Também disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar,
sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e
lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;
dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que
rasteja pela terra (Gn 1.26-28).
E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden,
na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o
Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento;
e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e
do mal. Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para
o cultivar e o guardar. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.8-9,
15-17).
INTRODUÇÃO:
Estamos descrevendo sobre a Aliança de Deus
com o homem. Vimos na
Criação a forma como Deus foi adequando o Universo, especialmente a Terra, para
a sobrevivência não somente do homem, mas também do restante da Criação, tanto
animal, aves, peixes, como vegetal. Deus criou os céus, criou a luz, fez
aparecer a porção seca e manteve as águas em seus limites estabelecidos. Deus
planta árvores na porção seca e a preenche de vegetação verde. E neste ambiente
magnífico de terra, ar, água, plantas e animais, Deus coloca o homem para, não
somente viver nele, mas também de governar sobre ele. E Deus, então, faz uma
Aliança com o homem.
Uma aliança é firmada entre duas partes, que
no caso da Aliança foi entre Deus e o homem. De um lado está quem a instituiu:
Deus! E já descrevemos sobre o Instituidor da Aliança, destacando o amor
infinito de Deus. Agora, veremos sobre o pactuante: O homem.
01
– O PACTUANTE: O HOMEM:
E quem é o homem? O homem é a criação mais
expressiva de Deus. O homem é o alvo principal do plano de Deus. O ser humano é a coroa da
criação de Deus, tanto que fora criado à sua imagem e semelhança e Deus o dotou
da capacidade de escolher e tomar decisões, assumindo, é claro, as
consequências de suas escolhas. Deus tinha pelo homem amor incondicional, mas
queria que o homem também o amasse, demonstrando amor através da obediência. No
Jardim do Éden o homem era perfeito e feliz, conhecia a Deus, amava-o e
relacionava-se com o seu Criador; e assim deveria permanecer, contanto que
continuasse a obedecer a Deus. A desobediência acarretaria em pecado afastando
o pactuante de Deus.
Uma das coisas que podemos notar na Criação é
a exclusividade do homem. O homem é único, totalmente distinguido do restante
da criação de Deus, porque ele foi criado à imagem de Deus. Na criação, quando
Deus estava criando todas as coisas, Ele ia dizendo e tudo ia se formando, mas
quando chegou a vez da criação do homem, Deus disse:
Também disse Deus: FAÇAMOS O
HOMEM À NOSSA IMAGEM, CONFORME A NOSSA SEMELHANÇA; TENHA ELE DOMÍNIO sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre
toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. CRIOU DEUS, POIS, O HOMEM À SUA IMAGEM, À
IMAGEM DE DEUS O CRIOU; homem e mulher os criou (Gn 1.26-27).
O homem seria
diferenciado em toda a criação, tanto que Deus lhe deu uma tarefa que, de toda
a criação, somente ele podia fazer:
Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo
e todas as aves dos céus, TROUXE-OS AO
HOMEM, PARA VER COMO ESTE LHES CHAMARIA; E O NOME QUE O HOMEM DESSE A TODOS OS
SERES VIVENTES, ESSE SERIA O NOME DELES. Deu nome o homem a todos os
animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos (Gn
2.19-20).
Ele foi dotado por Deus
de conhecimento, provindo do próprio Deus. Note a diferença entre a criação do
homem com a dos animais. Quanto aos animais a Bíblia diz:
Havendo, pois, o Senhor Deus FORMADO
DA TERRA TODOS OS ANIMAIS DO CAMPO E TODAS AS AVES DOS CÉUS (Gn 2.19).
E na criação do
pactuante, Deus assim o fez:
Então, FORMOU O SENHOR DEUS AO
HOMEM DO PÓ DA TERRA e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem
passou a ser alma vivente (Gn 2.7).
Ele foi formado do pó da
Terra, como os animais e as aves. E todos eles nada mais são do que pó da
Terra. Tanto que o fim de suas existências é retornarem ao seu princípio,
retornarem à sua matéria prima que é o pó da Terra. Mas havia algo diferente no
homem. Ocorreu em sua criação algo que não ocorreu na criação dos animais, pois
ele recebeu algo a mais de Deus, algo que não procede do pó da Terra, mas
procede do próprio Deus, pois assim a Bíblia diz:
Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra E LHE SOPROU NAS NARINAS O FÔLEGO DE VIDA, E O HOMEM PASSOU A SER ALMA
VIVENTE (Gn 2.7).
