12
Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas
o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao
SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma,
13 para guardares os mandamentos do SENHOR e os
seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem (Dt 10.12-13)?
Introdução
Vamos
descrever sobre o Pacto da Graça em alguns estudos. Neste primeiro momento
vamos ver um pouco do conceito bíblico de pacto. Estudar o Pacto é conhecer a
maior história de amor já contada, amor este revelado primeiramente a um casal
em um maravilhoso jardim, amor este provado dramaticamente por um homem
crucificado em uma cruz, em um pequeno monte, diante de uma multidão e amor
este confirmado gloriosamente em um túmulo vazio, sendo assim proclamado ao
mundo.
A
história do Pacto está na Bíblia, por isso que, antes de entrar no assunto do
Pacto é muito importante descrevermos algumas coisas sobre as Escrituras
Sagradas. E quando falamos em salvação, estudar as Escrituras é de suma
importância, porque sua narrativa nada mais é do que o sublime drama da
redenção, a qual nos é revelada progressivamente até o seu grande final com a
vitória do Cordeiro no livro de Apocalipse.
1 – A BÍBLIA E O PACTO
Qual
o tema principal da Bíblia? Há muitas respostas para esta pergunta. Podemos
citar o amor de Deus, a santidade, a salvação e etc. Porém, pensando em nosso
tema, pensando em pacto, vamos analisar esta pergunta em três temas básicos: o
Reino de Deus, o Pacto e o Mediador.
A – O Reino de Deus
Para
definir o Reino de Deus precisamos pensar em alguns aspectos essenciais como:
Rei, Trono, Domínio e Reinado. O Reino de Deus focaliza a pessoa do Soberano
Rei, que é o Senhor Deus, e quem é Ele? Ele é aquele que criou todas as coisas,
aquele que governa sobre toda a sua criação, aquele que sustém a sua criação,
aquele que redime ao que foi corrompido, aquele que restaura ao que foi
perdido, aquele que julga os homens, e aquele em quem tudo se consuma. É assim
que a Bíblia apresenta Deus:
9
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante
a mim;
10 que
desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as
coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé,
farei toda a minha vontade;
11 que
chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu
conselho. Eu o disse, eu também o
cumprirei; tomei este propósito, também o executarei (Is 46.9-11).
O
ser humano é que equipara pessoas a Deus, mas a verdade é que ninguém deste
mundo pode ser equiparado a Deus. Ninguém! E quem é rei tem um trono e o trono
significa o centro a partir do qual o poder é exercido. Deus está assentado no
Trono e dele governa todo o Universo. Ao seu comando segue as estrelas, o sol,
a lua, o mar, o vento, a natureza e toda a humanidade. A Bíblia descreve a
glória deste Trono:
2
Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado;
3 e
esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de
sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a
esmeralda.
4 Ao
redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e
quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro.
5 Do
trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas
de fogo, que são os sete Espíritos de Deus.
6 Há diante
do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do
trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e
por detrás.
7 O
primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo, semelhante a novilho, o
terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia
quando está voando.
8 E os
quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão
cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de
noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir.
9
Quando esses seres viventes derem glória, honra e ações de graças ao que se encontra sentado no trono, ao
que vive pelos séculos dos séculos,
10 os
vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão
diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos
séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando:
11 Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de
receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim,
por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas (Ap 4.2-11).
Há
um glorioso Trono no céu e alguém está assentado nele: Deus! O Reino também
pressupõe um domínio e quem é rei tem um governo, que no caso de Deus abrange
todo o Universo, o universo material e também o universo espiritual. Nada nem
ninguém estão fora deste domínio, portanto, seja o fiel e seja o rebelde, seja
o crente e seja o pagão, seja o justo e seja o ímpio, todos, independentemente
de sua crença, estão sob o domínio do reinado de Deus. Faraó do Egito era um
homem idólatra que não cria em Deus, mas isso não o impediu de estar sob o
domínio de Deus, pois a Bíblia diz que Deus endureceu seu coração para que não
deixasse o povo de Israel partir antes do acontecimento das dez pragas. Isso
significa que Deus agiu na vida de Faraó mesmo contra a própria vontade de
Faraó, e ele teve que se curvar ante a majestade de Deus, não para adorá-lo,
mas para reconhecer que Ele Reina e Domina sobre todos. E isso acontecerá com
todos, inclusive àqueles que não crêem, não acreditam, e não servem a Deus,
pois a Bíblia diz:
11
Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a
Deus (Rm 14.11).
