Para Refletir

Há momentos na vida difíceis de serem suportados, em que a única vontade que sentimos é de chorar, pois parecem arruinar para sempre nossa vida. Quando um destes momentos chegar, lembre-se que ainda não chegou o fim, que a sua história ainda não acabou e que ainda há esperança. Corrie Ten Boom disse: "não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo". Este amor você encontra aqui, um lugar de esperança, consolo e paz, e aqui encontrará a oportunidade de conhecer a verdadeira vida, uma vida abundante com Cristo.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

A ALIANÇA: A QUEDA DO PACTUANTE E SUA DEPRAVAÇÃO TOTAL

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si (Gn 3.6-7).

INTRODUÇÃO:

Deus criou o homem e o colocou para encher e governar a Terra, fez com ele uma Aliança e lhe deu uma ordem, dizendo:

E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, MAS DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL NÃO COMERÁS; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.16-17).

Deus os proibiu de comerem determinado fruto. Mas, um dia, o pactuante negligenciou esta ordem de Deus e comeu do fruto que não podia comer. Como isso aconteceu? Por que não se mantiveram fiel? E o que aconteceu depois?

01 – A QUEDA DO PACTUANTE:

Tudo começou com a intervenção de alguém que já tinha caído em pecado:

Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: NÃO COMEREIS DE TODA ÁRVORE DO JARDIM (Gn 3.1)?

Questionou Deus. A mulher respondeu bem ao questionamento:

Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, MAS DO FRUTO DA ÁRVORE QUE ESTÁ NO MEIO DO JARDIM, DISSE DEUS: DELE NÃO COMEREIS, nem tocareis nele, para que não morrais (Gn 3.2-3).

Mas o diálogo estava aberto e a serpente foi, então, no cerne da questão:

Então, a serpente disse à mulher: É CERTO QUE NÃO MORREREIS. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos E, COMO DEUS, SEREIS conhecedores do bem e do mal (Gn 3.4-5).

Já tinha acontecido com ele a pretensão de ser igual a Deus. E deu certo a sua tentativa. A mulher caiu na sua lábia, levou ao marido e ele também comeu sem questionar.

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, TOMOU-LHE DO FRUTO E COMEU E DEU TAMBÉM AO MARIDO, E ELE COMEU (Gn 3.6).

Transgrediu, assim, a Aliança com seu Criador. Ela comeu consciente. Ela não se esqueceu do que Deus disse a respeito daquele fruto e nem da consequência da desobediência, mas mesmo assim comeu do fruto, deu ao homem e ele também comeu. A partir daquele momento nada mais seria a mesma coisa.

A queda do pactuante é fruto de uma inversão da centralidade da criação de Deus. Eles desobedeceram a Deus e comeram do fruto proibido por Deus, o que o deixou em condição de pecado. Este ato de desobediência e esta condição decaída do homem representam a perda na qualidade da estrutura da criação. Ou seja, a criação tem uma origem perfeita, mas a sua condição atual é de mau funcionamento. O sábio Salomão reflete muito bem isso quando disse:

Eis o que tão-somente achei: que DEUS FEZ O HOMEM RETO, mas ele se meteu em muitas astúcias (Ec 7.29).

O ponto central disso está na inversão da centralidade da criação de Deus: Revelar a glória de Deus e glorifica-lo. O pactuante foi criado para reconhecer a glória de Deus e glorifica-lo de maneira natural, racional e consciente. Entretanto, com a queda, o pactuante rejeitou a centralidade de Deus na criação, rejeitou ao seu governo e preferiu transferir a glória do Criador para a criatura. Paulo fala sobre isso quando diz:

Porquanto, TENDO CONHECIMENTO DE DEUS, NÃO O GLORIFICARAM COMO DEUS, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos E MUDARAM A GLÓRIA DO DEUS INCORRUPTÍVEL EM SEMELHANÇA DA IMAGEM DE HOMEM CORRUPTÍVEL, bem como de aves, quadrúpedes e répteis ... POIS ELES MUDARAM A VERDADE DE DEUS EM MENTIRA, ADORANDO E SERVINDO A CRIATURA EM LUGAR DO CRIADOR, o qual é bendito eternamente. Amém! (Rm 1.21-23,25).

O pactuante se rebelou contra a estrutura original e, pelo seu egoísmo, passou a existir para si mesmo e não mais para Deus, tanto que Paulo diz:

O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, VISTO QUE SÓ SE PREOCUPAM COM AS COISAS TERRENAS (Fp 3.19).

Ele não consegue mais, por si só, se atentar para Deus. E esta interferência do pecado e o desvio da centralidade da criação, que separou o homem de Deus e contaminou toda sua criação, é também a que produz um mundo anticristão. Jesus afirma isso quando diz:

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, ME ODIOU A MIM. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, POR ISSO, O MUNDO VOS ODEIA. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. SE ME PERSEGUIRAM A MIM, TAMBÉM PERSEGUIRÃO A VÓS OUTROS; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. TUDO ISTO, PORÉM, VOS FARÃO POR CAUSA DO MEU NOME, PORQUANTO NÃO CONHECEM AQUELE QUE ME ENVIOU (Jo 15.18-21).

Jesus está dizendo que o mundo odiaria aos cristãos, disse que todo este ódio seria a consequência gerada pelo ódio dos homens a Cristo e a Deus que o enviou. Portanto, o movimento contra o cristianismo não é produto somente de discriminação religiosa. Não se trata apenas do resultado de uma competição entre religiões. Ele surge das bases da queda do homem que não são centradas em Deus, pois nascem de uma proposta de rejeição e oposição a Deus.

Depois da queda do homem, Deus não desiste de sua criatura. Movido pelo amor, Deus renova a Aliança e altera seus termos, anunciando ali o seu plano de redenção, mas não deixando impune aos transgressores. E começando pela serpente diz:

Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência E O SEU DESCENDENTE. ESTE TE FERIRÁ A CABEÇA, E TU LHE FERIRÁS O CALCANHAR (Gn 3.15).

Era a promessa do Messias que um dia viria, gerado por uma mulher, mas concebido pelo próprio Deus e derrotaria o mal provocado pela astúcia da serpente. E à mulher diz:

E à mulher disse: MULTIPLICAREI SOBREMODO OS SOFRIMENTOS DA TUA GRAVIDEZ; EM MEIO DE DORES DARÁS À LUZ FILHOS; O TEU DESEJO SERÁ PARA O TEU MARIDO, E ELE TE GOVERNARÁ (Gn 3.16).

Ela comeu do fruto e colheu as consequências de seu erro. E, por fim, disse ao homem, àquele que nos representava:

E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher E COMESTE DA ÁRVORE QUE EU TE ORDENARA NÃO COMESSES, MALDITA É A TERRA POR TUA CAUSA; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3.17-19).

Todos são penalizados pelo pecado e a penalidade de Adão atingiu a toda a humanidade. São expulsos do Jardim, fecha-se o ciclo do relacionamento perfeito e inicia-se o plano de redenção de Deus. Assim foi a queda do pactuante e tremenda foi a enrascada em que ele se meteu.

02 – A DEPRAVAÇÃO TOTAL DO PACTUANTE:

O homem foi criado com uma glória maravilhosa, ao ponto de ser criado à imagem e semelhança de seu Criador. Portanto, originalmente, ele foi criado perfeito, criado para ser eterno e relacionar-se face a face com seu Criador. Contudo, aconteceu um desastre no caminho, que foi a sua queda e por causa dela a morte invadiu sua história. Com isso o homem perdeu sua perfeição, sua inocência, sua glória e manchou a sua reputação, deixando de ser imortal para tornar-se mortal em sua existência neste mundo.

E como Adão estava representando a humanidade, esta natureza pecaminosa passou a todos os seus descendentes, de tal forma que nem um único descendente de Adão é inocente e santo, pois Adão estava nos representando e o pecado contaminou a todos. Por essa razão Jesus não foi gerado por José, mas pelo poder do Espírito Santo, porque José era descendente de Adão e, assim, contaminado pelo pecado, ele e sua descendência. Depois de Jesus a Bíblia diz que José gerou filhos e filhas com Maria e esta descendência, ou seja, os irmãos e irmãs de Jesus, por parte de mãe, não eram perfeitos, justos e santos como era o Senhor Jesus, porque todos eles herdaram a natureza pecaminosa de Adão, menos Jesus, por não descender de José.

