INTRODUÇÃO
O cativeiro babilônico foi um dos eventos mais marcantes da história de Israel em vista de sua grandeza, de sua extensão e da intervenção de Deus mediante a restauração de Judá, de Jerusalém e da devolução dos utensílios do Templo Judeu. O cativeiro de Judá também nos deixa lições que jamais podem ser desprezadas e esquecidas. O cativeiro aconteceu em conseqüência da desobediência de um povo, da rebeldia de uma nação e da dureza de seus corações em relação ao seu Deus.
11 Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito (Je 2.11).
Deus não podia se calar diante dessa situação. Era o Seu nome que estava em jogo, era a Sua glória que havia sido deturpada, era a Sua Palavra, a Sua promessa, a Sua fidelidade é que estavam caindo por terra com a infidelidade de Judá. É diante deste fato que vemos Deus, em nosso texto básico, em sua última tentativa de despertar o povo a fim de evitar o exílio. Que lições podem ser tiradas desse acontecimento tão amargo na vida de Judá?
1 – A ANALOGIA ENTRE A IGREJA COM A NAÇÃO DE ISRAEL
A Igreja hoje é o Israel de Deus. É o povo escolhido por Deus para ser luz no mundo, para testemunhar perante o mundo e suas autoridades o poder de Deus; a Igreja é o instrumento usado por Deus para proclamar o Evangelho aos pecadores. Pedro deixa isso bem claro em sua carta quando diz:
9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
Diante desse texto podemos dizer que:
A – A Igreja é eleita por Deus
9 Vós, porém, sois raça eleita,...
A Igreja é a raça eleita de Deus. Isso quer dizer que O Senhor aplica a nós o mesmo nome que Ele deu a Israel. Isso também quer dizer que nós não somos um povo qualquer, porque a semente que deu origem a esta raça eleita foi o sangue de Cristo derramado na cruz do Calvário. Você foi comprado pelo sangue que Jesus derramou ali no madeiro. Você faz parte de um projeto infalível de Deus. Por isso, levante a sua cabeça aos céus e agradeça a Deus pela sua salvação!
B – A Igreja é povo de Deus
9 Vós, porém, sois... povo de propriedade exclusiva de Deus,...
A Igreja é povo de Deus, propriedade de Deus e isso é uma iniciativa de Deus. Fomos comprados por preço e o preço foi muito alto: O Filho Unigênito de Deus. Jesus não morreu para comprar terra e edifícios, nem para estabelecer alguma instituição. Ele morreu para comprar as almas dos homens e mulheres que estavam mortos no pecado, mas que agora têm salvação e esperança de vida eterna.
28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue (At 20.28).
Apesar de a Igreja nascer da experiência do Cristo Ressuscitado, ela foi gerada pelo Espírito Santo e continua firme pela presença e força do mesmo Espírito e a Igreja tem a santidade que Deus lhe confere. Porém, a Igreja é também uma realidade humana, feita de pessoas limitadas e pecadoras, mas mesmo com suas imperfeições ela realiza nossa comunhão com Deus e fortalece a comunhão entre nós, por isso é importante viver e crescer na Igreja.
C – Sua missão é proclamar as virtudes de Deus
9 ...a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
Agora chegou a hora das obrigações. Até aqui temos visto os privilégios, mas quem tem privilégios, tem também obrigações e nisso também somos semelhantes com a nação de Israel: estamos aqui para ser espelho de Deus ao mundo, ou seja, o mundo deverá ver Deus através da Igreja, pois estamos aqui para proclamarmos as virtudes de Deus e Ele é perfeito. Portanto, se o mundo vê uma imagem distorcida de Deus em nós, a distorção não está em Deus, mas em nós que não estamos refletindo ao mundo a perfeita imagem de Deus. Para que isso aconteça, nossas atitudes devem ser regidas pelas virtudes de Deus. Devemos viver semeando o amor, a paz, a misericórdia, a compaixão, a bondade e a justiça. São virtudes de Deus que devem fazer parte do nosso caráter porque estas são as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
2 – AS SIMILARIDADES DE NOSSAS ATITUDES COM AS CAUSAS DO CATIVEIRO
As nossas atitudes têm muito a ver com as atitudes de Judá, principalmente com aquelas que o conduziu ao cativeiro. E quais foram elas?