O homem não é somente
corpo, Ele agora possui uma alma, um espírito, e este elemento é diferenciado,
ele não morre, pois ele não procede do pó da Terra, mas de Deus que é Eterno.
Portanto, o homem não foi criado à imagem e semelhança de Deus porque ele tem
pés, mãos, boca, olhos, ouvidos, nariz, orelhas ou qualquer outro membro do
corpo, mas porque dentro dele vive uma extensão de Deus: A sua alma. Refletindo
nesta verdade foi que o sábio Salomão escreveu:
E O PÓ VOLTE À TERRA, COMO O ERA,
E O ESPÍRITO VOLTE A DEUS, QUE O DEU (Ec 12.7).
O corpo veio do pó e para
lá ele volta, mas o espírito veio de Deus e a Ele retorna.
E quando pensamos em imagem nos lembramos de
um espelho, porque o espelho reflete a imagem de quem está a sua frente. Assim,
o homem reflete a presença de Deus porque fora criado à sua imagem. Quando o
homem estava no Jardim do Éden ele refletia perfeitamente esta imagem de Deus,
mas quando ele pecou esta imagem ficou distorcida, deturpada e depois disso ele
não reflete mais com perfeição a imagem de Deus. Mesmo assim o homem não perdeu
sua exclusividade perante a criação, porque mesmo refletindo com imperfeição,
ele continua sendo à imagem de Deus, pois o que distingue o homem do resto da
criação é a capacidade de ele viver em conformidade com Deus.
Deus criou o homem para amá-lo e ser amado por
ele. Deus criou o homem de forma que este possa ter pleno conhecimento dele. Os
animais não podem conhecer a Deus deste modo. Desta forma, o conhecimento de
Deus está ligado ao fato de termos sido criados à imagem de Deus. Tanto isto é
fato que Jesus disse:
E
a vida eterna é esta: QUE TE CONHEÇAM A
TI, O ÚNICO DEUS VERDADEIRO, E A JESUS CRISTO, a quem enviaste (Jo 17.3).
Esta é a finalidade da criação do homem:
Glorificar a Deus. Conhecer este Deus que o criou e relacionar-se com Ele. Esta
é a finalidade da Aliança de Deus: Proporcionar ao homem um relacionamento com
seu Criador.
E voltando para a criação, Deus criou
o homem e o colocou no Jardim do Éden. Ele cultivava o jardim e cuidava dos
animais e neles colocava seus nomes. Mas estava faltando algo, pois não se
achava na criação uma companheira que lhe fosse idônea e Deus completa a
maravilha da criação criando a mulher:
Então,
o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma
das suas costelas e fechou o lugar com carne. E A COSTELA QUE O SENHOR DEUS TOMARA AO HOMEM, TRANSFORMOU-A NUMA
MULHER E LHA TROUXE (Gn
2.21-22).
Agora sim a criação estava completa.
Se o homem refletia a imagem de Deus, vindo a mulher procedente do homem esta,
de igual forma, reflete a imagem de Deus, pois ela também fora criada à imagem
e semelhança de Deus:
Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, À
IMAGEM DE DEUS O CRIOU; HOMEM E MULHER OS CRIOU (Gn 1.27).
Agora, ambos vivem no Jardim do Éden
e ambos se relacionam com Deus.
