ESTUDO
DO LIVRO DE DANIEL: A SOBERANIA DE DEUS NA HISTÓRIA
PARTE
I: AS INTERVENÇÕES DIVINAS
LIÇAO
III: O SONHO DE NABUCODONOSOR: SEUS ASPECTOS
1 No segundo ano do reinado de Nabucodonosor,
teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono.
2 Então, o rei mandou chamar os magos, os
encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que declarassem ao rei quais
lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram diante do rei.
3 Disse-lhes o rei: Tive um sonho, e para
sabê-lo está perturbado o meu espírito.
4 Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó
rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
5 Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma
coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis
despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo;
6 mas, se me declarardes o sonho e a sua
interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto,
declarai-me o sonho e a sua interpretação.
7 Responderam segunda vez e disseram: Diga o
rei o sonho a seus servos, e lhe daremos a interpretação.
8 Tornou o rei e disse: Bem percebo que quereis
ganhar tempo, porque vedes que o que eu disse está resolvido,
9 isto é: se não me fazeis saber o sonho, uma
só sentença será a vossa; pois combinastes palavras mentirosas e perversas para
as proferirdes na minha presença, até que se mude a situação; portanto,
dizei-me o sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a interpretação.
10 Responderam os caldeus na presença do rei e
disseram: Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois
jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que exigisse
semelhante coisa de algum mago, encantador ou caldeu.
11 A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém
há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os
homens.
12 Então, o rei muito se irou e enfureceu; e
ordenou que matassem a todos os sábios da Babilônia.
13 Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser
mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem
mortos.
14 Então, Daniel falou, avisada e prudentemente,
a Arioque, chefe da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios da
Babilônia.
15 E disse a Arioque, encarregado do rei: Por
que é tão severo o mandado do rei? Então, Arioque explicou o caso a Daniel.
16 Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu
designasse o tempo, e ele revelaria ao rei a interpretação.
17 Então, Daniel foi para casa e fez saber o
caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros,
18 para que pedissem misericórdia ao Deus do céu
sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com
o resto dos sábios da Babilônia.
19 Então, foi revelado o mistério a Daniel numa
visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu.
20 Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de
eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;
21 é ele quem muda o tempo e as estações, remove
reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos
inteligentes.
22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece
o que está em trevas, e com ele mora a luz.
23 A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças
e te louvo, porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que
te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei.
24 Por isso, Daniel foi ter com Arioque, ao qual
o rei tinha constituído para exterminar os sábios da Babilônia; entrou e lhe
disse: Não mates os sábios da Babilônia; introduze-me na presença do rei, e
revelarei ao rei a interpretação.
25 Então, Arioque depressa introduziu Daniel na
presença do rei e lhe disse: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o
qual revelará ao rei a interpretação.
26 Respondeu o rei e disse a Daniel, cujo nome
era Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua
interpretação?
27 Respondeu Daniel na presença do rei e disse:
O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem
revelar ao rei;
28 mas há um Deus no céu, o qual revela os
mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos
dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são
estas:
29 Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te
pensamentos a respeito do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela
mistérios te revelou o que há de ser.
30 E a mim me foi revelado este
mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes,
mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses as
cogitações da tua mente (Dn 2.1-30).
Introdução
O capítulo dois de Daniel
relata sobre o sonho de Nabucodonosor. O estudo deste capítulo nos ajudará a
compreender a Soberania de Deus na História da humanidade. Judá caiu nas mãos de
Nabucodonosor, rei da Babilônia, depois da sua estrondosa vitória sobre o Faraó
Neco do Egito. Então, o próprio rei Nabucodonosor cercou Jerusalém no ano 606
a.C. e levou de Jerusalém alguns nobres, vasos do templo e constituiu um rei
que se torna vassalo dele em Judá e Jerusalém. Mais tarde, ele retorna, agora
em 597 a.C. em virtude da rebelião do rei de Judá contra o rei da Babilônia. Em
586 a.C., Nabucodonosor cerca Jerusalém durante 18 meses, e a cidade fica
desprotegida, desguarnecida, sem abastecimento de água e de pão, e as pessoas
começam a morrer de fome dentro dos muros, de tal maneira que mais felizes
foram os que morreram à espada do que aqueles que morreram de fome dentro dos
muros.
