Para Refletir

Há momentos na vida difíceis de serem suportados, em que a única vontade que sentimos é de chorar, pois parecem arruinar para sempre nossa vida. Quando um destes momentos chegar, lembre-se que ainda não chegou o fim, que a sua história ainda não acabou e que ainda há esperança. Corrie Ten Boom disse: "não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo". Este amor você encontra aqui, um lugar de esperança, consolo e paz, e aqui encontrará a oportunidade de conhecer a verdadeira vida, uma vida abundante com Cristo.

segunda-feira, 30 de março de 2015

COSMOVISÃO SECULAR: RELIGIOSIDADE SEM DEUS

3  Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos;
4  e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (2 Tm 4.3,4).

Introdução

Já reparou o quanto a nossa época está imoral? Basta ligarmos a televisão para percebermos isto. Na época em que vivemos, o sensual e imoral vende mais. Programas, filmes, novelas, músicas, propagandas, tudo carregado de malícia, sensualidade. E na briga por mais audiência uma emissora ousa cada vez mais que a outra. Com isto o nível está cada vez mais baixo.
Isso porque em nosso tempo as pessoas têm vivido para o mundo e seguido os seus padrões. Essa maneira de viver, essa visão de mundo, recebe o nome de secularismo, que nada mais é do que um sistema de um tempo que influencia o pensamento, as atitudes e as vidas das pessoas, ou seja, um modo de vida e de pensamento sem referência a Deus. É uma cosmovisão e um estilo de vida que se inclina mais para o profano do que para o sagrado.
Temos visto o colapso de estruturas tradicionais, principalmente a família e a igreja. A ciência tem influenciado cada vez mais o pensamento contemporâneo, causando também uma busca desenfreada por aquilo que a tecnologia oferece ao homem. Valores morais têm sido substituídos por desejos imorais, que cada vez mais são vistos pela sociedade em geral como coisas naturais.
Essa inclinação para o profano, em vez do sagrado, tem contaminado a Igreja de um modo cada vez mais abrangente, enfraquecendo aquela que deve transmitir a mensagem da verdade. E como já vimos em lição anterior, a própria verdade, de acordo com a cosmovisão secular, é relativa. O baluarte da verdade tem sido mortalmente afetado pelo desgaste de um modo de vida e cosmovisão distantes de Deus. Vivemos nos tempos previstos por Paulo a Timóteo:

1  Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,
2  pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
3  desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
4  traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes (2 Tm 3.1-5).

Neste estudo veremos alguns aspectos da secularização que têm guiado este mundo e atingido a Igreja, e a resposta bíblica contra essa maneira de viver e pensar.

1 – A VISÃO DE MUNDO SECULARISTA

A religiosidade sem Deus resulta em morte espiritual. E é isso que encontramos no mundo. E como resultado desta morte espiritual vem a eterna corrupção, a escalada vertiginosa da violência, o egoísmo desenfreado do ser humano, o qual só se preocupa consigo mesmo, a imoralidade, isso sem falar nas guerras, na pobreza, nas pestes e nos desastres naturais. Esses e outros são elementos que dia a dia se acrescentam a já infindável lista de males a que este mundo está submetido e todos eles são resultados de uma cosmovisão corrompida, de um afastamento de Deus.

A – A fundamentação da verdade pelo pragmatismo

Nos tempos em que se deu a Reforma, a sociedade iniciava um período de muito progresso, com grande desenvolvimento e notáveis descobertas. Pode-se dizer que foi então que começou a ciência moderna. As invenções se sucediam em ritmo impressionante e a sociedade foi se convencendo de que a razão humana era a única responsável por tudo aquilo. Mais ainda, a razão humana era tudo de que a humanidade precisava para conseguir respostas a todas as perguntas que se fizessem. O deus razão era a verdade, ou a chave para ela.
Se a razão era o referencial supremo, como saber o que era certo e o que era errado? Perguntando a Deus? Consultando as Escrituras? Nem pensar! Isso é coisa de religiosos supersticiosos e ultrapassados. Para saber o que era certo e o que era errado bastava consultar a razão humana. Era tudo uma questão de lógica. Matar um ser humano, por exemplo, seria errado, não porque fomos criados à imagem de Deus, mas por desestabilizar a sociedade. A mesma coisa com o furto, sendo inconveniente por qualquer motivo, menos porque foi ordenado: Não roubarás. Por outro lado, se escravizar pessoas atrasadas resultava em progresso para os países mais adiantados, por que não?
Essa ideia de fazer qualquer coisa para se atingir determinados objetivos é conhecida como pragmatismo. Isso é algo bem secular e muito evidente em nosso tempo. É um sistema que considera o valor prático como critério da verdade. Apresenta uma proposta de solução sem Deus para a vida humana. Ele surgiu do desejo de se resolver o dia-a-dia e a vida toda sem a interferência de Deus, baseando-se na confiança de que a razão humana é suficiente. Então, se algo funciona é porque ele é verdade.
Se não bastasse todo o mal que esta visão tem feito à humanidade, ela tem ultrapassado as fronteiras do mundo secular e penetrado na Igreja. Por que o cristianismo não consegue pôr em prática sua própria cosmovisão? Não existe nenhum problema com a cosmovisão bíblica, ela de fato apresenta a verdade sobre a estrutura real da Criação. Ocorre que os cristãos, muitas vezes, não se dão conta de estarem seguindo um padrão sem Deus para entender o mundo ao seu redor. Percebemos esse tipo de procedimento quando vemos que muitos cristãos têm dificuldade de submeter todas as áreas de sua vida ao relacionamento explícito e direto com Deus.
A Igreja tem sido influenciada pelos conceitos pragmáticos do secularismo. Quem nunca ouviu a expressão: “O fim justifica os meios”? Esse conceito tem sido muito usado em diversas igrejas evangélicas. Se algo funciona, então é verdadeiro também para a Igreja. Se a Igreja enche, não importa que meios estejam sendo usados para isso, pois se está dando certo, então, deve fazer parte da vontade de Deus. Também não importa se a mensagem pregada é a do Evangelho verdadeiro, o que importa é que venham novos membros, de preferência com dinheiro no bolso.
Esta atitude da Igreja torna a vontade divina perfeitamente adaptável às situações humanas. E significa também que o que realmente importa não é o que está escrito na Bíblia, mas é aquilo que, do ponto de vista humano, funciona. Como disse MacArthur:
O pragmatismo está em voga; o compromisso com a verdade bíblica é desprezado como sendo uma fraca estratégia de mercado.
E de fato é o mercado quem tem ditado as regras. Cada vez mais a pregação da Palavra de Deus cede lugar para novos métodos como teatro, dança e outras formas de entretenimento. Pelo fato de que esses métodos realmente atraem multidões, eles são considerados como corretos em si mesmos, independentemente de serem bíblicos ou não.
O rei Davi viu com assombro os resultados de fazer algo de modo pragmático para Deus, em vez de seguir o que Ele havia determinado. Deus havia dado as instruções de como a arca da aliança deveria ser transportada:

Fundirás para ela quatro argolas de ouro e as porás nos quatro cantos da arca: duas argolas num lado dela e duas argolas noutro lado.
13  Farás também varais de madeira de acácia e os cobrirás de ouro;
14  meterás os varais nas argolas aos lados da arca, para se levar por meio deles a arca.
15  Os varais ficarão nas argolas da arca e não se tirarão dela Êx 25.12-14).

Quando a arca esteve com os filisteus, Deus mandou pragas até eles por causa da Sua arca. Desesperados, eles inovaram e devolveram a arca:

7  Agora, pois, fazei um carro novo, tomai duas vacas com crias, sobre as quais não se pôs ainda jugo, e atai-as ao carro; seus bezerros, levá-los-eis para casa.
8  Então, tomai a arca do SENHOR, e ponde-a sobre o carro, e metei num cofre, ao seu lado, as figuras de ouro que lhe haveis de entregar como oferta pela culpa; e deixai-a ir.
9  Reparai: se subir pelo caminho rumo do seu território a Bete-Semes, foi ele que nos fez este grande mal; e, se não, saberemos que não foi a sua mão que nos feriu; foi casual o que nos sucedeu (1 Sm 6.7-8).

E quando Davi retirou a arca da casa de Abinadabe, em vez de seguir as determinações do Senhor, Davi quis ser prático no transporte da arca de volta para Jerusalém. Ele imitou o modo mundano dos filisteus para o transporte:

Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo.
4  Levaram-no com a arca de Deus, da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Aiô ia adiante da arca.
5  Davi e toda a casa de Israel alegravam-se perante o SENHOR, com toda sorte de instrumentos de pau de faia, com harpas, com saltérios, com tamboris, com pandeiros e com címbalos.
6  Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram.
7  Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus (2 Sm 6.3-7).

O resultado dessa inovação foi a morte de Uzá. E Davi aprendeu a lição:

Temeu Davi ao SENHOR, naquele dia, e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR (2 Sm 6.9)?

Seguir ao mundo em vez da Palavra de Deus nunca dá bom resultado. Atualmente, a sociedade já se desiludiu com esse racionalismo, mas não se beneficiou nada com isso, porque o trocou pelo individualismo relativista, isto é, o que eu achar que é certo, é certo para mim, mesmo que não seja certo para você. Nessa nova filosofia, se a razão humana não está mais por trás dela, o individualismo e a rejeição de uma verdade absoluta está.

B – A regra de fé e prática: instituição da verdade pela mídia

O desenvolvimento da mídia impactou fortemente a vida diária dos indivíduos. Não é de hoje que vemos e sabemos da força que a mídia possui, e isso fica mais evidente quando, por meio de toda essa força, ela passa a inculcar nas pessoas uma ideia ou mesmo um ponto de vista já formado sobre determinado assunto. O poder da mídia está na sua força persuasiva, manipuladora, quase avassaladora, na formação da opinião pública e na criação dos desejos.
O triste é que os valores mais propagados pela mídia não agrega nenhum tipo de valor moral e ético, pelo contrário faz uma apologia a ensinamentos que tenho certeza de que você não passaria para o seu filho: vencer a qualquer preço, sedução e nudismo, depravação, enganação, traição e por aí vai. Isso tudo é o que a mídia tem propagado por aí com todo o seu poder e influenciando multidões com suas filosofias modernas.
É impressionante como as pessoas falam, se vestem, se alimentam , votam, e agem influenciadas fortemente pela mídia. E não podemos negar que a mídia é forte e poderosa, pois ela coloca e tira pessoas do poder, ela dá e tira o sucesso de bandas, de cantores e de pessoas, e o que é mais triste é observar pessoas que se modelam do formato difundido pela mídia e se tornam verdadeiros robôs controlados pelo seu sistema sem nenhum tipo de atitude e vontade própria.
Nos últimos anos, impulsionado pela difusão dos meios de comunicação modernos, principalmente dentre as classes sociais ditas de menor poder econômico, o poder da mídia ficou ainda maior. É notória toda essa influência e persuasão que ela possui principalmente na parte mais pobre da sociedade, vez que esta, formada na sua maioria por pessoas com pouca instrução, acaba tomando como verdade absoluta tudo que é veiculado, justamente por não possuírem meios e ou condições de discordar daquilo que é dito.
Os meios de comunicação são instrumentos de mediação, pois estão interpostos entre o homem/psiquismo e o mundo. Segundo Vigotsky o uso que o homem faz dos instrumentos gera uma reconstrução interna de operações externas. Isto é a internalização. Os meios de comunicação também têm por fins mediar a internalização de fatos e conceitos para o homem. Os conceitos transmitidos pela mídia ao sujeito são absorvidos se os símbolos utilizados pelos meios de comunicação forem internalizados e/ou aceitos pela sociedade. Existe então uma dialética, pois estes conceitos continuamente internalizados geram atitudes que vão influenciar a mídia bem como a sua atuação. Desta forma não somente a mídia influencia o homem e seu comportamento como o homem a influencia reciprocamente. Ou seja, a mídia vai mostrar aquilo que queremos ver.
Portanto, corta-se as audiências das novelas e elas desaparecerão, ou, então, sofrerão profundos reajustes. Com isso surge a pergunta: Será que os cristãos não têm responsabilidades dos sucessos imorais na mídia? Não! Eles não assistem novelas e nem a programas como o Big Brother...
É verdade que vivemos a era da informação. Com isso, o Evangelho tem ultrapassado fronteiras. Mas, infelizmente, as filosofias mundanas também e em proporção muito maior. Isso se agrava muito pelo fato do ser humano ter um coração decaído, corrompido pelo pecado, que o faz ter aversão à verdade e escutar diligentemente a mentira.
A televisão e a internet, meios de comunicação mais difundidos, têm se revelado poderosos instrumentos de massificação do mundo pós-moderno. Em um tempo em que as pessoas dizem não ter tempo para ler ou conversar, o bombardeio de imagens tem promovido uma espécie de anti-intelectualismo, pois elas anulam a capacidade de ler e substitui a razão pela emoção.
Esse comportamento secular massificado também tem atingido a Igreja, pois os cristãos também perderam a capacidade de ler, passando apenas a assimilar o que vêem na internet ou na televisão, quase sempre coisas muito superficiais. E por causa dessa enxurrada filosófica espalhada pela mídia, as mentes ficam saturadas de lixo. Influenciados por esse modo de viver mundano, muitos crentes deixaram de lado o bom hábito da leitura da Palavra de Deus e a meditação diária que deveriam fazer nela. Grande parte dos crentes da atualidade tem abandonado a riqueza da leitura da Palavra de Deus, trocando-os por fontes vazias, cisternas rotas, como fez o povo de Israel:

11  Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito.
12  Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o SENHOR.
13  Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas (Je 2.11-13).

A regra de fé e prática do povo de Deus deve ser a Palavra de Deus e não as mensagens seculares e mentirosas de nosso mundo pós-moderno. A Bíblia sempre deve ser para nós:

105  Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos (Sl 119.105).

Temos de nos alimentar dela para que a nossa cosmovisão possa ser a de quem enxerga o mundo com a mente de Cristo:

16  Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo (1 Co 2.16).

A mídia interfere sim nas relações humanas e faz parte do processo de formação e desenvolvimento do sujeito, pois o homem é sim influenciado pela mídia, mesmo que em sua maioria o indivíduo não perceba ou não reconheça isso. A mídia influencia na política, nos hábitos e no consumo do homem e pelo poder massificador que possui, ela tem sido a regra de fé e prática deste mundo secular.

C – A valorização, a qualquer custo, do financeiro

Outro aspecto da secularização é quanto ao lidar com dinheiro, com as finanças. O profeta Isaías descreveu uma triste situação em Israel e deu uma solene advertência:

Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra (Is 5.8)!

Israel já precisava de uma reforma agrária. O que é esse desejo de ter mais e de estar acima dos outros? O que é essa sensação que domina o ser humano e o faz ter tanta vontade de possuir coisas? Esses homens, a respeito de quem o profeta pronunciou um ai, iam comprando todas as casas e todos os campos até que se tornassem os únicos donos de tudo. Então, eles podiam olhar para suas propriedades e dizer para si mesmos: “Tudo isto é meu”. Parece que o desejo humano não se satisfaz enquanto existir algo que “não seja dele”. Isso nos lembra uma ilustração dada por Jesus:

16  E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância.
17  E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos?
18  E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens.
19  Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.
20  Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
21  Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus (Lc 12.16-21).

A modernidade tem produzido muitos bilionários, mas em sua maioria são pobres espirituais. Para juntarem suas fortunas abandonam a família, não encontram tempo para ela e muito menos para Deus, e nem se preocupam com sua própria saúde. Também pela ganância se tem deixado de lado conceitos éticos valorosos em relação ao seu próximo.
Infelizmente esse desejo também tem feito parte da vida de muitos cristãos. Eles têm sido contaminados pelo desejo de possuir, de ter e de comprar. O Senhor Deus fica em segundo plano na vida de muitos, porque eles têm seus olhos voltados constantemente para o trabalho em busca de riquezas. Jesus fez uma severa advertência quanto a isso:

24  Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mt 6.24).

Atualmente é notório que as pessoas estão à procura da autoajuda e suprir as necessidades físicas. O local que apresenta as respostas para tais demandas humanas certamente fluirão multidões sedentas e desesperadas para alcançar o êxito esperado. Esses sintomas transformam a mensagem do Reino de Deus conforme o homem queira e não o que o Criador propôs.
Verificamos que o ser humano passou para o centro da realização do culto divino, substituindo ao nosso Senhor Jesus. As músicas que são entoadas falam mais da condição do homem, dos seus problemas, dos seus sentimentos e das suas vontades. As pregações são direcionadas para o enriquecimento e motivação pessoal. Além disso, produz dentro do coração do indivíduo o desejo de vencer e ser o melhor. Entretanto, quando não consegue, se sente frustrado e derrotado. As escrituras não dão respaldo a isso. O Senhor Jesus nos ensinou:

19  Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam;
20  mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam;
21  porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6.19-21).

A Igreja de hoje tem despendido muita energia na busca de adquirir dinheiro. Para muitos líderes evangélicos de hoje, as pessoas a serem evangelizadas deixaram de serem consideradas possíveis ovelhas do rebanho do Senhor para representar mais entradas no caixa da Igreja. Ao mesmo tempo, muitos crentes se tornam membros de Igreja, mas não se envolvem financeiramente com ela por meio dos dízimos ou de ofertas. O dinheiro fica em primeiro lugar.
É necessário haver uma preocupação com os rumos que a Igreja pode tomar. Pois, o secularismo não deve exercer domínio sobre a vida do cristão. Então, o que devemos fazer? Devemos acatar firmemente a exortação do apóstolo Paulo que disse:

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).

