Para Refletir

Há momentos na vida difíceis de serem suportados, em que a única vontade que sentimos é de chorar, pois parecem arruinar para sempre nossa vida. Quando um destes momentos chegar, lembre-se que ainda não chegou o fim, que a sua história ainda não acabou e que ainda há esperança. Corrie Ten Boom disse: "não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo". Este amor você encontra aqui, um lugar de esperança, consolo e paz, e aqui encontrará a oportunidade de conhecer a verdadeira vida, uma vida abundante com Cristo.

sábado, 11 de março de 2023

A ORDEM NA APLICAÇÃO DA SALVAÇÃO E SUA PLENITUDE

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.29,30).

INTRODUÇÃO:

Quais são as etapas da salvação? Existe uma ordem na maneira como Deus aplica a salvação? Esta ordem pode ser divisível? Como e quando a salvação se completa em sua plenitude?

A salvação do homem é um plano da graça soberana de Deus o qual capacita a todos aqueles que Ele mesmo escolheu a crer. Ela é a eterna decisão de Deus de conduzir seus filhos à glória e fazê-los a olharem para essa glória como uma certeza garantida.

No texto acima Paulo fala de uma ordem da salvação, onde é possível distinguir os vários elementos que compõem a salvação e aponta os aspectos da salvação que se sucedem um a um, sendo eles: Vocação, Regeneração, Fé e Arrependimento, Justificação, Adoção, Santificação, Perseverança e Glorificação. Todos esses aspectos fazem parte da salvação a qual é aplicada em um único ato e se completa em sua sequência. E para experimentá-la em sua plenitude o perdido precisa passar por todas essas partes.

01 – A SALVAÇÃO COMO UM PROCESSO UNITÁRIO:

É inegável que a Bíblia apresenta uma ordem ao que se refere à salvação, pois em sua aplicação há etapas que realmente vem antes e outras que são posteriores. Por exemplo não tem como você ter fé sem antes ouvir a Palavra de Deus. Porém, é um erro pensar que exista um esquema fixo que possa ser estabelecido de forma cronológica. Louis Berkhof diz:

Quando falamos de uma Ordo Salutis (Ordem da Salvação), não nos esquecemos de que a ação de aplicar a graça de Deus ao pecador individual é um processo unitário, mas simplesmente ressaltamos que é possível distinguir vários movimentos no processo, que a obra de aplicação da redenção segue uma ordem definida e razoável, e que Deus não infunde a plenitude da sua salvação ao pecador num único ato.

Mesmo que haja aspectos que possam ser identificados e que demonstram uma lógica pela qual ela se concretiza, a salvação é uma obra indivisível. Ela é um ato único de Deus, um processo unitário que ocorre na vida do agraciado. Há na salvação um desenvolvimento, mas também que cada etapa aplicada faz parte de um conjunto fechado. A Bíblia demonstra claramente os vários aspectos da salvação que podem ser verificados na vida de quem lhe é aplicada. Sendo eles:

a) O novo nascimento ou regeneração:

Este é o ponto inicial da salvação. É quando Deus desvenda os olhos do eleito para que este veja e abre seus ouvidos para que ouça. É o toque irresistível de Deus. E para que o homem possa prosseguir para as fases seguintes da salvação Deus o regenera. Quanto a isso a Bíblia diz:

Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pd 1.23).

Após ouvirmos e sermos despertados pelo Espírito acontece em nós o arrependimento e a confissão de nossos pecados, o reconhecimento da nossa culpa e da inocência de Jesus que pagou pelos nossos pecados. Nesta hora somos regenerados e somos transformados pela ação de Deus em uma nova criatura. Por isso que Paulo diz:

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (2 Co 5.17).

É o nascer de novo anunciado por Jesus a Nicodemos.

b) O crer em Cristo:

A Bíblia diz:

E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.17).