Seria muito bom se pudéssemos parar por aqui
sobre a descrição do pactuante, mas há algo mais sobre ele. Quem mais é o
homem? O homem é a parte decaída da Aliança, a parte rebelde, o transgressor de
seus princípios. Aquele que convivia face a face com Deus e o via todos os dias
no Jardim do Éden na virada do dia, mas mesmo assim traiu sua confiança e se
rebelou contra Ele. Por isso não tem procedimento o dizer de muitos pelo fato
de não crerem em Deus, pois dizem: “Não
acredito em Deus porque não posso vê-lo”. Adão e Eva viam a Deus todos os
dias e mesmo assim se rebelaram contra Ele. E naquele jardim, onde o homem foi
criado e lá conviveu com Deus, em um relacionamento face a face, aquele mesmo
lugar de glória foi palco da tragédia da humanidade. Ocorreu ali a
desobediência a Deus e o homem ficou em um estado deplorável de perdição. A
queda do homem afetou a imagem de Deus nele, e o relacionamento entre o homem e
Deus foi prejudicado com o pecado. Mas aleluia! Porque em Cristo este
relacionamento foi recuperado!
Até que o homem foi fiel
ao seu Criador ele se manteve firme aos princípios da Aliança. Mas depois de
sua queda ele resiste aos princípios da Aliança e ao seu Instituidor e se torna
um prepotente, ao ponto de não somente se rebelar contra o seu Criador, mas de
discutir com Ele e querer enfrenta-lo. Isso se tornou tão sério que foi
necessário Deus lhe dizer:
QUEM ÉS TU, Ó HOMEM, PARA DISCUTIRES
COM DEUS?!
Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim (Rm 9.20)?
De toda a Criação a única
criatura que contende com Deus é o homem, o restante tudo se submete a Ele. Isso
acontece porque a inimizade criada pela queda do homem o afasta completamente
de seu Criador. Assim a Bíblia define o homem decaído:
Ora, O HOMEM NATURAL NÃO ACEITA
AS COISAS DO ESPÍRITO DE DEUS, porque lhe são loucura; E NÃO PODE ENTENDÊ-LAS, PORQUE ELAS SE DISCERNEM ESPIRITUALMENTE (1
Co 2.14).
Nesta situação o homem
resiste a tudo no que se refere a Deus, ou seja, não se submete mais a Ele. O
homem não aceita seus conselhos, não obedece a suas ordenanças e sequer tem
vontade de viver em comunhão com Deus. Ele perde aquela comunhão diária com
Deus e foge de sua presença, sempre que lhe ouve a sua voz lhe chamando, da
mesma forma que aconteceu no Éden depois da queda:
E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu:
OUVI A TUA VOZ NO JARDIM, E, PORQUE
ESTAVA NU, TIVE MEDO, E ME ESCONDI
(Gn 3.9-10).
Nesta situação ele jamais
voltaria ao seu Criador por iniciativa própria, pois dependeria totalmente da
misericórdia de Deus. É a verdade expressa na fala de Paulo quando diz:
Assim, pois, NÃO DEPENDE DE QUEM
QUER OU DE QUEM CORRE, mas de usar Deus a sua misericórdia (Rm 9.16).
Relacionar-se com Deus não
depende mais do homem, mas sim de Deus. E Deus providenciou o caminho de
retorno do homem à comunhão com Ele. Deus não abandonou o pactuante à mercê da
desgraça em que caiu. Existe um retorno, existe um caminho, existe uma
redenção, especialmente e amorosamente preparada para o homem. Mas é necessário voltarmos à Bíblia para vermos o
que nos é revelado a respeito do homem perante o seu Criador. Feito isso, logo
se percebe a miséria do homem, a sua prepotência, a dureza de seu coração, a
impossibilidade de ele retornar ao seu Deus pela sua própria vontade e esforço,
e o tanto que ele necessita de salvação. O pactuante perdeu o Jardim do Éden e
de lá foi expulso, mas aqueles que são regenerados ganham o Paraíso de Deus e
lá viverão em harmonia, em comunhão com Ele, sem nenhuma expectativa de nova
maldição, de nova desobediência, de nova rebelião. Que Deus te abençoe a
entender essa verdade!
02 – A ALIANÇA ADÂMICA E O LIVRE ARBÍTRIO DO HOMEM:
A primeira aliança Deus fez com Adão
e Eva. Nesta Aliança Deus deu-lhes a Terra e o pleno domínio sobre os animais.
Deu-lhes fartura de alimento, abençoou-os e disse-lhes que deveriam ser
fecundos e se multiplicarem. Mas estabeleceu condições: Não deveriam comer do
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nesta ordem de Deus o
princípio da obediência estava criado.