Fica evidente que não podemos pautar a nossa existência nas riquezas e tampouco em nossos desejos carnais. Se alguém vai para a Igreja do Senhor Jesus somente para receber bênçãos, não querendo compromisso real com Jesus Cristo e nem transformação de vida, não compreendendo a grandiosidade do amor que foi doado e o relacionamento de aproximação pelo sacrifício de Cristo, estará sendo enganado e o seu fundamento não será a pessoa bendita de Jesus Cristo.

2 – IMORALIDADE: CONSEQUÊNCIA DE UMA VISÃO DE MUNDO SECULARISTA

Com sua visão de mundo secular a humanidade continua distante de Deus e, por consequência, ela mergulha em um estado reprovável de imoralidade sem limites. É a degradação moral pela escolha de viver descentralizado de Deus.Mesmo quando milhares de pessoas estão perdendo suas vidas para a AIDS e outras doenças sexualmente transmitidas, muitos continuam o jogo mortal de desobedecer a Deus.
A imoralidade domina a programação da televisão, ela enche revistas, e frequentemente dita as escolhas da moda. O povo brasileiro tem sido ofendido com as barbaridades apresentadas nas novelas da televisão. Com isso eles querem dar a entender que os procedimentos imorais são normais e válidos no dia-a-dia das pessoas. O mentor da novela vai ensinando ao povo que nossa sexualidade se reduz a atos impulsivos, como se fôssemos animais irracionais que só buscam o prazer do sexo, independentemente de qualquer visão humana e moral do sexo, e sem qualquer compromisso de vida com outra pessoa.
Estamos diante da apologia do sexismo, da pornografia travestida de arte, e de outras imoralidades que vão minando o casamento e a família. E sabem por que de tudo isso? A insistência em se viver sem Deus e seus princípios.

A – O distanciamento de Deus por causa do pecado

O pecado é como um anzol que fisga o homem e o arrasta para a inevitável morte, enquanto ele se debate para permanecer vivo. Você já ouviu alguém dizer que quando estamos mais próximos de Deus, vivendo em mais comunhão com Ele, pecamos menos? Isto é verdade! O contrário também é verdadeiro: Aqueles que estão distantes de Deus pecam mais! O mundo vive hoje como no caso de Israel no tempo do profeta Isaias:

4  Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniqüidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás (Is 1.4).

Eles abandonaram ao Senhor. A partir daí a sua situação moral desmoronou. Isso porque o pecado nos afasta de Deus:

Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça (Is 59.2).

Nessa passagem o profeta Isaías, que viveu em uma época conturbada, quando as pessoas estavam vivendo uma religião de fachada, quando não estava havendo harmonia entre a vida no templo e a vida comum do dia-a-dia, Deus levanta o profeta para acordar o povo do sono e da cegueira espiritual que havia se estabelecido.
Então o que causa essa separação entre o homem e Deus? É exatamente a iniquidade, ou seja, o pecado que certamente afasta o homem de Deus. Certamente o pecado faz com que fiquemos cegos para a realidade espiritual. E o que agrava isso é que pouco se fala do pecado nos dias atuais em que o próprio ser humano tem seus critérios para qualificar o que é pecado e o que não é. Uma vida pecaminosa nos afasta de Deus. E o pior de tudo isso é a ilusão de que estamos em comunhão com Deus somente pelo fato de estarmos tendo uma prática religiosa.

B – A insensibilidade ao pecado causada pelo afastamento de Deus

O pecado endurece o coração do homem. Significa dizer que a pessoa que comete um deslize pela primeira vez ele demonstra um estremecimento e uma repugnância. Se o ato se repete cometerá com mais facilidade. Se insistir em cometer a ação maléfica tornará para ele uma coisa comum e normal. Significa dizer que o pecado, pelo seu engano, tornou esse coração insensível para detectar o mal. Será como se uma pessoa tivesse um membro do seu corpo com problemas de sensibilidade, e chegasse um ferro em brasas nele e, mesmo o ferro em brasas estando queimando e destruindo o membro, ele estaria insensível a tal ação. A Bíblia diz que:

5  Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo.
Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo (Is 1.5,6).

A pecaminosidade em Israel havia chegado a tal ponto, que havia contaminado a tudo e a todos. Mas o que é triste é que aos seus próprios olhos eles não haviam pecado.
Hoje a situação é muito parecida. As pessoas pecam e ainda saem contando, com orgulho, o que fizeram. Mulheres e homens pousam nus para fotos e, depois, em entrevistas na televisão, se orgulham de terem feito tal serviço porque isso é arte. Pessoas se exibem imoralmente diante de milhões de telespectadores sem o mínimo de vergonha.
Muito cuidado. Não pense que você pode assistir a toda esta imoralidade que aparece na televisão sem se contaminar. O nosso cérebro armazena todas as imagens que vemos. Logo, alguém que assiste a muitos filmes de violência física, não pode esperar ser um pacificador. O mesmo acontece com programas imorais. Paulo nos adverte:

8  Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento (Fp 4.8).

Este texto serve de teste para o que pretendemos colocar dentro de nossa mente. Submeta tudo ao teste: É verdadeiro? É respeitável? É justo? É puro? Então pense! Mas como que todas estas virtudes vão ocupar o pensamento das pessoas se elas só ficam vendo o que não presta na televisão? Logicamente que isso não será possível com tal hábito. O melhor a fazer é filtrar a mente, colocando dentro dela apenas àquilo que agrada a Deus. Não podemos assistir a tudo o que se passa na televisão. Não podemos ouvir a tudo o que se toca no rádio. Não podemos participar de todas as conversas e piadas de nossos amigos, pois Paulo disse:

23  Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam (1 Co 10.23).

A humanidade precisa se aproximar mais de Deus. Uma forte comunhão com Deus é a arma para se ficar firmes contra as tentações que o mundo oferece. Quanto mais nos aproximarmos de Deus através da oração, leitura de sua Palavra e participação nos trabalhos da Igreja, mais condições teremos de o obedecermos e nos defendermos contra as armadilhas do inimigo.