9 Pelo
que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo
nome,
10
para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,
11 e
toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp
2.9-11).
E
isso acontecerá independente da sua fé, independente da sua vontade ou de quem
quer que seja, pois até mesmo aqueles que negaram e blasfemaram de Jesus nesta
terra terão que se prostrar diante dele e reconhecer a Sua Soberania.
E
este Rei, que está assentado no Trono e tem o domínio sobre todos tem um
reinado e este reinado tem muitas particularidades que sobrepõe a qualquer
reinado deste mundo. O reinado de Deus é eterno, ele nunca teve e nunca terá
fim. Seu reinado é exercido com autoridade, pois Deus é irresistível, ninguém
pode resistir a Ele, ninguém pode questioná-lo, ninguém pode enfrentá-lo,
ninguém pode discutir com Ele, ninguém pode argumentar com Ele. A Bíblia diz:
13 Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou?
14 Com quem tomou ele conselho, para que lhe
desse compreensão? Quem o instruiu
na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?
15 Eis
que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como
um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta (Is
40.13-15).
33 Ó
profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34
Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
35 Ou
quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
36
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém (Rm 8.33-36)!
Quem?
Ninguém! A eternidade do reinado de Deus lhe dá esta superioridade. Seu reinado
é justo porque Ele é perfeito e porque Ele é perfeito Ele faz as coisas com
perfeição e porque Ele faz tudo com perfeição Ele tem a autoridade de ser inquestionável.
O sábio Salomão disse:
30 Não há sabedoria, nem inteligência, nem
mesmo conselho contra o SENHOR (Pv 21.30).
Não
há! Não existe! Um fato que não podemos nos esquecer é que a humanidade está
incluída no reinado deste Rei Eterno e Soberano. A humanidade foi criada à
imagem e semelhança de Deus e ela está designada para servir e adorar ao Rei
Criador. E por Deus ter o domínio de tudo em suas mãos, tudo o que vemos e tudo
que acontece ao nosso derredor nada mais é do que a execução da vontade de
Deus, independente de nós concordarmos ou não, de acharmos justo ou não, de
acharmos certo ou não. Quem somos nós, súditos pequenos e miseráveis, limitados
no tempo e no conhecimento para sugerirmos a Deus que as coisas que Ele fez e
faz não está certo, não é o correto, não é o melhor, não é justo? Quem somos
nós?
Somos
tentados a pensar, como o filme “Fúria de Titãs” e tantos outros, que querem
nos fazer pensar, que Deus precisa de nós, que Deus precisa de nossa adoração,
que Deus precisa de nossas orações e que Ele pode ser manipulado. Mas Deus não
pode ser manipulado por nada e nem por ninguém, e Ele também não necessita de
coisa alguma. Por isso Ele tem toda a autoridade para realizar pactos com a
natureza, com a humanidade e com todo o Universo, que nada são além de criação
de Deus.
B – O Pacto
As
criaturas que habitam no Reino de Deus relacionam-se com Ele por meio do Pacto.
E o que é um pacto? Um pacto é um acordo, um trato, um compromisso feito entre
um grupo de pessoas que regulamenta os direitos e os deveres de cada um. Em
nosso caso a questão é o Pacto de Deus com a humanidade. Basicamente, um pacto
são as diretrizes do relacionamento entre Deus e as suas criaturas. Como o
homem decaído tem aversão a Deus, esse relacionamento é sempre iniciado por
Deus através de um laço de amor. E este laço de amor é constituído de
promessas, deveres, leis, bênçãos e maldições. As promessas de Deus representam
um sinal e afirmam a fidelidade de Deus. É a segurança que temos do cumprimento
da parte de Deus no acordo e vamos descrevê-las em um tópico mais a frente.