Por causa do pecado aquele que foi criado puro agora não é mais, aquele que foi criado à imagem de seu Criador agora tem essa imagem distorcida, aquele que foi criado para viver em paz agora vive em contendas, aquele que foi criado para viver eternamente agora conhece a morte, aquele que foi criado para conviver com Deus agora vive distante dele, aquele que foi criado para viver em um jardim agora vive em uma terra amaldiçoada, ele e toda a sua descendência.

E pela representatividade de Adão a degradação espiritual dele se estendeu por toda a sua descendência. Aconteceu com ele exatamente aquilo que Deus lhe disse que aconteceria se o desobedecesse e comesse do fruto que não era para comer, pois a Bíblia diz: PORQUE O SALÁRIO DO PECADO É A MORTE... (Rm 6.23). A morte chegou para Adão e se estendeu por toda a sua descendência. E os danos da desobediência do pactuante foram tão extensivos que não se limitou a apenas em sua descendência, mas estendeu-se por toda a criação, pois Paulo diz:

Porque sabemos QUE TODA A CRIAÇÃO, a um só tempo, GEME E SUPORTA ANGÚSTIAS ATÉ AGORA (Rm 8.22).

E logo após a queda Deus disse:

E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, MALDITA É A TERRA POR TUA CAUSA; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (Gn 3.17).

A coisa se complicou para o lado do homem. Viver na Terra não seria mais como viver no Jardim do Éden, tanto que, posteriormente, não muito depois, alguém vai dizer:

Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, NESTA TERRA QUE O SENHOR AMALDIÇOOU (Gn 5.29-29).

Paulo diz que os últimos dias seriam dias difíceis, mas desde o princípio, depois da queda, viver é uma tarefa fatigante para o homem.

A Aliança prometia ao homem vida eterna, mas exigia dele perfeita obediência de sua parte, sob a pena de morte em caso de desobediência. Infelizmente o homem pecou e o pecado entrou em sua vida. Com isso o homem morreu espiritualmente. A desobediência de Adão alcançou toda a humanidade, corrompeu a natureza humana e tornou o homem incapaz de voltar-se para Deus, conforme o que diz Paulo:

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, ASSIM TAMBÉM A MORTE PASSOU A TODOS OS HOMENS, PORQUE TODOS PECARAM (Rm 5.12).

A pena do pecado foi a morte com a corrupção de toda a sua natureza, tornando-se totalmente incapaz de buscar a Deus e com a vontade escravizada pelo pecado. Assim Paulo apresenta este homem depravado:

Como está escrito: NÃO HÁ JUSTO, NEM UM SEQUER, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; TODOS SE EXTRAVIARAM, à uma se fizeram inúteis; NÃO HÁ QUEM FAÇA O BEM, NÃO HÁ NEM UM SEQUER. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. NÃO HÁ TEMOR DE DEUS DIANTE DE SEUS OLHOS. POIS TODOS PECARAM E CARECEM DA GLÓRIA DE DEUS (Rm 3.10-18, 23).

O homem entrou em uma tremenda enrascada com sua desobediência, pois a sua degradação foi total e abrangente, e agora ele necessitava de cura, de restauração para poder voltar a ter um relacionamento com seu Criador.

O homem foi criado perfeito e se tivesse optado pela obediência estaria nesta condição até aos dias de hoje. Mas ele resolveu trilhar o caminho da rebeldia, tornando-se uma criatura arrogante, totalmente depravada. Esta depravação passou de Adão a todos aos seus descendentes, de maneira que todos nós herdamos a natureza de pecado de Adão. Isso porque ele não atuou só por si mesmo, mas por todos quantos dele haveriam de nascer. A toxina de sua corrupção contaminou toda a humanidade, que provém de progenitores que pecaram. É como a água envenenada que corre de uma fonte contaminada. Sendo assim, antes mesmo de haverem cometido qualquer delito ou transgressão, todos os membros da raça humana nascem como pecadores. O ser humano não apenas possui uma natureza pecaminosa, como já está condenado pelo pecado.

Este é o pactuante, isso foi o que ele fez e no que se tornou e assim somos todos nós, sem nenhuma exceção, pois todos nós herdamos o gene pecaminoso de Adão. E se Deus não tivesse tido misericórdia e providenciado a redenção todos nós estaríamos perdidos para sempre. Que Deus te abençoe a perceber a sua miséria e a necessidade de redenção e a busque unicamente naquele que pode lhe redimir e restaurar sua comunhão com Deus.

03 – A NATUREZA DO PECADO:

Até aqui entendemos o que é a Aliança. Aprendemos um pouco da criação de Deus, de como Ele criou tudo perfeito. Estudamos sobre a parte fiel da Aliança que é o seu instituidor. Vimos sobre a parte decaída da Aliança que é o pactuante e analisamos a sua desobediência e queda. Agora precisamos entender melhor sobre o que é o pecado. Isso é necessário para refutarmos a ideia de que Deus foi injusto, duro demais com Adão e Eva e que a sua exigência era uma arbitrariedade.

Antes de Adão e Eva pecarem pode-se dizer que o Céu e a Terra estavam interligados, pois havia acesso diário entre o homem e Deus. O homem podia ver a Deus e Deus visitava o homem todos os dias na virada do dia. Tinham um relacionamento, havia comunhão um com o outro sem a exigência de fé. Mas, quando Adão pecou, o pecado afastou o homem de Deus. Houve separação entre Deus e o homem, entre o Céu e a Terra. Surgiu uma barreira que impedia o homem de ver a Deus, de se relacionar e ter comunhão com Ele, além do homem ter sido expulso do Jardim. Isso nos mostra a malignidade do pecado. E o que é o pecado? Depois da queda do homem não é difícil responder a essa pergunta e sua lista tornou-se extensa.

Mas o que era o pecado antes da queda? Qual a sua natureza? Para pensarmos na natureza do pecado precisamos ir à sua origem. Esta origem não está na desobediência de Adão e Eva lá no Jardim do Éden, pois antes disso o pecado já tinha se manifestado na queda de Satanás e dos anjos que lhe seguiram. A Bíblia assim fala desse acontecimento:

Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado ATÉ QUE SE ACHOU INIQUIDADE EM TI ... ELEVOU-SE O TEU CORAÇÃO POR CAUSA DA TUA FORMOSURA, CORROMPESTE A TUA SABEDORIA POR CAUSA DO TEU RESPLENDOR... (Ez 28.14-15,17).

Este texto se refere à queda de Satanás, na revolta dos anjos no Céu, quando estes foram expulsos de lá. Nele podemos ver que o pecado tem como natureza sempre a de se exaltar. Quando aquele querubim, ungido como guardião e estabelecido por Deus, que era cheio de sabedoria e perfeito em formosura, se elevou no seu coração por causa da sua formosura, perdeu seu estado original de santidade e contaminou-se pelo pecado. Quando isso aconteceu, o pecado se manifestou e a sua natureza foi exposta: A de se exaltar e como consequência desta exaltação se rebelar contra Deus. Judas menciona algo em sua carta a respeito desse acontecimento:

E a anjos, OS QUE NÃO GUARDARAM O SEU ESTADO ORIGINAL, MAS ABANDONARAM O SEU PRÓPRIO DOMICÍLIO, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia (Jd 1.6).

Ele diz que aconteceu com anjos o mesmo que aconteceu com Adão lá no jardim e menciona a penalidade deles. Observe que Deus não retratou a queda dos anjos, não elaborou um plano de redenção para eles como o fez com o homem.

