1 Digo, pois, que, durante
o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele
senhor de tudo.
2 Mas está sob tutores e
curadores até ao tempo predeterminado pelo pai.
3 Assim, também nós, quando
éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo;
4 vindo, porém, a plenitude
do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
5 para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.
6 E, porque vós sois
filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba,
Pai!
7
De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus (Gl 4.1-7).
Introdução
O que é a doutrina da adoção? Quais os
direitos dos filhos de Deus? Como é que conseguimos esses direitos? Quando ela
ocorre na vida do cristão?
O termo “adoção”, na sociedade de
hoje, é o meio pelo qual um estranho pode tornar-se membro de uma família. O
dicionário Aurélio define o termo “adotar” como: Atribuir (a um filho de
outrem) os direitos de filho próprio; perfilhar, legitimar. É o que acontece na
doutrina da adoção. Somos legitimados como filhos de Deus quando convertidos.
Todos os homens são criaturas de Deus.
Como, então, nos tornamos filhos de Deus? Pela fé em Jesus Cristo. Somente
aqueles que crêem em Cristo podem ser realmente chamados filhos de Deus.
A adoção ocorre ao mesmo tempo em que
acontece a justificação e a regeneração. Mas pela ordem das palavras somos
justificados diante de Deus, regenerados pelo Seu Espírito e adotados pela Sua
graça.
As Escrituras não associam a adoção
com a regeneração, o novo nascimento, mas com a fé em Cristo, ou seja, Deus nos
aceita em Sua família em resposta à nossa fé. Somente através da fé no Filho de
Deus, o homem pode retornar ao seu estado original de comunhão íntima com Deus.
O que nos ensina esta doutrina tão preciosa na vida do Cristão?
1
– A adoção nos é concedida tão somente pelos méritos de Cristo
A doutrina da adoção nos ensina que
ela é um ato da graça soberana de Deus, pela qual Ele concede àqueles que
aceitam a Jesus Cristo como salvador, todos os direitos, privilégios e
obrigações de filhos. Por isso João nos diz:
12
Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no
seu nome (Jo 1.12).
Por este texto podemos dizer que a
adoção é um ato pelo qual Deus nos faz membros de Sua família por meio de Jesus
Cristo. E João confirma isso em outro texto quando diz:
1 Vede que grande amor nos
tem concedido o Pai, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão,
o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.
2
Amados, agora, somos filhos de
Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando
ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como
ele é (1 Jo 3.1,2).
E o apóstolo Paulo também diz:
26
Pois todos vós sois filhos de
Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Gl 3.26).
De fato somos filhos de Deus, mas como
isso é possível? Na justificação, Cristo assumiu as responsabilidades da nossa
dívida e nos concedeu as suas riquezas. Semelhantemente, na adoção, Jesus
Cristo assumiu a nossa posição de escravo e nos concedeu a posição de filho,
conforme podemos ver:
7 antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
8
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de
cruz (Fp 2.7,8).
E quando Paulo escreve aos gálatas,
ele diz a mesma coisa:
4 vindo, porém, a plenitude
do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido
de mulher, nascido sob a lei,
5
para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos (Gl 4.4,5).
Cristo era o Filho de Deus por direito
Seu, mas Ele assumiu a posição de escravo para nos dar o direito de filhos, a
saber, aos que crêem em seu nome, através da adoção. O Filho de Deus se tornou
homem para que os homens pudessem tornar-se filhos de Deus.
Nós não tínhamos o direito de nos
tornarmos filhos de Deus porque éramos rebeldes pecadores, mas quando cremos em
Cristo, Deus nos justifica, transforma nossa natureza e nos adota como filhos e
a permuta que nos dá esse direito é a obra redentora de Jesus Cristo que
assumiu a forma de servo para nos dar o direito de filhos.
Portanto, a adoção é um ato exclusivo
de Deus, não sendo o pecador que alcança a adoção por qualquer esforço seu, mas
é um ato de Deus em que, pela sua graça, Ele nos concede o direito de filhos. E
quais são os direitos que recebemos por sermos filhos?
2
– Os benefícios que recebemos pela adoção
São muitos os benefícios que o cristão
recebe por tornar-se um filho de Deus. Vamos ver apenas três deles:
A
– O Espírito Santo
6
E, porque vós sois filhos,
enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho...