Quantos aos nossos deveres, eles estão constituídos em leis, mandamentos,
estatutos e regras para que os cumpramos, os quais determinam como deve ser
nosso relacionamento com Deus. Nosso texto básico expressa isso muito bem:
12
Agora, pois, ó Israel, que é que
o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o
ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma,
13 para guardares os mandamentos do SENHOR e
os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem (Dt 10.12-13)?
E
estes mandamentos e estatutos foram muito bem resumidos em apenas duas
ordenanças:
36
Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
37 Respondeu-lhe
Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
38
Este é o grande e primeiro mandamento.
39 O
segundo, semelhante a este, é: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo.
40
Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22.36-40).
Este
é um verdadeiro resumo dos termos do pacto de Deus com a humanidade, de forma
que, se nós realmente o cumprirmos não quebraremos os termos do Pacto, porque
quando quebramos a aliança com Deus, basicamente, ou transgredimos contra Deus
ou transgredimos contra o nosso próximo. Outra forma de resumo pode ser
encontrada nos primórdios da Lei:
26 Eis
que, hoje, eu ponho diante de vós a
bênção e a maldição:
27 a bênção, quando cumprirdes os mandamentos
do SENHOR, vosso Deus, que hoje vos ordeno;
28 a maldição, se não cumprirdes os
mandamentos do SENHOR, vosso Deus, mas vos desviardes do caminho que hoje
vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes (Dt 11.26-28).
Apesar
do Pacto de Deus ter como base o amor de Deus não significa que ele será
amenizado, ou seja, fácil de ser cumprido, nem subjetivo, pois é para todos sem
nenhuma exceção e nem que será tolerada qualquer violação de seus termos, ou
seja, aquele jeitinho brasileiro de querer se livrar da mão da justiça. E não é
isso que ouvimos por aí? Que Deus é amor e por isso não castiga ninguém? Mais
uma vez temos a tentativa de equiparar Deus ao ser humano. Não é porque temos a
incapacidade de disciplinar nossos filhos, quando estes erram, que Deus não vá
fazê-lo com o rigor merecido às suas criaturas. Deus é amor sim, mas Ele também
é perfeito e justo, e a Sua perfeição e a Sua justiça não podem permitir
qualquer violação sem o devido castigo. Portanto, é a justiça de Deus, e não o
Seu amor, que determina que os desobedientes vão para o inferno e os remidos
pela justiça de Cristo vão para o céu. Portanto, o amor de Deus não lança
ninguém no inferno, pois seu infinito amor providenciou o livramento, vai para
lá quem se recusa e não aceita o livramento de Deus.
C – O Mediador
Por
que um mediador? Qual o papel de um mediador? Ele está relacionado a santidade
de Deus e a imperfeição do homem. Nunca podemos perder de vista esta situação
humana: Sua incapacidade. Pelo fato do véu do Santo dos Santos (Único lugar em
que havia comunicação direta com Deus através da intermediação sacerdotal) ter
se rasgado de alto a baixo quando da morte de Cristo, abrindo o caminho para
orarmos direto a Deus pela intermediação de Cristo, isso muitas vezes embaraça este
sentimento de incapacidade humana e nos leva a nos ensoberbecermos diante de
Deus nos achando ser alguma coisa diante dele. A santidade de Deus não permite
que Ele trate as coisas diretamente com o ser humano, pois aconteceria conosco
o que aconteceu com Nadabe e Abiú:
1
Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e
puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e
trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara.
2
Então, saiu fogo de diante do
SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR (Lv 10.1-2).
Por
isso o mediador. E o povo de Israel entendeu isso, tanto que disseram a Moisés:
18 Todo o povo presenciou os trovões, e os
relâmpagos, e o clangor da trombeta, e o monte fumegante; e o povo, observando,
se estremeceu e ficou de longe.
19 Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não
morramos (Ex 20.18,19).