Agora, vimos aqui o povo na
Babilônia, no cativeiro e este texto vai nos revelar algo maravilhoso da
Soberania de Deus na História da humanidade, mostrando que Deus é soberano
sobre os governos mundiais. Vamos ver a destruição dos megalomaníacos impérios
do mundo e o estabelecimento vitorioso do Reino de Deus na História da
humanidade. Não vamos ver neste primeiro estudo o significado, a tradução, a
profecia do sonho, mas vamos nos voltar mais ao rei e a Daniel e as suas
atitudes. Em um segundo estudo, na parte escatológica dos nossos estudos,
voltaremos ao sonho e aí sim veremos o seu significado, as profecias de Deus
neste sonho.
Em um tempo em que a Babilônia
era dona do mundo, e que Nabucodonosor era rei de reis, em que Babilônia estava
no apogeu de seu poder, a Bíblia diz que Nabucodonosor teve um sonho e este
sonho não apenas tirou o seu sono, mas também tirou a paz de todos os sábios da
Babilônia. Este texto tem algumas lições importantes para nós. Vamos a elas.
1
- O SONHO PERTURBADOR DE NABUCODONOSOR
1 No segundo ano do reinado de
Nabucodonosor, teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe
o sono.
Um sonho que tirou o sono do
rei. A palavra perturbar aí significa golpear. E quando Nabucodonosor teve este
sonho ele foi golpeado, ele foi ferido, ele foi nocauteado por este sonho ao
ponto de perder a paz, de perder a tranquilidade, de perder até mesmo a serenidade;
ele muito se perturbou por causa daquele sonho. Ele se enche de ansiedade, de insegurança
e de medo, e por que isso acontece? Porque este sonho mostra algo sobre o rei
que os olhos humanos não enxergavam naquele momento.
A
– Ele Mostra a Fragilidade do Rei e do seu Império
No sonho de Nabucodonosor
Deus revelou a fragilidade dos poderosos reis e dos poderosos impérios deste
mundo. Naquela época, Nabucodonosor era um homem que nós podíamos chamar de
inexpugnável, um rei que não se podia vencer ou conquistar através da força. Ele
era o comandante chefe do maior império do mundo, ele tinha o maior exército do
mundo, ele estava encastelado no trono mais alto do mundo, ele tinha contraído
a maior, a mais bela, a mais rica, a mais opulenta cidade do mundo. Ele estava
no apogeu de seu governo, o seu regime era absolutamente autocrático, a palavra
do rei era a lei, ele falava e as coisas tinham que acontecer, porque ele
falava e ninguém podia questionar as suas ordens. Assim era Nabucodonosor.
Quando Nabucodonosor estava
no ponto máximo de seu governo, ele tem um sonho, e este sonho lhe perturba, e
este sonho lhe intranquiliza, porque este sonho revela a sua fragilidade. Fragilidade é
a qualidade de se perder seu estado original com facilidade. Fragilidade se
defina mais como a capacidade de um material fraturar-se com pouca deformação. Se
o rei se achava invencível este sonho lhe mostra que ele pode ser vencido,
derrotado e pode ser retirado do trono, fato que vai acontecer anos mais tarde.
A partir de seu sonho o rei
começa a perceber que há um poder que está acima dele, um poder que não pode ser
controlado por ele, um poder que é supraterreno, um poder que é supra-humano,
um poder que ele não pode conquistar, nem manipular e nem domesticar. E é
exatamente isso que perturba o rei, porque limita a sua prepotência, porque
limita o seu poder, porque tira o rei do controle. Este poder é algo invisível,
que está além deste mundo, além da capacidade dele para administrar, e isso
gera nele insegurança, inquietude e perturbação. Mas não é somente a impotência
de Nabucodonosor que este texto nos revela.
B
– Ele Acende a Prepotência de Nabucodonosor
2 Então, o rei mandou chamar os magos, os
encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que declarassem ao rei quais
lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram diante do rei.
3 Disse-lhes o rei: Tive um sonho, e para sabê-lo está
perturbado o meu espírito.
