1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias
de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm
12.1-2).
Introdução
Todo
ser humano possui uma cosmovisão. Todos baseiam suas decisões
e ações em uma cosmovisão. Podemos não ser capazes de articular nossa
cosmovisão e ela também pode ser inconsistente e falsa, porém todos nós temos
uma cosmovisão. Talvez você já
tenha lido esta palavra em algum lugar ou mesmo ouvido algo sobre o assunto,
mas não tem a menor ideia do significado deste termo. Mas saiba que mesmo
assim, mesmo sem saber o que é isso, você possui uma cosmovisão, pois aquilo
que cada pessoa é, o que ela defende, o que ela vive, é resultado da cosmovisão
que permeia a sua vida.
Como a humanidade é diversificada ao extremo, nos
mais distintos aspectos, existe uma gama muito variada de cosmovisões. No
Japão, se um estudante japonês cometer suicídio após fracassar no ano escolar
não assusta a sociedade tanto quanto aqui, pois a sociedade japonesa consagra o
haraquiri (morte voluntária pela honra da família) e vê o suicídio de maneira
diferente da ótica ocidental. O mesmo acontece nos Estados Unidos quando um
garoto entra em uma escola armado e atira contra alunos e professores, pois
eles não estranham o fato de uma criança ter acesso a armas de fogo.
É importante para qualquer cristão conhecer as
premissas que caracterizam e diferenciam as variadas cosmovisões existentes. Portanto,
para o cristão o discernimento das cosmovisões é algo essencial.
1 –
Definição: O que é cosmovisão?
Cosmo é igual a mundo, mundo
e uma visão da vida. O dicionário define cosmovisão como o modo particular de
perceber o mundo, uma concepção ou visão de mundo tendo em conta as relações
humanas, buscando entender questões filosóficas tais como: a existência humana,
a vida após a morte e a existência de Deus. Portanto, o termo cosmovisão é uma
estrutura interpretativa, ela pode ser definida como o modo pelo qual a pessoa
vê ou interpreta a realidade, uma espécie de par de lentes por meio das quais
vemos todas as coisas, se estas lentes forem azuis o mundo será azul, se forem
vermelhas o mundo será vermelho.
A cosmovisão se refere a
qualquer conjunto de ideias, crenças ou valores que forneçam uma estrutura ou
mapa para ajudar você a compreender Deus e o mundo, e seu relacionamento com
Deus e com o mundo. Uma cosmovisão influencia muito a maneira como a pessoa vê
Deus, como ela vê o mal, como ela vê a natureza humana e seus valores.
À medida que nos
aprofundamos neste assunto, percebemos que há uma variedade de cosmovisões, mas
também podemos perceber que não há compatibilidade entre elas.
A –
A espiritualidade das cosmovisões
Há seis cosmovisões que
atualmente exercem mais influência no mundo, sendo elas as principais ideias e
sistemas de crenças que controlam o mundo. São elas: a Cosmovisão Cristã; a
Cosmovisão Islâmica; a Cosmovisão Humanista Secular; a Cosmovisão Marxista; a
Cosmovisão Humanista Cósmica e a Cosmovisão Pós-Moderna. Existem outras
cosmovisões, mas elas são menos importantes em termos de influência, pois podem
influenciar profundamente um país, mas dificilmente afetam todo o mundo.
Toda cosmovisão tem um
caráter espiritual. A adesão de uma pessoa a certos valores que direcionam sua
maneira de viver é um reflexo da espiritualidade que está presente na
constituição da natureza humana. Estes valores, aos quais podemos aderir até de
forma inconsciente, formam nossas crenças fundamentais. Estes valores exigem um
compromisso de fé da nossa parte, ainda que não sejam decorrentes de uma
perspectiva religiosa. Este é o caráter espiritual das cosmovisões.
Uma pessoa que se diz ateu
se compromete com valores que negam a existência de Deus. Ainda que seja a
negação de Deus podemos dizer que isso é um exercício de fé negativa, pois o
ateu crê que não existe Deus. Da mesma forma quando um economista defende
determinada economia é porque ele crê em alguma coisa. Um crê que o que deve
regular o mercado é a livre escolha, enquanto outro crê que o governo deve
intervir nessa regulação.