O ponto primordial da salvação é a pregação do evangelho, pois é pelo ouvir que somos despertados por Deus e motivado pelo seu Espírito a crer. É certo que nem todos que ouvem creem, pois o crer não depende do ouvir, mas da ação do Espirito Santo. Contudo, é o ouvir que o Espírito usa em sua ação, além do fato de que o anúncio realizado ser um elemento de prova contra aqueles que se recusaram a atender ao chamamento de Deus.

c) A Justificação pela fé:

Ao sermos regenerados e, assim, capacitados a crermos em Cristo através da pregação do evangelho, acontece a justificação. A Bíblia diz:

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).

A justificação é algo que nos é imputado e não algo que nós conquistamos. Na queda de Adão nos separamos de Deus e nos tornamos culpados. Era necessário sermos resgatados, mas para isso havia um preço a ser pago pelos nossos pecados. Jesus pagou este preço e seu valor foi aceito por Deus, de forma que não somos justificados pelos nossos méritos, mas pelos méritos de Cristo. Isso nos mostra de que não somos justificados pelas nossas obras, pois a Bíblia diz:

Visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso (Rm 3.30).

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8,9).

É por causa da justificação que somos aceitos novamente na presença de Deus. É o culpado desprovido de sua própria justiça, mas revestido da justiça de Cristo.

d) O selo do Espírito:

Após a regeneração em que procede o arrependimento, a fé e a confissão, somos justificados, ou seja, declarados inocentes pela justiça de Cristo, somos, por fim, selados pelo Espírito Santo. Bíblia diz:

Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1.13,14).

A partir do momento de nossa regeneração e justificação somos selados pelo Espírito Santo. Este selo é a nossa garantia da plenitude da salvação, de que aquele que iniciou em nós a sua salvação há de completa-la até ao seu elemento final com a glorificação. É também por causa deste selo que somos preservados contra a ira do Diabo o qual não pode tocar naquele que foi selado pelo Espírito. Por causa deste selo que Jesus afirma que nenhum de seus escolhidos se perderá.

e) A Adoção na família de Deus:

A Bíblia diz que a habitação do Espírito em nós faz-nos filhos adotivos de Deus e herdeiros:

Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados (Rm 8.14-17).

Após sermos regenerados, despertados pelo Espirito Santo a crer e a ouvir ao evangelho, e ainda justificados em Cristo e selados pelo Espírito Santo, somos por fim adotados por Deus. Já não somos somente criaturas de Deus, mas sim filhos e com direitos a herança de Deus. É o que acontece com todo aquele que recebe a Jesus Cristo em seu coração através de um verdadeiro arrependimento.

f) A Libertação do pecado:

Aqui começa a fase da santificação. A Bíblia diz que somos libertados do pecado para enfim podermos viver para Deus:

Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim (Gl 2.19-20).

Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Rm 6.11-14).

Ser libertado do pecado não significa de que não vamos mais pecar e nem que Deus não considera mais nossas transgressões como pecado, mas sim de que o pecado não terá mais domínio em nossa vida. Não seremos mais escravos do pecado.

g) A Glorificação:

A Bíblia diz que o fato de sermos filhos nos garante que no futuro seremos glorificados:

Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é (1 Jo 3.2).

A glorificação é o elemento final da salvação. Neste momento viveremos a plenitude da salvação de Deus. Isso não acontecerá neste mundo, mas somente no instante em que tomarmos posse do Reino de Deus. Este momento se inicia com nossa morte, mas sua plenitude acontecerá somente quando sermos ressuscitados por Cristo.

Diante do exposto podemos afirmar que realmente existe uma ordem na aplicação da salvação. Mas também que a salvação deve ser entendida como um procedimento único, pois não é possível que alguém seja salvo experimentando, por exemplo, a regeneração, sem que seja justificado, ou ser justificado sem antes ser santificado. Necessariamente, para que a salvação seja completamente realizada, todos os aspectos precisam encontrar lugar na vida daquele que foi salvo.