Nabucodonosor se perturba a
ponto de convocar os magos, os encantadores e os feiticeiros de seu reinado. E
os magos, entusiasmados, pois já deveriam ter presenciado isso antes, e sem
imaginar o que lhes esperavam, logo argumentam:
4 Os caldeus disseram ao rei em
aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize
o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
Mas os magos logo percebem
que agora é diferente, que o rei não quer saber apenas a interpretação de seu
sonho, ele exige que os magos adivinhem também o que ele sonhou para somente
depois interpretar:
5 Respondeu o rei e disse aos
caldeus: Uma coisa é certa: se não me
fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as
vossas casas serão feitas monturo;
Não sabemos a verdadeira
razão disso, se o rei não se lembrava mais do sonho e não podia contar ou se o
rei se lembrava do sonho, mas não queria contar por entender que, se contasse o
sonho, eles poderiam burlar o verdadeiro sentido da interpretação. Isso demonstra
o grau de perturbação que o sonho provocou no rei e a desconfiança do rei em
relação aos seus magos, revela que ele sabia de que tudo que os magos faziam
não passavam de truques para enganar a plateia. Ele tinha certeza de que, se
revelasse a eles o seu sonho, eles lhes dariam uma interpretação falsa, vaga e
insatisfatória. Aquele sonho lhe perturbou tanto que a última coisa que o rei
queria era ser enganado quanto ao seu significado. A Dedução do rei foi a
seguinte: se eles podem me dar a interpretação eles podem me dar também o que
eu sonhei, e se eles não podem contar o que eu sonhei muito menos terão a
capacidade de interpretar o que sonhei.
Ao exigir dos homens o que
eles não podem oferecer, Nabucodonosor revela a sua prepotência. Mas lembram na
segunda lição do que estes magos receberam do rei? A melhor escola e a melhor
comida! De certa forma o rei estava dizendo o seguinte: eu paguei para vocês
três anos na melhor escola do mundo, eu dei para vocês a melhor escola, a
melhor ração, o melhor suprimento, as maiores oportunidades, e agora eu exijo
que vocês me correspondam, que vocês me contam o sonho e me façam entender o
seu significado. Exigir das pessoas aquilo que elas não podem dar é
prepotência, é exorbitar-se de seu poder, é ultrapassar o limite, a fronteira
do bom senso e da sabedoria. Mas a sua prepotência vai além, ela vem
acompanhada de ameaças:
5 Respondeu o rei e disse aos
caldeus: Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua
interpretação, sereis despedaçados, e as
vossas casas serão feitas monturo;
Ou seja, todos eles seriam
mortos. Mas o rei também tentou comprar os magos, oferecendo a eles vantagens e
promoções:
6 mas, se me declarardes o sonho
e a sua interpretação, recebereis de mim
dádivas, prêmios e grandes honras; portanto, declarai-me o sonho e a sua
interpretação.
Ou seja, eu tenho poder e
tenho dinheiro. Quem tem poder e tem dinheiro tenta comprar as pessoas, quem
tem poder e tem dinheiro acha que tem a capacidade de gerenciar e de dominar as
coisas, de determinar o rumo das coisas, e o rei, então, pensa que, ao oferecer
prêmios, honra, riquezas aos magos da Babilônia, ele abriria o caminho para a
interpretação de seu sonho. Os magos ficam estarrecidos diante da exigência do
rei e insistem:
7 Responderam segunda vez e
disseram: Diga o rei o sonho a seus
servos, e lhe daremos a interpretação.
Eles tentaram se esquivar e
tentar ludibriar novamente o rei, mas este permaneceu enfático:
8 Tornou o rei e disse: Bem percebo que quereis ganhar tempo, porque vedes que o que eu
disse está resolvido,
9 isto é: se não me fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois
combinastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha
presença, até que se mude a situação; portanto, dizei-me o sonho, e saberei que
me podeis dar-lhe a interpretação.
O rei disse: vocês estão
querendo é conspirar contra mim, entrar em acordo para falsear a verdade e me
dar uma interpretação equivocada. O rei sabia que, se revelasse o sonho, a
resposta seria as mesmas baboseiras de sempre. O sonho do rei demonstra ainda
outra coisa:
C
– Ele Deixa a Lume a Impotência dos Sábios
Maior que a prepotência do
rei era a impotência dos magos, dos encantadores, dos feiticeiros e dos
caldeus; eles eram completamente limitados. A sabedoria dos sábios deste mundo
tem limites. Há coisas que os homens não podem fazer, que os poderosos não
podem fazer, que a ciência não pode fazer, que a tecnologia não pode fazer. Sempre
haverá um ponto determinante da limitação humana.