A contrapartida da Aliança Adâmica
não era a fé, pois eles viam a Deus todos os dias. O relacionamento entre eles
era pessoal e físico, não havia espaço para a fé. A contrapartida da Aliança
Adâmica era a fiel obediência a Deus. Se eles comessem o fruto da árvore
proibida, eles morreriam. Não havia nada de obscuro nos termos da Aliança. Adão
e Eva entenderam muito bem o que Deus lhes havia ordenado, tanto que Eva assim
respondeu à tentação da serpente:
Respondeu-lhe a mulher: DO FRUTO DAS ÁRVORES DO JARDIM PODEMOS
COMER, MAS DO FRUTO DA ÁRVORE QUE ESTÁ NO MEIO DO JARDIM, DISSE DEUS: DELE NÃO
COMEREIS, nem tocareis nele, para que não morrais (Gn 3.2-3).
Ela sabia da ordem expressa de Deus,
contudo, desobedeceu, comeu e deu ao seu marido e ele também comeu. Quebraram a
aliança, e experimentaram imediatamente a morte espiritual, e, depois, a morte
física.
Eles firmaram uma aliança, e a
natureza de uma aliança exige a possibilidade da obediência e da desobediência.
Por isso, em função dessa possibilidade, podemos ver na ordem de Deus a
necessidade de um teste. Deus sabe todas as coisas, Ele sabia do resultado
final do teste, mas era necessária a manifestação da decisão de Adão. E até
hoje Deus testa as pessoas para conhecer seu caráter, sua fé, sua obediência,
seu amor, sua integridade e sua lealdade, pois a Bíblia diz:
O crisol prova a prata, e o forno,
o ouro; MAS AOS CORAÇÕES PROVA O SENHOR
(Pv 17.3).
E diz também:
Como o crisol prova a prata, e o
forno, o ouro, ASSIM, O HOMEM É PROVADO
PELOS LOUVORES QUE RECEBE (Pv 27.21).
Adão e Eva receberam a vida e um maravilhoso
jardim para morar. Era necessário serem testados por Deus para que fossem manifestadas
as suas decisões.
Deus provou a Abraão, provou a Jacó,
provou a José, provou a Daniel, provou os amigos de Daniel e até mesmo seu
próprio Filho foi provado no deserto. A provação sempre é necessária para se
avaliar o resultado final, afinal, o homem foi dotado de livre arbítrio, era
fundamental a manifestação de sua vontade. E o comando específico para Adão de
não comer de uma determinada árvore, nada mais era do que uma
provação. Ela foi dada para ser o teste externo e visível para determinar
se ele estava disposto a obedecer a Deus em todas as coisas. Visto não estar
ainda confirmado o seu caráter, ele teria que ser posto à prova, submetendo-se
a uma experiência que diria se ele prestaria ou não obediência ao seu Criador.
Se Adão não tivesse a capacidade de quebrar a Aliança, a ordem de Deus não
teria sentido algum. Se não havia em Adão a possibilidade de comer daquele
fruto proibido o teste não teria nenhum sentido.
Quando pensamos na criação é
fundamental lembrar que no princípio, Deus, que é Espírito, decidiu criar todas
as coisas. A decisão da Criação originou-se no próprio Deus e não era por
necessidade, pois Deus é completo em si mesmo e não depende de nada e de
ninguém. No princípio, antes da queda de Adão e Eva, o mundo material e o mundo
espiritual coexistiram em harmonia, sendo que o mundo espiritual era habitado
por Deus e pelos anjos, e o mundo material pelos homens e pelas criaturas
criadas por Deus. Não temos a capacidade de compreender a Criação de Deus, o porquê
Ele fez assim ou assado, o porquê não ficou tudo como no mundo espiritual, mas
o que importa é crer no que a Bíblia nos revela da Criação: Deus criou todas as
coisas e tudo veio a existir pelo poder da sua Palavra. Deus ordenava e tudo se
fazia e tudo se criava.