E como foi com o homem? É na aliança entre Deus e Adão que descobrimos a natureza do pecado. Não sabemos se houve aliança entre Deus e os anjos, mas sabemos que houve entre Deus e Adão. E nesta Aliança Deus fez uma promessa, alicerçada sobre uma condição, à qual estava anexada uma penalidade pela desobediência. Esta aliança que Deus fez com Adão continha: Uma permissão (Comer livremente de toda árvore do jardim), uma proibição (Não comer do fruto de determinada árvore) e uma penalidade (A morte, caso desobedecessem). Enquanto as condições da aliança fossem obedecidas, ela proporcionaria ao homem a ininterruptalidade da existência feliz, santa e imortal, tanto da alma como do corpo.

Nesta aliança Deus deu-lhes a Terra e o pleno domínio sobre os animais, deu-lhes fartura de alimento, abençoou-os e disse-lhes que deveriam se multiplicar. Mas estabeleceu condições: Não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, de todas as demais eles poderiam comer, mas aquela não e caso comessem, morreriam. E o que aconteceu? Desobedeceram, quebraram a aliança e experimentaram imediatamente as consequências do pecado, pois os efeitos da queda sobre o homem podem ser vistos logo em seguida ao seu acontecimento: A descoberta de que algo estava errado com ele mesmo; o esforço para esconder sua vergonha pelos próprios meios; medo de Deus e uma tentativa de se esconder de sua presença; e, ao invés de confessar seu pecado, a necessidade de desculpá-lo. Conheceram a morte moral e espiritual, e, depois, a morte física. Observando a queda do homem, pode-se perceber que não há diferença entre a queda dos anjos decaídos. Observe:

Vendo a mulher QUE A ÁRVORE ERA BOA PARA SE COMER, AGRADÁVEL AOS OLHOS E ÁRVORE DESEJÁVEL PARA DAR ENTENDIMENTO, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu (Gn 3.6).

Em ambas podemos ver a natureza do pecado que é a exaltação. Eva viu naquela árvore algo que foi aceso pela serpente em seu coração: A vontade de ser igual a Deus. Ela viu que aquela árvore era desejável para dar entendimento. Houve um diálogo entre a serpente e Eva que a levou a comer do fruto proibido. Não sabemos se houve diálogo entre Eva e Adão e nem o que o levou a comer do fruto quando Eva lhe ofereceu, mas quando ele comeu coadunou com Eva a desobediência com Deus. Justo que é Deus não poderia deixar de aplicar a penalidade imposta pela desobediência: A morte.

A morte penetrou no mundo por causa do pecado. Nossos primeiros pais foram criados capazes de viverem para sempre. Quando desobedeceram ao mandamento de Deus tornaram-se sujeitos à penalidade do pecado, que é a morte. Eles não morreram fisicamente no dia em que comeram daquele fruto, mas ficaram sujeitos à lei da morte, como referência às consequências da transgressão, que incluía todo o mal penal perante a desobediência. E qual é este mal? A Bíblia diz que o salário do pecado é a morte e que a alma que pecar, essa morrerá. Mas toda e qualquer forma de mal, que é infligido como castigo pelo pecado é compreendido sob a palavra morte. Portanto, as consequências do pecado de Adão foram a perda da imagem e da graça de Deus e todos os males que fluiu a partir dessa perda.

A morte é separação de Deus. Por causa da desobediência à Aliança, a comunhão e a paz de Adão com Deus foram perdidas no Jardim do Éden, de lá foram expulsos e Adão se viu tragicamente separado de Deus e com ele nós também sofremos esta separação.

Tanto a queda de satanás como a queda do homem tem a mesma origem: A exaltação de si mesmo e o desejo de ser igual a Deus. Ambas tem a mesma natureza e ambas são rebelião contra Deus. Quanto às penalidades elas se divergem porque os anjos eram seres imortais, não criados do pó da Terra; já tinham seus corpos glorificados. Não eram seres terrenos, mas seres celestiais. Já foram criados no Céu, viviam na presença de Deus e não precisaram fazer nada para conquistar este privilégio; tudo que precisavam fazer era manter seu estado original de santidade e pureza para continuarem a viver naquele lugar em que não entra pecado. Por isso não houve para eles plano de redenção. Foram expulsos do Céu e reservados para o juízo final de Deus.

Contudo, para o homem, terreno que ele era, criado corpo e alma, decaído de seu estado de graça, expulso do Jardim do Éden, este recebeu da graça de Deus uma Aliança e foi incluído em um plano de redenção. Este plano não embarca a todos. A penalidade atingiu a todos. Todos pagaram o preço do pecado. Todos morreram com Adão. Mas aprouve a Deus resgatar para Ele parte dos decaídos. Jesus sempre deixou isso claro em seu ministério:

TODO AQUELE QUE O PAI ME DÁ, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora (Jo 6.37).

NINGUÉM PODE VIR A MIM SE O PAI, QUE ME ENVIOU, NÃO O TROUXER; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.44).

E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: NINGUÉM PODERÁ VIR A MIM, SE, PELO PAI, NÃO LHE FOR CONCEDIDO (Jo 6.65).

É POR ELES QUE EU ROGO; NÃO ROGO PELO MUNDO, MAS POR AQUELES QUE ME DESTE, porque são teus (Jo 17.9).

A estes Deus redimiu. Quando aos demais serão julgados juntamente com os anjos decaídos. Todos que se envaideceram e se rebelaram contra Deus serão julgados.

O pecado colocou o pactuante em situação de rebeldia contra Deus. Ele não somente leva o homem a se colocar no centro de todas as coisas e viver para si mesmo, mas faz também com que o ser humano deseje viver sem Deus. Este desejo pode acontecer de forma consciente e inconsciente. Quando o homem declara que não crê na existência de Deus está rejeitando a Deus de forma consciente. Quando ele professa que crê em Deus, mas vive como se Deus não existisse, ele está rejeitando o governo de Deus de forma inconsciente. Há várias manifestações desse comportamento de rejeição por Deus no pactuante, mas todas são resultados da queda, tanto que Deus diz:

Tens feito estas coisas, e eu me calei; PENSAVAS QUE EU ERA TEU IGUAL; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista. Considerai, pois, nisto, VÓS QUE VOS ESQUECEIS DE DEUS, para que não vos despedace, sem haver quem vos livre (Sl 50.21-22).

O pecado interferiu na percepção humana de que Deus é o centro da criação e quando o pactuante quis se equiparar a Deus, nesta pretensão egoísta decaiu em sua natureza, não somente a ele, mas toda a criação de Deus, tanto que Paulo diz:

POIS A CRIAÇÃO ESTÁ SUJEITA À VAIDADE, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, NA ESPERANÇA DE QUE A PRÓPRIA CRIAÇÃO SERÁ REDIMIDA DO CATIVEIRO DA CORRUPÇÃO, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que TODA A CRIAÇÃO, A UM SÓ TEMPO, GEME E SUPORTA ANGÚSTIAS ATÉ AGORA (Rm 8.20-22).

O pecado interferiu em toda a criação de Deus, pois a criação era um pacote fechado, sem desdobramento, sendo tudo relacionado uma com a outra.

Esta é a natureza do pecado. O que faz do homem um pecador não são os seus atos pecaminosos. Ele não é pecador porque comete e pratica o pecado, se bem que isso corresponde ao caráter do pecador. Contudo, isso não o faz em si um pecador, pois somos legalmente constituídos pecadores, não pelo que somos ou estamos fazendo, mas pela desobediência de Adão, nosso cabeça, nosso representante, que na criação recebeu uma natureza perfeita, mas não se manteve em seu estado original, antes, envaideceu-se em seu coração, desobedeceu a Deus, assim se rebelando contra Ele, recebendo por isso a justa punição pelo pecado. Que Deus te abençoe e lhe conduza a entender estas coisas.

