30 E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a
esses também glorificou (Rm 30).
Introdução
Jesus Cristo é o autor da salvação, e
Ele veio a este mundo para “buscar e salvar o perdido”. Sua vida e obra tinham
por objetivo chamar os pecadores ao arrependimento e estender-lhes Sua graça
salvadora. Os pecadores arrependidos submetem sua vontade ao divino Mestre e
seus pecados são perdoados, são salvos da culpa do pecado, e Deus os justifica
através de Cristo. Com isso são promovidos do império das trevas para serem
cidadãos do Reino de Cristo. Isto não envolve apenas uma troca de cidadania,
mas também de filiação, pois a Bíblia diz que o crente, sendo “por natureza
filhos da ira”, tornam-se agora filhos do Pai celeste por adoção, o que resulta
em profunda e genuína paz interior. Esta experiência chama-se Justificação, e
ela ocorre num instante apenas, que é quando aceitamos a Cristo como nosso
Salvador e somos colocados num correto relacionamento com Deus.
Cristo, porém, não nos chama para um
contato esporádico, mas para uma vida de interação e de constante comunhão com
Ele. Ora, como recebestes a Cristo Jesus,
o Senhor, assim andai nele (Cl 2.6). É exatamente neste aspecto da salvação
que muitos cristãos têm falhado, pois aceitaram a Cristo com sinceridade de
coração, mas não permanecem nele. Sua experiência cristã é resumida apenas ao
primeiro e único encontro com Cristo. Contudo, a Santificação não é algo de um
momento, mas algo para durar a vida toda. Não se alcança a Santificação com um
feliz vôo de sentimentos momentâneos, mas ela é o resultado de morrer
constantemente para o pecado, e viver constantemente para Cristo. Na verdade, a
santificação é uma obra para uma existência, seja ela longa, como fora para
Enoque, ou curta, como fora para o ladrão na cruz.
Finalmente, ocorrerá ao cristão a
última experiência da salvação: a Glorificação. Esta experiência também
ocorrerá em instantes, como a Justificação, mas suas conseqüências serão tão
vastas como a própria eternidade. Será uma gloriosa experiência. Não haverá
mais nenhuma rebelião. O pecado jamais fará parte desta experiência. Todos
estarão por todos os séculos garantidos contra a apostasia. Isso ocorrerá
quando Jesus Cristo se manifestar nas nuvens do céu com poder e glória para
resgatar Seus filhos e, transformados seremos todos, num momento, num abrir e
fechar dos olhos.
O que se pode notar na salvação do
homem é a ordem seqüencial de experiências: Justificação è Santificação è Glorificação. Não se pode pular
nenhuma destas etapas e nem mudar sua seqüência. Nosso foco hoje é a
Glorificação. O que a Bíblia nos ensina sobre ela?
1 – A Glorificação é o
ato final no processo da salvação
A Glorificação é um ato futuro,
escatológico, que se dará na segunda vinda de Cristo, na consumação de todas as
coisas. Ela é o estagio final do processo de Salvação. A Glorificação é o ponto
em que a doutrina da Salvação e a doutrina das últimas coisas se entrelaçam.
A Glorificação é o estado futuro do
salvo em Cristo, mas como isso acontecerá e o que isso implica?
A
– Na Glorificação haverá a transformação do corpo
Quando Cristo nos redimiu, ele não
redimiu apenas a nossa alma, mas inteiramente, como pessoa, o que inclui a
redenção do nosso corpo e espírito. A extensão da obra redentora de Cristo não
estará completa até que nosso corpo seja inteiramente libertado dos efeitos da
queda e levado ao estado de perfeição para o qual Deus nos criou.
A redenção do nosso corpo acontecerá
somente quando Jesus voltar e nos ressuscitar dentre os mortos. A Bíblia diz
que um dia seremos semelhantes a Cristo:
2 Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda
não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é (1 Jo 3.2).
Em que sentido seremos semelhantes a
Cristo? No sentido de termos o mesmo corpo de glória do Senhor Jesus depois de
ressurreto. Isso significa que o seu corpo de fraqueza será um corpo de poder,
o seu corpo mortal será um corpo imortal, o seu corpo corruptível será um corpo
incorruptível, o seu corpo fraco será um corpo poderoso, o seu corpo tão
debilitado será um corpo de glória.
21
o qual transformará o nosso corpo
de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do
poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas (Fp 3.21).