Os magos, os encantadores,
os feiticeiros e os caldeus são convocados para revelar ao rei o sonho dele e a
interpretação do sonho, e eles se esbarram diante da incompetência e da
incapacidade. E quem eram estes homens? Os magos eram os possuidores de
conhecimento, de mistérios sagrados e das ciências ocultas. Eles eram treinados
neste mister, mas eles não puderem dizer o sonho e nem interpretar o sonho. Os
encantadores eram os astrólogos, eram aqueles que estudavam os astros, as
estrelas, a lua para através dos astros tentar decifrar o futuro, mas não
conseguiram revelar o sonho e nem a sua interpretação. Os feiticeiros eram
aqueles que usavam a magia invocando o nome dos espíritos malignos, mas também
não conseguiram. Os caldeus eram uma casta sacerdotal de homens sábios e também
não puderam, também estavam limitados. Todos eles vão dizer ao rei:
10 Responderam os caldeus na presença do rei e
disseram: Não há mortal sobre a terra
que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve rei, por grande e
poderoso que tivesse sido, que exigisse semelhante coisa de algum mago,
encantador ou caldeu.
11 A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém há que a possa revelar
diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens.
Ou seja, eles descrevem a
total incapacidade que eles têm de revelar o sonho e a interpretação ao rei.
Notem que eles eram magos, que eram encantadores, que eram feiticeiros, que
eram caldeus, homens todos ligados a religiosidade babilônica, mas notem que a
sabedoria dos sábios deste mundo é absolutamente deficiente. Eles reconhecem
uma coisa:
11 A coisa que o rei exige é
difícil, e ninguém há que a possa
revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens.
Isso revela os erros que
eles têm em sua teologia, pois eles são politeístas. Eles falam de deuses e não
do Deus vivo, único, Todo Poderoso. E no entendimento deles os deuses não moram
com os homens:
11 A coisa que o rei exige é
difícil, e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens.
Eles estão dizendo que se existem
deuses e que eles não se importam conosco, eles não estão perto de nós, eles
não podem nos valer, eles estão distantes, talvez indiferentes, talvez inatingíveis.
E não é isto que os filmes da mitologia grega querem passar para nós? Observe e
verás isso nos filmes. Esta é uma forma equivocada de ver Deus, pois a Bíblia
diz:
15 Porque assim diz o Alto, o
Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e
santo lugar, mas habito também com o
contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e
vivificar o coração dos contritos (Is 57.15).
Deus é único, é verdadeiro e
Ele está presente, Ele não está distante, por isso que somente Ele é Deus, o
restante é tudo mitologia, é lenda, é estória. A ideologia dos magos é a forma
equivocada da teologia dos poderosos deste mundo. Então, o rei se enfureceu.
12 Então, o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os
sábios da Babilônia.
Não tinha tribunal para
apelar, não tinha lei para detê-lo, o rei era a lei e o rei estava louco. A
prepotência de Nabucodonosor nos ensina o que o Rev. Hernandes Dias Lopes diz do
grande pensador cristão, Reinhold Niebuhr que disse: Este sentimento de insegurança este complexo de ansiedade é a causa da
tirania política moderna. Estudem a história e vocês verão que os déspotas
foram déspotas porque se sentiram inseguros, porque nutriram medo de que alguém
pudesse um dia destrona-los, de que alguém um dia pudessem puxar o tapete, pois
quanto mais alto é a posição que um homem ocupa maior é o medo que ele tem de
cair lá de cima, quanto mais elevada a posição maior é a insegurança.
Por causa do sonho Nabucodonosor
está com medo. Embora seja o maior rei da época ele está com medo, ele está
inseguro e ele pensa que as pessoas vão tramar contra ele, e antes que as
pessoas tramam contra ele, ele quer destruí-las. Esta ideia de medo, de
insegurança, de se sentir ameaçado e então você precisa ameaçar, precisa
destruir, esta é a ideia que está por trás aqui. E o texto ainda nos revela que
riqueza e poder, que dinheiro, que fama, que sucesso não podem dar ao homem
segurança. É justamente o que a Bíblia nos diz:
4 Empreendi grandes obras; edifiquei para mim
casas; plantei para mim vinhas.
5 Fiz jardins e pomares para mim e nestes
plantei árvores frutíferas de toda espécie.