O
reino é a criação de Deus, o pacto administra o relacionamento entre Deus e
suas criaturas no reino e o mediador é o agente que ministra o pacto aos
homens. Os mediadores recebem mandatos e responsabilidades para que se tornem
meios pelos quais Deus efetive as suas promessas a humanidade. É nesse sentido
que devemos olhar para a mediação de Adão, Noé, Abraão, Moisés e os profetas,
mediadores das bênçãos, das promessas e dos deveres da aliança com Deus. Hoje,
nós temos Jesus Cristo, o Messias, como único, eterno e definitivo Mediador
entre Deus e os homens.
5
Porquanto há um só Deus e um só
Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,
6 o
qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em
tempos oportunos (1 Tm 2.5,6).
Um
só mediador. Cristo conquistou isso com a sua morte lá na cruz e Ele não
repassa este título a ninguém mais, nem mesmo aos santos da igreja católica,
seja ele qual for, nem mesmo aos profetas do islamismo ou a qualquer outro. Em
tudo o que descrevemos até aqui se baseia o tema principal da Bíblia. Agora que
já definimos isso podemos passar para a fundamentação bíblica de pacto.
2 – PACTO: RELACIONAMENTO ESTABELECIDO
A
Palavra Pacto ou Aliança na língua hebraica dá a ideia de um acordo entre duas partes
iguais. Temos alguns exemplos de acordos na Bíblia:
10
Assim, deu Hirão a Salomão madeira de cedro e madeira de cipreste,
segundo este queria.
11
Salomão deu a Hirão vinte mil coros de trigo, para sustento da sua casa,
e vinte coros de azeite batido; e o fazia de ano em ano.
12 Deu
o SENHOR sabedoria a Salomão, como lhe havia prometido. Havia paz entre Hirão e
Salomão; e fizeram ambos entre si
aliança (1 Rs 5.10-12).
14 Se
eu, então, ainda viver, porventura, não usarás para comigo da bondade do
SENHOR, para que não morra?
15 Nem
tampouco cortarás jamais da minha casa a tua bondade; nem ainda quando o SENHOR
desarraigar da terra todos os inimigos de Davi.
16 Assim, fez Jônatas aliança com a casa de
Davi, dizendo: Vingue o SENHOR os inimigos de Davi (1 Sm 20.16).
Nesses
acordos as partes assumem deveres e responsabilidades de uma para com a outra,
por meio de um juramento. Naquela época, os pactos incluíam uma descrição do
rei, dos benefícios que ele concederia ao pactuante, bem como as estipulações
que o pactuante deveria obedecer para permanecer no pacto. Havia também
maldições previstas caso uma das partes não cumprisse com a sua parte na
aliança. Estes pactos da cultura do Oriente Médio que aconteciam na Antiguidade
são um reflexo das renovações do Pacto que Deus estabeleceu com o seu povo na
revelação progressiva do plano da redenção. Estas renovações nós vamos estudar
em outra ocasião.
No
caso do Pacto estabelecido por Deus temos que observar algumas peculiaridades.
Primeiramente, o Pacto é soberano e unilateral, ou seja, não é um contrato de
dois iguais, mas entre um Deus Todo-Poderoso e sua criatura decaída, entre um
Deus Santo e o homem pecador. Consequentemente, o homem nada acrescenta ao
Pacto, ou seja, Deus é quem estabelece as condições soberanamente, cabendo ao
homem apenas de ser um recipiente das condições do Pacto, pois o Pacto é
soberanamente instituído por Deus.
Outro
aspecto é que, se o estabelecimento do Pacto é unilateral e soberano, por outro
lado o Pacto é bilateral em sua resposta, ou seja, Deus não força o homem a
aceitar os termos do Pacto e cumpri-los, nem tampouco responde pelo homem, mas
convida-o a entrar no Pacto e a andar com Ele. O retorno para o homem depende
da resposta dele ao Pacto, ou ele recebe as bênçãos do Pacto quando o aceita e
o cumpra, ou ele recebe as maldições do Pacto quando o rejeita. Não há meio
termo. Não há um aviso final para aderir ao Pacto, a oportunidade é nesta vida,
enquanto estamos vivos, porque depois da morte vem apenas a sentença.
