3 Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt 5.3).
Introdução
Essa
é a primeira de nove bem-aventuranças que Jesus menciona em seu famoso Sermão
do Monte. E Jesus começa seu sermão tocando a fonte do caráter do cidadão do Reino
de Deus: sua atitude para consigo mesmo na presença de Deus. E qual a melhor
atitude a ser tomada diante de Deus? Nada mais além da humildade!
A
ideia que domina o mundo no nosso tempo é: “você precisa confiar em si mesmo”.
Os livros mais vendidos na atualidade são aqueles que ajudam as pessoas a
desenvolverem uma auto-imagem positiva. Os “especialistas” nesta área dizem:
“Você precisa despertar o deus que existe dentro de você.” Até mesmo os
evangélicos cantam: “Você tem valor!” Portanto, o lema de hoje é: “Chega de
baixa estima, chega de falar em pecado, falemos em prosperidade, falemos de
realizações e feitos poderosos.” E para justificarem suas atitudes vangloriosas
usam o termo “pois somos filhos de Deus.”
É
fácil entender este ponto de vista porque, para o mundo, os bem-aventurados são
os ricos, são os que nunca precisam chorar, são os que aproveitam a vida, são os
que nunca precisam abrir mão de coisa alguma. Será que Jesus ensinou assim?
Será que Deus compactua com esta filosofia? Segundo o Sermão do Monte não!
1 – DEFININDO QUEM SÃO OS HUMILDES DE
ESPÍRITO
Quando
Jesus falou: “Bem-aventurados os humildes de espírito”, estava atingindo o
cerne do coração dos seus ouvintes. Quem eram os ouvintes de Jesus no Sermão do
Monte? Os discípulos, os moradores das aldeias, os judeus eruditos, os romanos,
os curiosos e os desconfiados pagãos.
Os
pagãos da época dominavam o mundo e não eram humildes. Os judeus eram os orgulhosos
escribas e fariseus que eram considerados os mais favorecidos por Deus. E os
discípulos de Jesus também tinham traços orgulhosos.
O
sermão de Jesus causou grande impacto na vida dessas pessoas. Para os pagãos
era como se Jesus estivesse dizendo: os vossos impostos caríssimos, os vossos
salários elevados à custa do povo, os vossos bens, nada disso têm valor no
Reino de Deus e um dia tudo isso será destruído.
Para
os judeus Jesus estava como que dizendo: o Sinédrio, a formação dos fariseus e
o conhecimento dos escribas, não têm valor se não for desenvolvido com
humildade. E humildade era algo que eles não possuíam nem um pouquinho.
E
para seus discípulos, Jesus estava como que dizendo: Sejam humildes diante da
opressão romana com os seus caros impostos. Sejam humildes diante das
perseguições que vos serão impostas. Para todos estes ouvintes Jesus diz:
Bem-aventurados os humildes de espírito. E quem são os humildes de espírito? Quem
são estes humildes a quem Jesus se refere?
A – Não são os economicamente pobres
Muitos
significados são dados para humildes de espírito. Literalmente, o termo grego para
humildes significa pobres. Nesta primeira bem-aventurança, Jesus disse que os
pobres é que são felizes. E não poderia haver uma frase mais chocante para os
ouvintes de Jesus do primeiro século. Quem estava ouvindo a Jesus eram judeus e
estes acreditavam (como grande parte do mundo moderno acredita) que as bênçãos
ou a felicidade estavam inseparavelmente ligadas à prosperidade material. Não
foi à toa que os discípulos ficaram surpresos com a declaração de Jesus após a
conversa com o jovem rico:
23
Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino
dos céus.
24 E
ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
25
Ouvindo isto, os discípulos
ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser
salvo? (Mt 19.23-25).
Isso
porque eles pensavam que os ricos é que tinham mais chances de serem salvos. Mas
será que Jesus referia-se aqui aos pobres no sentido social? Alguns têm
sustentado que sim! A teologia da libertação, por exemplo, baseia-se em textos
como esse para dizer que dos pobres é o Reino dos Céus. Segundo essa teologia,
a única coisa necessária para que alguém seja salvo é ser pobre.
