Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou (Rm 8.29,30).
INTRODUÇÃO:
Quais são as etapas da salvação?
Existe uma ordem na maneira como Deus aplica a salvação? Esta ordem pode ser
divisível? Como e quando a salvação se completa em sua plenitude?
A salvação do homem é um plano da
graça soberana de Deus o qual capacita a todos aqueles que Ele mesmo escolheu a
crer. Ela é a eterna decisão de Deus de conduzir seus filhos à glória e
fazê-los a olharem para essa glória como uma certeza garantida.
No texto acima Paulo fala de uma
ordem da salvação, onde é possível distinguir os vários elementos que compõem a
salvação e aponta os aspectos da salvação que se sucedem um a um, sendo eles:
Vocação, Regeneração, Fé e Arrependimento, Justificação, Adoção, Santificação,
Perseverança e Glorificação. Todos esses aspectos fazem parte da salvação a
qual é aplicada em um único ato e se completa em sua sequência. E para
experimentá-la em sua plenitude o perdido precisa passar por todas essas
partes.
01 – A SALVAÇÃO COMO UM PROCESSO UNITÁRIO:
É inegável que a Bíblia apresenta uma
ordem ao que se refere à salvação, pois em sua aplicação há etapas que
realmente vem antes e outras que são posteriores. Por exemplo não tem como você
ter fé sem antes ouvir a Palavra de Deus. Porém, é um erro pensar que exista um
esquema fixo que possa ser estabelecido de forma cronológica. Louis Berkhof
diz:
Quando falamos de uma Ordo Salutis
(Ordem da Salvação), não nos esquecemos de que a ação de aplicar a graça de
Deus ao pecador individual é um processo unitário, mas simplesmente ressaltamos
que é possível distinguir vários movimentos no processo, que a obra de
aplicação da redenção segue uma ordem definida e razoável, e que Deus não
infunde a plenitude da sua salvação ao pecador num único ato.
Mesmo que haja aspectos que possam
ser identificados e que demonstram uma lógica pela qual ela se concretiza, a
salvação é uma obra indivisível. Ela é um ato único de Deus, um processo
unitário que ocorre na vida do agraciado. Há na salvação um desenvolvimento,
mas também que cada etapa aplicada faz parte de um conjunto fechado. A Bíblia
demonstra claramente os vários aspectos da salvação que podem ser verificados
na vida de quem lhe é aplicada. Sendo eles:
a) O novo nascimento ou regeneração:
Este é o ponto inicial da salvação. É
quando Deus desvenda os olhos do eleito para que este veja e abre seus ouvidos
para que ouça. É o toque irresistível de Deus. E para que o homem possa
prosseguir para as fases seguintes da salvação Deus o regenera. Quanto a isso a
Bíblia diz:
Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível, mediante a palavra
de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pd 1.23).
Após ouvirmos e sermos despertados
pelo Espírito acontece em nós o arrependimento e a confissão de nossos pecados,
o reconhecimento da nossa culpa e da inocência de Jesus que pagou pelos nossos
pecados. Nesta hora somos regenerados e somos transformados pela ação de Deus
em uma nova criatura. Por isso que Paulo diz:
E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas (2 Co 5.17).
É o nascer de novo anunciado por
Jesus a Nicodemos.
b) O crer em Cristo:
A Bíblia diz:
E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo
(Rm 10.17).
O ponto primordial da salvação é a
pregação do evangelho, pois é pelo ouvir que somos despertados por Deus e
motivado pelo seu Espírito a crer. É certo que nem todos que ouvem creem, pois
o crer não depende do ouvir, mas da ação do Espirito Santo. Contudo, é o ouvir
que o Espírito usa em sua ação, além do fato de que o anúncio realizado ser um
elemento de prova contra aqueles que se recusaram a atender ao chamamento de
Deus.
c) A Justificação pela fé:
Ao sermos regenerados e, assim,
capacitados a crermos em Cristo através da pregação do evangelho, acontece a
justificação. A Bíblia diz:
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm
5.1).