Deus apresentou-se no Antigo
Testamento diversas vezes como Pai (Sl 103.13; Is 43.6,7; Ml 1.6; 2.10), mas
foi somente quando Cristo veio e morreu por nós que os plenos benefícios e
privilégios de sermos membros da família de Deus ocorreram. Eles começaram
quando foi derramado sobre os convertidos a mais importante promessa: O
Espírito Santo. Ele é o maior de todos os benefícios. O Espírito Santo de Deus
em nossa vida faz toda a diferença. É pela sua presença que somos reconhecidos
legitimamente como filhos de Deus:
14 Pois todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
16 O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.14,16).
Todo filho nascido de Deus é adotado
no momento em que nasce do Espírito. Naquele momento Deus nos adota e nos faz
participantes da Sua natureza. Pedro diz:
1 Simão Pedro, servo e
apóstolo de Jesus Cristo, aos que
conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador
Jesus Cristo,
2 graça e paz vos sejam
multiplicadas, no pleno conhecimento de
Deus e de Jesus, nosso Senhor.
3 Visto como, pelo seu
divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à
piedade, pelo conhecimento completo
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4
pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas, para que por elas vos torneis
co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões
que há no mundo (2 Pd 2.1-4).
A presença do Espírito vem pela fé em
Jesus Cristo e Ele nos é dado para que tenhamos o pleno conhecimento de Deus e
pelas promessas de Deus somos participantes da herança eterna de Deus. Temos o
Espírito Santo como garantia desta promessa.
B
– Uma íntima relação com Deus
6
E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de
seu Filho, que clama: Aba, Pai!
A palavra aba significa “meu pai” e é
uma expressão íntima como a nossa expressão “papai”, portanto, ela expressa uma
íntima relação entre os que crêem em Cristo e Deus.
15
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra
vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai (Rm8.15).
O pecado nos separa de Deus, mas pela
adoção podemos desfrutar de uma intimidade com Deus. Isto significa que a vida
cristã não é apenas obedecer algumas regras, mas sim ter um relacionamento com
Deus.
Deus poderia nos perdoar sem nos
adotar, mas Ele é tão maravilhoso que nos torna membros de sua própria família.
Se Deus tivesse apenas perdoado os nossos pecados e nos resgatado, já seriamos
muito mais do que merecíamos, mas seríamos apenas seus servos. Mas somos
adotados por Ele para sermos mais que servos: para sermos seus filhos! Não
temos com Deus apenas uma relação de temor, mas de íntima comunhão com Ele.
A regeneração tem a ver com a nossa
vida espiritual interior, a justificação com nossa posição diante de Deus e a
adoção com a nossa comunhão íntima com Deus como nosso Pai.
C
– O direito de sermos herdeiros de Deus
E qual é a herança de Deus? Qual a sua
riqueza? A vida eterna. A herança dos crentes é a mesma herança de Cristo:
7
De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus (Gl 4.7).
17
Ora, se somos filhos, somos
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele
sofremos, também com ele seremos glorificados (Rm 8.17).
3 Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou
para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os
mortos,
4 para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada
nos céus para vós outros
5
que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação
preparada para revelar-se no último tempo ( 1 Pd 1.3-5).
O que é de Cristo Ele compartilha
conosco: a vida eterna e nós, que merecemos o castigo e a morte, vamos receber
a mesma herança de Cristo. Por isso que aquele que crê em Cristo é rico
espiritualmente porque receberá a mesma herança eterna de Cristo. Tudo o que é
de Cristo é nosso. Temos um reino:
32
Não temais, ó pequenino rebanho; porque
vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino (Lc 12.32).
Uma pátria superior:
16
Mas, agora, aspiram a uma pátria
superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser
chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade (Hb11.16).
E uma coroa:
12
Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação;
porque, depois de ter sido aprovado, receberá
a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam (tg 1.12).
Deus nos adotou e nos deu o Espírito
Santo para despertar em nós o desejo de ter uma vida de intimidade com Ele, nos
dando livre acesso a Ele por meio de Cristo, isso significa que o que Deus quer
de nós é o nosso amor.