C – A inversão de valores causada pelo afastamento de Deus

Em Israel a situação chegou ao ponto da inversão de valores dizer que o mal é bom e o bem é mau:

20  Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! (Is 5.20)

Você está andando na rua e encontra uma carteira com documentos e cheia de dinheiro. O que você faria? Procuraria o dono e a devolveria? Em uma pesquisa na televisão, mais da metade dos entrevistados disseram que não. Você faz uma compra, paga, e quando vê recebe troco a mais. O que você faria? Devolveria o dinheiro? Tomando a atitude de devolver, provavelmente algumas pessoas vão rir de você. Dirão que você foi bobo em não pegar o dinheiro. Isto é inversão de valores. É chamar o certo de errado e o errado de certo.
Lembram-se do caso daquele ator famoso de cinema flagrado com uma prostituta nos EUA. Em pouco tempo a prostituta ficou famosa por causa do incidente. Ela foi tratada como uma heroína em um programa de entrevista no Brasil. A vida desta mulher é de imoralidade, porém, seu comportamento foi aplaudido por muita gente em todo o mundo.
E por aqui temos a peladona de Congonhas, uma prostituta que resolve escrever um livro de suas aventuras sexuais, uma aluna que resolve ir à faculdade com roupa curtíssima e muitos outros exemplos de sucesso derivado de alguma imoralidade. O que fazermos então, neste mundo de valores invertidos? Influência é a melhor resposta. Devemos influenciar este mundo.

13  Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
14  Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte;
15  nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa.
16  Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5.13-16).

Quando o sal perde o sabor não tem mais utilidade. Quando o cristão não influencia o mundo em que vive perde o seu sentido de ser. Se os filhos de Deus, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, viverem de acordo com o que Cristo ensinou, influenciarão esta nação e o mundo e poderão firmar os valores corretos de Deus.
Como discípulos do Senhor Jesus temos que buscar a santificação a cada dia, porém, no mundo em que vivemos, cheio de malícia e imoralidade, isto torna-se cada vez mais difícil, mas não impossível. Mesmo assim Deus não nos isentou da santificação, não afrouxou as suas exigências e nem tolera algum tipo de pecado na vida de seus santos.
Precisamos agir como verdadeiros cristãos, defender nossos valores, defender a moral, defender a família, defender a honra de Deus. Se não fizermos isso, estaremos sendo coniventes com a destruição da família e da sociedade. Se continuar assim o que devemos esperar para os nossos filhos, netos e descendentes?

3 – COSMOVISÃO BÍBLICA: A MELHOR PROPOSTA PARA A CULTURA SECULARISTA

Essa visão de mundo propõe uma redenção do homem a partir do realinhamento vital do seu coração com o foco central no amor e no reconhecimento de Deus como Senhor.

A – Um retorno aos princípios divinos

O objetivo da Igreja de hoje parece ser simplesmente o de abarrotar seus templos de pessoas. Parece que o que importa é marketing, divulgação, exposição, mas sem conteúdo ou mensagem relevante. Evidentemente, esse caminho secular da religião das multidões é muito diferente do que ensina a Palavra de Deus:

13  Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela),
14  porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela (Mt 7.13-14).

O caminho estreito é o caminho da submissão a Deus. É estreito porque simboliza a dificuldade de andar por ele para quem está acostumado aos atalhos da vida. É por isso que há tão poucas pessoas nele. O caminho largo é o caminho das vantagens pessoais, é o caminho da ausência de compromisso e dedicação, é o caminho da despreocupação. É por isso que ele está abarrotado de seguidores. Não devemos desanimar se a religião que professamos não é popular, ou se as multidões não estão interessadas nela, pois como disse o Rev. Ryle:
O arrependimento, a fé em Cristo e a santidade na vida nunca estiveram na moda.
Muitos têm se iludido com um marketing bem elaborado e com supostas curas e milagres, mas é preciso muito cuidado, pois a Bíblia diz que:

25  Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte (Pv 16.25).

B – Entrega da totalidade da vida a Deus

As Escrituras Sagradas ensinam que todas as coisas pertencem a Deus e tudo trabalha para lhe dar glória:

36  Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém (Rm 11.36)!

Calvino aplicava seriamente esse princípio e ensinava que os cristãos de Genebra deveriam trabalhar a cultura de sua cidade para refletir o domínio soberano de Cristo sobre todas as coisas.

C – Somente as Escrituras Sagradas como regra de fé e prática

O que devemos fazer diante da realidade que estamos vivendo? A resposta é voltarmos para as Escrituras e retirarmos todas as coisas que vieram tirar a originalidade da nossa fé. Então, precisamos restaurar o propósito divino, olharmos para aquilo que foi deixado nas Escrituras pelo Senhor Jesus e os apóstolos do primeiro século.
A Igreja apostólica é aquela que o Senhor Jesus deixou como exemplo, a qual evidenciava amor, unidade, poder, abdicação, ensino e fé, uma Igreja apta para ser a extensão do Reino dos Céus na terra, e não Igreja que segue um padrão que não agrada a Deus. Os preceitos das Escrituras Sagradas são atemporais e aculturais. O padrão é para agora, a cultura bíblica é para os tempos atuais. Não devemos viver de deslumbres da manifestação de Deus, mas sim da totalidade do seu poder na Igreja.
É muito triste constatar a realidade de que um grande número de cristãos têm se secularizado, têm dado enorme valor às coisas do mundo em detrimento das coisas de Deus. Jesus, em sua oração sacerdotal, pediu ao Pai para que não fôssemos retirados do mundo, mas que fôssemos libertos do mal. Isso porque temos a missão de ser sal e luz para este mundo. E se temos a mente de Cristo, devemos seguir o que o apóstolo Paulo disse:

1  Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra;
3  porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
4  Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória (Cl 3.1-4).

Nós morremos em Cristo para viver para Ele. O Senhor nos concede vida, e vida em abundância. Precisamos abandonar os atrativos seculares para desfrutar das maravilhosas riquezas que temos em Cristo Jesus.