Além disso, é fundamental entender que todo o processo de salvação é obra de Deus. Tão somente Ele é o responsável pela efetivação de cada etapa da nossa salvação. Assim diz: McGregor Wright:

Deus salva. Deus não faz meramente o suficiente para tornar a salvação possível, deixando para nós o trabalho de abrir o caminho, ‘para merecer os méritos de Cristo’, fazendo a nossa parte, para tornar o meramente possível uma realidade. Cada elo na corrente da redenção é forjado na bigorna de Deus do começo ao fim.

Em todos os seus aspectos a salvação pertence ao Senhor. Há em sua aplicação uma ordem cronológica de etapas, mas, ao mesmo tempo, ela é uma obra indivisível, pois ela não pode acontecer sem que todos os elementos que a compõem sejam evidenciados na vida do salvo.

02 – A SEQUÊNCIA DE EVENTOS NA SALVAÇÃO:

Nosso texto básico acima é o que mais expressa na Bíblia a existência de uma ordem na salvação do homem. Vale lembrar que um dos principais assuntos que Paulo tem em mente no capítulo oito de Romanos é o sofrimento. Ali ele diz:

Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Rm 8.18).

E este sofrimento é tão intenso que vai além da humanidade, pois ele diz:

Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora (Rm 8.22).

E ao falar de nosso sofrimento ele lembra do Consolador prometido por Jesus Cristo que veio para nos auxiliar em nossas fraquezas:

Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos (Rm 8.26-27).

E nos consola ao afirmar sobre a contribuição de todas as coisas para o nosso bem, sejam elas boas ou sejam elas más:

Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28).

Depois de toda essa introdução, finalmente Paulo menciona a ordem existente na salvação ao aludir sobre o eterno propósito de Deus aos seus escolhidos:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.29-30).

Aqui Paulo estabelece uma ligação na sequência de eventos ocorridos na redenção para demonstrar que Deus já vinha agindo na vida dos salvos desde o princípio e o continuará fazendo até ao fim, conduzindo seus eleitos à salvação completa. Toda essa argumentação foi a base de Paulo para finalmente dizer:

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.31-39).

Olhando para essa sequência de fatos do capítulo oito de Romanos entendemos melhor sobre essa finalização de Paulo. Nela, podemos apresentar a seguinte ordem existente na salvação:

a) Da Predestinação à Vocação:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou... (Rm 8.29,30).

Paulo começa falando que Deus conheceu de antemão seus escolhidos, ou seja, os conheceu na eternidade, antes de suas existências. Aqui Paulo quer dizer que Deus conheceu as pessoas e não os fatos ou acontecimentos relativos a elas, tanto que a predestinação tem como base a graça de Deus e não as obras do escolhido. Conhecer subentende-se uma relação pessoal, íntima, e não meramente a consciência de fatos e circunstâncias. É claro que Deus é Soberano ao ponto de conhecer de antemão os eventos de nossa vida, mas eles não tiveram nenhuma influência na escolha, pois foi por sua própria iniciativa que Deus escolheu aos seus eleitos, objetos de seu gracioso amor.

A predestinação é o primeiro ato da salvação. Somente serão salvos aqueles que foram predestinados para a salvação. É muito difícil para o homem entender e aceitar este fato. Ele não consegue discernir o fato de que não teve e não tem participação nenhuma em sua salvação, não consegue entender que ele crê porque Deus origina nele a fé, não consegue entender que ele é santo não pelo fato de evitar o pecado, mas no fato de ser vocacionado por Deus para isso. Contudo, a predestinação é um ensino claro e inegável das Escrituras. Ela diz:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado (Ef 1.3-6).

A predestinação é o ato pelo qual Deus escolheu alguns para salvação e deixou outros para receberem a punição por seus pecados. E este ato de escolha ocorreu antes da fundação do mundo. E neste ato Deus não cometeu nenhuma injustiça, pois ele não provocou a perdição daquele que não foi eleito, sendo que ele já estava condenado ao inferno. Ele simplesmente não quis escolher a todos.