6 Fiz para mim açudes, para regar com eles o
bosque em que reverdeciam as árvores.
7 Comprei servos e servas e tive servos
nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os
que antes de mim viveram em Jerusalém.
8 Amontoei também para mim prata e ouro e
tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantores e cantoras e das
delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres.
9 Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que
viveram antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
10 Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes
neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas
as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas.
11 Considerei todas as obras que
fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia
feito; e eis que tudo era vaidade e
correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol (Ec 2.4-11).
Salomão, homem que teve
riquezas, fama, sucesso, olhou para toda a glória que possuía e disse: Isso é
nada! Isso não pode me dar segurança! Isso para nós é uma lição, a segurança
não está no dinheiro, nem no poder, nem na fama e nem no sucesso, a segurança
está em Deus. O sonho de Nabucodonosor revela a sua pequenez, acalora a sua
prepotência e evidencia a impotência da sabedoria humana.
2
– A INTERVENÇÃO DE DANIEL
Diante do desespero surge
uma saída: Daniel, aquele que permaneceu fiel a Deus e se preservou da
contaminação de Babilônia. Daniel precisa intervir porque de tabela ele e seus
amigos também são atingidos pela fúria do rei:
13 Saiu o decreto, segundo o
qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros,
para que fossem mortos.
Sai o Decreto: Matem os sábios.
Daniel está sendo procurado também para ser morto. Mas Daniel, homem de Deus,
não se entrega ao martírio e toma três atitudes que salvou a vida dele, de seus
amigos e de todos os magos e encantadores de Babilônia:
A
– Daniel Vai ao Rei e Pede Tempo
Primeiro, Daniel quer
entender o que está acontecendo:
14 Então, Daniel falou, avisada e prudentemente,
a Arioque, chefe da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios da
Babilônia.
15 E disse a Arioque,
encarregado do rei: Por que é tão severo
o mandado do rei? Então, Arioque explicou o caso a Daniel.
Avisado dos motivos, Daniel toma
iniciativa e demonstra muita ousadia:
16 Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu designasse o tempo, e ele
revelaria ao rei a interpretação.
Ele não pensa em fugir, não
pensa em se esconder, não tenta enrolar ao rei, pois ele reconhece a sua
limitação, mas precisa de tempo porque ele demonstra confiança em Deus. Ele foi
fiel a Deus, não se curvou ante aos deuses de Babilônia, não se deixou
ludibriar pela filosofia de Babilônia, agora ele tinha certeza de que Deus não
o deixaria na mão para perecer em Babilônia. Não há nada mais confiante do que
a consciência da fidelidade para orar a Deus. Daniel não tem a interpretação
ainda, mas ele crê que Deus pode dar a ele a interpretação, e por isso ele vai
ao rei e pede tempo, ele não chega com prepotência e diz que tem a resposta. Isso
é prudência, é sabedoria. Mas depois de ir ao rei, Daniel vai a outro lugar:
B
– Daniel Vai aos Amigos e Pede Oração
17 Então, Daniel foi para casa e fez saber o
caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros,
18 para que pedissem misericórdia ao Deus do céu sobre este mistério,
a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios
da Babilônia.
Este é um princípio
fantástico. Quando para o mundo só resta o desespero, para os filhos de Deus
ainda há o recurso da oração. Quando parecia que não mais tinha chance, Daniel
vai ao encontro de seus amigos e diz o seguinte: Vamos orar! Vamos clamar a
Deus! Vamos buscar a Deus! Daniel acreditava que Deus responde as orações,
porque Deus já havia respondido oração lá atrás, quando ele pediu da questão de
receber uma ração de legumes ao invés das iguarias do rei, para que ele e seus
amigos pudessem ter melhor aparência do que os demais estudantes, e Deus ouviu
a sua oração e ele foi atendido, e agora ele entende que precisa orar novamente.
Nós precisamos ter amigos a
quem buscarmos na hora de nossa aflição. Pobre é a pessoa que na hora de sua
dor, na hora de sua angústia, na hora de sua aflição, não tem um amigo a quem
recorrer, não tem alguém a quem chegar e dizer: Eu preciso que você ore por mim,
eu preciso que você ore comigo, eu preciso que você esteja do meu lado. Daniel
tinha amigos, e amigos de oração, amigos que podiam dobrar os joelhos por ele e
com ele.
