1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte,
e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;
2 e
ele passou a ensiná-los, dizendo:
3
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos
céus.
4
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
5
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
6
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
7
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
9
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
10
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus.
11
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
12
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois
assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt 5.1-12).
Introdução
A
palavra bem-aventurança no grego é makarinos e quer dizer literalmente feliz,
abençoado. Portanto, esta expressão tem um significado simples, porém profundo.
Ela não significa uma felicidade passageira ou fundamentada em estímulos que,
retirados a extingue. Essa felicidade é fundamentada na relação com Deus. O
bem-aventurado recebe o Reino de Deus que inclui o Seu amor, o Seu cuidado, a Sua
presença e o mais importante: a Sua salvação.
Pelo
fato das nove bem-aventuranças nos conduzirem para o sentido oposto do que é
ser feliz no mundo, podemos resumi-las na seguinte frase: felizes são os
infelizes. Felizes são os que choram, felizes são os injustiçados, felizes são os
perseguidos. Esse texto nos revela claramente que os conceitos e os valores do
mundo rivalizam diretamente com os da Palavra de Deus e seu Reino.
As
bem-aventuranças fazem parte do Sermão do Monte e este sermão é considerado um
dos momentos mais didáticos do ensino de Jesus Cristo. Este sermão é uma
coleção impressionante de ensinos direcionados para aqueles que querem servir a
Deus de forma plena.
O
Sermão do Monte, mais especificamente as bem-aventuranças, são práticas
prescritas por Jesus para todas as épocas. Cada palavra dita por Jesus nas
bem-aventuranças e em todo o Sermão do Monte deve ser considerada como ouro
depurado ou como bálsamo precioso por todos aqueles que se dizem cristãos.
De
fato, se quisermos ser cristãos autênticos, não poderemos deixar de lado as
palavras do nosso Senhor. Antes, devemos estudá-las com muita dedicação e
amá-las com todo o nosso coração, estando dispostos a praticar aquilo que Ele
nos ordenou, com empenho e dedicação. Vamos às lições de hoje:
1 – O SERMÃO DA MONTANHA: O EVANGELHO DO
REINO DE DEUS
O
Sermão da Montanha é duramente criticado e rejeitado como foi e é o Evangelho
de Cristo neste mundo. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, falando sobre o
Sermão do Monte, escreveu que: a
moralidade cristã é a mais maligna forma de toda a falsidade. O humanista
John Herman Randall: estranhava como um
carpinteiro galileu pudesse ter enunciado a última palavra em ética humana.
Porém, muitas pessoas têm apreciado este sermão com grande reverência, até mesmo
quando não o entendem muito bem. Como este sermão pode ser definido?
A – Ele não é meramente a exposição da
Lei
A
mente moderna tem tratado este sermão das maneiras mais variadas e alguns o
rejeitaram por o considerarem totalmente impraticável. Outros o aceitaram, mas
com reservas significativas. O humanismo, na sua forma mais benevolente, viu-o
como um código moral notável totalmente separado da cruz ou de um Cristo
divino. O liberalismo religioso o vê mais como um projeto para reconstrução
social do que para conversão pessoal.
Entre
os conservadores religiosos, muitos pré-milenaristas o vêem como mais uma lei,
inconsistente com a era da graça, e de aplicação impossível num mundo
pecaminoso. Eles esperam o seu cumprimento em um reino milenar de Cristo.
Para
grande parte do protestantismo evangélico a ética do Sermão da Montanha é
destinada a conduzir somente os relacionamentos pessoais. Eles consideram
impossível aplicar os preceitos deste sermão aos negócios e ao governo. Portanto,
sobram poucos que realmente ouvem e praticam estes ensinos de Jesus.
O
discurso de Jesus na encosta de uma montanha não é um mero sermão. Ele mais se
aproxima de um manifesto do Reino de Deus. Há mais ensinamento de Jesus no
restante dos Evangelhos do que no Sermão do Monte, mas neste sentimos a
verdadeira essência da verdade do Reino de Deus, porque ele trata de atitudes, e
seus princípios permanecem na condicionalidade de entrada do Reino de Deus.