Conclusão

O padrão de Deus é diferente do qual a humanidade deseja. Não adianta pensar que o ser humano poderá questionar a Soberania de Deus e mudar a forma para se aproximar de Deus e entrar no céu.
A cosmovisão cristã bíblica assume um compromisso com as Escrituras Sagradas como sendo ela a revelação de Deus à humanidade. Elas são a principal e a única fonte segura de conhecimento verdadeiro sobre Deus. Por isso que em lugar de ter a razão humana como única ferramenta para entendimento da realidade, ela propõe as Escrituras Sagradas como a lente perfeita para se enxergar e entender o mundo, apesar de sofrer com diversas influências que permeia seu modo de entender as coisas. Que Deus nos abençoe!Amém!


Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com

sábado, 28 de março de 2015

TRÊS PILARES DA FÉ CRISTÃ: 3º REDENÇÃO EM CRISTO, UMA VISÃO RESTAURADORA



3  Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
4  assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
5  nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
6  para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado,
7  no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,
8  que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,
9  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
10  de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
11  nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
12  a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo;
13  em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;
14  o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1.3-14).

Introdução

A cosmovisão bíblica propõe um entendimento do mundo a partir do pressuposto de que o Universo foi criado por Deus em estado de perfeição. Entretanto, ocorreu a intromissão do pecado através da queda do homem lá no Jardim do Éden e esta queda corrompeu a perfeição da criação de Deus.
Em relação ao homem, a visão cristã assume que o ser humano tem o seu coração dirigido por uma inclinação negativa em relação a Deus. Essa inclinação para o mal determina suas preferências e influencia todo o seu desenvolvimento cultural.
No entanto, a visão cristã inclui uma perspectiva restauradora do coração humano, a qual se trata de uma ação de redenção por parte do Criador. Através da redenção, Deus traz de volta à sua comunhão sua criatura. Por isso que a cosmovisão cristã é também uma visão restauradora.
Todo mundo precisa de redenção, pois nossa condição natural é caracterizada por culpa. A redenção de Cristo nos libertou dessa culpa. Se hoje nós somos redimidos, então a nossa condição anterior era de escravidão. Isso significa que Deus comprou a nossa liberdade e não somos mais escravos do pecado, porque redimir é resgatar e resgate significa o valor pago para obter a libertação ou soltura de um cativo.
Pelo resgate da redenção, Jesus pagou o preço da nossa libertação do pecado. Sua morte foi uma troca por nossa vida. A entrega de sua vida, representada pelo derramamento de seu sangue, resgata e resulta na remissão dos pecados de todos os que cumprem os requisitos do arrependimento e da fé. Vamos estudar a redenção a partir de sua história, de seu personagem principal: Jesus Cristo e por fim da Igreja.

1 – A REDENÇÃO E A HISTÓRIA

A redenção faz parte, desde o princípio, da História. Para a entendermos devemos focalizar no que Cristo fez, pois a morte de Cristo satisfez o governo de Deus e livrou o homem pecador para que pudesse ser perdoado e ter comunhão com Deus. Olha o que alguns autores das Escrituras escrevem:

18  sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
19  mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,
20  conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós (1 Pd 1.18-20)
25  Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos,
26  e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações,
27  ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém (Rm 16.25-27)!
9  que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos,
10  e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho (2 Tm 1.9,10)
1  Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade,
2  na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos
3  e, em tempos devidos, manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador (Tt 1.1-3).

Portanto, não há como negar a eternidade do plano de Deus da redenção até porque o seu autor também é eterno, conforme vimos no primeiro pilar da fé. E se o plano é de Deus e este plano é eterno, isso significa que entre a eternidade e o seu surgimento Deus estava administrando os segmentos históricos para culminar na redenção em Cristo.

A – A promessa no princípio

As Escrituras registram o inicio da história da redenção no momento imediato à Queda, anunciando ali mesmo no Jardim a figura histórica do Descendente da mulher:

15  Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gn 3.15).

Na visão cristã, todo o desenvolvimento histórico posterior a essa promessa é a sucessão de eventos conduzidos com a finalidade de revelar o Descendente. E Deus dirige a História com o propósito de preparar o cenário para o surgimento do Messias.

B – A História é Teocristocêntrica

A História é centrada em Deus, por meio de Jesus Cristo. Jesus é o ponto alto de todo o desenrolar histórico:

9  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
10  de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra (Ef 1.9-10).
4  vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
5  para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos (Gl 4.4-5).

As cosmovisões não bíblicas não reconhecem a centralidade de Cristo na História. Para elas, Jesus Cristo é somente uma parte da história geral. Elas também reconhecem a História somente como resultado da atividade humana, isso porque possuem uma visão antiteocêntrica, ou seja, contra a centralidade de Deus. Essa visão dirige o coração humano desde a sua queda, demonstrando a rebelião contra o Senhor e o Seu Ungido. O salmista reflete muito bem isso quando diz:

2  Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:
3  Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas (Sl 2.2-3).

E sabe qual é a posição de Deus diante disso? O salmista responde:

4  Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles (Sl 2.4).

Negar a centralidade de Deus na História é loucura. É atender ao declínio decaído do coração humano. O resultado final desta negação será a condenação eterna.

C – A administração de Deus na História

Deus é o Senhor da História. Na perspectiva bíblica, a História não acontece apenas como resultado da interação de forças sociais e políticas. Embora estes elementos estejam presentes na construção dos fatos históricos, eles não são a causa primária dos acontecimentos. Na verdade, a História é o resultado da vontade ativa de Deus:

12  Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR; eu sou Deus.
13  Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá (Is 43.12,13)?

É assim que a visão bíblica compreende todos os acontecimentos da vida, sejam eles fatos importantes e significativos, como a escolha do governante de uma nação de grande influência global, ou acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia.

20  Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;
21  é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.
22  Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz (Dn 2.20-22).
29  Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai (Mt 10.29).

E assim todos os acontecimentos da História cumprem os propósitos de Deus. Dessa forma podemos crer que Deus administra a História. Especificamente na redenção, a administração de Deus na História pode ser vista através dos pactos. Um pacto é o modo de Deus administrar o seu relacionamento com a sua criação. Podemos citar dois pactos: o Pacto da Criação e o Pacto da Redenção.
O Pacto da Criação, que também é chamado de Pacto das Obras, é a aliança básica de Deus com a sua criação. Este pacto estabelece um compromisso de obediência a Deus e pode ser representado por três ordenanças básicas: o Sábado, o casamento e o trabalho:

3  E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera (Gn 2.3).
18  Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.
19  Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles.
20  Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
21  Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne.
22  E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe.
23  E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.
24  Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne (Gn 2.18-24).
15  Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gn2.15).