Hoje, em seu corpo, você tem fraqueza,
tem dor, tem doença, tem cansaço, tem fadiga, tem velhice, mas depois, na
Glorificação, você terá um corpo de glória.
Paulo, em sua primeira carta aos
coríntios, fala sobre a esperança que deve morar no coração de cada cristão: a
glorificação do corpo. No decorrer de todo o capítulo 15, ele descreve como se
dará esse estágio, prometido àqueles que nasceram de novo. Ele menciona a
existência de um corpo natural e de um celestial:
44
... Se há corpo natural, há também corpo espiritual.
E diz que nem todos os corpos são
iguais:
39 Nem toda carne é a
mesma; porém uma é a carne dos homens, outra, a dos animais, outra, a das aves,
e outra, a dos peixes.
40
Também há corpos celestiais e corpos terrestres...
Paulo distingue não só o corpo do
homem natural com a do corpo espiritual de Cristo ressuscitado, como também a
glória entre ambos:
40 ... e, sem dúvida, uma é
a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres.
41
Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas;
porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor.
45
Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente.
O último Adão, porém, é espírito vivificante.
47
O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu.
E continua falando da seqüência que
será para nós estes corpos:
46
Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual.
Ou seja, primeiro passamos pelo corpo
natural, para depois possuirmos o celestial. E Paulo fala também da
conseqüência existente em cada estágio:
48 Como foi o primeiro
homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem
celestial, tais também os celestiais.
49
E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também
a imagem do celestial.
Mas isso ocorrerá somente na
ressurreição do corpo. Usando o exemplo de lançar a semente no solo e então
aguardá-la crescer e se tornar algo muito mais maravilhoso, Paulo passa a
explicar em detalhes como que nosso corpo será transformado:
42 Pois assim também é a
ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na
incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória.
43 Semeia-se em fraqueza,
ressuscita em poder.
44
Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual...
Paulo fala ainda da necessidade da
ressurreição, pois o corpo natural jamais pode herdar o céu:
50
Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de
Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção.
Por isso que aquele que não passar
pela ressurreição será transformado:
51 Eis que vos digo um
mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos,
52 num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.
53
Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.
Este grande acontecimento será a troca
da corruptibilidade de nosso atual corpo por um corpo incorruptível, semelhante
ao que Jesus possui desde a ressurreição. Um corpo celeste, perfeito e
incorruptível, mas ao mesmo tempo literal e palpável, um corpo não limitado
pelo tempo, massa, gravidade e espaço. Seu corpo ressurreto atravessou a
montanha do sepulcro (pois a pedra foi retirada para assombro dos guardas e para
que as mulheres e demais discípulos pudessem ver e entrar, não para que Cristo
pudesse sair).
A vinda de Jesus propiciará sobre a
criação divina, entre outros eventos maravilhosos, a glorificação corpórea
daqueles que nasceram de novo e são novas criaturas. A Glorificação, portanto,
consiste na distribuição por parte do Senhor de um corpo glorificado para cada
um de seus servos, membros de Seu corpo.
B
– Na Glorificação haverá o aperfeiçoamento do espírito
22 Mas tendes chegado ao
monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis
hostes de anjos, e à universal assembléia
23 e igreja dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados,
24
e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala
coisas superiores ao que fala o próprio Abel (Hb 12.22-24).
O Apóstolo Paulo descreve os crentes
que já morreram e foram para o céu como “os espíritos dos justos
aperfeiçoados”. Por quê? Porque não haverá mais possibilidade de pecado. Não
haverá mais rebelião contra Deus. Não haverá mais divulgação de nenhuma
apostasia. Nunca mais haverá nenhuma maldição.
3 Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e
do Cordeiro. Os seus servos o servirão,
4 contemplarão a sua face,
e na sua fronte está o nome dele.
5
Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da
luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos
dos séculos (Ap 22.3-5).
Glorificado seja Deus por esta graça
tão maravilhosa e imerecível de nossa parte.
2
– A Glorificação é a recompensa dos que foram Justificados e Santificados por
Cristo
O Apóstolo Paulo dizia que:
19
Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os
mais infelizes de todos os homens (1 Co 15.19).
Que a sua maior esperança estava por
vir:
7 Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé.
8
Já agora a coroa da justiça me
está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não
somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda (2 Tm 4.7,8).
Que a Glorificação será um dia de
vitória, porque naquele dia o último inimigo, a morte, será destruída:
25 Porque convém que ele
reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés.