E o que é vocação? Paulo diz que aos que predestinou a esses também chamou. Vocação é o momento do chamado divino e está ligado ao ouvir a Palavra de Deus. É o momento quando o pecador é regenerado para ouvir a pregação do evangelho e, tocado pelo Espírito Santo, responde positivamente a este chamado. Portanto, a predestinação está antes do tempo, na eternidade, e a vocação é o momento quando a escolha divina se concretiza e provoca a resposta do ser humano ao chamado do evangelho. Entendemos o sentido da vocação quando Jesus disse:

E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles (Mc 4.9-12).

Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Lc 10.20-22).

Estes textos reforçam a predestinação dos eleitos de Deus e a capacitação que eles recebem de Deus em crer.

b) Da Vocação à Justificação:

... e aos que chamou, a esses também justificou... (Rm 8.30).

A justificação é o ato pelo qual Deus declara justo o homem pecador. E isso ocorre não por causa de qualquer mérito pessoal, mas tão somente por causa dos méritos de Cristo que, com seu precioso sangue, satisfez a justiça divina e, assim, resgatou o homem do pecado, substituindo-o na cruz. É com base nos méritos de Cristo que Deus declara justo o pecador.

Na fase do chamado à justificação acontecem, simultaneamente: A Regeneração, o Arrependimento, a Fé e o Selo pelo Espírito Santo. Não há uma ordem temporal nesses elementos, pois todos eles ocorrem simultaneamente. Apenas a regeneração tem alguma prioridade, porém, não uma prioridade temporal. Hoekema diz:

Mesmo essa prioridade da regeneração não pode ser entendida como indicando uma ordem cronológica ou temporal. A relação entre regeneração e, digamos, fé é como a que existe entre apertar o comutador da energia e inundar o quarto de luz – as duas ações são simultâneas.

A regeneração tem prioridade causal sobre os outros aspectos do processo da salvação, pois não há como você ter fé sem antes ter sido regenerado. Ela é o momento quando Deus capacita o homem a responder ao seu chamado. Por essa razão ela tem prioridade.

c) Da Justificação à Glorificação:

... e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.30).

A glorificação é a parte final da salvação. Ela deve ser entendida como o momento em que Jesus vai voltar e os mortos em Cristo ressuscitarem e os vivos serem transformados:

Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.16-17).

Será aquele momento em que o corpo mortal se revestirá de imortalidade:

Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória (1 Co 15.53-54).

Da justificação à glorificação estão incluídos a santificação e a perseverança. Embora são elementos distintos são também simultâneos e embora a santificação e a perseverança caminhem na mesma direção elas são coisas diferentes. A santificação refere-se ao abandonar o pecado e viver para a justiça e perseverança é o ato de permanecer firme na graça de Deus até ao fim. A salvação é um trabalho unitário de Deus a qual ocorre em passos sucessivos os quais são indivisíveis.

03 – OS EFEITOS DO PRESENTE DA SALVAÇÃO E SUA PLENITUDE NO FUTURO:

Apesar de parecer bem claramente de que há aspectos subsequentes na ordem da salvação que, porém, não podem ser separados, pois a salvação é um evento unitário de Deus, há ainda algo que precisa ser considerado: O evento contínuo da salvação, que se iniciou com a escolha por Deus de seus eleitos e se consumará na glorificação destes eleitos.

Podemos dizer que, de certa forma, o salvo já desfruta de todos os aspectos da salvação, os quais lhes foram dados instantaneamente em um único ato. Porém, ao mesmo tempo, muitos destes aspectos só serão plenos na volta de Jesus Cristo.

A santificação é um exemplo disso. Há um sentido na santificação em que já somos santos, porque, pela imputação da justiça de Cristo em nós, somos automaticamente santificados, o que vem a significar que fomos separados por Deus para um propósito. Porém, ainda pecamos e, portanto, ainda não somos santos no sentido literal da palavra e, dessa forma, precisamos nos santificar. Portanto, a santificação é algo que precisa ser desenvolvido e que será plena somente no dia de nossa glorificação, por ocasião da ressurreição, mas em outro sentido já somos santos, pois fomos santificados em Cristo Jesus:

Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1 Co 6.9-11).