Daniel compreende a
importância de orarmos em grupo. Tem hora que você precisa buscar alguém para
orar por você. Daniel podia ter orado sozinho como quando com respeito a cova
dos leões, mas nesta hora ele precisa orar com alguém. Tem hora que você
precisa de mais alguém, precisa escutar a voz de mais alguém do seu lado,
precisa de um ombro amigo, de alguém que aqueça o seu coração, daí a
importância da Igreja estar orando como comunidade. É importante você ter a sua
devocional lá em casa? É muito importante sim, mas também é importante que hora
você se reúna com o povo de Deus, com um grupo de oração, seja na igreja, seja
na sua casa, seja onde for, mas que seja onde outras pessoas se reúnam para
orar.
Daniel e seus amigos vão a
Deus e pede misericórdia. Qual a diferença entre Daniel e os magos da
Babilônia? Os magos da Babilônia acreditavam no céu, mas Daniel acreditava no
Deus dos céus. Os magos da Babilônia consultavam os astros, as estrelas, a lua
e o sol, mas Daniel consultava o Deus criador do sol, da lua e das estrelas.
Enquanto os magos estavam consultando os astros, Daniel estava consultando o Deus
do céu. Daniel não chega com prepotência, ele chega para clamar por
misericórdia. É impossível obter resposta quando oramos com prepotência! É
impossível obter resposta quando oramos com vaidade! É impossível obter
resposta quando oramos com orgulho! Ele se humilha diante de Deus e clama por
misericórdia para que o Senhor lhe revele este mistério e para que não aconteça
um banho de sangue sobre a terra.
C
– A Revelação do Sonho a Daniel
Deus ouve a oração de seus
servos.
19 Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel
bendisse o Deus do céu.
Os servos de Deus fiéis a
Ele serão honrados por Deus. Pode ter certeza disso! Deus honra àqueles que o
honram. Deus honrou a Daniel. Deus honrou os amigos de Daniel porque eles o
buscaram e porque eles buscaram ser fiéis a Deus em tempos de prova. Os ouvidos
de Deus estão sempre atentos ao clamor de seus filhos. Mas Daniel teve outro
ingrediente muito importante em sua atitude.
D
– A Gratidão de Daniel
19 Então, foi revelado o mistério a Daniel numa
visão de noite; Daniel bendisse o Deus
do céu.
20 Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade
a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;
Daniel bendiz a Deus porque
Ele une poder e sabedoria. Poder sem sabedoria é um perigo. Dar poder a um
louco é um risco imenso. O que é maravilhoso é que o nosso Deus tem poder e tem
sabedoria. Ele é o Todo-Poderoso e Ele é sábio. O que é sabedoria? Sabedoria é
tomar a melhor decisão para alcançar os melhores fins, é a capacidade, a
competência de por em execução este plano sábio. Deus tem sabedoria e tem poder
e Daniel agradece a Deus porque Ele tem sabedoria e poder. Daniel bendiz a Deus
porque Ele é o Senhor do tempo:
21 é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece
reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.
A primavera, o verão, o outono
e o inverno, a chuva, o sol, tudo está no comando e no controle de Deus. Daniel
tem uma visão da Soberania de Deus no tempo. Daniel bendiz a Deus porque Ele é
o Senhor da História.
21 é ele quem muda o tempo e as
estações, remove reis e estabelece reis;
ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.
Nabucodonosor não conquistou
o mundo porque ele era um homem estrategista apenas, foi Deus quem o levantou,
foi Deus quem o promoveu. Olha a palavra de Daniel ao rei:
37 Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória;
38 a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que
eles habitem, e os animais do campo e as aves do céu, para que dominasses sobre
todos eles, tu és a cabeça de ouro (Dn 2.37,38).
Nabucodonosor achava que ele
era rei de reis porque ele era forte, prepotente, poderoso, combativo,
guerreiro. Daniel diz ao rei que ele não ocupa esta posição por causa de sua
destreza, mas foi o Deus do céu quem te constituiu. Não foi a sua capacidade
expansionista e guerreira que lhe deu povos nas mãos, mas foi Deus quem lhe
entregou. Deus é Soberano e é Ele quem está no trono. Daniel entende a
Soberania de Deus na História. Daniel bendiz a Deus porque Ele é o Senhor dos
mistérios.