A – Rebeldia
Na base do Trono de Deus aconteceu a primeira rebelião diante de uma reivindicação egocêntrica de Lúcifer de ser igual a Deus. Houve quebra de princípio de autoridade. Ele caiu como um raio e se tornou esse ser desfigurado, mudou rapidamente de arcanjo para diabo e os que foram com ele, de anjos para demônios. Por isso que não há rebeldia em que não tenha sua base em Satanás. Afinal, foi ele quem causou a primeira rebelião.
21 Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não te rebeles contra ele, porque não perdoará a vossa transgressão; pois nele está o meu nome (Ex 23.21).
Mas por muitas vezes Israel não reconhecia a Deus como Senhor. Na saída do povo hebreu para a terra prometida, os que se rebelaram contra Moisés ficaram no deserto. A rebeldia parecia ser a essência daquele povo libertado de forma tão miraculosa da escravidão do Egito. Moisés, falando ao povo no deserto, chegou a dizer-lhes:
27 Porque conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Pois, se, vivendo eu, ainda hoje, convosco, sois rebeldes contra o SENHOR, quanto mais depois da minha morte? ( Dt 31.27).
Centenas de anos depois da libertação do Egito, já na terra prometida, o povo continuava rebelde e o profeta Isaias, dizia:
2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim.
Nação rebelde! Povo rebelde! Ao persistirem na rebeldia, as catástrofes entram na nação, porque Deus não tolera a rebeldia e nem os rebeldes e a nação sofre as conseqüências de suas desobediências.
B – Dureza de coração
Judá foi ao cativeiro, mas não foi por falta de aviso, pois Deus, incansavelmente, insistiu com seus profetas para que o povo ouvisse suas palavras e abandonasse seus pecados:
13 Agora, pois, visto que fazeis todas estas obras, diz o SENHOR, e eu vos falei, começando de madrugada, e não me ouvistes, chamei-vos, e não me respondestes,
Em nosso texto básico, mais uma vez e em sua última tentativa, Deus está batendo às portas do coração do povo, chamando-os ao arrependimento a fim de ser evitado o exílio:
3 Bem pode ser que ouçam e se convertam, cada um do seu mau caminho; então, me arrependerei do mal que intento fazer-lhes por causa da maldade das suas ações (Je 26.3).
Mas o povo e suas autoridades, ao invés de ouvirem, prenderam a Jeremias e queriam matar a mais um profeta enviado por Deus para alertá-los:
8 Tendo Jeremias acabado de falar tudo quanto o SENHOR lhe havia ordenado que dissesse a todo o povo, lançaram mão dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto (Je 26.1-8).
Corações endurecidos! Impenetráveis pela Palavra de Deus! Iludidos por tradições humanas, pois acreditavam que o Templo jamais poderia ser destruído pelo inimigo por ser habitação de Deus, recusavam-se a dar ouvidos à verdade e foram então colocados no cativeiro para aprenderem que somente o Senhor é Deus e que quando Ele fala, precisamos ouvi-lo.
20 Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir (Pv 19.20).
Quantas pessoas amigas te viam caminhar para o buraco e tentaram te alertar, mas você, ao invés de ouvi-los, ficava irritado com suas intervenções em sua vida, chegava a evitá-los a se afastar deles por causa de seus conselhos, mas você insistiu e caiu no buraco. Deus tentou lhe alertar, mas você não quis ouvir.
C – Desobediência
Israel tinha um compromisso, uma aliança firmada com Deus:
15 Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal;
O povo de Deus, porém, nem sempre quis dar Ouvidos ao seu Deus. Constantemente ele desobedecia a Deus e se esquecia de sua aliança com Deus. Vemos isso muito bem representado no livro de Juízes em uma sequência de afastamento e volta a Deus pelo povo de Israel.
1 Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,
3 – AS AFINIDADES DE DEUS ENTRE ISRAEL/IGREJA
Louvado seja o SENHOR porque existe uma grande afinidade de Deus para com a Igreja para neutralizar nossa similaridade com a rebeldia de Israel.