Por
isso que temos que dar hoje a resposta a este Pacto. Quando Deus chamou a
Abraão a sua resposta foi sair imediatamente do meio de seus parentes e partir
para uma terra estranha conforme Deus solicitou; quando Deus chamou a Noé a sua
resposta foi construir a arca e quando Deus estabeleceu a Lei sob a liderança
de Moisés a resposta do povo foi aceitar as condições do Pacto:
3 Veio, pois, Moisés e referiu ao povo todas as
palavras do SENHOR e todos os estatutos; então, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que falou o SENHOR faremos
(Ex 24.3).
Eles
concordaram, mas não cumpriram, e sabemos das consequências desta desobediência:
nenhum deles entrou na terra prometida a não ser dois deles que se destacaram
pela obediência. Hoje, o homem ouve as boas-novas do Evangelho, no qual Deus
apresenta o sacrifício de Seu Filho, Jesus Cristo, como suficiente para cumprir
as exigências de Deus na salvação do homem. Caso o homem venha a rejeitar a
Cristo e não crer no Mediador da Nova Aliança, se ele morrer nesta condição, as
maldições do Pacto será a única alternativa para ele, sendo esta alternativa a
de perecer eternamente no inferno por rejeitar a salvação de Deus.
Outro
aspecto importante do Pacto é a sua validade. Este aspecto recai somente sobre
Deus, porque somente Ele é fiel para manter o Pacto sobre vigor, ou seja, a
manutenção das condições do Pacto no decorrer das gerações é exclusivamente
dele, porque somente Ele permanece absolutamente fiel, por isso que a
infidelidade do homem não macula o Pacto. Hoje, muitos pensam que as exigências
de Deus evoluíram como evoluiu o mundo, mas elas permanecem intactas. A Bíblia
nos adverte:
7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram
a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram.
8 Jesus
Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.
9 Não
vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto o que vale
é estar o coração confirmado com graça e não com alimentos, pois nunca tiveram
proveito os que com isto se preocuparam (Hb 13.7-9).
Deus
nunca muda e a Sua Palavra também não. Ouvimos muito hoje que a Bíblia é coisa
do passado, que o mundo mudou, que papel aceita tudo, que as coisas não são
assim tão rígidas como pensamos, que Deus vai relevar no final e assim por
diante. Ora, se é na Bíblia que encontramos os termos do Pacto, se o homem não
tem participação nenhuma nos termos deste Pacto, desfigurar a Bíblia ou anulá-la
nos dias atuais é desclassificar os termos do Pacto. E aí, como ficam os termos
para nossos dias? Serão elaborados por homens? Nunca!
Lembremos
que constituições de Igrejas e doutrinas não são termos do Pacto, apesar de que
eles também devem estar fundamentados na Bíblia para terem valor e aceitação diante
de Deus. Além do mais, dizer que os termos do Pacto caíram por terra é negar a
Soberania de Deus, pois nele está fundamentada a permanência do Pacto nas
gerações vindouras. Outro fator importante a ser lembrado é que a consumação do
Pacto não é os nossos dias atuais, pois mesmo que estejamos vivendo um grande
progresso na qualidade de vida, por outro lado, nunca vimos tantas pessoas
atormentadas e sofrendo, e sabemos que na consumação do Pacto não haverá
qualquer maldição e que Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Portanto,
o Pacto continua em vigor e seus termos continuam inalterados.
Relacionamos
o Pacto com andar com Deus porque entendemos ser esta a melhor maneira de
compreender a ideia do Pacto, a ideia de um relacionamento motivado pelo amor
de Deus para com a sua criação, para com o homem, fazendo-o viver novamente
para a glória de Deus. Noé andava com Deus, Abraão andava com Deus e andar com
Deus era a exigência principal dos estatutos de Deus à Israel, Seu povo e
quando alguns homens se dispuseram a seguir a Jesus Ele deixou bem claro que
seguir a Ele implicava em renúncia e devoção.