A justificação é algo que nos é
imputado e não algo que nós conquistamos. Na queda de Adão nos separamos de
Deus e nos tornamos culpados. Era necessário sermos resgatados, mas para isso
havia um preço a ser pago pelos nossos pecados. Jesus pagou este preço e seu
valor foi aceito por Deus, de forma que não somos justificados pelos nossos
méritos, mas pelos méritos de Cristo. Isso nos mostra de que não somos
justificados pelas nossas obras, pois a Bíblia diz:
Visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso
e, mediante a fé, o incircunciso (Rm 3.30).
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom
de Deus; não de obras, para que ninguém
se glorie (Ef 2.8,9).
É por causa da justificação que somos
aceitos novamente na presença de Deus. É o culpado desprovido de sua própria
justiça, mas revestido da justiça de Cristo.
d) O selo do Espírito:
Após a regeneração em que procede o
arrependimento, a fé e a confissão, somos justificados, ou seja, declarados
inocentes pela justiça de Cristo, somos, por fim, selados pelo Espírito Santo.
Bíblia diz:
Em quem também vós, depois que
ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo
Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da
sua propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1.13,14).
A partir do momento de nossa
regeneração e justificação somos selados pelo Espírito Santo. Este selo é a
nossa garantia da plenitude da salvação, de que aquele que iniciou em nós a sua
salvação há de completa-la até ao seu elemento final com a glorificação. É
também por causa deste selo que somos preservados contra a ira do Diabo o qual
não pode tocar naquele que foi selado pelo Espírito. Por causa deste selo que
Jesus afirma que nenhum de seus escolhidos se perderá.
e) A Adoção na família de Deus:
A Bíblia diz que a habitação do
Espírito em nós faz-nos filhos adotivos de Deus e herdeiros:
Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de
escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito
de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e
coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados
(Rm 8.14-17).
Após sermos regenerados, despertados
pelo Espirito Santo a crer e a ouvir ao evangelho, e ainda justificados em
Cristo e selados pelo Espírito Santo, somos por fim adotados por Deus. Já não
somos somente criaturas de Deus, mas sim filhos e com direitos a herança de
Deus. É o que acontece com todo aquele que recebe a Jesus Cristo em seu coração
através de um verdadeiro arrependimento.
f) A Libertação do pecado:
Aqui começa a fase da santificação. A
Bíblia diz que somos libertados do pecado para enfim podermos viver para Deus:
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus.
Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus,
que me amou e a si mesmo se entregou por mim (Gl 2.19-20).
Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que
obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao
pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como
ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de
justiça. Porque o pecado não terá
domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Rm
6.11-14).
Ser libertado do pecado não significa
de que não vamos mais pecar e nem que Deus não considera mais nossas
transgressões como pecado, mas sim de que o pecado não terá mais domínio em
nossa vida. Não seremos mais escravos do pecado.
g) A Glorificação:
A Bíblia diz que o fato de sermos
filhos nos garante que no futuro seremos glorificados:
Amados, agora, somos filhos de
Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando
ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo
como ele é (1 Jo 3.2).
A glorificação é o elemento final da
salvação. Neste momento viveremos a plenitude da salvação de Deus. Isso não
acontecerá neste mundo, mas somente no instante em que tomarmos posse do Reino
de Deus. Este momento se inicia com nossa morte, mas sua plenitude acontecerá
somente quando sermos ressuscitados por Cristo.
Diante do exposto podemos afirmar que
realmente existe uma ordem na aplicação da salvação. Mas também que a salvação
deve ser entendida como um procedimento único, pois não é possível que alguém
seja salvo experimentando, por exemplo, a regeneração, sem que seja
justificado, ou ser justificado sem antes ser santificado. Necessariamente,
para que a salvação seja completamente realizada, todos os aspectos precisam
encontrar lugar na vida daquele que foi salvo.
Além disso, é fundamental entender
que todo o processo de salvação é obra de Deus. Tão somente Ele é o responsável
pela efetivação de cada etapa da nossa salvação. Assim diz: McGregor Wright:
Deus salva. Deus não faz meramente
o suficiente para tornar a salvação possível, deixando para nós o trabalho de
abrir o caminho, ‘para merecer os méritos de Cristo’, fazendo a nossa parte,
para tornar o meramente possível uma realidade. Cada elo na corrente da
redenção é forjado na bigorna de Deus do começo ao fim.
Em todos os seus aspectos a salvação
pertence ao Senhor. Há em sua aplicação uma ordem cronológica de etapas, mas,
ao mesmo tempo, ela é uma obra indivisível, pois ela não pode acontecer sem que
todos os elementos que a compõem sejam evidenciados na vida do salvo.