O fato é que todos vivem de
acordo com os valores que exercem influência sobre o modo como pensam. Há os
que vivem o modo de vida cristão, sendo eles aqueles que crêem em Deus:
1 Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que
fostes chamados,
2 com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
3 esforçando-vos diligentemente
por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.1-3)
Enquanto outros vivem um
modo de vida distantes de Deus, sendo eles aqueles que desprezam a Deus:
17 Isto, portanto, digo e no Senhor testifico
que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios
pensamentos,
18 obscurecidos de entendimento, alheios à vida
de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,
19 os quais, tendo-se tornado
insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte
de impureza (Ef 4.17-19).
Que seja o modo de vida
cristão que esteja conduzindo nossa vida.
B –
O egocentrismo do homem presente nas cosmovisões
Como já vimos, as
cosmovisões se formam a partir das respostas que o ser humano dá às perguntas
fundamentais da sua existência. Acontece que estas respostas não nascem em um
vazio qualquer, mas ocorrem a partir de algumas propensões da natureza humana e
a influência mais determinante do coração do homem é o pecado, que age sob o
poder de uma estrutura egocêntrica.
Por esta causa o
egocentrismo é a matriz da formação das mais diversas cosmovisões,
principalmente em nosso tempo em que nossas verdades são influenciadas pelo
relativismo pós-moderno que efetivou a egorreferência preponderante na maior
parte dos conceitos de cosmovisão da atualidade.
Este egocentrismo
influenciado pelo pecado pode explicar o fato da cosmovisão cristã ser a única
que verdadeiramente conduz o homem de volta para o seu Criador.
C –
O padrão humanista presente nas cosmovisões
O humanismo é um movimento
filosófico que procurou estabelecer padrões morais construídos a partir da
perspectiva de que o ser humano é quem deve decidir o que é o melhor para si
mesmo. Por isso que as cosmovisões não cristãs são espiritualmente construídas
seguindo estruturas que negam a primazia de Deus sobre a criação e o substituem
pelo próprio homem.
Toda cosmovisão precisa ser
submetida a certos testes a fim de se determinar se ela é boa ou ruim. Embora
seja comum pessoas dizerem coisas como “Isso pode ser verdade para você, mas
não é verdade para mim, portanto não imponha a sua visão sobre mim”, tais
declarações são de fato convites para um desastre. A verdade não é determinada
dessa forma subjetiva. A verdade precisa estar sujeita à verificação. Por isso
toda cosmovisão precisa estar sujeita a testes para se determinar se ela é ou
não abrangente, se fornece respostas adequadas a todas as principais questões que
a norteia e se apresentam consistência interna umas em relação às outras.
A disposição de mente do
cristão deve ser determinada e moldada pelo conhecimento do Evangelho, pelo
poder do Espírito e pelos interesses do porvir, e não pela moda passageira
deste século.
Uma compreensão de si e do
mundo equivocada levará o homem a ter pensamentos e atitudes equivocadas. Isso
pode se tornar em um desastre espiritual na vida desta pessoa.
2 – A
estruturação de uma cosmovisão
Não é qualquer forma de
pensamento que pode ser considerado como uma cosmovisão. Uma visão de mundo
deve necessariamente responder às questões básicas do ser humano, especialmente
aquelas que dizem respeito aos pontos principais da própria vida, tais como: Quem
somos, por que e para que existimos? De onde viemos? O que acontece quando
morremos? Como sabemos o que é certo ou errado? Qual o significado da vida?
Por essa razão, o filósofo
cristão Ronald Nash diz que as cosmovisões contêm pelo menos cinco grupos de
crenças ou elementos fundamentais: Deus, Metafísica, Epistemologia, Ética e
Natureza humana.
Deus – O elemento crucial de
qualquer cosmovisão é o que ela diz sobre Deus. As diferentes concepções
sobre a figura do divino marcam a distinção entre as principais visões de
mundo, na medida em que respondem a questões do tipo: Deus existe? Qual sua
natureza? Há mais de um Deus? Ele é um ser pessoal? Ou apenas um poder
impessoal?
Metafísica – Nesse ponto uma
cosmovisão também inclui respostas a questões como: Qual a relação entre Deus e
o Universo? Um Deus pessoal e Onipotente criou o Universo? A existência do Universo
é eterna?