04 – A REDENÇÃO DO PACTUANTE:

O pactuante desobedeceu a Deus, quebrou os termos da Aliança, perdeu a convivência com Deus e degradou-se completamente, a ele e a criação de Deus. Tudo estaria perdido se não fosse a intervenção divina. O homem entrou em uma tremenda enrascada com sua desobediência, mas Deus não o abandonou. Poderia se dizer que era o fim do homem, que não havia mais jeito, não havia nenhuma solução para sua desobediência. Com o Universo tão vasto, Deus poderia ter-se esquecido da Terra e de tudo o que criou nela. Mas não foi isso que aconteceu, porque Deus tinha um plano, Deus tinha um projeto para trazer sua criação de volta para Ele e tão logo o homem caiu já lhe foi anunciada a solução. Isso porque Deus amou aquele ser miserável, criado por Ele, que entrou em uma fria, caindo em uma cilada, armada para desestabilizar a criação de Deus.

E Deus se dispôs a pagar um alto preço para restaurar sua criação, entregando seu Único Filho em sacrifício para salvar aquele ser, totalmente incapaz de fazer qualquer coisa para salvar-se a si mesmo e voltar-se para Deus. A iniciativa de Deus para trazer ao homem de volta à comunhão com Ele foi o caminho da redenção, através da promessa do Messias, do sacrifício de seu Filho Unigênito, premeditada lá no Éden:

Então, O SENHOR DEUS DISSE À SERPENTE: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência E O SEU DESCENDENTE. ESTE TE FERIRÁ A CABEÇA, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gn 3.14-15).

Mas a inimizade criada no homem contra Deus foi tão séria que até esta promessa maravilhosa e este gesto de amor sublime é incapaz de lhe tocar no coração pela sua própria vontade. Tanto que, quando o Messias finalmente chegou foi rejeitado. João fala sobre isso quando diz: Veio para o que era seu, E OS SEUS NÃO O RECEBERAM (Jo 1.12), referindo-se a Jesus que foi rejeitado e morto pelos judeus. Nisso Paulo diz:

Certamente, A PALAVRA DA CRUZ É LOUCURA PARA OS QUE SE PERDEM, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1 Co 1.18).

Para o pactuante decaído os preceitos da Aliança tornaram-se loucura, porque na queda o pactuante perdeu toda perspicácia para sentir e ouvir a Deus. Na queda o pactuante separou-se completamente de seu Criador, em um caminho sem volta pela sua própria força e vontade. O homem não consegue mais se atentar para Deus ou para qualquer coisa relacionada a Ele. Não pôde nem mesmo receber ao seu Messias Prometido.

E se hoje a palavra da cruz é para nós poder de Deus é por causa da iniciativa de Deus, que pelo chamado do Espírito Santo nos regenera, pois esta é a missão do Consolador, conforme prometeu Jesus ao dizer:

Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; QUANDO VIER, PORÉM, O ESPÍRITO DA VERDADE, ELE VOS GUIARÁ A TODA A VERDADE; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir (Jo 16.12-13).

O Espírito Santo é o nosso guia e é aquele que nos convence do nosso pecado, pois Jesus assim falou:

QUANDO ELE VIER, CONVENCERÁ O MUNDO DO PECADO, DA JUSTIÇA E DO JUÍZO: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado (Jo 16.8-11).

O toque do Espírito põe por terra toda nossa arrogância, quebra nosso orgulho e nos conduz ao reconhecimento do pecado e à sua confissão, nos regenerando de nossa depravação e nos tornando nova criatura. É o novo nascimento mencionado por Jesus em sua conversa com Nicodemos quando disse:

A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, SE ALGUÉM NÃO NASCER DE NOVO, NÃO PODE VER O REINO DE DEUS (Jo 3.3).

Por isso que Paulo fala que os regenerados por Cristo recebem uma nova natureza:

E, assim, SE ALGUÉM ESTÁ EM CRISTO, É NOVA CRIATURA; as coisas antigas já passaram; EIS QUE SE FIZERAM NOVAS (2 Co 5.17).

Fruto do Espírito Santo, conforme anunciou Jesus:

Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: QUEM NÃO NASCER DA ÁGUA E DO ESPÍRITO NÃO PODE ENTRAR NO REINO DE DEUS. O que é nascido da carne é carne; E O QUE É NASCIDO DO ESPÍRITO É ESPÍRITO (Jo 3.5-6).

Esta é a regeneração. É quando recebemos o messias Prometido em nossa vida. E nela acontece algo maravilhoso conosco:

MAS, A TODOS QUANTOS O RECEBERAM, DEU-LHES O PODER DE SEREM FEITOS FILHOS DE DEUS, A SABER, AOS QUE CREEM NO SEU NOME; OS QUAIS NÃO NASCERAM DO SANGUE, NEM DA VONTADE DA CARNE, NEM DA VONTADE DO HOMEM, MAS DE DEUS (Jo 1.12-13).

E Paulo diz:

O PRÓPRIO ESPÍRITO TESTIFICA COM O NOSSO ESPÍRITO QUE SOMOS FILHOS DE DEUS (Rm 8.16).

E todo este ato de redenção provém unicamente de Deus. Portanto, se hoje existem alguns que se importam com Deus é devido tão somente ao Instituidor da Aliança, pois o resultado do plano de redenção do Criador é exatamente trazer o pactuante de volta à comunhão com Deus. E isso acontece graças à obra de Cristo, pois a Bíblia diz:

MAS, AGORA, EM CRISTO JESUS, VÓS, QUE ANTES ESTÁVEIS LONGE, FOSTES APROXIMADOS PELO SANGUE DE CRISTO. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; E, TENDO DERRIBADO A PAREDE DA SEPARAÇÃO QUE ESTAVA NO MEIO, A INIMIZADE, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois CRIASSE, EM SI MESMO, UM NOVO HOMEM, FAZENDO A PAZ, E RECONCILIASSE AMBOS EM UM SÓ CORPO COM DEUS, POR INTERMÉDIO DA CRUZ, DESTRUINDO POR ELA A INIMIZADE (Ef 2.13-16).

É através da regeneração que acontece o retorno do homem a Deus. E isso acontece graças aos méritos do Instituidor da Aliança e não do pactuante. Paulo confirma isso quando diz:

Ele vos deu vida, ESTANDO VÓS MORTOS NOS VOSSOS DELITOS E PECADOS, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; ENTRE OS QUAIS TAMBÉM TODOS NÓS ANDAMOS OUTRORA, SEGUNDO AS INCLINAÇÕES DA NOSSA CARNE, FAZENDO A VONTADE DA CARNE E DOS PENSAMENTOS; E ÉRAMOS, POR NATUREZA, FILHOS DA IRA, COMO TAMBÉM OS DEMAIS (Ef 2.1-3).

Estas palavras de Paulo demonstra a depravação total do homem após a sua queda. Não há glória nenhuma no pactuante e ele não está em condições de exigir e nem de questionar em nada ao Instituidor da Aliança, pois ele é subordinado a ela. Não consigo entender a perspicácia de alguém que determina algo para Deus, que exige algo de Deus. Quem somos nós para tamanha ousadia? Não estamos em condições de exigir nada de Deus. E se recebemos alguma coisa boa de Deus na vida foi mediante a sua imensurável misericórdia.

Por causa de toda essa depravação total do pactuante ele não consegue fazer nada em favor de Deus. Por isso que na Nova Aliança o que prevalece é a graça de Deus e em várias oportunidades os autores do Novo Testamento deixa bem claro que nos frutos da redenção o pactuante não tem nenhuma participação e por causa disso ele não tem nada em que se gloriar. Nisso Paulo foi muito incisivo ao dizer:

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; NÃO DE OBRAS, PARA QUE NINGUÉM SE GLORIE (Ef 2.8-9).

E quis dizer a mesma coisa quando escreveu aos Coríntios:

Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; A FIM DE QUE NINGUÉM SE VANGLORIE NA PRESENÇA DE DEUS. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: AQUELE QUE SE GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR (1 Co 1.26-31).

Não há glória nenhuma no pactuante. E Jesus, relacionando a atitude do fariseu, que batia no peito e se gloriava em si mesmo, com a atitude do republicano, que batia no peito e se humilhava diante de Deus, disse:

Digo-vos que ESTE (REFERINDO-SE AO REPUBLICANO) DESCEU JUSTIFICADO PARA SUA CASA, e não aquele (referindo-se ao fariseu); PORQUE TODO O QUE SE EXALTA SERÁ HUMILHADO; MAS O QUE SE HUMILHA SERÁ EXALTADO (Lc 18.14).

