a fé, a
bíblia diz que:
1 Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se
não vêem (Hb 11.1).
A fé jamais poderá ser
explicada pela ciência e seus milagres jamais poderão ser comprovados
cientificamente. Os milagres da Bíblia são todos reais e podem até hoje serem
alcançados por qualquer cidadão, desde que seja através de seu requisito
principal: pela fé. Muitos milagres de Deus têm acontecido no mundo afora,
longe do âmbito do nosso conhecimento. E quanto a ressurreição a Bíblia é clara
ao dizer:
16 Porque, se
os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
17 E, se
Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos
pecados.
18 E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram.
19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os
mais infelizes de todos os homens (1 Co 15.16-19).
E quanto a encarnação de
Cristo a Bíblia também diz:
1 Amados, não deis crédito a qualquer espírito;
antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas
têm saído pelo mundo fora.
2 Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo
veio em carne é de Deus;
3 e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido
que vem e, presentemente, já está no mundo (1 Jo 4.1-3).
Os milagres, a encarnação de
Cristo e a ressurreição não são mitos, mas são fatos aceitos pela fé, pois não
os vimos acontecerem, mas a fé é a convicção de fatos que se não vêem.
O erro da teologia liberal
não é o seu apreço pela ciência, mas o fato de ela submeter a verdade bíblica e
o próprio Deus ao crivo científico, e Deus não se explica pela ciência, mas se é
aceitado e adorado pela fé. Esse erro levou os adeptos da teologia liberal a
caminhar na direção dos questionamentos da fé bíblica, e a ficarem a favor de
uma teologia secularista.
B
– A teologia da Economia
Em um mundo comandado pela
economia de mercado surge uma nova proposta teológica com elementos
secularistas: a teologia da prosperidade. Esta teologia desejava reascender o
valor da fé sobrenatural, entretanto, ao avaliar seus valores, ela tem se
revelado em um comportamento antropocêntrico com seu conceito materialista de
prosperidade.
Esta teologia se tornou
muito comum no meio cristão e deixou a muitos afeiçoados a riqueza. Os valores
de Jesus e o que Ele pensava da riqueza estão registrados na Bíblia e sempre devem
servir para nós de base. Um bom exemplo é o encontro de Jesus com um jovem
muito rico:
20 Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e
terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
22 Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas
propriedades.
23 Então, disse Jesus a seus
discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos
céus (Mt 19.20-23).
Jesus foi muito duro com aquele
jovem ao pedir para ele se desfizer de sua riqueza. Mas será que era realmente
isso que Jesus tentava transmitir para aquele jovem e seus ouvintes? Encontramos
o princípio que Jesus queria passar em outro texto. Se acharmos um absurdo
Jesus pedir para ele se desfazer de sua riqueza, imagine, então, o que
acharíamos quando disse:
8 Portanto, se a tua mão ou o
teu pé te faz tropeçar, corta-o e
lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que,
tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno (Mt 18.8).
Mas o problema não está na
riqueza, nem nos olhos, pés ou mãos, mas está no coração. É dele que devemos
arrancar tudo que nos separa de Deus:
11 não é o que entra pela boca o que contamina o
homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem.
18 Mas o
que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem.
19 Porque
do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição,
furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
20 São estas as coisas que contaminam
o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina (Mt 12.11,18-20).
Aí está o princípio à que
Jesus se referiu ao pedir para o jovem rico se desfizer de sua riqueza e de se
amputar algum membro do corpo para se ganhar o Reino dos Céus. Na verdade eles
precisam ser arrancados do coração. É ele que precisa de tratamento porque é o
coração do homem que está infectado pelo pecado.
C –
A teologia hedonista
Promovido pelo sucesso
avassalador da tecnologia e seus novos instrumentos de conforto, a modernidade,
com a sua ênfase antropocêntrica, sustentou um forte pensamento hedonista que
tem o prazer como seu objetivo principal. Esta teologia também ultrapassou os
limites do mundo e adentrou nas igrejas cristãs, porque na esteira dessa busca
pelo prazer, cresceu uma teologia hedonista nas igrejas com base na ideia de
prazer e alegria como mola mestra do entusiasmo cristão e colocou o prazer
humano como uma finalidade da fé.
Os resultados dessa teologia
foram perdas significativas de valores essenciais da fé cristã com cultos cada
vez mais adaptados ao padrão de contentamento dos ouvintes. As pregações da
Palavra de Deus nos púlpitos se transformaram em mensagens que soam bem aos
ouvidos das pessoas, porque não se devem deixar os participantes dos cultos deprimidos.
Os cultos têm sido mais divertidos e atraentes do que reverente, pois a ideia
de reverência se tornou irrelevante. Os cultos centrados no adorador não são
novidade da modernidade, mas eles sempre foram denunciados como um desvio do
propósito da adoração a Deus:
30 Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do
teu povo falam de ti junto aos muros e nas portas das casas; fala um com o
outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual é a palavra
que procede do SENHOR.
31 Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se
assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca,
professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro.
32 Eis que tu és para eles como
quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra (Ez
33.30-32).
4 Pois certos indivíduos se
introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente
pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o
nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo (Jd 4).
O erro da teologia hedonista
é que ela propõe uma felicidade construída a partir do coração humano e seus
critérios, mas as escrituras Sagradas nos ensinam que a verdadeira felicidade
está em um contentamento em Deus:
4 Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração (Sl
37.4).
27 Deixo-vos a paz, a minha paz
vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo.
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (Jo 14.27).
Muitos têm buscado a Deus
apenas para atender a seus desejos, em busca de prazer e não de agradar-se de
Deus. A Palavra de Deus tem as respostas para as ansiedades da humanidade e
para as suas necessidades, mas o ser humano, ao invés de buscar na verdadeira
fonte, prefere continuar a sua busca frenética em suas vãs filosofias, um mal
muito bem expressado nas palavras de Jeremias:
13 Porque dois males cometeu o
meu povo: a mim me deixaram, o manancial
de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as
águas (Je 2.13).
Conclusão
É claro que o avanço
científico e tecnológico é muito bem-vindo, pois eles realmente têm facilitado
o nosso dia a dia e aumentado a produtividade do nosso labor, mas a cosmovisão
bíblica entende que todo progresso científico, tecnológico e econômico estão
comprometidos com um modelo centrado no homem e que este se recusa a reconhecer
a centralidade de Deus na vida da Criação.
O fracasso do pensamento
secularista consiste em sua prepotência de achar que conseguiria resolver os
problemas da humanidade, mas com o decorrer dos anos o que se pode notar é o
aumento crescente de seus problemas e um declínio alarmante da humanidade que
caí em um abismo sem fim, efeito direto do pecado na vida humana e da cegueira
em que foi encerrada a humanidade. É um dever cristão levar a luz do Evangelho
aos que estão nas trevas. Que Deus te abençoe! Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com