24 Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo
se negue, tome a sua cruz e siga-me (Mt 16.24).
Esse
é o espírito do Pacto. Esse relacionamento está sempre alicerçado na Palavra de
Deus que assegura as suas condições com promessas, com bênçãos, mas também com
maldições, caso o homem seja infiel. Embora todas as maldições advindas do
pecado tenham sido removidas por Cristo na cruz, o princípio da obediência é
eterno, e Deus jamais terá por inocente o culpado.
O
último aspecto importante do Pacto são as promessas. Ela merece uma atenção
muito especial porque elas são o alicerce do relacionamento estabelecido por
Deus com o seu povo. Vamos estudá-las em nosso último tópico.
3 – AS PROMESSAS DO PACTO: UM ALICERCE INABALÁVEL
Relembrando
o que vimos até aqui, Pacto é o relacionamento de amor entre Deus e o seu povo
e entre as características singulares deste relacionamento é que o Pacto é de
iniciativa exclusiva de Deus. Foi Deus quem decidiu criar e foi Deus quem decidiu
relacionar-se com a sua criação. Não vemos em Gênesis o homem como um ser
ignorante perguntando: Quem sou eu? De onde eu vim? O que estou fazendo neste
lugar? Deus o criou e revelou-se a ele como seu Criador. Deus abençoou a Adão e
Eva lá no Jardim do Éden estabelecendo assim um relacionamento com eles. Este
relacionamento tem como base o amor de Deus e não a solidão do homem, pois foi
movido pelo seu infinito amor que Deus estabelece este relacionamento com as
suas criaturas desde o princípio.
O
Pacto é um relacionamento alicerçado na promessa de Deus. Esta é a parte de
Deus no Pacto: cumprir as Suas promessas! O não cumprimento de qualquer uma
delas implicaria em anulação do Pacto, o que seria um desastre para o povo de
Deus. Entende no que implica a luta de Satanás contra Deus? Ele não tem a
pretensão de matar Deus, pois sabe que jamais poderá fazer isso, mas se ele
conseguir colocar uma mancha em Deus, por menor que seja ela, terá manchado a
reputação imaculada de Deus. Encontramos a primeira grande promessa feita por
Deus logo após a Queda:
15
Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gn 3.15).
Esta
promessa reflete todo o plano da redenção. Percebemos nela que um conflito foi
estabelecido por Deus em que a humanidade foi dividida, de um lado estão os que
amam a Deus e o serve, e do outro lado estão os que se rebelam contra Ele e
serve a Satanás. O prometido descendente da mulher, que sabemos ser o Senhor
Jesus Cristo, foi quem feriu a cabeça da serpente na cruz do Calvário:
13 E a
vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão
da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos
delitos;
14 tendo cancelado o escrito de dívida, que
era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na
cruz;
15 e,
despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz (Cl 2.13-15).
Nesta
vitória a serpente desferiu um ferimento no descendente em seu calcanhar, que
significa um ferimento recuperável (o ferimento na cabeça não é recuperável),
ferimento este que foi a cruz e a morte, a qual foi vencida no terceiro dia com
a ressurreição. Entendeu a lógica desta promessa? Consegue vislumbrar ela com a
morte de Cristo? O pacto da Redenção, estabelecido no dia em que o homem pecou
e caiu de seu estado natural, foi motivado pela graça de Deus, pois o homem, na
condição de pecado e miséria em que ficou precisava mais do que a bondade de
Deus, ele precisava agora da justiça e da misericórdia de Deus.
O
Pacto da Redenção foi progressivamente, no decorrer da História da Humanidade,
sendo revelado à raça humana. Foi a promessa de redenção feita lá no Jardim do
Éden que levou Deus a não destruir completamente a vida na terra por meio do
dilúvio, depois que a maldade do homem se multiplicou na terra. Deus firmou um
Pacto com Noé e seus filhos e os abençoou com a mesma bênção que havia dado a
Adão e Eva, prometendo não mais destruir a terra pelo dilúvio.