Observe que Paulo menciona nossa situação decaída no passado. Contudo, ainda vivemos o processo da santificação:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1-2).

Há um processo contínuo a ser realizado em nossa santificação, o qual se findará somente com a glorificação. E o mesmo pode ser dito a respeito da regeneração, que acontece no início da vida cristã, porém, seus efeitos continuam por toda a vida, à medida que os salvos desenvolvem a vida regenerada. Da mesma forma acontece com o arrependimento e a fé, os quais ocorrem no início da vida cristã, mas que precisam ser exercidos continuamente na vida. E da mesma forma a justificação, que embora ocorra no momento da conversão do pecador e ele já se encontra justificado, contudo, ele precisará, ao longo da vida, se apropriar de seus benefícios.

Portanto, é muito óbvio de que a santificação e a perseverança duram a vida inteira. Isso nos ensina de que todos os aspectos da salvação devem permanecer, pelo menos em seus efeitos, durante a vida inteira do salvo, até aquele momento em que ele será glorificado, momento em que finalmente poderá gozar da plenitude da salvação.

Os aspectos da salvação são realidades contínuas na vida do salvo porque existe uma interação em seus elementos, que são simultâneos, contudo, produzem efeitos uns aos outros. A regeneração se manifesta por meio da fé e do arrependimento e a verdadeira fé produz frutos de santificação para que se desenvolva a perseverança.

Esta interação nos mostra que é impossível ser justificado sem ser santificado, como também é impossível ser realmente convertido e não perseverar na fé. O verdadeiro arrependimento não existe sem a verdadeira fé, a qual dá o devido valor ao arrependimento. Todos os aspectos da salvação se inter-relacionam e produzem efeitos uns nos outros.

E esta interação é a resposta de uma intrigada pergunta: Depois de regenerado posso perder a salvação? Considerando que a salvação é um ato de Deus e que quando Ele inicia este ato na vida de uma pessoa é responsabilidade da Trindade Santa de consumi-la, podemos dizer que não. Mas como explicar o fato de muitos abandonarem a fé? Simples: Eles nunca a tiveram. Jamais foram regenerados, jamais nasceram de novo, jamais creram e foram justificados, jamais foram selados pelo Espírito Santo e santificados e por causa de tudo isso a glorificação não poderia acontecer na vida destas pessoas. A interação completa em nossa salvação demonstra a nossa participação na eleição divina, ou seja, pelo fato da salvação ser aplicada até a sua plenitude é a prova de que fazemos parte dos eleitos de Deus. Aqueles que não foram até ao final nunca fizeram parte.

CONCLUSÃO:

Regeneração, Vocação, Conversão, Arrependimento e Fé, Justificação, Santificação, Perseverança e Glorificação são aspectos da salvação. Esta salvação é uma obra unitária, um ato gratuito e exclusivo de Deus em todos os seus aspectos, pois desde os primeiros sentimentos em nosso coração de conhecer a Deus e todos os passos subsequentes necessários para trazer o homem de volta à comunhão com Deus é obra da Trindade Santa, tendo Deus como parte a eleição de seus escolhidos na eternidade, Jesus Cristo como o agente, o autor da salvação e o Espírito Santo como aquele que aplica esta salvação aos eleitos de Deus. Que Deus te abençoe e lhe capacite a crer nestas palavras, a se arrepender e confessar os seus pecados e assim se iniciar em tua vida o processo de salvação. Acontecendo isso em tua vida tenha a certeza de que Deus consumará em tua vida a sua salvação. Amém!

Luiz Lobianco

luizlobianco@hotmail.com

 

Bibliografia:

Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.

Louis Berkhof. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992. p. 416.

R. C. McGregor Wright. A Soberania Banida. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. P. 102.

Anthony Hoekema. Salvos Pela Graça. São Paulo. Editora Cultura Crista, 1997. P. 20-21.