CONCLUSÃO:

O homem foi criado perfeito e se tivesse optado pela obediência estaria nesta condição até aos dias de hoje. Mas ele resolveu trilhar o caminho da rebeldia e tornou-se uma criatura arrogante, totalmente depravada. Este é o pactuante, isso foi o que ele fez e no que se tornou e se Deus não tivesse tido misericórdia e providenciado a redenção todos nós estaríamos perdidos para sempre. Que Deus te abençoe a sempre se humilhar na presença dele e nunca se exaltar por qualquer ato que venhas a fazer ou de qualquer graça que venha a receber. Amém!

Luiz Lobianco

luizlobianco@hotmail.com

Bibliografia:

Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.

Revista Palavra Viva: O Pacto da Graça. Editora Cultura Cristã.

 

quarta-feira, 14 de junho de 2023

A ALIANÇA E O PACTUANTE: O HOMEM

Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra (Gn 1.26-28).

E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.8-9, 15-17).

INTRODUÇÃO:

Estamos descrevendo sobre a Aliança de Deus com o homem. Vimos na Criação a forma como Deus foi adequando o Universo, especialmente a Terra, para a sobrevivência não somente do homem, mas também do restante da Criação, tanto animal, aves, peixes, como vegetal. Deus criou os céus, criou a luz, fez aparecer a porção seca e manteve as águas em seus limites estabelecidos. Deus planta árvores na porção seca e a preenche de vegetação verde. E neste ambiente magnífico de terra, ar, água, plantas e animais, Deus coloca o homem para, não somente viver nele, mas também de governar sobre ele. E Deus, então, faz uma Aliança com o homem.

Uma aliança é firmada entre duas partes, que no caso da Aliança foi entre Deus e o homem. De um lado está quem a instituiu: Deus! E já descrevemos sobre o Instituidor da Aliança, destacando o amor infinito de Deus. Agora, veremos sobre o pactuante: O homem.

01 – O PACTUANTE: O HOMEM:

E quem é o homem? O homem é a criação mais expressiva de Deus. O homem é o alvo principal do plano de Deus. O ser humano é a coroa da criação de Deus, tanto que fora criado à sua imagem e semelhança e Deus o dotou da capacidade de escolher e tomar decisões, assumindo, é claro, as consequências de suas escolhas. Deus tinha pelo homem amor incondicional, mas queria que o homem também o amasse, demonstrando amor através da obediência. No Jardim do Éden o homem era perfeito e feliz, conhecia a Deus, amava-o e relacionava-se com o seu Criador; e assim deveria permanecer, contanto que continuasse a obedecer a Deus. A desobediência acarretaria em pecado afastando o pactuante de Deus.

Uma das coisas que podemos notar na Criação é a exclusividade do homem. O homem é único, totalmente distinguido do restante da criação de Deus, porque ele foi criado à imagem de Deus. Na criação, quando Deus estava criando todas as coisas, Ele ia dizendo e tudo ia se formando, mas quando chegou a vez da criação do homem, Deus disse:

Também disse Deus: FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM, CONFORME A NOSSA SEMELHANÇA; TENHA ELE DOMÍNIO sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. CRIOU DEUS, POIS, O HOMEM À SUA IMAGEM, À IMAGEM DE DEUS O CRIOU; homem e mulher os criou (Gn 1.26-27).

O homem seria diferenciado em toda a criação, tanto que Deus lhe deu uma tarefa que, de toda a criação, somente ele podia fazer:

Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, TROUXE-OS AO HOMEM, PARA VER COMO ESTE LHES CHAMARIA; E O NOME QUE O HOMEM DESSE A TODOS OS SERES VIVENTES, ESSE SERIA O NOME DELES. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos (Gn 2.19-20).

Ele foi dotado por Deus de conhecimento, provindo do próprio Deus. Note a diferença entre a criação do homem com a dos animais. Quanto aos animais a Bíblia diz:

Havendo, pois, o Senhor Deus FORMADO DA TERRA TODOS OS ANIMAIS DO CAMPO E TODAS AS AVES DOS CÉUS (Gn 2.19).

E na criação do pactuante, Deus assim o fez:

Então, FORMOU O SENHOR DEUS AO HOMEM DO PÓ DA TERRA e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gn 2.7).

Ele foi formado do pó da Terra, como os animais e as aves. E todos eles nada mais são do que pó da Terra. Tanto que o fim de suas existências é retornarem ao seu princípio, retornarem à sua matéria prima que é o pó da Terra. Mas havia algo diferente no homem. Ocorreu em sua criação algo que não ocorreu na criação dos animais, pois ele recebeu algo a mais de Deus, algo que não procede do pó da Terra, mas procede do próprio Deus, pois assim a Bíblia diz:

Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra E LHE SOPROU NAS NARINAS O FÔLEGO DE VIDA, E O HOMEM PASSOU A SER ALMA VIVENTE (Gn 2.7).

O homem não é somente corpo, Ele agora possui uma alma, um espírito, e este elemento é diferenciado, ele não morre, pois ele não procede do pó da Terra, mas de Deus que é Eterno. Portanto, o homem não foi criado à imagem e semelhança de Deus porque ele tem pés, mãos, boca, olhos, ouvidos, nariz, orelhas ou qualquer outro membro do corpo, mas porque dentro dele vive uma extensão de Deus: A sua alma. Refletindo nesta verdade foi que o sábio Salomão escreveu:

E O PÓ VOLTE À TERRA, COMO O ERA, E O ESPÍRITO VOLTE A DEUS, QUE O DEU (Ec 12.7).

O corpo veio do pó e para lá ele volta, mas o espírito veio de Deus e a Ele retorna.

E quando pensamos em imagem nos lembramos de um espelho, porque o espelho reflete a imagem de quem está a sua frente. Assim, o homem reflete a presença de Deus porque fora criado à sua imagem. Quando o homem estava no Jardim do Éden ele refletia perfeitamente esta imagem de Deus, mas quando ele pecou esta imagem ficou distorcida, deturpada e depois disso ele não reflete mais com perfeição a imagem de Deus. Mesmo assim o homem não perdeu sua exclusividade perante a criação, porque mesmo refletindo com imperfeição, ele continua sendo à imagem de Deus, pois o que distingue o homem do resto da criação é a capacidade de ele viver em conformidade com Deus.

Deus criou o homem para amá-lo e ser amado por ele. Deus criou o homem de forma que este possa ter pleno conhecimento dele. Os animais não podem conhecer a Deus deste modo. Desta forma, o conhecimento de Deus está ligado ao fato de termos sido criados à imagem de Deus. Tanto isto é fato que Jesus disse:

E a vida eterna é esta: QUE TE CONHEÇAM A TI, O ÚNICO DEUS VERDADEIRO, E A JESUS CRISTO, a quem enviaste (Jo 17.3).

Esta é a finalidade da criação do homem: Glorificar a Deus. Conhecer este Deus que o criou e relacionar-se com Ele. Esta é a finalidade da Aliança de Deus: Proporcionar ao homem um relacionamento com seu Criador.

E voltando para a criação, Deus criou o homem e o colocou no Jardim do Éden. Ele cultivava o jardim e cuidava dos animais e neles colocava seus nomes. Mas estava faltando algo, pois não se achava na criação uma companheira que lhe fosse idônea e Deus completa a maravilha da criação criando a mulher:

Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E A COSTELA QUE O SENHOR DEUS TOMARA AO HOMEM, TRANSFORMOU-A NUMA MULHER E LHA TROUXE (Gn 2.21-22).

Agora sim a criação estava completa. Se o homem refletia a imagem de Deus, vindo a mulher procedente do homem esta, de igual forma, reflete a imagem de Deus, pois ela também fora criada à imagem e semelhança de Deus:

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, À IMAGEM DE DEUS O CRIOU; HOMEM E MULHER OS CRIOU (Gn 1.27).