Essas ordenanças representam três mandatos básicos: o mandato espiritual (o Sábado), o mandato social (o casamento) e o mandato cultural (o trabalho). Esses mandatos foram dados como ponto de partida para que o homem cumprisse todo o seu propósito de existir e trabalhar para a glória de Deus. A Queda interferiu no processo de obediência do homem e desestruturou o seu funcionamento, gerando rompimentos e estes rompimentos foram espiritual, social e cultural. E vemos isso já lá no Éden:

8  Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.
9  E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?
10  Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi (Gn 3.8-10).
11  Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12  Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi (Gn 3.11,12).
17  E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.
18  Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.
19  No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3.17-18).

E diante da desobediência e da incapacidade do homem de atender os propósitos para o qual fora criado, Deus não o abandonou, mas estabeleceu com ele um novo pacto: o Pacto da Redenção, também chamado de Pacto da Graça. Esse Pacto da Redenção tem como base a atitude graciosa de Deus, que vai ao encontro do homem para resgatá-lo de sua prisão, o pecado, restaurando-o para viver e servir a Deus. Esse pacto é apresentado no decorrer da História por meio de sucessivas renovações, que vai de Noé a Jesus Cristo. Com Noé Deus renova a sua aliança revelando a sua vontade de preservar para sempre a sua Criação:

8  Disse também Deus a Noé e a seus filhos:
9  Eis que estabeleço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência,
10  e com todos os seres viventes que estão convosco: tanto as aves, os animais domésticos e os animais selváticos que saíram da arca como todos os animais da terra.
11  Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra.
12  Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações:
13  porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra.
14  Sucederá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o arco,
15  então, me lembrarei da minha aliança, firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne.
16  O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra.
17  Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra (Gn 9.8-17).

Após o dilúvio, a História mostra que o homem continuou em sua maldade, mas o Senhor renova a sua aliança com Abraão, revelando o propósito de usar um povo para abençoar a todas as famílias da Terra:

1  Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
2  de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
3  Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12.1-3).
7  Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência.
8  Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus (Gn 17.7,8).

Com Moisés, Deus estabelece um novo momento de seu pacto ao dar e instituir a Sua Lei ao seu povo:

9  Subindo eu ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o SENHOR fizera convosco, fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem bebi água.
10  Deu-me o SENHOR as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; e, nelas, estavam todas as palavras segundo o SENHOR havia falado convosco no monte, do meio do fogo, estando reunido todo o povo.
11  Ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, o SENHOR me deu as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança (Dt 9.9-11).

Deus guiava a conduta de seu povo por meio de suas prescrições e com isso consolidava a nação escolhida e a incumbia de cumprir os seus propósitos:

5  Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha;
6  vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel (Ex 19.5-6).

Mais à frente, na História, percebe-se o descaminho do povo e a sua incapacidade de servir a Deus com integridade. Começa os governos humanos e com ele todo o seu egocentrismo. Deus, então, revela um novo momento de seu pacto através de sua aliança com Davi:

12  Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino.
13  Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14  Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens.
15  Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16  Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.
17  Segundo todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi (2 Sm 7.12-17).

Todas essas fases da aliança da redenção são administradas por Deus no decorrer da História e todas elas apontam para a última e definitiva etapa e culminam com ela: a Nova Aliança em Cristo:

25  Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim (1 Co 11.25).
6  Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas.
7  Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda.
8  E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá,
9  não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor.
12  Pois, para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei.
13  Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer (Hb 8.6-9, 12,13).

Portanto, todas as alianças apontavam para Cristo e o seu governo redentivo. Elas ocorreram no transcorrer da História humana pela providência de Deus.

2 – A REDENÇÃO E JESUS CRISTO

Cristo manifestou o amor de Deus por nós na cruz. Redenção significa que a morte de Cristo anula e remove o pecado. Significa que a morte de Cristo foi direcionada à culpa e ao pecado do homem. Significa que a ira de Deus para com o homem é aplacada, que algo é feito para mudar a atitude de Deus para com o pecador, que algo é feito para remover as consequências dos pecados do homem. Difícil deixar de admirar a apresentação de João Batista quando viu ao Senhor Jesus:

29  No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29)!

Jesus veio para revelar e ser o verdadeiro e único caminho para o Pai:

6  Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14.6).

Quando o homem deixou de estar centrado em Deus e passou a estar centrado nele mesmo, o pecado trouxe sobre a criação uma maldição que a sujeitou ao cativeiro da escravidão. O apóstolo Paulo chama a essa condição decaída de morte e identificou a queda de Adão como a porta de entrada da morte na história da humanidade:

12  Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12).

Jesus Cristo veio para restaurar o governo de Deus sobre a Criação, cumprindo o papel de servir e glorificar a Deus, corrigindo o erro de Adão. O resultado da obra de Adão é o sofrimento, o caos e a injustiça, mas o resultado da obra de Jesus é a restauração da paz e da harmonia entre Deus e o homem. Mas não podemos limitar o papel de Jesus Cristo somente à expiação e à concessão de entrada no céu, pois a Bíblia enfatiza o papel de Jesus como Rei dos reis e Senhor dos senhores.

A – A autoridade de Cristo sobre a natureza e sobre a vida

Evidentemente, os poderes de Jesus sobre a natureza revelam a sua origem divina, pois demonstra que Ele exerce autoridade e governa sobre a criação. Cristo governa o vento e o mar, Ele andou sobre as águas e até mesmo os peixes lhes obedecia:

39  E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança.
41  E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem (Mc 4.39,41)?
25  Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar.
26  E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram.
27  Mas Jesus imediatamente lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!
28  Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.
29  E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus.
30  Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me, Senhor!
31  E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: Homem de pequena fé, por que duvidaste?
32  Subindo ambos para o barco, cessou o vento (Mt 14.25-32).
4  Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.
5  Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes.
6  Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes.
7  Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique (Lc 5.4-7).