B – Ele não é um manifesto político
Há
muito tempo que o povo ouvia falar da vinda de um Messias que lhe traria
bem-aventuranças, mas a situação era de opressão e miséria. Havia uma grande expectativa
na multidão quanto a isso. E quando Jesus falou sobre as bem-aventuranças,
materializou-se a esperança dos ouvintes, que anos após anos os pais anunciavam
aos filhos a vinda de uma época de alegria plena, mas ainda não tinham
experimentado dessa alegria prometida por Deus.
O
sermão do monte iniciou-se com uma mensagem de alegria a um povo oprimido e sem
esperança. Jesus apresenta uma esperança viva, porém, o discurso endurece logo
em seguida. O povo esperava refrigério e segurança nesta vida. Esperavam um
Messias que os libertasse da escravidão política e não da opressão do mal. Eles
não entenderam o verdadeiro sentido da promessa.
C – As suas bênçãos e
princípios éticos não são atingíveis pelos não convertidos
O
Sermão do Monte permanece como uma explanação da verdadeira natureza do Reino
de Deus. É um sermão proferido na História que evidencia o caráter santo de seu
pregador e o acirrado conflito entre Jesus e os fariseus. Pode-se dizer, com
segurança, que o Sermão do Monte é o mais conhecido, menos entendido e menos
praticado de todos os ensinamentos de Jesus.
Este
é um sermão para os cidadãos do Reino de Deus. A salvação dos homens é o seu
alvo e não a sua reconstrução social, e os homens de sabedoria mundana estão
destinados a jamais entendê-lo, porque os seus princípios éticos não podem ser alcançados
por quem não nasceu de novo, por quem não passou pelo novo nascimento, por quem
não possui a natureza de Cristo.
2 – AS BEM-AVENTURANÇAS: O CARÁTER DOS
CIDADÃOS DO REINO DE DEUS
Jesus
abriu o Sermão do Monte com uma série de nove declarações tradicionalmente
conhecidas como as bem-aventuranças. Elas devem ter caído como raios sobre
aqueles ouvidos judeus do primeiro século, pois eram nada mais do que uma
fórmula para o sucesso mais improvável deste mundo. Elas assaltavam cada
conceito da sabedoria convencional e deixavam o ouvinte chocado e perplexo.
Deste modo, Jesus captura a atenção de seus ouvintes e insiste no caráter
essencial do Reino de Deus e seus cidadãos.
As
bem-aventuranças falam exclusivamente de qualidades espirituais. As
preocupações do homem, como riqueza material, condição social e sabedoria
secular, não recebem simplesmente nenhuma atenção. Jesus está claramente
esboçando um reino que não é deste mundo, um reino cujas fronteiras não passam
através de terras e cidades, mas através dos corações humanos. Este reino,
totalmente improvável, chegou no primeiro século com o nascimento de Cristo. Porém,
muitos estavam despreparados para reconhecê-lo e aceitá-lo, assim como muitos
ainda não estão nos dias de hoje.
Deve
ser notado que as qualidades do cidadão do reino não somente eram espirituais,
mas são também virtudes. Elas não são o produto da hereditariedade ou do
ambiente, mas de uma escolha. Elas não acontecem no homem naturalmente e são
distintamente contrárias à orgulhosa natureza humana.
Em
suma, então, as bem-aventuranças não contêm uma promessa de bênção sobre os
homens em seu estado natural, pois todos os homens choram, mas certamente nem
todos serão consolados. Elas marcam a diferença radical entre o Reino do Céu e
o mundo dos homens. O que são elas?
A – As bem-aventuranças são
palavras absurdas para o mundo
Certa
vez, alguns soldados foram enviados pelos líderes dos judeus para prender
Jesus. Mas, quando ouviram suas palavras, ficaram impressionados e não tiveram
coragem de prendê-lo.
45 Voltaram, pois, os
guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes
perguntaram: Por que não o trouxestes?
46
Responderam eles: Jamais alguém
falou como este homem (Jo 7.45,46).