Agora, ambos vivem no Jardim do Éden e ambos se relacionam com Deus.

Seria muito bom se pudéssemos parar por aqui sobre a descrição do pactuante, mas há algo mais sobre ele. Quem mais é o homem? O homem é a parte decaída da Aliança, a parte rebelde, o transgressor de seus princípios. Aquele que convivia face a face com Deus e o via todos os dias no Jardim do Éden na virada do dia, mas mesmo assim traiu sua confiança e se rebelou contra Ele. Por isso não tem procedimento o dizer de muitos pelo fato de não crerem em Deus, pois dizem: “Não acredito em Deus porque não posso vê-lo”. Adão e Eva viam a Deus todos os dias e mesmo assim se rebelaram contra Ele. E naquele jardim, onde o homem foi criado e lá conviveu com Deus, em um relacionamento face a face, aquele mesmo lugar de glória foi palco da tragédia da humanidade. Ocorreu ali a desobediência a Deus e o homem ficou em um estado deplorável de perdição. A queda do homem afetou a imagem de Deus nele, e o relacionamento entre o homem e Deus foi prejudicado com o pecado. Mas aleluia! Porque em Cristo este relacionamento foi recuperado!

Até que o homem foi fiel ao seu Criador ele se manteve firme aos princípios da Aliança. Mas depois de sua queda ele resiste aos princípios da Aliança e ao seu Instituidor e se torna um prepotente, ao ponto de não somente se rebelar contra o seu Criador, mas de discutir com Ele e querer enfrenta-lo. Isso se tornou tão sério que foi necessário Deus lhe dizer:

QUEM ÉS TU, Ó HOMEM, PARA DISCUTIRES COM DEUS?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim (Rm 9.20)?

De toda a Criação a única criatura que contende com Deus é o homem, o restante tudo se submete a Ele. Isso acontece porque a inimizade criada pela queda do homem o afasta completamente de seu Criador. Assim a Bíblia define o homem decaído:

Ora, O HOMEM NATURAL NÃO ACEITA AS COISAS DO ESPÍRITO DE DEUS, porque lhe são loucura; E NÃO PODE ENTENDÊ-LAS, PORQUE ELAS SE DISCERNEM ESPIRITUALMENTE (1 Co 2.14).

Nesta situação o homem resiste a tudo no que se refere a Deus, ou seja, não se submete mais a Ele. O homem não aceita seus conselhos, não obedece a suas ordenanças e sequer tem vontade de viver em comunhão com Deus. Ele perde aquela comunhão diária com Deus e foge de sua presença, sempre que lhe ouve a sua voz lhe chamando, da mesma forma que aconteceu no Éden depois da queda:

E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: OUVI A TUA VOZ NO JARDIM, E, PORQUE ESTAVA NU, TIVE MEDO, E ME ESCONDI (Gn 3.9-10).

Nesta situação ele jamais voltaria ao seu Criador por iniciativa própria, pois dependeria totalmente da misericórdia de Deus. É a verdade expressa na fala de Paulo quando diz:

Assim, pois, NÃO DEPENDE DE QUEM QUER OU DE QUEM CORRE, mas de usar Deus a sua misericórdia (Rm 9.16).

Relacionar-se com Deus não depende mais do homem, mas sim de Deus. E Deus providenciou o caminho de retorno do homem à comunhão com Ele. Deus não abandonou o pactuante à mercê da desgraça em que caiu. Existe um retorno, existe um caminho, existe uma redenção, especialmente e amorosamente preparada para o homem. Mas é necessário voltarmos à Bíblia para vermos o que nos é revelado a respeito do homem perante o seu Criador. Feito isso, logo se percebe a miséria do homem, a sua prepotência, a dureza de seu coração, a impossibilidade de ele retornar ao seu Deus pela sua própria vontade e esforço, e o tanto que ele necessita de salvação. O pactuante perdeu o Jardim do Éden e de lá foi expulso, mas aqueles que são regenerados ganham o Paraíso de Deus e lá viverão em harmonia, em comunhão com Ele, sem nenhuma expectativa de nova maldição, de nova desobediência, de nova rebelião. Que Deus te abençoe a entender essa verdade!

02 – A ALIANÇA ADÂMICA E O LIVRE ARBÍTRIO DO HOMEM:

A primeira aliança Deus fez com Adão e Eva. Nesta Aliança Deus deu-lhes a Terra e o pleno domínio sobre os animais. Deu-lhes fartura de alimento, abençoou-os e disse-lhes que deveriam ser fecundos e se multiplicarem. Mas estabeleceu condições: Não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nesta ordem de Deus o princípio da obediência estava criado.

A contrapartida da Aliança Adâmica não era a fé, pois eles viam a Deus todos os dias. O relacionamento entre eles era pessoal e físico, não havia espaço para a fé. A contrapartida da Aliança Adâmica era a fiel obediência a Deus. Se eles comessem o fruto da árvore proibida, eles morreriam. Não havia nada de obscuro nos termos da Aliança. Adão e Eva entenderam muito bem o que Deus lhes havia ordenado, tanto que Eva assim respondeu à tentação da serpente:

Respondeu-lhe a mulher: DO FRUTO DAS ÁRVORES DO JARDIM PODEMOS COMER, MAS DO FRUTO DA ÁRVORE QUE ESTÁ NO MEIO DO JARDIM, DISSE DEUS: DELE NÃO COMEREIS, nem tocareis nele, para que não morrais (Gn 3.2-3).

Ela sabia da ordem expressa de Deus, contudo, desobedeceu, comeu e deu ao seu marido e ele também comeu. Quebraram a aliança, e experimentaram imediatamente a morte espiritual, e, depois, a morte física.

Eles firmaram uma aliança, e a natureza de uma aliança exige a possibilidade da obediência e da desobediência. Por isso, em função dessa possibilidade, podemos ver na ordem de Deus a necessidade de um teste. Deus sabe todas as coisas, Ele sabia do resultado final do teste, mas era necessária a manifestação da decisão de Adão. E até hoje Deus testa as pessoas para conhecer seu caráter, sua fé, sua obediência, seu amor, sua integridade e sua lealdade, pois a Bíblia diz:

O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; MAS AOS CORAÇÕES PROVA O SENHOR (Pv 17.3).

E diz também:

Como o crisol prova a prata, e o forno, o ouro, ASSIM, O HOMEM É PROVADO PELOS LOUVORES QUE RECEBE (Pv 27.21).

Adão e Eva receberam a vida e um maravilhoso jardim para morar. Era necessário serem testados por Deus para que fossem manifestadas as suas decisões.

Deus provou a Abraão, provou a Jacó, provou a José, provou a Daniel, provou os amigos de Daniel e até mesmo seu próprio Filho foi provado no deserto. A provação sempre é necessária para se avaliar o resultado final, afinal, o homem foi dotado de livre arbítrio, era fundamental a manifestação de sua vontade. E o comando específico para Adão de não comer de uma determinada árvore, nada mais era do que uma provação. Ela foi dada para ser o teste externo e visível para determinar se ele estava disposto a obedecer a Deus em todas as coisas. Visto não estar ainda confirmado o seu caráter, ele teria que ser posto à prova, submetendo-se a uma experiência que diria se ele prestaria ou não obediência ao seu Criador. Se Adão não tivesse a capacidade de quebrar a Aliança, a ordem de Deus não teria sentido algum. Se não havia em Adão a possibilidade de comer daquele fruto proibido o teste não teria nenhum sentido.

Quando pensamos na criação é fundamental lembrar que no princípio, Deus, que é Espírito, decidiu criar todas as coisas. A decisão da Criação originou-se no próprio Deus e não era por necessidade, pois Deus é completo em si mesmo e não depende de nada e de ninguém. No princípio, antes da queda de Adão e Eva, o mundo material e o mundo espiritual coexistiram em harmonia, sendo que o mundo espiritual era habitado por Deus e pelos anjos, e o mundo material pelos homens e pelas criaturas criadas por Deus. Não temos a capacidade de compreender a Criação de Deus, o porquê Ele fez assim ou assado, o porquê não ficou tudo como no mundo espiritual, mas o que importa é crer no que a Bíblia nos revela da Criação: Deus criou todas as coisas e tudo veio a existir pelo poder da sua Palavra. Deus ordenava e tudo se fazia e tudo se criava.