E também Jesus Cristo exerce autoridade sobre todos os aspectos da vida humana. Ele curou, ressuscitou dentre os mortos e deu vista aos cegos:

32  À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados.
33  Toda a cidade estava reunida à porta.
34  E ele curou muitos doentes de toda sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era (Mc 1.32-34).
43  E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
44  Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir (Jo 11.43,44).
6  Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego,
7  dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo (Jo 9.6,7).

Jesus é o Senhor da vida. Todos estes aspectos revelaram a autoridade que Jesus havia recebido para cumprir a sua tarefa de representar o Reino de Deus neste mundo.

17  Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
18  Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai (Jo 10.17,18).
36  Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos.
37  Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do batismo que João pregou,
38  como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;
39  e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro (At 10.36-39).

B – A autoridade de Cristo pelo ensino da verdade e da justiça

Sobre todas as formas da manifestação da autoridade e do governo de Cristo, a sua autoridade para anunciar a Palavra de Deus se destacava. Ele pregava com autoridade sobre o arrependimento e o retorno a Deus como a porta de entrada para o Reino de Deus.

28  Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina;
29  porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas (Mt 7.28,29).

E esta autoridade era ainda mais reforçada com o perdão dos pecados:

10  Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico:
11  Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
12  Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim (Mc 2.10-12)!

A mensagem de Cristo era diferente dos fariseus, Sua mensagem era de amor e o perdão dos pecados dava autenticidade aos seus ensinos.

C – A autoridade de Cristo sobre o mundo espiritual

A autoridade de Cristo se estende até mesmo aos demônios. Até eles declararam a Jesus Cristo como o Messias:

23  Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou:
24  Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!
25  Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai desse homem.
26  Então, o espírito imundo, agitando-o violentamente e bradando em alta voz, saiu dele (Mc 1.23-26).
27  Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros.
28  E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes.
29  Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto.
30  Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios.
31  Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo.
32  Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu (Lc 8.27-32).

Jesus Cristo governa sobre todas as forças espirituais, pois Ele é maior do que tudo e a todos e os tem debaixo de seus pés:

20  o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,
21  acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro.
22  E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,
23  a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.20-23).

Jesus exerceu a sua autoridade espiritual não somente expulsando demônios, pois ao contrário de Adão, que se submeteu ao controle do diabo, Cristo resistiu ao diabo e o venceu:

13  Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno (Lc 4.13).
31  Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso (Jo 12.31).
15  e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz (Cl 2.15).

3 – A REDENÇÃO E A IGREJA

A Igreja são os redimidos de Deus. Ela ocupa um lugar muito importante na obra de restauração do pecador perdido. A presença da Igreja como embaixadora da verdade no mundo é o modo como Deus deixa o testemunho de Jesus Cristo para as gerações. O dever do cristão é compreender e cumprir os mandamentos de Deus e representá-Lo de um modo obediente.

A – O compromisso da Igreja com a pregação do Evangelho

Depois de redimido, o cristão tem um compromisso vital com o seu Senhor: pregar o Evangelho:

18  Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação,
19  a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.
20  De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2 Co 5.18-20).

Esta pregação trata de revelar o mistério de Cristo, encoberto dos homens centrados em si mesmos. Portanto, pregar o Evangelho é anunciar o Reino de Deus e Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Essa pregação tem uma ligação vital com a administração de Deus na História.

14  E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim (Mt 24.14).

Desde Adão as coisas estão sendo, pouco a pouco, colocadas no seu devido lugar, até que venha o fim e tudo seja definitivamente restaurado.

24  E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.
25  Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés (1 Co 15.24,25).

A pregação do Evangelho deve constranger os homens à salvação e também acusar o pecador por desprezar o governo de Deus. O cristão jamais pode desprezar e esquecer as últimas palavras de Jesus enquanto esteve na terra:

18  Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
19  Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
20  ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (Mt 28.18-20).

B – O compromisso da Igreja de influenciar o mundo

Os cristãos devem e podem exercer boa influência no mundo ao seu redor. Esta é uma das principais mensagens do Sermão do Monte:

13  Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
14  Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte;
15  nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa.
16  Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5.13-16).

A cosmovisão cristã compromete a vida do crente com o princípio lógico de que ele deve viver em completa relação harmoniosa com Cristo.

C – O compromisso da Igreja de ser exemplo

O compromisso se inicia com o exemplo. Somente posso ser sal e luz se tiver sido iluminado, ou seja, redimido por Cristo. E a cosmovisão bíblica compreende que o papel dos cristãos no mundo não pode ser exercido sem que Deus os conduza e capacite para a obra, por meio de Jesus Cristo:

17  E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (2 Co 5.17).

A obra de redenção é uma reestruturação da mente daqueles que se ligam a Cristo, de modo a existir agora centrada em Deus. As ruas do céu vão estar cheias de antigos prisioneiros que, não por nenhum mérito próprio, encontram-se perdoados e livres. Os escravos do pecado se tornam santos. Não é de se estranhar que eles cantam uma nova canção – uma canção de louvor ao Redentor que foi morto:

9  e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9).

Éramos escravos do pecado, condenados à separação eterna de Deus. Jesus pagou o preço para nos redimir, resultando em nossa liberdade da escravidão do pecado, e nosso resgate das consequências eternas do pecado.

Conclusão

A redenção de Deus é uma obra de reestruturação da existência. Ela começa pela vida do crente e se estende a todos os aspectos da vida. Os cristãos têm de desenvolver um papel dentro da sociedade que é de grande importância, visando sua transformação positiva. A omissão da Igreja é, em muitos casos, a raiz de muitos problemas vividos pela sociedade. É o sal que não tem sabor.
Não podemos pensar em um cristianismo bíblico sem manter uma visão adequada da História, de Cristo como Senhor e do papel da Igreja. Pare e pense: Quais as suas principais ações como representante do Reino de Cristo neste mundo? Você considera que o modo como vive tem características ligadas à obra da redenção? Que Deus te abençoe! Amém!

Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com