E
quando lemos as palavras desse homem realmente podemos comprovar que ninguém
jamais falou como Ele! Mas o que são as bem-aventuranças? São diversas
afirmações de Jesus que começam com a expressão “bem-aventurados” a respeito de
certas pessoas. As bem-aventuranças são um bom resumo do ensino de Jesus sobre
o caráter e o comportamento do cristão autêntico.
As
multidões ficaram fascinadas com as palavras de Jesus. Por qual motivo? Nunca
tinham ouvido algo semelhante. Jesus começou a mostrar que, a verdade a
respeito da felicidade, era algo completamente diferente de tudo quanto eles
mesmos reconheciam. Os bem-aventurados, ou os mais que felizes, não eram os
ricos, mas os pobres. Não eram os poderosos, mas os fracos. Não eram os
dominadores, mas os dominados. Não eram os que riam, mas os que choravam. Não
eram os perseguidores, mas os perseguidos. Quando Jesus subiu àquele monte, nos
arredores do Mar da Galiléia, estava determinado a mostrar ao mundo o que realmente
significava ser feliz. As multidões que se reuniram a seus pés jamais poderiam
imaginar o que ouviriam naquele dia. Tanto é que o sermão termina assim:
28
Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina;
29
porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas (Mt
7.28,29).
Mas
isso não quer dizer que as suas palavras foram bem recebidas pelos ouvintes.
Certamente não o foram, pois representavam uma afronta a todo o conjunto de
valores da época.
B – As bem-aventuranças eram
uma afronta aos ideais políticos da época
Muitos
judeus, nos dias de Jesus, esperavam um Messias que fosse um líder político e
militar para libertá-los da submissão ao Império Romano e estabelecer um
próspero reino que dominaria o mundo. E de fato, depois que Jesus alimentou as
multidões, o povo queria fazê-lo Rei.
14
Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que
devia vir ao mundo.
15
Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se
novamente, sozinho, para o monte (Jo 6.14,15).
Mas
o sermão do monte ensina que a mensagem e a obra do Rei são muito mais internas
que externas. São, antes, espirituais e morais do que físicas e políticas. Os
ideais do Sermão do Monte são totalmente contrários aos das sociedades e
governos humanos. Para Jesus, as pessoas mais exaltadas não são as que o mundo
considera mais dignas, mas sim as que o mundo desvaloriza. O seu ensino exalta
a humildade e Ele passou isto aos seus discípulos:
26 Mas
vós não sois assim; pelo contrário, o
maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que
serve (Lc 22.26).
C – As bem-aventuranças eram
uma afronta aos ideais religiosos da época
Nos
tempos de Jesus, havia entre os judeus pelo menos quatro grupos religiosos
distintos:
Os fariseus,
que enfatizavam a absoluta, rigorosa e fanática obediência à Lei divina e às
tradições.
Os saduceus,
que eram os religiosos liberais, que não criam no sobrenatural, nem na
ressurreição e não temiam modificar a Escritura e a tradição por sua própria
religião filosófica.
Os essênios,
que eram ascéticos, pessoas que consiste em negar-se a si mesma, impondo um
tratamento severo ao corpo, a fim de aperfeiçoar-se moral e espiritualmente.
Acreditavam que a verdadeira religião consistia em separação total do mundo.
Por isso eles viviam em comunidades fechadas próximas ao Mar Morto.
Os zelotes,
que eram nacionalistas fanáticos e pensavam que a verdadeira religião
traduzia-se em atividade política radical.
Percebe-se
que os fariseus eram tradicionalistas, os saduceus modernistas, os essênios
separatistas e os zelotes ativistas. Jesus não apoiou qualquer um dos quatro
grupos. Disse que a verdadeira religião no Reino de Deus não é questão de
ritual, filosofia, localização ou de poder militar, mas de atitudes que
expressam a verdadeira espiritualidade de quem não se deixa guiar pelos valores
do mundo, mas por aqueles proclamados pelo Rei, o Senhor Jesus. Em função de
todas estas afrontas que as bem-aventuranças representavam, não era fácil ouvir
os ensinamentos de Jesus:
60
Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? (Jo
6.60).
Tão
duro que muitos desistiram de ouvi-lo:
66 À
vista disso, muitos dos seus discípulos
o abandonaram e já não andavam com ele (Jo 6.66).