02 – A SEQUÊNCIA DE EVENTOS NA SALVAÇÃO:
Nosso texto básico acima é o que mais
expressa na Bíblia a existência de uma ordem na salvação do homem. Vale lembrar
que um dos principais assuntos que Paulo tem em mente no capítulo oito de
Romanos é o sofrimento. Ali ele diz:
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós
(Rm 8.18).
E este sofrimento é tão intenso que
vai além da humanidade, pois ele diz:
Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e
suporta angústias até agora (Rm 8.22).
E ao falar de nosso sofrimento ele
lembra do Consolador prometido por Jesus Cristo que veio para nos auxiliar em
nossas fraquezas:
Também o Espírito, semelhantemente, nos
assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele
que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade
de Deus é que ele intercede pelos santos (Rm 8.26-27).
E nos consola ao afirmar sobre a
contribuição de todas as coisas para o nosso bem, sejam elas boas ou sejam elas
más:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28).
Depois de toda essa introdução,
finalmente Paulo menciona a ordem existente na salvação ao aludir sobre o
eterno propósito de Deus aos seus escolhidos:
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. E aos que predestinou, a
esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou (Rm 8.29-30).
Aqui Paulo estabelece uma ligação na
sequência de eventos ocorridos na redenção para demonstrar que Deus já vinha
agindo na vida dos salvos desde o princípio e o continuará fazendo até ao fim,
conduzindo seus eleitos à salvação completa. Toda essa argumentação foi a base
de Paulo para finalmente dizer:
Que diremos, pois, à vista destas
coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós
o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos
de Deus? É Deus quem os justifica. Quem
os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o
qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia,
ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Em todas estas coisas,
porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu
estou bem certo de que nem a morte, nem
a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor (Rm 8.31-39).
Olhando para essa sequência de fatos
do capítulo oito de Romanos entendemos melhor sobre essa finalização de Paulo. Nela,
podemos apresentar a seguinte ordem existente na salvação:
a) Da Predestinação à Vocação:
Porquanto
aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos
que predestinou, a esses também chamou... (Rm 8.29,30).
Paulo começa falando que Deus
conheceu de antemão seus escolhidos, ou seja, os conheceu na eternidade, antes
de suas existências. Aqui Paulo quer dizer que Deus conheceu as pessoas e não
os fatos ou acontecimentos relativos a elas, tanto que a predestinação tem como
base a graça de Deus e não as obras do escolhido. Conhecer subentende-se uma
relação pessoal, íntima, e não meramente a consciência de fatos e
circunstâncias. É claro que Deus é Soberano ao ponto de conhecer de antemão os
eventos de nossa vida, mas eles não tiveram nenhuma influência na escolha, pois
foi por sua própria iniciativa que Deus escolheu aos seus eleitos, objetos de
seu gracioso amor.
A predestinação é o primeiro ato da
salvação. Somente serão salvos aqueles que foram predestinados para a salvação.
É muito difícil para o homem entender e aceitar este fato. Ele não consegue
discernir o fato de que não teve e não tem participação nenhuma em sua
salvação, não consegue entender que ele crê porque Deus origina nele a fé, não
consegue entender que ele é santo não pelo fato de evitar o pecado, mas no fato
de ser vocacionado por Deus para isso. Contudo, a predestinação é um ensino
claro e inegável das Escrituras. Ela diz:
Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo, assim
como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção
de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado
(Ef 1.3-6).
A predestinação é o ato pelo qual
Deus escolheu alguns para salvação e deixou outros para receberem a punição por
seus pecados. E este ato de escolha ocorreu antes da fundação do mundo. E neste
ato Deus não cometeu nenhuma injustiça, pois ele não provocou a perdição
daquele que não foi eleito, sendo que ele já estava condenado ao inferno. Ele
simplesmente não quis escolher a todos.
E o que é vocação? Paulo diz que aos
que predestinou a esses também chamou. Vocação é o momento do chamado divino e
está ligado ao ouvir a Palavra de Deus. É o momento quando o pecador é
regenerado para ouvir a pregação do evangelho e, tocado pelo Espírito Santo,
responde positivamente a este chamado. Portanto, a predestinação está antes do
tempo, na eternidade, e a vocação é o momento quando a escolha divina se
concretiza e provoca a resposta do ser humano ao chamado do evangelho.