Deus quis criar um planeta habitável,
com pessoas ocupando-o e vivendo nele. E por que Deus fez isso? Porque queria
se relacionar com essas pessoas no mundo físico e visível. Não era porque Deus
necessitava de companhia, porque vivia triste, ou estressado ou estava tendo
uma vida cheia de tédio, mas unicamente porque Ele queria se relacionar com
aquela criatura que Ele mesmo criou à sua imagem e semelhança. Além do mais a
Bíblia diz que a criação proclama a Glória de Deus, sendo a glória de Deus
imensurável, por que não ter infinitos mundos que refletem sua glória? Apesar
de que nem todo o Universo criado é suficiente para resplandecer toda a glória
de Deus.
Deus poderia ter permanecido somente
no mundo espiritual, com seres celestiais, mas aprouve a Ele estender seu
convívio a outro mundo e que seu Espírito vivesse dentro de outra criatura, uma
pessoa, criada à sua imagem e semelhança, para que este pudesse glorifica-lo e
se relacionar com Ele. Esta é a razão de, depois de fazer o mundo material, Ele
criou o ser humano do pó da terra, à sua própria imagem, dando a ele, além da
vida, um espírito, uma alma, uma extensão do próprio Deus. Deus soprou de seu
próprio Espírito para dentro do homem, para dar-lhe uma parte de si mesmo.
Assim, o homem tornou-se um ser vivo, sendo metade do pó da terra e metade de
Deus, livre para tomar as suas próprias decisões.
Porém, a Criação estava incompleta.
Sua vontade não era criar apenas um, mas deste vigorar uma descendência, pois
Deus não queria se relacionar somente com um indivíduo. Por isso, Deus tomou o
homem a quem Ele havia criado, tirou dele uma costela e fez dela uma mulher e
disse a eles: “Sede fecundos e
multiplicai-vos”. Ele queria ver aquele mundo que criou com muita gente
para poder se relacionar com eles, num mundo que até então era perfeito e vivia
em perfeita harmonia com seu Criador. Vamos ver essa vontade de Deus se
concretizar lá em Apocalipse, quando João escreve:
Depois destas coisas, vi, E EIS GRANDE MULTIDÃO QUE NINGUÉM PODIA
ENUMERAR, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas
mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no
trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação (Ap 7.9-10).
Mas muita coisa aconteceu entre o
Éden e este tempo predito em Apocalipse.
Para ter um relacionamento com o
homem e a mulher e habitar neles, Deus deu-lhes o livre arbítrio. Eles tanto
podiam decidir pela obediência como pela desobediência. Não havia neles
inclinação para nenhum lado, totalmente diferente depois da queda, em que o
homem é totalmente inclinado para o mal, de forma que ele se inclina para o bem
somente mediante a intervenção de Deus. Deus também lhes deu uma missão e
autoridade para executá-la, pois disse-lhes:
Sede fecundos, multiplicai-vos, ENCHEI A TERRA E SUJEITAI-A; DOMINAI
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja
pela terra (Gn 1.28).
E quando Deus diz uma coisa, a sua
palavra não pode mudar; ela permanece para sempre. Para nós, seres
completamente limitados, pode até parecer um grande erro de Deus o de ter
dotado o homem da importante capacidade de livre arbítrio, que é a capacidade
de praticar tanto o bem quanto o mal, e colocado o destino de sua Criação em
suas mãos. Mas Deus sabia perfeitamente o que estava fazendo e desejava não
apenas receber a adoração dos anjos, mas esperava também ter comunhão com um
ser que, espontaneamente, escolhesse observar o mandamento que Ele lhe dera,
amando-o, adorando-o e obedecendo-o! Assim era o homem no estado de sua
inocência, no seu estado primitivo, original, antes que ele tivesse a
experiência do pecado, enquanto ainda não fizera aquela escolha fatal, pois
fora criado por Deus com um livre arbítrio, muito diferenciado das demais
criaturas.