É
importante saber que esta afirmação de Jesus não confere nenhuma bênção
especial aos economicamente pobres! Há a impressão de que a pobreza, por si
mesma, é uma bênção, e que ser economicamente pobre, automaticamente, significa
que se é agradado e protegido por Deus e abençoado por Ele. Este equívoco faz
com que alguns citem erradamente esta passagem, pois a humildade de espírito
não significa pobreza física e quando Jesus disse que os pobres eram
bem-aventurados não estava pensando nos pobres no sentido social, mas nos pobres
de espírito.
B – Não são aqueles que se considerem
autossuficientes
Em
Provérbios o autor nos diz:
18 A
soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda (Pv 16.18).
Em
quase todo lugar que vamos, encontramos pessoas arrogantes, orgulhosas e
soberbas. Estas três palavras são escritas de forma diferente, porém são
semelhantes no significado. As pessoas que atuam dessa maneira pensam que são
superiores a todos os outros e que eles são o centro das atenções.
Quando
alguém acredita que é superior aos outros e fala sobre as suas façanhas e
realizações, exaltando-se a si mesma, temos aí uma pessoa orgulhosa. À primeira
vista, essas pessoas orgulhosas ou arrogantes parecem vencedores na vida, ou
donos da verdade, mas a realidade é que são pessoas altamente sem sucesso e com
um alto grau de frustração. Se este for o seu caso você precisa tomar uma
atitude hoje mesmo para evitar o fracasso e a destruição da sua vida, porque a
soberba e a altivez precedem a ruína.
Há
indivíduos com atitude tão soberba que diz: "não preciso que ninguém me dê
qualquer direção na vida. Eu posso passar muito bem sem qualquer padrão moral
de uma fonte divina". Este é o espírito moderno do humanismo, que diz que
o homem não precisa de um Salvador, não deve confiar no Evangelho, e não
precisa de qualquer bênção espiritual; isto é o oposto de pobre de espírito. Em
todos os tempos Deus teve que tratar com o coração orgulhoso do ser humano. Um
exemplo claro de orgulho está em Daniel:
30
falou o rei e disse: Não é esta a
grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e
para glória da minha majestade?
31
Falava ainda o rei quando desceu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei
Nabucodonosor: Já passou de ti o reino.
32
Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do
campo; e far-te-ão comer ervas como os bois, e passar-se-ão sete tempos por
cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos
homens e o dá a quem quer.
33 No
mesmo instante, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de
entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do
orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as
suas unhas, como as das aves (Dn 4.30-33).
Outra
arrogância e rebeldia contra Deus são ilustradas em Isaías por ocasião da
rebelião de Satanás:
12
Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste
lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao
céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da
congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei
semelhante ao Altíssimo.
15
Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do
abismo (Is 14.12-15).
E
esta mesma perspectiva é ilustrada na atitude daqueles que tentaram construir a
torre de Babel, pois o motivo principal da construção era a glória do homem:
4
Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos
célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra (Gn
11.4).
E
temos ainda o exemplo do fariseu que subiu ao templo para orar:
10
Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o
outro, publicano.
11
O fariseu, posto em pé, orava de
si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças
te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e
adúlteros, nem ainda como este publicano;
12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho (Lc 18.10-12).
Devemos
reconhecer que ninguém é autossuficiente. Todos nós precisamos da vida, do
poder, e da graça do Espírito Santo para nos sustentar e nos salvar. A
característica de uma pessoa que nasceu de Deus é a humildade de espírito. Se
quisermos ser bem sucedidos na vida, temos que aprender a despojar-nos de
qualquer sentimento de orgulho, pois a Bíblia diz que felizes são os humildes
de espírito.
Portanto,
as bem-aventuranças não ensinam que a salvação depende dos méritos humanos,
pois em lugar algum a Bíblia ensina que pobreza física traz salvação. Jesus deixa
claro que, para possuir o Reino dos Céus é necessário que as pessoas se
considerem absolutamente incapazes de consegui-lo. Então, quem são os humildes
de espírito?