Entendemos o sentido da vocação quando Jesus disse:
E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Quando Jesus ficou só, os que
estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. Ele
lhes respondeu: A vós outros vos é dado
conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo,
vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham
a converter-se, e haja perdão para eles (Mc 4.9-12).
Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.
Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu
Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o
Pai, senão o Filho, e aquele a quem o
Filho o quiser revelar (Lc 10.20-22).
Estes textos reforçam a predestinação
dos eleitos de Deus e a capacitação que eles recebem de Deus em crer.
b) Da Vocação à Justificação:
... e
aos que chamou, a esses também justificou... (Rm 8.30).
A justificação é o ato pelo qual Deus
declara justo o homem pecador. E isso ocorre não por causa de qualquer mérito
pessoal, mas tão somente por causa dos méritos de Cristo que, com seu precioso
sangue, satisfez a justiça divina e, assim, resgatou o homem do pecado,
substituindo-o na cruz. É com base nos méritos de Cristo que Deus declara justo
o pecador.
Na fase do chamado à justificação
acontecem, simultaneamente: A Regeneração, o Arrependimento, a Fé e o Selo pelo
Espírito Santo. Não há uma ordem temporal nesses elementos, pois todos eles
ocorrem simultaneamente. Apenas a regeneração tem alguma prioridade, porém, não
uma prioridade temporal. Hoekema diz:
Mesmo essa prioridade da
regeneração não pode ser entendida como indicando uma ordem cronológica ou
temporal. A relação entre regeneração e, digamos, fé é como a que existe entre
apertar o comutador da energia e inundar o quarto de luz – as duas ações são
simultâneas.
A regeneração tem prioridade causal
sobre os outros aspectos do processo da salvação, pois não há como você ter fé
sem antes ter sido regenerado. Ela é o momento quando Deus capacita o homem a
responder ao seu chamado. Por essa razão ela tem prioridade.
c) Da Justificação à Glorificação:
... e
aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.30).
A glorificação é a parte final da
salvação. Ela deve ser entendida como o momento em que Jesus vai voltar e os
mortos em Cristo ressuscitarem e os vivos serem transformados:
Porquanto o Senhor mesmo, dada a
sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os
vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens,
para o encontro do Senhor nos ares, e,
assim, estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.16-17).
Será aquele momento em que o corpo
mortal se revestirá de imortalidade:
Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se
revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade,
então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória
(1 Co 15.53-54).
Da justificação à glorificação estão
incluídos a santificação e a perseverança. Embora são elementos distintos são
também simultâneos e embora a santificação e a perseverança caminhem na mesma
direção elas são coisas diferentes. A santificação refere-se ao abandonar o
pecado e viver para a justiça e perseverança é o ato de permanecer firme na
graça de Deus até ao fim. A salvação é um trabalho unitário de Deus a qual
ocorre em passos sucessivos os quais são indivisíveis.
03 – OS EFEITOS DO PRESENTE DA SALVAÇÃO E SUA PLENITUDE NO FUTURO:
Apesar de parecer bem claramente de
que há aspectos subsequentes na ordem da salvação que, porém, não podem ser
separados, pois a salvação é um evento unitário de Deus, há ainda algo que
precisa ser considerado: O evento contínuo da salvação, que se iniciou com a
escolha por Deus de seus eleitos e se consumará na glorificação destes eleitos.
Podemos dizer que, de certa forma, o
salvo já desfruta de todos os aspectos da salvação, os quais lhes foram dados
instantaneamente em um único ato. Porém, ao mesmo tempo, muitos destes aspectos
só serão plenos na volta de Jesus Cristo.
A santificação é um exemplo disso. Há
um sentido na santificação em que já somos santos, porque, pela imputação da
justiça de Cristo em nós, somos automaticamente santificados, o que vem a
significar que fomos separados por Deus para um propósito. Porém, ainda pecamos
e, portanto, ainda não somos santos no sentido literal da palavra e, dessa
forma, precisamos nos santificar. Portanto, a santificação é algo que precisa
ser desenvolvido e que será plena somente no dia de nossa glorificação, por
ocasião da ressurreição, mas em outro sentido já somos santos, pois fomos
santificados em Cristo Jesus:
Ou não sabeis que os injustos não
herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem
adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem
bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos
lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do
Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1 Co 6.9-11).