3
– As obrigações da Adoção
O fato de sermos filhos de um Pai tão
especial nos traz também algumas obrigações.
A
– Devemos ser igual ao Pai
O cristão é aquele que aceita as
doutrinas comuns ao cristianismo. Quando ele é chamado de cristão é por que lhe
foi outorgado o direito de representar na terra o seu Deus e Pai. Para isso
Paulo nos adverte:
1 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
2
e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo
por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave (Ef 5.1,2).
E Pedro também nos diz:
14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância;
15 pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou,
tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento,
16
porque escrito está: Sede santos,
porque eu sou santo (1 Pd 1.14-16).
Quando somos chamados de Cristãos
deve-se evidenciar o que realmente deve ser um representante do Reino de Deus,
não como afronta alguma, nem como escândalo ou tropeço, mas como uma forma de
testemunho da nossa fé a ponto que todos possam conhecer e ver Deus em nossas
vidas. Jesus disse:
35 Amai, porém, os vossos
inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o
vosso galardão, e sereis filhos do
Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.
36
Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai (Lc
6.35,36).
O nome Cristão foi dado em Antioquia
para distinguir quem seguia os ensinamentos de Cristo, ou seja, um homem quando
chamado de Cristão tem a responsabilidade de andar conforme os conceitos que
lhe são impostos através da palavra de Deus.
B
– Devemos honrar e glorificar o Pai
Jesus fala da influência que o nosso
caráter e o nosso comportamento devem causar no mundo. Ele usa um elemento
muito significativo para isso: A luz.
16
Assim brilhe também a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a
vosso Pai que está nos céus (Mt 5.16).
Jesus não poderia ter usado uma figura
mais vívida para expressar o significado de influência e do que realmente
significa ser um discípulo quando usou a metáfora da luz.
Jesus não tem nenhuma dúvida quando
fala da influência que a vida daqueles que brilham causa no mundo. O alcance
dessa influência é grandioso graças à influência de Cristo neles. Por isso que
Paulo diz:
14 Fazei tudo sem
murmurações nem contendas,
15 para que vos torneis
irrepreensíveis e sinceros, filhos de
Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual
resplandeceis como luzeiros no mundo,
16
preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie
de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente (Fp 2.14-16).
Nesta atitude de honrar e glorificar o
Pai é que somos reconhecidos como seus filhos, pois João diz:
10
Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não
procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão (1 Jo 3.10).
E Pedro nos adverte:
11 Amados, exorto-vos, como
peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que
fazem guerra contra a alma,
12
mantendo exemplar o vosso
procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós
outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a
Deus no dia da visitação (1 Pd 2.11,12).
Quando nos igualamos ao mundo,
tornamo-nos inúteis. Não trazemos o testemunho vivificante de Cristo ao mundo.
Jesus estabeleceu os filhos de Deus como sal da terra e luz do mundo. Se como
filhos e não cumprirmos essa missão nos tornamos filhos inúteis.
Jesus disse que somos a luz do mundo.
Isto significa que há algo que devemos fazer. Temos uma função neste mundo como
filhos de Deus, da qual não podemos nos esquivar. Nossa influência deve ser
sentida, a fim de as pessoas glorificam o nome do nosso Deus e Pai.
Conclusão
Temos uma bela ilustração no Velho
Testamento do que significa para nós a adoção com a condição de filhos de Deus.
É a história de Mefibosete em 2 Samuel capítulo 9. Ele era filho de Jônatas e
não de Davi. Mefibosete, depois da morte de seu pai e de seu avô ficou aleijado,
caiu na miséria, no esquecimento, sem herança e sem nenhum direito. Quando Davi
assumiu o trono e o encontrou reconheceu-se como servo de Davi, mas por causa
da aliança que o rei Davi fizera seu pai Jônatas, passou a comer à mesa do rei como
um de seus filhos. Davi restituiu-lhe a herança, os servos, a terra e a sua
posição no palácio real, tirando-lhe da condição de miséria para a posição de
príncipe. Deus é aquele que nos tira do monturo e nos coloca nos lugares
celestiais.
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
MUIO BOM
ResponderExcluirAmém! Glória a Deus!
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