Epistemologia – Este
elemento diz respeito ao próprio conhecimento. É possível saber, entender e
conhecer? Existe verdade? A verdade é absoluta ou relativa? O conhecimento
sobre Deus é possível?
Ética – Este elemento busca
responder indagações sobre a moralidade: Há leis morais que governam a conduta
humana? Quais são elas? A moralidade é totalmente subjetiva, ou há uma dimensão
objetiva para as leis morais que significa que sua verdade é independente de
nossas preferências e desejos? A moralidade é relativa aos indivíduos, culturas
ou períodos históricos?
Antropologia – Toda
cosmovisão inclui também crenças sobre a própria natureza do ser humano. O ser
humano é apenas corpo ou materialidade, ou tem uma dimensão espiritual? Qual
sua origem? Existe vida após a morte? A vida tem um propósito?
A cosmovisão de uma pessoa é
formada a partir de alguns elementos. Vamos considerar aqui apenas dois deles:
A –
A cultura predominante
Por cultura podemos definir
todos os valores que estruturam o modo de viver de um grupo social, quer sejam
de origem religiosa, filosófica ou de costumes familiares. Quando a maioria
adere a determinados valores forma-se uma cultura dominante. Esta cultura
pressiona as maneiras individuais de ver o mundo, no sentido de fazê-las se
adequarem ao modo de pensar da maioria, ou seja, à cosmovisão da maioria.
Quando os israelitas tomaram
posse de Canaã, Deus os orientou a resistirem à cultura predominante daquela
terra, aconselhando-os a não seguirem os costumes dos povos daquela terra.
Quando os israelitas
desobedeceram e não se importaram com a influência das cosmovisões dos povos de
Canaã, o resultado foi o desvio do povo de Deus, o que se pode constatar no
livro de Juízes.
O forte apego dos cananeus
aos seus deuses influenciou as gerações posteriores dos israelitas que
começaram a adotar seus costumes. A visão teocêntrica da geração do período de
Josué resistiu por muitos anos, mas não foi ensinada a gerações posteriores.
A forte cultura politeísta
dos cananeus influenciou a nova geração de israelitas e se tornou majoritária,
impondo seus valores a ponto de levar os israelitas a se esquecerem do Senhor.
Hoje, estamos sujeitos e
esta mesma situação como povo de Deus. Paulo, em Romanos, nos exorta para que
renovemos nossa mente, não segundo os modismos deste século, mas pela renovação
que a Bíblia proporciona.
B –
Novas perspectivas culturais
As culturas são dinâmicas e
estão sempre se transformando. Muitas vezes as transformações culturais podem
gerar mudanças significativas na cosmovisão de um grupo social.
As novas perspectivas
culturais produzem uma pluralidade de cosmovisões, fragmentando os valores de
um grupo e diluindo a sua força. Quando isso acontece alguns subgrupos impõem
sua cosmovisão pela força, fazendo com que os demais vivam debaixo da
influência de sua cosmovisão, enquanto que outros simplesmente buscam a
acomodação.
Isso se tornou muito comum
em nossos dias em que tentam fazer com que as cosmovisões se acomodem umas às
outras, gerando uma relativização da verdade. Esta é a cosmovisão pós-moderna
que afirma que a verdade é relativa.
A cosmovisão cristã é a
minoria na atualidade e vivemos sob a pressão de uma nova perspectiva cultural
pós-moderna que está modificando o modo cristão de ver o mundo. Precisamos
estar atentos a essas mudanças de cosmovisão e ao pluralismo de nossos dias.
Os efeitos da queda
alteraram a cosmovisão do ser humano. Fazendo com que ele coloque a si mesmo no
centro e retire Deus do foco. A fonte da cosmovisão cristã é a Bíblia e por
meio dela Deus é a referência a ser seguida. A Bíblia exorta a não sermos
conduzidos pelo modo de pensar do mundo. Devemos discernir os valores das
cosmovisões que nos cercam e avaliá-las pela Palavra de Deus.
3 –
As consequências práticas de uma cosmovisão
Se todos tem uma cosmovisão, quais são as consequências práticas que podem ocorrer na vida de uma pessoa geradas pela sua cosmovisão?