A – O Amor de Deus
Tudo se resume no amor de Deus. Se não fosse o amor de Deus pelo seu povo, Israel não existia mais. Se não fosse o amor de Deus a Igreja teria sido sepultada com Cristo e não teria sido ressuscitada com Ele. O amor de Deus é um amor sacrificial, pois a Bíblia nos diz que:
16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
E o que é ainda mais maravilhoso é que, como com Israel, nada pode nos separar deste amor. Deus disse sobre Israel:
15 Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.
E para a Igreja:
38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,
B – A Misericórdia de Deus
7 No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir,
O que vemos no cativeiro babilônico são as consequências da desobediência e rebeldia de um povo contra o seu Deus. Mas a misericórdia de Deus nunca deixou de estar presente com o povo. Deus ainda fez outra tentativa de poupar alguns de Judá:
7 Ao fim de dez dias, veio a palavra do SENHOR a Jeremias.
Mas Judá se recusou a confiar em seu Deus. Semelhantemente a Israel, a Igreja é carente da misericórdia de Deus, porque nenhum homem merece a misericórdia de Deus e ninguém homem pode reclamar a misericórdia de Deus por mérito, pois a Bíblia diz:
23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23).
De forma que ninguém pode afirmar, categoricamente, que não tem pecado:
8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós (1 Jo 1.8).
O pecado é transgressão da Lei de Deus. O povo do Velho Testamento tinha uma Lei, dada por Deus através de Moisés e dos profetas. Ninguém guardou a Lei, e pecou ao transgredi-la. O povo, agora, vive sob a lei do Novo Testamento dada por Deus através de Cristo, do Espírito e dos apóstolos. Quando deixamos de segui-la transgredimos esta Lei e pecamos contra Deus.
4 Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei (1 Jo 3.4).
Mas Deus é misericórdia e precisamos sempre apreciar a misericórdia de Deus. O homem não tinha esperança nenhuma por causa da culpa do pecado. Ele era impotente para livrar-se do pecado. O que Deus fez por ele?
8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8).
E na confissão de nossos pecados encontramos o perdão de Deus:
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9).
Louvado seja o Senhor pela sua misericórdia porque agora podemos ter esperança através de Cristo. Mas ainda podemos pecar e a misericórdia de Deus não é incondicional. Assim como Deus mostrou misericórdia a Israel e depois, de certa forma a tirou por causa da desobediência, hoje Ele nos promete o mesmo.
25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
A Bíblia diz que devemos render graças ao Senhor porque a sua misericórdia dura para sempre. Ela nunca muda! Louvado seja o Senhor por isso!
C – A Fidelidade de Deus
Por amor a Abraão e a fidelidade a sua promessa, Deus permaneceu fiel e não abandonou seu povo. Não deixou o seu povo esquecido naquele lugar e naquela situação, não permitiu que aquela nação fosse destruída e mesclada com outra nação. Um dia o Senhor apareceu e disse:
5 Porque Israel e Judá não enviuvaram do seu Deus, do SENHOR dos Exércitos; mas a terra dos caldeus está cheia de culpas perante o Santo de Israel (Je 51.5).
Judá voltou a sua terra e teve de volta os seus pertences. Isso é fidelidade. Nunca na História da humanidade se viu tal feito. Tal fidelidade encontramos ainda hoje entre Deus e a sua Igreja:
13 se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2.13).
E recebemos dele o perdão por ser Ele fiel:
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9).
A promessa é a permanência para sempre de Israel. Quanto a Igreja, Jesus prometeu que:
18 ...sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18).
CONCLUSÃO
Quando vivíamos no mundo, fora dos caminhos do Senhor, é como se a cada passo dado, colocássemos nossos pés em laços e armadilhas preparadas pelos inimigos da nossa alma. Com isso, sem saber, fomos estabelecendo com as trevas, diversos tipos de vínculos, e nosso caminhar foi ficando cada vez mais difícil, dado o emaranhado de nossos pés. Quando aceitamos a Jesus e começamos a caminhar no caminho correto, e a buscarmos a direção de Deus para os problemas, começamos a olhar para nós mesmos e nos deparamos com uma realidade muito triste. Estamos totalmente emaranhados, em situações horríveis, tanto no aspecto, moral, quanto no emocional, material e espiritual. Esses laços e vínculos com as trevas nos leva à situação de cativeiro, em condições tão complicadas que ficamos sem forças para sair daquela circunstância.