Deus quis criar um planeta habitável, com pessoas ocupando-o e vivendo nele. E por que Deus fez isso? Porque queria se relacionar com essas pessoas no mundo físico e visível. Não era porque Deus necessitava de companhia, porque vivia triste, ou estressado ou estava tendo uma vida cheia de tédio, mas unicamente porque Ele queria se relacionar com aquela criatura que Ele mesmo criou à sua imagem e semelhança. Além do mais a Bíblia diz que a criação proclama a Glória de Deus, sendo a glória de Deus imensurável, por que não ter infinitos mundos que refletem sua glória? Apesar de que nem todo o Universo criado é suficiente para resplandecer toda a glória de Deus.

Deus poderia ter permanecido somente no mundo espiritual, com seres celestiais, mas aprouve a Ele estender seu convívio a outro mundo e que seu Espírito vivesse dentro de outra criatura, uma pessoa, criada à sua imagem e semelhança, para que este pudesse glorifica-lo e se relacionar com Ele. Esta é a razão de, depois de fazer o mundo material, Ele criou o ser humano do pó da terra, à sua própria imagem, dando a ele, além da vida, um espírito, uma alma, uma extensão do próprio Deus. Deus soprou de seu próprio Espírito para dentro do homem, para dar-lhe uma parte de si mesmo. Assim, o homem tornou-se um ser vivo, sendo metade do pó da terra e metade de Deus, livre para tomar as suas próprias decisões.

Porém, a Criação estava incompleta. Sua vontade não era criar apenas um, mas deste vigorar uma descendência, pois Deus não queria se relacionar somente com um indivíduo. Por isso, Deus tomou o homem a quem Ele havia criado, tirou dele uma costela e fez dela uma mulher e disse a eles: “Sede fecundos e multiplicai-vos”. Ele queria ver aquele mundo que criou com muita gente para poder se relacionar com eles, num mundo que até então era perfeito e vivia em perfeita harmonia com seu Criador. Vamos ver essa vontade de Deus se concretizar lá em Apocalipse, quando João escreve:

Depois destas coisas, vi, E EIS GRANDE MULTIDÃO QUE NINGUÉM PODIA ENUMERAR, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação (Ap 7.9-10).

Mas muita coisa aconteceu entre o Éden e este tempo predito em Apocalipse.

Para ter um relacionamento com o homem e a mulher e habitar neles, Deus deu-lhes o livre arbítrio. Eles tanto podiam decidir pela obediência como pela desobediência. Não havia neles inclinação para nenhum lado, totalmente diferente depois da queda, em que o homem é totalmente inclinado para o mal, de forma que ele se inclina para o bem somente mediante a intervenção de Deus. Deus também lhes deu uma missão e  autoridade para executá-la, pois disse-lhes:

Sede fecundos, multiplicai-vos, ENCHEI A TERRA E SUJEITAI-A; DOMINAI sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra (Gn 1.28).

E quando Deus diz uma coisa, a sua palavra não pode mudar; ela permanece para sempre. Para nós, seres completamente limitados, pode até parecer um grande erro de Deus o de ter dotado o homem da importante capacidade de livre arbítrio, que é a capacidade de praticar tanto o bem quanto o mal, e colocado o destino de sua Criação em suas mãos. Mas Deus sabia perfeitamente o que estava fazendo e desejava não apenas receber a adoração dos anjos, mas esperava também ter comunhão com um ser que, espontaneamente, escolhesse observar o mandamento que Ele lhe dera, amando-o, adorando-o e obedecendo-o! Assim era o homem no estado de sua inocência, no seu estado primitivo, original, antes que ele tivesse a experiência do pecado, enquanto ainda não fizera aquela escolha fatal, pois fora criado por Deus com um livre arbítrio, muito diferenciado das demais criaturas.

O psicólogo suíço Dr. A. Von Orelli explicou da seguinte maneira a diferença entre o homem e o animal: Este nasce com um “cartão perfurado” que vai para o computador de seu cérebro. Reage instintivamente, respondendo sempre da mesma maneira aos estímulos de fome, medo, frio e etc. Já o homem nasce com um “cartão em branco” no qual faz os seus próprios furos. Enquanto influenciado por sua hereditariedade e meio ambiente, ele é livre para fazer aquelas escolhas que, quando desenvolvidas, formam a chamada “personalidade”. Sendo assim, se de um lado todos os animais seguem padrões idênticos durante a vida, de outro lado o homem se enfrenta continuamente com as mais variadas situações. A capacidade para escolher, a vontade livre ou livre arbítrio é a diferença básica entre o homem e todo o restante da criação de Deus.

O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, possui uma mente, um coração e uma vontade própria. A mente ou o intelecto permite ao homem o pensar e agir racionalmente, não por puro instinto, como um animal. O coração permite-lhe sentir, sendo forte o impacto em suas emoções, o que faz com que ele ri, chora, fica nervoso, preocupado, dentre outras ações emotivas, diferentemente de um robô ou uma máquina. A vontade própria permite-lhe tomar as decisões ou fazer as escolhas que têm consequências morais. É a sua capacidade para agir, uma capacidade que lhe permite escolher isso sobre aquilo e aquele ao invés deste. O livre arbítrio é o poder que a vontade humana tem de se determinar por si mesma, por sua própria escolha, a agir ou não agir, sem ser constrangida a isso por força alguma, externa ou interna.

A vida é um teste constante e uma relação de confiança e nela recebemos, pela graça de Deus, muitas coisas. E quanto mais Deus nos dá, mais responsáveis nos tornamos diante dele e mais obedientes Ele espera que nós sejamos. Levando em consideração que a vida na terra é uma atribuição temporária que recebemos de Deus, devemos ponderar radicalmente os nossos valores. Valores eternos devem tornar-se fatores decisivos para as nossas decisões, pois dessa vida transitória nada levaremos a não serem nossas virtudes, pois somos peregrinos nesta terra. Depois da queda, da decisão tomada pelo livre arbítrio do homem, para viver na terra e se relacionar com o Criador é preciso ter fé. E aqueles que vivem para Deus são os verdadeiros vencedores na vida. Que Deus te abençoe a entender esta verdade tão importante para a vida. Amém!

03 – A ALIANÇA ADÂMICA E A REPRESENTATIVIDADE DE ADÃO:

Adão era o cabeça da raça humana. Este é um termo teológico que significa representação. Há duas pessoas que são cabeças da raça humana: Adão e Cristo. E com cada um deles Deus fez uma aliança. Tanto Adão, como Cristo, atuaram no lugar de outros, cada um representando legalmente pessoas definidas. Adão representou toda a raça humana, enquanto que Cristo representou a todos aqueles que o Pai lhe deu. Quando Adão pecou, quebrando dessa forma a sua aliança com Deus, toda a raça humana mergulhou no pecado e na morte do pecado, o que significa que todos nós nascemos dotados da natureza decaída de Adão e sem os preciosos dons de conhecimento, justiça e santidade com os quais a natureza humana foi originalmente dotada. Quando Adão caiu, todos os homens caíram com ele; quando morreu, todos morreram com ele. Ele pecou, e todos sofrem as consequências de seu pecado e vêm ao mundo com uma natureza corrompida. Veja o que Paulo escreveu:

Porque, ASSIM COMO, EM ADÃO, TODOS MORREM, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Co 15.22).