Mas
os discípulos, que faziam parte dos bem-aventurados, resolveram em seus
corações ouvirem ao seu Mestre:
68
Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna;
69 e nós
temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus (Jo 6.68,69).
E
hoje, para quem iremos? Os discípulos fizeram suas decisões e resolveram ficar
com seu Mestre. E você, a quem resolve ouvir? As pessoas estão em busca de um
evangelho barato, flexionado, moldado às paixões infames do nosso coração, e
não suportam mais ouvir o verdadeiro Evangelho que exige entrega total a
Cristo, mudança de vida, transformação de caráter.
D – As bem-aventuranças são
palavras relevantes para os discípulos de Cristo
Para
o mundo as palavras de Jesus eram absurdas, pois iam de encontro a todos os
padrões mundanos a respeito de comportamento e de poder. Entretanto, para os
discípulos de Jesus, sem sombra de dúvida, eram palavras de extrema relevância,
pois eram ditas pelo Rei a respeito dos cidadãos do Reino, os quais Ele
considerava verdadeiramente felizes.
Nos
dias atuais há quem queira diminuir a importância do Sermão do Monte. Muitos,
por considerarem o padrão dos ensinamentos do sermão inatingível, confinam-os a
alguma época especial do cristianismo, não aceitando sua aplicação aos cristãos
em todas as épocas. Mas apenas uma leitura superficial do sermão nos revela que
Jesus tinha a intenção de demonstrar a sua praticidade para a vida diária. Não
foi sua intenção apenas assustar as pessoas. Ele quis mostrar que o cristão
precisa ter um tipo de conduta que o identifique e o torne diferente do mundo.
Jesus deixou isso bem claro quando disse:
20 ...
se a vossa justiça não exceder em muito
a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mt 5.20).
Por
isso que as palavras de Jesus são relevantes para aqueles que nasceram de novo.
Nenhum homem pode viver segundo os princípios do Sermão do Monte ou aceitar o
conceito de verdadeira felicidade de Jesus, a menos que tenha experimentado em
sua vida o novo nascimento.
Por
natureza os homens se encontram em uma situação completamente desligada de
Deus. Estão desatentos e desinteressados. Para eles, as bem-aventuranças e o
próprio Sermão do Monte, como um todo, não passam de um grande absurdo
inatingível. Paulo confirma isso quando diz:
14
Ora, o homem natural não aceita
as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15
Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é
julgado por ninguém (1 Co 2.14,15).
Somente
aqueles que experimentaram a realidade de Deus em sua vida, e o seu poder
regenerador, estão aptos para entender, amar e praticar os ensinamentos do
sermão.
As
palavras de Jesus também são relevantes para aqueles que querem glorificar a
Deus. A vida descrita no Sermão do Monte é a vida idealizada por Deus, é a vida
que o agrada, pois ela representa seu próprio caráter, porque este sermão descreve
como deve ser o caráter do cristão, um caráter que glorifica a Deus. Por isso
que, embora enfrentem situações muito difíceis, as pessoas são felizes porque
vivem aquilo que Deus idealizou para elas.
Viver
segundo os princípios do Sermão do Monte e das bem-aventuranças é o caminho
mais curto para agradar a Deus e testemunhar dele. Portanto, se alguém quiser
ser uma testemunha de Deus e glorificá-lo, deve ter uma vida orientada pelos
ensinamentos do sermão do monte. Se alguém viver os preceitos descritos por
Jesus, agradará a Deus e testemunhará a respeito dele. Consequentemente, a vida
dessa pessoa será como um imã, atraindo outras pessoas para Deus. E quem
realmente glorifica a Deus? Segundo o ensino de Jesus é aquele que o obedece.
21 Nem
todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai,
que está nos céus (Mt 7.21).
46 Por
que me chamais Senhor, Senhor, e não
fazeis o que vos mando? (Lc 6.46).
Não
estávamos naquele monte e se estivéssemos, quem sabe se não ficaríamos do lado
dos que acharam duras demais as Palavras de Jesus? O sermão está registrado e
quais são as nossas atitudes ao lê-lo? Através dele ainda podemos ouvir a voz
do Mestre a soar pelos vales daquele monte em busca de suas ovelhas.