26
O último inimigo a ser destruído
é a morte (1 Co 15.25,26).
54 E, quando este corpo
corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de
imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.
55 Onde está, ó morte, a
tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
56 O aguilhão da morte é o
pecado, e a força do pecado é a lei.
57
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo (1 Co 15.54-57).
E Jesus disse:
27 E lhe deu autoridade
para julgar, porque é o Filho do Homem.
28 Não vos maravilheis
disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua
voz e sairão:
29
os que tiverem feito o bem, para
a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição
do juízo (Jo 5.27-29).
Apocalipse diz que:
14
Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do
Cordeiro, para que lhes assista o
direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas (Ap 22.14).
Aqui, hoje, tem lutas, tem lágrimas,
tem dor, mas lá você terá um lar glorioso, bendito, na casa do Pai, o paraíso,
a nova Jerusalém, onde Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima e te fará
esquecer todo sofrimento. Aqui você tem pobreza, tem escassez, mas lá, você
terá uma mansão feita não por mãos humanas, eterna, nos céus. Lá você tem uma
herança incorruptível, imarcescível e gloriosa. Aqui, as mansões mais ricas e
mais opulentas são apenas casebres diante daquela que Deus fez para você. Aqui
você pisa o chão do deserto, mas lá você pisará em ruas de ouro.
3
– A Glorificação é uma vitória já garantida
13 Não queremos, porém,
irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes
como os demais, que não têm esperança.
14
Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem (1 Ts 4.13,14).
A glorificação também é um fato já
determinado, decidido e consumado na mente de Deus e nos Seus Decretos. Isso
significa que, você que creu no Senhor Jesus, já está no céu. Isso porque nada
e nem ninguém pode afastar você deste caminho, ninguém pode arrebatar você das
mãos do Redentor que te remiu e te comprou com o Seu sangue.
Isso é maravilhoso porque não importa
o quanto seja estreito o caminho, não importa quantos inimigos se levantarão
contra você, não importa a fúria do inferno contra você, o seu destino já está
decidido, o seu futuro já está garantido. Isso porque o mesmo Deus que te
escolheu na eternidade, te conduzirá até a vitória final.
Esta situação privilegiada do salvo
não significa que a passagem por aqui vai ser sossegada, pois Deus nunca
prometeu uma viagem tranqüila, mas sim uma chegada segura. Aqui, hoje, você
passa por lutas e pelo deserto, mas a sua vitória está absolutamente garantida
nas mãos do Deus eterno. A comprovação disso está em Romanos quando Paulo
disse:
1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm
8.1).
E Paulo ainda diz:
1 Sabemos que, se a nossa
casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna,
nos céus.
2 E, por isso, neste
tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação
celestial;
3 se, todavia, formos
encontrados vestidos e não nus.
4
Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados,
não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida (2 Co 5.1-4).
A Glorificação é o passo final na
aplicação da redenção. Ela acontecerá quando Cristo retornar e ressuscitar
dentre os mortos os corpos de todos os crentes, de todas as épocas que morreram,
e reuni-los às respectivas almas, como também mudar os corpos de todos os
crentes que permanecerem vivos, dando, assim, a todos os crentes ao mesmo tempo,
um corpo ressuscitado, perfeito, igual ao Seu. Um dia, isso será realidade na
vida da Igreja. Por hoje, cada coisa a seu tempo:
21 Visto que a morte veio
por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.
22 Porque, assim como, em
Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.
23
Cada um, porém, por sua própria
ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda (1
Co 15.21-23).
A Glorificação ensina que o nosso
corpo ressuscitado será imperecível. Isso significa que ele não se desgastará e
nem estará sujeito a qualquer espécie de doença ou enfermidade, pois ele será
completamente sadio e forte para sempre. Além disso, já que o processo gradual
de envelhecimento é parte do processo pelo qual nosso corpo está agora sujeito,
é apropriado pensar que nosso corpo ressuscitado não apresentará qualquer sinal
de envelhecimento.
Conclusão
A Glorificação completa a Justificação
e a Santificação. Cristo nos salvou definitivamente da penalidade do pecado,
através da Justificação. Cristo nos está santificando progressivamente do poder
do pecado, através da Santificação. Cristo, no futuro, nos salvará definitiva e
completamente da presença do pecado através da Glorificação.
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com