E
Deus continua revelando o Pacto da Redenção ao longo da História, agora, com
Abraão, acrescentando uma nova promessa: a constituição do povo de Deus. A
aliança com Noé preservava a vida na terra onde o Messias haveria de vencer a
serpente, e a aliança com Abraão separava e preparava um povo para Deus, por
meio do qual viria o Messias, o Descendente descrito lá em Gênesis:
7 Estabelecerei a minha aliança entre mim e
ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua,
para ser o teu Deus e da tua descendência (Gn 17.7).
E
mais uma vez Satanás tenta colocar Deus em cheque-mate tentando destruir a
Israel, o povo de Deus, pois se ele conseguisse destruir este povo impossibilitava
a Deus de cumprir a Sua promessa. Entende agora porque a nação de Israel é tão
odiada e perseguida neste mundo? Entende porque esta nação não pode ser
destruída? É a fidelidade de Deus que está em jogo, a nação é apenas um
instrumento nesta luta de Satanás contra Deus.
Observe
a finalidade do Pacto: Para ser o teu
Deus e da tua descendência. Esta finalidade faz parte do Pacto desde o
Éden, pois é para “ser o seu Deus” é que Deus redime e restaura o homem. E esta
finalidade vai se repetir em todas as ampliações do Pacto da Redenção ao longo
da História, sendo assim com o Pacto com Israel, com o Pacto com Davi e também
com o Novo Pacto efetivado por Jesus Cristo, o Messias, mostrando que o grande
desejo de Deus era estar sempre presente com o seu povo, relacionando-se assim
com ele.
Esta
ideia de relacionamento entre Deus e sua criatura está muito presente no Pacto.
Quando um anjo anunciou o nome do filho de Maria, ele fez referência a Emanuel,
que quer dizer Deus conosco. Quando o Senhor Jesus inicia seu ministério
escolhe discípulos para estarem com Ele, e afirmou que na casa de Seu Pai há
muitas moradas, e que era Seu propósito que onde quer que Ele estivesse, seus
discípulos estivessem também com Ele. E quando Jesus estava para ser elevado às
alturas, as suas últimas palavras foram:
20 ...
E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (Mt 28.20).
Mas
é no último capítulo da História humana, na consumação, no Novo Céu e na Nova
Terra, que o Pacto da Redenção, inaugurado lá em Gênesis é consumado. João, ao
ver toda aquela multidão procedente de toda raça, tribo, língua e nação,
exclama:
3
Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles
serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.
4 E
lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Ap 21.3,4).
Podemos
concluir que o coração do Pacto, segundo a Bíblia, é a restauração da comunhão
entre Deus e os homens perdida lá no Jardim do Éden. Por isso que falar do
Pacto é falar de um relacionamento iniciado por Deus, sustentado por Deus, e mantido
eternamente por Deus e somente por Deus.
Conclusão
O
Senhor Jesus é o Mediador da Nova Aliança, que é o relacionamento com Deus com
base nas promessas de Deus. Muitos cristãos estão confundindo a vida no Pacto,
que é um constante andar com Deus, com mera religiosidade. Quando Jesus
convidou os discípulos para estarem com Ele, Jesus estava estabelecendo um
relacionamento de vida com eles. O mesmo Ele pretende fazer hoje com você, pois
quando Jesus nos convida para ir até Ele, não nos convida para entrarmos em uma
denominação, mas nos convida para segui-lo.
A
Bíblia fala da necessidade de obediência ao Evangelho de Deus em que estão os
termos do Pacto. Muitas pessoas têm sido levadas a pensar que estão salvas pelo
simples fato de um dia terem levantado as suas mãos em um culto, dizendo com
isso aceitar a Jesus. Triste engano! Aceitar a Jesus é crer nele, na Sua
Palavra, é mudar de vida, é nascer de novo, é andar e perseverar em andar com
Deus. Que Deus nos abençoe e nos ajude a andar com Ele todos os dias de nossa
vida para que tenhamos com o nosso Deus um relacionamento de vida! Amém!
Luiz
Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida.
Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Revista Palavra Viva: O Pacto da Graça. Editora Cultura
Crista
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