Observe que Paulo menciona nossa
situação decaída no passado. Contudo, ainda vivemos o processo da santificação:
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus, que apresenteis o
vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm
12.1-2).
Há um processo contínuo a ser
realizado em nossa santificação, o qual se findará somente com a glorificação. E
o mesmo pode ser dito a respeito da regeneração, que acontece no início da vida
cristã, porém, seus efeitos continuam por toda a vida, à medida que os salvos
desenvolvem a vida regenerada. Da mesma forma acontece com o arrependimento e a
fé, os quais ocorrem no início da vida cristã, mas que precisam ser exercidos
continuamente na vida. E da mesma forma a justificação, que embora ocorra no
momento da conversão do pecador e ele já se encontra justificado, contudo, ele
precisará, ao longo da vida, se apropriar de seus benefícios.
Portanto, é muito óbvio de que a
santificação e a perseverança duram a vida inteira. Isso nos ensina de que
todos os aspectos da salvação devem permanecer, pelo menos em seus efeitos,
durante a vida inteira do salvo, até aquele momento em que ele será
glorificado, momento em que finalmente poderá gozar da plenitude da salvação.
Os aspectos da salvação são
realidades contínuas na vida do salvo porque existe uma interação em seus elementos,
que são simultâneos, contudo, produzem efeitos uns aos outros. A regeneração se
manifesta por meio da fé e do arrependimento e a verdadeira fé produz frutos de
santificação para que se desenvolva a perseverança.
Esta interação nos mostra que é impossível
ser justificado sem ser santificado, como também é impossível ser realmente
convertido e não perseverar na fé. O verdadeiro arrependimento não existe sem a
verdadeira fé, a qual dá o devido valor ao arrependimento. Todos os aspectos da
salvação se inter-relacionam e produzem efeitos uns nos outros.
E esta interação é a resposta de uma
intrigada pergunta: Depois de regenerado posso perder a salvação? Considerando
que a salvação é um ato de Deus e que quando Ele inicia este ato na vida de uma
pessoa é responsabilidade da Trindade Santa de consumi-la, podemos dizer que
não. Mas como explicar o fato de muitos abandonarem a fé? Simples: Eles nunca a
tiveram. Jamais foram regenerados, jamais nasceram de novo, jamais creram e
foram justificados, jamais foram selados pelo Espírito Santo e santificados e
por causa de tudo isso a glorificação não poderia acontecer na vida destas
pessoas. A interação completa em nossa salvação demonstra a nossa participação
na eleição divina, ou seja, pelo fato da salvação ser aplicada até a sua
plenitude é a prova de que fazemos parte dos eleitos de Deus. Aqueles que não
foram até ao final nunca fizeram parte.
CONCLUSÃO:
Regeneração, Vocação, Conversão,
Arrependimento e Fé, Justificação, Santificação, Perseverança e Glorificação
são aspectos da salvação. Esta salvação é uma obra unitária, um ato gratuito e
exclusivo de Deus em todos os seus aspectos, pois desde os primeiros
sentimentos em nosso coração de conhecer a Deus e todos os passos subsequentes
necessários para trazer o homem de volta à comunhão com Deus é obra da Trindade
Santa, tendo Deus como parte a eleição de seus escolhidos na eternidade, Jesus
Cristo como o agente, o autor da salvação e o Espírito Santo como aquele que
aplica esta salvação aos eleitos de Deus. Que Deus te abençoe e lhe capacite a
crer nestas palavras, a se arrepender e confessar os seus pecados e assim se
iniciar em tua vida o processo de salvação. Acontecendo isso em tua vida tenha
a certeza de que Deus consumará em tua vida a sua salvação. Amém!
Luiz Lobianco
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida
em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil.
Sociedade Bíblica do Brasil.
Louis Berkhof. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992. p. 416.
R. C. McGregor Wright. A Soberania Banida. São Paulo: Cultura
Cristã, 1998. P. 102.
Anthony Hoekema. Salvos Pela Graça.
São Paulo. Editora Cultura Crista, 1997. P. 20-21.
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