O psicólogo suíço Dr. A. Von Orelli
explicou da seguinte maneira a diferença entre o homem e o animal: Este nasce
com um “cartão perfurado” que vai para o computador de seu cérebro. Reage
instintivamente, respondendo sempre da mesma maneira aos estímulos de fome,
medo, frio e etc. Já o homem nasce com um “cartão em branco” no qual faz os
seus próprios furos. Enquanto influenciado por sua hereditariedade e meio
ambiente, ele é livre para fazer aquelas escolhas que, quando desenvolvidas,
formam a chamada “personalidade”. Sendo assim, se de um lado todos os animais
seguem padrões idênticos durante a vida, de outro lado o homem se enfrenta
continuamente com as mais variadas situações. A capacidade para escolher, a
vontade livre ou livre arbítrio é a diferença básica entre o homem e todo o
restante da criação de Deus.
O homem, criado à imagem e semelhança
de Deus, possui uma mente, um coração e uma vontade própria. A mente ou o
intelecto permite ao homem o pensar e agir racionalmente, não por puro instinto,
como um animal. O coração permite-lhe sentir, sendo forte o impacto em suas
emoções, o que faz com que ele ri, chora, fica nervoso, preocupado, dentre
outras ações emotivas, diferentemente de um robô ou uma máquina. A vontade
própria permite-lhe tomar as decisões ou fazer as escolhas que têm
consequências morais. É a sua capacidade para agir, uma capacidade que lhe
permite escolher isso sobre aquilo e aquele ao invés deste. O livre arbítrio é
o poder que a vontade humana tem de se determinar por si mesma, por sua própria
escolha, a agir ou não agir, sem ser constrangida a isso por força alguma,
externa ou interna.
A vida é um teste constante e uma
relação de confiança e nela recebemos, pela graça de Deus, muitas coisas. E
quanto mais Deus nos dá, mais responsáveis nos tornamos diante dele e mais
obedientes Ele espera que nós sejamos. Levando em consideração que a vida na
terra é uma atribuição temporária que recebemos de Deus, devemos ponderar
radicalmente os nossos valores. Valores eternos devem tornar-se fatores
decisivos para as nossas decisões, pois dessa vida transitória nada levaremos a
não serem nossas virtudes, pois somos peregrinos nesta terra. Depois da queda,
da decisão tomada pelo livre arbítrio do homem, para viver na terra e se
relacionar com o Criador é preciso ter fé. E aqueles que vivem para Deus são os
verdadeiros vencedores na vida. Que Deus te abençoe a entender esta verdade tão
importante para a vida. Amém!
03
– A ALIANÇA ADÂMICA E A REPRESENTATIVIDADE DE ADÃO:
Adão era o cabeça da raça
humana. Este é um termo teológico que significa representação. Há
duas pessoas que são cabeças da raça humana: Adão e Cristo. E com cada um deles
Deus fez uma aliança. Tanto Adão, como Cristo, atuaram no lugar de outros, cada
um representando legalmente pessoas definidas. Adão representou toda a raça
humana, enquanto que Cristo representou a todos aqueles que o Pai lhe deu. Quando
Adão pecou, quebrando dessa forma a sua aliança com Deus, toda a raça humana
mergulhou no pecado e na morte do pecado, o que significa que todos nós
nascemos dotados da natureza decaída de Adão e sem os preciosos dons de
conhecimento, justiça e santidade com os quais a natureza humana foi originalmente
dotada. Quando Adão caiu, todos os homens caíram com ele; quando morreu, todos
morreram com ele. Ele pecou, e todos sofrem as consequências de seu pecado e
vêm ao mundo com uma natureza corrompida. Veja o que Paulo escreveu:
Porque, ASSIM COMO, EM ADÃO,
TODOS MORREM, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Co 15.22).
Embora à razão humana possa parecer
injusta, a condenação de toda a raça humana por causa do pecado de Adão é
legítima. Aprouve a Deus lidar com Adão desta maneira, isto é, através dele,
representante de toda a raça humana. O Principio da representação é um dos
fundamentos de toda a sociedade. O pai é o cabeça legal de seu filho, assim como
uma casa comercial é legalmente responsável pelos atos de seus agentes. Reis,
presidentes e governantes são revestidos de autoridade para fazer tratados e
pactos que abrangem toda a nação. Toda a eleição política ilustra o fato de
que, através de um representante eleito, atue a vontade do povo, sendo o povo
preso pelos atos do seu representante. Assim é com a sociedade humana que não
poderia funcionar sem os seus representantes. Não se deve estranhar, então, que
Deus haja também dessa maneira racional.