Embora à razão humana possa parecer injusta, a condenação de toda a raça humana por causa do pecado de Adão é legítima. Aprouve a Deus lidar com Adão desta maneira, isto é, através dele, representante de toda a raça humana. O Principio da representação é um dos fundamentos de toda a sociedade. O pai é o cabeça legal de seu filho, assim como uma casa comercial é legalmente responsável pelos atos de seus agentes. Reis, presidentes e governantes são revestidos de autoridade para fazer tratados e pactos que abrangem toda a nação. Toda a eleição política ilustra o fato de que, através de um representante eleito, atue a vontade do povo, sendo o povo preso pelos atos do seu representante. Assim é com a sociedade humana que não poderia funcionar sem os seus representantes. Não se deve estranhar, então, que Deus haja também dessa maneira racional.

O homem foi criado à imagem e semelhança de seu Criador. Ele foi criado perfeito e por causa dessa perfeição relacionava-se face a face com seu Criador. Para felicidade e esperança do homem, ao cria-lo, Deus faz com ele uma Aliança. E assim a Bíblia descreve esta Aliança:

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: SEDE FECUNDOS, MULTIPLICAI-VOS, ENCHEI A TERRA E SUJEITAI-A; DOMINAI SOBRE OS PEIXES DO MAR, SOBRE AS AVES DOS CÉUS E SOBRE TODO ANIMAL QUE RASTEJA PELA TERRA (Gn 1.27-28).

O dever do pactuante era ser fecundo, encher a Terra e se multiplicar e dominar sobre a toda a Criação. E como toda aliança tem direitos e deveres, Deus descreve o que Ele fez:

E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; ISSO VOS SERÁ PARA MANTIMENTO. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez (Gn 1.29-30).

No princípio da Aliança, a cadeia alimentar do homem era os frutos e as ervas, tanto para o homem como para os animais. E Deus estabelece o que o homem deveria fazer, pois havia uma coisa que o homem não poderia fazer:

E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: DE TODA ÁRVORE DO JARDIM COMERÁS LIVREMENTE, MAS DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL NÃO COMERÁS; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.16-17).

Ele não podia comer determinado fruto. Apenas uma, das muitas variedades de frutos, ele não podia comer. Este era o acordo, esta era a Aliança. A responsabilidade de Adão era imensa. Ele foi o primeiro homem criado. Ele foi colocado no Jardim do Éden e ali ele estava representando toda a humanidade, de forma que, quando Adão comeu daquele fruto, era como se cada um de seus descendentes tivessem comido com ele. É isso que a Bíblia quer ensinar quando diz:

Portanto, ASSIM COMO POR UM SÓ HOMEM entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12).

Isso aconteceu porque Adão era o nosso representante, o nosso embaixador. Adão falhou em sua obediência a Deus caindo em pecado e, pela representação que possuía, conduziu todos os seus descendentes ao pecado e à punição pela desobediência. Se esta punição era a morte, então, quando Adão morreu (espiritualmente) todos morreram com ele. Portanto, na representação de Adão, temos o que podemos chamar de desobediência fatal.

Enquanto Adão viveu no Jardim do Éden, ele viveu em plena paz com Deus e conversavam entre eles pessoalmente, todos os dias, por ocasião da virada do dia. Era um relacionamento perfeito sem nenhuma barreira entre ambos. Mas Adão não levou em consideração a harmonia que havia entre ele e Deus no momento em que lhe fora oferecido o fruto proibido pela sua mulher. Ele poderia ter se recusado a comer e repreendido sua mulher por ter comido, mas, sem hesitar, ele desobedece a Deus e come também do fruto que não era pra comer. A partir daquele momento Adão perde sua perfeição e o paraíso em que vivia. E o pior é que ele representava toda a humanidade, de forma que todos nós sofremos as consequências de sua desobediência. E assim como Deus vê Adão culpado, assim também Ele vê toda a humanidade culpada e contaminada pelo pecado.

Hoje, como sempre houve, há muitas pessoas que são incrédulas. E como o ser humano sempre procura uma justificativa para os seus erros, questionamentos a respeito da representação de Adão são motivos muito citados por eles. O mais comum é: Como Deus pode comprometer toda a humanidade por causa do erro de um só homem? Ele não está sendo justo. Deus não nos trata individualmente, recompensando a cada um segundo as suas obras? O que nós temos a ver com Adão? Tais questionamentos são desculpas para se esquivarem de Deus. O fato é que precisamos compreender a obra de Deus na salvação de seus eleitos, precisamos ter uma perfeita compreensão da obra redentora de Jesus Cristo e precisamos entender a representatividade de Adão. Voltando ao texto acima que diz:

Portanto, ASSIM COMO POR UM SÓ HOMEM ENTROU O PECADO NO MUNDO, e pelo pecado, a morte, ASSIM TAMBÉM A MORTE PASSOU A TODOS OS HOMENS, PORQUE TODOS PECARAM (Rm 5.12).

Paulo apresenta aqui o que conhecemos como a doutrina do pecado original. Ou seja, todos nós pecamos com Adão, nosso representante, quando ele pecou. Somos herdeiros de uma herança de morte e de transgressão. Por apenas um único ato, de um único homem, toda a humanidade ficou condenada à miséria. Adão carregava grande responsabilidade no poder de sua decisão. Sua desobediência foi uma declaração de óbito de toda a raça humana e a morte é a declaração dessa derrota.

A representatividade de Adão pode ser ilustrada pela representação de nossos governantes. As decisões deles afetam a todos nós. Se nosso governante maior se desentender com algum país e nos levar a uma guerra, todos nós estaremos em guerra com este país, todos nós seremos considerados inimigos e todos nós seremos afetados por ela, porque sua posição representa toda a nação, mesmo que nem todos compartilhem de suas ideias. Este princípio pode ser aplicado a Adão. Deus, ao olhar a transgressão de Adão, olha com ira e justiça para todos aos que nascem, porque herdamos o gene do pecado de Adão. E o que aconteceu entre Adão e Noé é a prova concreta da enrascada em que Adão colocou a humanidade, pois nos dias de Noé:

Viu o SENHOR QUE A MALDADE DO HOMEM SE HAVIA MULTIPLICADO NA TERRA E QUE ERA CONTINUAMENTE MAU TODO DESÍGNIO DO SEU CORAÇÃO (Gn 6.5).

Separado de Deus não poderia haver outro caminho para o homem senão aquele em que prevalece a maldade de seu coração.

O sentimento de Deus ao olhar para a sua criação foi de tristeza e decepção. O que mais se podia esperar de uma humanidade corrompida pelo pecado? Herdeiros de uma herança maldita? E não foi por falta de avisar, pois Deus lhes falou das consequências imediatas do pecado:

E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; PORQUE, NO DIA EM QUE DELA COMERES, CERTAMENTE MORRERÁS (Gn 2.16,17).

Essa palavra se cumpriu e devastou a humanidade. As sequelas foram tão fortes que, mesmo regenerados, somos herdeiros de Adão, e ainda carregamos os efeitos de sua morte em nossa carne. Mesmo regenerados, enquanto vivermos neste mundo, vivemos sob a influência do pecado e por causa disso ainda pecamos. E até aos dias de hoje a Bíblia nos alerta dizendo:

PORQUE O SALÁRIO DO PECADO É A MORTE, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6.23).

CONCLUSÃO:

O pactuante, como parte decaída da Aliança, tornou-se totalmente dependente de Deus. Ele foi criado livre e fez a sua escolha e pela sua representação as consequências de sua escolha atingiu toda a raça humana. E Por causa da representatividade de Adão e de sua desobediência, somos alertados a viver em constante vigilância para lutarmos contra esta força opressora, tão forte em nossa existência. A harmonia que existia com Deus desapareceu com a queda de Adão e foi restaurada em Cristo. Agora, somente em Cristo encontramos o caminho de volta para Deus, porque somente Ele pode nos representar diante de Deus. Por isso Ele diz:

EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA, NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM (Jo 14.6).

Que Deus lhe conceda a luz de Cristo para que, através dele, venhas a encontrar o caminho de volta a Deus e, assim, possas viver em harmonia com este Deus que lhe demonstrou na cruz tão imensurável amor! Amém!

Luiz Lobianco

luizlobianco@hotmail.com

Bibliografia:

Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.

Revista Palavra Viva: O Pacto da Graça. Editora Cultura Cristã.