3 – O SIGNIFICADO DE SER
BEM-AVENTURADO
Quando
lemos ou estudamos as bem-aventuranças, damos ênfase ao significado dos nomes
descritos por Jesus, como por exemplo: Quem são os humildes? Os que choram. Também
enfatizamos as bênçãos prometidas, como por exemplo: Herdar a terra, ver a Deus
ou ser consolado. Mas precisamos também compreender qual é o significado da
primeira palavra que Jesus usa para descrever essas pessoas: Bem-aventurados. O
que significa ser bem-aventurado?
Muitas
traduções da Bíblia trazem simplesmente a palavra feliz. De fato bem-aventurado
significa ser feliz. Mas bem-aventurado é muito mais do que isso, se é que é
possível ser mais do que feliz. E é exatamente isso que Jesus quer dizer. Poderíamos
afirmar que bem-aventurados são os super felizes.
Entretanto,
precisamos ter muito cuidado para não tomar a palavra feliz como um sentimento.
Jesus não quer dizer que eles sentem-se felizes porque são pobres, ou porque choram
ou porque são perseguidos. Eles são felizes porque receberão uma grande
recompensa e porque Deus os considera felizes. Trata-se da condição de uma
pessoa, e não meramente de um sentimento. Na verdade, toda a Bíblia desenvolve
essa idéia de felicidade:
1
Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos
no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva
as mesmas coisas (Fp 3.1).
4 Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez
digo: alegrai-vos (Fp 4.4).
Filipenses
é a carta em que o apóstolo Paulo mais incentiva os crentes a serem alegres.
Mas sabemos que eles estavam em meio a grandes dificuldades. E o próprio Paulo,
que insistia em dizer-se feliz, estava preso, sem saber ao certo se seria
libertado ou condenado à morte.
12
Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o
progresso do evangelho;
13 de
maneira que as minhas cadeias, em
Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os
demais;
14 e a
maioria dos irmãos, estimulados no
Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de
Deus (Fp 1.12-14).
17
Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e
serviço da vossa fé, alegro-me e, com
todos vós, me congratulo.
18
Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo (Fp 2.17-18).
Este
é o ensino da Bíblia: A felicidade cristã não depende meramente das situações
externas, mas do relacionamento pessoal que o cristão tem com o Senhor Jesus.
Depende da sua condição e não da sua situação. Geralmente as pessoas não se
interessam muito pelo depois; elas querem tudo agora. O céu parece ser uma
realidade muito distante para elas. O sofrimento e a falta de coisas no
presente são muito fortes em suas vidas. Mas não devemos nos esquecer das palavras
de Jesus no Sermão do Monte: Bem-aventurados são...
Conclusão
Jesus
não pretendia ensinar a respeito de salvação nas bem-aventuranças. Ele quis
mostrar a discordância existente entre a visão mundana e a visão divina sobre a
vida. Coisas que para o mundo parecem absurdas e cheias de prejuízo são dignas
para Deus.
As
palavras de Jesus não são um padrão inatingível que deve ser reservada a alguma
época distinta do cristianismo, como afirmam os dispensacionalistas, que o
sermão do monte não tem valor hoje, pois será o código de ética do milênio. Mas
as palavras de Jesus são práticas prescritas para todas as épocas da história
da Igreja. Elas também não são superficiais a ponto de poderem ser observadas
por qualquer um, pois contradizem toda a sabedoria do mundo.
Que
as bem-aventuranças, embora absurdas para o mundo, sejam para nós de máxima
relevância e que os nossos corações se inflamem ao estudar as palavras daquele
que foi humilde de espírito, que chorou, que foi extremamente manso, que teve
fome e sede de justiça, que foi misericordioso por excelência, além de ter sido
limpo de coração, pacificador e, acima de tudo, perseguido por causa da
justiça. Que a vida daquele, cujo sal nunca foi insípido e cuja luz nunca
deixou de brilhar, desafie-nos a mudar nossos conceitos a respeito da
verdadeira felicidade. Feliz é aquele que agrada a Deus, e não o que agrada a
si mesmo. Que Deus lhe abençoe! Amém!
Luiz
Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida.
Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
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