O homem foi criado à imagem e semelhança de
seu Criador. Ele foi criado perfeito e por causa dessa perfeição relacionava-se
face a face com seu Criador. Para felicidade e esperança do homem, ao cria-lo,
Deus faz com ele uma Aliança. E assim a Bíblia descreve esta Aliança:
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem
e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: SEDE FECUNDOS, MULTIPLICAI-VOS, ENCHEI A TERRA E SUJEITAI-A; DOMINAI
SOBRE OS PEIXES DO MAR, SOBRE AS AVES DOS CÉUS E SOBRE TODO ANIMAL QUE RASTEJA
PELA TERRA (Gn 1.27-28).
O dever do pactuante era ser
fecundo, encher a Terra e se multiplicar e dominar sobre a toda a Criação. E
como toda aliança tem direitos e deveres, Deus descreve o que Ele fez:
E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente
e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que
dê semente; ISSO VOS SERÁ PARA
MANTIMENTO. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a
todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será
para mantimento. E assim se fez (Gn 1.29-30).
No princípio da Aliança,
a cadeia alimentar do homem era os frutos e as ervas, tanto para o homem como
para os animais. E Deus estabelece o que o homem deveria fazer, pois havia uma
coisa que o homem não poderia fazer:
E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: DE TODA ÁRVORE DO JARDIM COMERÁS LIVREMENTE, MAS DA ÁRVORE DO
CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL NÃO COMERÁS; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás (Gn 2.16-17).
Ele não podia comer determinado
fruto. Apenas uma, das muitas variedades de frutos, ele não podia comer. Este
era o acordo, esta era a Aliança. A
responsabilidade de Adão era imensa. Ele foi o primeiro homem criado. Ele foi
colocado no Jardim do Éden e ali ele estava representando toda a humanidade, de
forma que, quando Adão comeu daquele fruto, era como se cada um de seus descendentes
tivessem comido com ele. É isso que a Bíblia quer ensinar quando diz:
Portanto,
ASSIM COMO POR UM SÓ HOMEM entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram (Rm 5.12).
Isso aconteceu porque Adão era o nosso
representante, o nosso embaixador. Adão falhou em sua obediência a Deus caindo
em pecado e, pela representação que possuía, conduziu todos os seus
descendentes ao pecado e à punição pela desobediência. Se esta punição era a
morte, então, quando Adão morreu (espiritualmente) todos morreram com ele.
Portanto, na representação de Adão, temos o que podemos chamar de desobediência
fatal.
Enquanto Adão viveu no Jardim do Éden, ele
viveu em plena paz com Deus e conversavam entre eles pessoalmente, todos os
dias, por ocasião da virada do dia. Era um relacionamento perfeito sem nenhuma
barreira entre ambos. Mas Adão não levou em consideração a harmonia que havia
entre ele e Deus no momento em que lhe fora oferecido o fruto proibido pela sua
mulher. Ele poderia ter se recusado a comer e repreendido sua mulher por ter
comido, mas, sem hesitar, ele desobedece a Deus e come também do fruto que não
era pra comer. A partir daquele momento Adão perde sua perfeição e o paraíso em
que vivia. E o pior é que ele representava toda a humanidade, de forma que
todos nós sofremos as consequências de sua desobediência. E assim como Deus vê
Adão culpado, assim também Ele vê toda a humanidade culpada e contaminada pelo
pecado.
Hoje, como sempre houve, há muitas pessoas que
são incrédulas. E como o ser humano sempre procura uma justificativa para os
seus erros, questionamentos a respeito da representação de Adão são motivos
muito citados por eles. O mais comum é: Como Deus pode comprometer toda a
humanidade por causa do erro de um só homem? Ele não está sendo justo. Deus não
nos trata individualmente, recompensando a cada um segundo as suas obras? O que
nós temos a ver com Adão? Tais questionamentos são desculpas para se esquivarem
de Deus. O fato é que precisamos compreender a obra de Deus na salvação de seus
eleitos, precisamos ter uma perfeita compreensão da obra redentora de Jesus
Cristo e precisamos entender a representatividade de Adão. Voltando ao texto
acima que diz:
Portanto, ASSIM COMO POR UM SÓ HOMEM ENTROU O PECADO NO MUNDO, e pelo pecado,
a morte, ASSIM TAMBÉM A MORTE PASSOU A
TODOS OS HOMENS, PORQUE TODOS PECARAM (Rm 5.12).