A - A cosmovisão de uma pessoa a influencia na tomada de decisões
É exatamente a cosmovisão
básica de uma pessoa que vai norteá-la ante as decisões mais importantes da sua
vida. Quando o casamento vai mal, qual a decisão a ser tomada? A infidelidade é
normal? Como deve ser encarada a questão do aborto e do homossexualismo? Qual a
forma de proceder no trabalho? Como educar os filhos?
Frente a tais situações
práticas, as pessoas tomam suas decisões baseadas naquilo que compreendem como
sendo verdadeiro ou falso, certo ou errado. A cosmovisão que possuímos norteia
nossas decisões e atitudes, e funciona como um guia, dando-nos senso de direção
acerca da forma como devemos agir.
Como escreve George Barna,
“sempre que tomamos uma decisão, inconscientemente a passamos por um filtro
mental e emocional que nos permite decidir de acordo com o que entendemos ser
verdadeiro, relevante e conveniente. Esse filtro é o resultado de como
organizamos as informações de modo a dar sentido ao mundo em que vivemos” (BARNA,
George. Pense como Jesus: como pensar,
decidir e agir em sintonia com Deus. São Paulo: Vida Nova, 2007, p.28).
B - A cosmovisão de uma pessoa será seu guia espiritual
Se nossas cosmovisões
influenciam diretamente nossas vidas e reações diante da sociedade, é
particularmente importante para nós conhecermos aquilo em que cremos e por quê.
Não podemos negar que
vivemos uma grande guerra civil de valores. Dois lados, com cosmovisões
tremendamente diferentes e incompatíveis, estão travados em um conflito que
permeia cada nível da sociedade. Esta guerra é uma luta pelos corações e mentes
das pessoas; é uma guerra de ideias.
De um lado está a cosmovisão
cristã, a base da civilização ocidental. Do outro lado estão cinco cosmovisões:
o Islamismo, o Humanismo Secular, o Marxismo, o Humanismo Cósmico e o
Pós-Modernismo. Embora essas cinco cosmovisões não concordem em cada detalhe,
elas unanimemente concordam em um ponto: sua oposição ao cristianismo bíblico.
Como em qualquer guerra,
existem baixas e as ideias anticristãs estão fazendo suas vítimas. Pesquisas
indicam que até 59% dos universitários que se declaram cristãos mudam de
categoria por volta do último ano de seus cursos. Também de acordo com
pesquisas realizadas, nove de cada dez adultos que se declaram cristãos não têm
uma cosmovisão bíblica.
C - O resultado de uma cosmovisão equivocada leva a pessoa ao desvio do verdadeiro Caminho
E é exatamente isso que podemos observar nos países desenvolvidos. Os EUA são descritos como um
país cristão. Entretanto, os EUA — juntos com toda a civilização do mundo
ocidental — se afastaram de sua herança intelectual, cultural e religiosa.
A
decadência em direção ao secularismo ocorreu em decorrência de uma mudança na
cosmovisão, isto é, por meio de uma transformação fundamental no modo geral em como
as pessoas pensam e vêem o mundo e a vida como um todo.
O estudo das cosmovisões em
geral e da cosmovisão cristã, em particular, é um chamado ao despertamento para
todos. Uma nação que esteja procurando promover os direitos humanos, a
liberdade e o bem comum precisa aderir à única cosmovisão que pode explicar
nossa existência. Afirmamos que a dignidade humana advém do fato de termos sido
criados à imagem de Deus, uma perspectiva singularmente bíblica. O abandono
dessa perspectiva traz sérias consequências, basta observar o crescimento no
número de abortos, nas práticas homossexuais, na eutanásia e no casamento entre
pessoas do mesmo sexo.
Conclusão
Não podemos negligenciar as
cosmovisões anticristãs. A base para muito daquilo que é ensinado nas salas de
aula nas escolas públicas hoje vem do pensamento secularizado, marxista,
humanista cósmico e pós-moderno. Os cursos são ministrados a partir de
suposições anticristãs sem que os estudantes sejam informados qual cosmovisão
está sendo expressa. A neutralidade na educação é um mito.
O primeiro capítulo do livro
de Daniel explica como ele e seus companheiros se prepararam para sobreviverem
e florescerem no meio de um choque entre civilizações em seu tempo. Acreditamos
que os jovens cristãos equipados com um conhecimento abrangente e uma
compreensão da cosmovisão cristã e de suas rivais possam se tornar como eles.
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
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