22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas,
e com ele mora a luz.
Deus é o Deus que revela
mistérios. Com Ele habita a luz. Deus sabe tudo, vê tudo, conhece tudo,
discerne tudo. Para Deus não há nada escondido. Daniel entende isso. E por fim
Daniel bendiz a Deus por ter revelado o que lhe pediu:
23 A ti, ó Deus de meus pais, eu
te rendo graças e te louvo, porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que te
pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei.
E
– Daniel na Presença de Nabucodonosor
Daniel sabia da urgência.
Ele tinha consciência de que aquilo tudo não era brincadeira. Ele tinha
consciência de quantas vidas dependia dele naquele momento. Ele procurou logo
estar na presença do rei.
24 Por isso, Daniel foi ter com
Arioque, ao qual o rei tinha constituído para exterminar os sábios da
Babilônia; entrou e lhe disse: Não mates
os sábios da Babilônia; introduze-me na presença do rei, e revelarei ao rei a
interpretação.
E quando Arioque chega
diante do rei com Daniel, ele tenta ganhar uma certa vantagem sobre isso. Isso
é peculiar de todos nós. Sempre que temos uma oportunidade tentamos nos
autopromover.
25 Então, Arioque depressa
introduziu Daniel na presença do rei e lhe disse: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao
rei a interpretação.
Achou coisa nenhuma! Não foi
Arioque que achou Daniel, mas ele quer ganhar alguns pontos com o rei, uma
promoção, e se promover às custas de Daniel. A atitude de Daniel é
absolutamente contrária. Daniel exalta a Deus e não a si mesmo.
27 Respondeu Daniel na presença
do rei e disse: O mistério que o rei
exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei;
Ele fere logo a prepotência
do rei. Ele já começa mencionando a impotência dos sábios de Babilônia. Daniel
diz que não adiantava o rei ameaçar e matar os sábios porque eles nada podiam
fazer. Mas havia um que podia:
28 mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios, pois fez saber
ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as visões
da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estas:
Aí está a razão de todo este
acontecimento. Deus queria revelar a Nabucodonosor a Sua Soberania, a Sua
majestade e que era Ele, o Senhor, quem estava sentado no alto e sublime Trono.
Veja que Daniel tira o holofote de cima dele e o coloca em Deus.
30 E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais
sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se
fizesse saber ao rei, e para que entendesses as cogitações da tua mente.
Daniel podia ter tido uma
atitude diferente, pois ele já sabia o significado mesmo. Ele poderia se achar
diante do rei. Ele poderia neste momento se engrandecer, se envaidecer, chamar
as honras para si, buscar as luzes do palco para ele mesmo. Mas ele não se
promove, ele dá a glória devida ao nome de Deus. Daniel revela que o sonho do
rei é profético.
29 Estando tu, ó rei, no teu
leito, surgiram-te pensamentos a respeito do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela mistérios te
revelou o que há de ser.
Ele diz que o sonho revela
ao rei o há de ser nos últimos dias. Ou seja, o que o rei sonhou não é de fato
passado, é de fato ainda futuro. É profético! Mas isto estudaremos em uma lição
futura.
Conclusão
Conhecer a verdade de Deus
não basta. É preciso ser transformado pela verdade de Deus. Há um grande risco
de você conhecer muito sobre Deus, de você ter clara teologia acerca da pessoa
de Deus, dos atos de Deus, da Soberania de Deus e ainda não ser um súdito deste
Deus, e ainda não estar debaixo da autoridade deste Deus voluntariamente. Foi
isso que aconteceu com o rei Nabucodonosor, ele conheceu o poder de Deus, mas
ainda não se submeteu a este Deus. E você? Tem-se submetido a Deus? Você sabe
que Ele está com as rédeas da sua história nas mãos, mas você já colocou a sua
vida nas mãos deste Deus? Você já se colocou aos pés dele? Você já entregou a
Deus os seus cuidados? Os seus temores, as suas necessidades, os seus anseios,
os seus sonhos? Que Deus nos ajude a olhar para a História e ver Deus no
controle da História e da nossa vida. Que Deus assim nos
abençoe! Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia principal:
Bíblia Sagrada. Traduzida em
português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade
Bíblica do Brasil.
Rev. Hernandes Dias Lopes: Estudos sobre o
livro de Daniel