Paulo apresenta aqui o que conhecemos como a
doutrina do pecado original. Ou seja, todos nós pecamos com Adão, nosso
representante, quando ele pecou. Somos herdeiros de uma herança de morte e de
transgressão. Por apenas um único ato, de um único homem, toda a humanidade
ficou condenada à miséria. Adão carregava grande responsabilidade no poder de
sua decisão. Sua desobediência foi uma declaração de óbito de toda a raça
humana e a morte é a declaração dessa derrota.
A representatividade de Adão pode ser
ilustrada pela representação de nossos governantes. As decisões deles afetam a
todos nós. Se nosso governante maior se desentender com algum país e nos levar
a uma guerra, todos nós estaremos em guerra com este país, todos nós seremos considerados
inimigos e todos nós seremos afetados por ela, porque sua posição representa
toda a nação, mesmo que nem todos compartilhem de suas ideias. Este princípio
pode ser aplicado a Adão. Deus, ao olhar a transgressão de Adão, olha com ira e
justiça para todos aos que nascem, porque herdamos o gene do pecado de Adão. E
o que aconteceu entre Adão e Noé é a prova concreta da enrascada em que Adão
colocou a humanidade, pois nos dias de Noé:
Viu o SENHOR QUE A MALDADE DO HOMEM SE HAVIA MULTIPLICADO NA TERRA E QUE ERA
CONTINUAMENTE MAU TODO DESÍGNIO DO SEU CORAÇÃO (Gn 6.5).
Separado de Deus não poderia haver
outro caminho para o homem senão aquele em que prevalece a maldade de seu
coração.
O sentimento de Deus ao olhar para a sua
criação foi de tristeza e decepção. O que mais se podia esperar de uma
humanidade corrompida pelo pecado? Herdeiros de uma herança maldita? E não foi
por falta de avisar, pois Deus lhes falou das consequências imediatas do
pecado:
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem:
De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não comerás; PORQUE, NO DIA
EM QUE DELA COMERES, CERTAMENTE MORRERÁS (Gn 2.16,17).
Essa palavra se cumpriu e devastou a
humanidade. As sequelas foram tão fortes que, mesmo regenerados, somos
herdeiros de Adão, e ainda carregamos os efeitos de sua morte em nossa carne.
Mesmo regenerados, enquanto vivermos neste mundo, vivemos sob a influência do
pecado e por causa disso ainda pecamos. E até aos dias de hoje a Bíblia nos
alerta dizendo:
PORQUE O SALÁRIO DO PECADO É A MORTE, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor (Rm 6.23).
CONCLUSÃO:
O pactuante, como parte decaída da
Aliança, tornou-se totalmente dependente de Deus. Ele foi criado livre e fez a
sua escolha e pela sua representação as consequências de sua escolha atingiu
toda a raça humana. E Por causa da representatividade de Adão e de sua
desobediência, somos alertados a
viver em constante vigilância para lutarmos contra esta força opressora, tão
forte em nossa existência. A harmonia que existia com Deus desapareceu com a
queda de Adão e foi restaurada em Cristo. Agora, somente em Cristo encontramos
o caminho de volta para Deus, porque somente Ele pode nos representar diante de
Deus. Por isso Ele diz:
EU
SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA, NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM (Jo
14.6).
Que Deus lhe conceda a luz de Cristo para que,
através dele, venhas a encontrar o caminho de volta a Deus e, assim, possas viver
em harmonia com este Deus que lhe demonstrou na cruz tão imensurável amor!
Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia
Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e
Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Revista
Palavra Viva: O Pacto da Graça.
Editora Cultura Cristã.
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