C – São aqueles que chegam diante de
Deus sem nenhum direito
Uma
pessoa pobre, no sentido exato da palavra que Jesus usou, é alguém que não tem
absolutamente nada. É alguém completamente incapaz de manter-se por si mesmo e ele
necessita de ajuda externa. Portanto, ser pobre de espírito é reconhecer nossa
absoluta pobreza espiritual, ou, como disse John R. W. Stott: Nossa falência espiritual diante de Deus,
pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus, e nada merecemos além do juízo
de Deus.
A
palavra grega, aqui traduzida como humilde, vem de uma raiz que significa
abaixar-se ou encolher-se. Ela se refere não simplesmente àqueles para quem a
vida é uma luta, mas aos homens que são constrangidos a mais desprezível
mendicância porque eles não têm absolutamente nada. Neste texto, a palavra humilde
de espírito é aplicada a uma falência espiritual absoluta, na qual uma pessoa é
compelida a implorar por aquilo que ela é impotente para obter (justiça), e ao
que ela não tem nenhum direito, mas sem o que ela não pode viver.
Além
disso, mendigar é muito duro para os homens, especialmente aos orgulhosos e
confiantes em si mesmos, mas isto é para onde nossos caminhos pecaminosos nos têm
levado, e não veremos o Reino do Céu até que encaremos esta realidade com toda humildade
de espírito.
O
humilde de espírito é aquele vai diante de Deus sem direito, sem jactância, sem
argumentos, sem defesa. É aquele que tem a característica fundamental de
perceber que se é espiritualmente vazio, e que somente confiando em Deus se
pode preencher esse vazio. Os humildes de espírito são aqueles que
reconhecem a sua pequenez, reconhecem que Deus é o único que pode suprir as
suas carências, pois é o provedor, o Todo-Poderoso, o Pai celestial.
Assim,
esse tipo de pessoa desenvolve uma dependência sadia do cuidado de Deus. Essa
atitude faz com que os humildes de espírito estejam desprovidos de
auto-exaltação, orgulho, altivez e outros pecados desse tipo, que levam o ser
humano a se achar um deus, e assim, viverem como orgulhosos de espírito. Ser pobre de espírito é ter a atitude do publicano:
10
Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o
outro, publicano.
13
O publicano, estando em pé, longe, não
ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o
que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado (Lc
18.10,13-14).
Jesus,
em outra ocasião, disse:
2 E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no
meio deles.
3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no
reino dos céus.
4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos
céus (Mt 18.2-4).
A
humildade de que Jesus falou se refere é a dependência de Deus para a direção
da vida. E em Filipenses encontramos o exemplo de Cristo:
3 Nada façais por partidarismo ou vanglória,
mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.
4 Não
tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é
dos outros.
5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus,
6 pois
ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a
Deus;
7
antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
8 a si
mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Fp
2.3-8).
Imagine
você sendo insultado por pessoas do seu círculo de amizades. Qual seria a sua
reação? Jesus foi insultado e crucificado, e o que Ele disse:
34
Contudo, Jesus dizia: Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes
dele, lançaram sortes (Lc23.34).
A
pregação de Jesus era o espelho daquilo que Ele viveu como homem. Jesus,
sendo um ser humano, foi humilde de espírito em todo o tempo, aceitando a
missão de morrer na cruz e se rebaixar ao nível humano mesmo sendo Deus. Além
disso, Jesus foi dependente do Pai até o seu último suspiro. Se Jesus não fosse
humilde de espírito certamente teria descido da cruz e punido os que o fizeram
sofrer, dentre outras coisas. Ele, porém, foi obediente, dependente de Deus até
o fim.
Espiritualmente
pobre é a expressão exata do que realmente somos. Assumirmos essa condição
significa viver na dependência plena da ação de Deus em nossa vida. Dessa
atitude emana o nosso crescimento espiritual. Não é à toa que esse é o primeiro
ensino de Jesus no Sermão do Monte. Se alguém não reconhece a sua pobreza
espiritual diante de Deus não está em condições de ser um discípulo dele.
Muitos
acham que ser dependente de quem quer que seja representa uma humilhação.
Porém, Jesus desafia os seus discípulos a agirem assim e experimentarem a
felicidade e a bênção de Deus. A humildade de espírito não significa pobreza
física, mas sim uma condição espiritual, um estado de espírito que envolve a
consciência da necessidade da graça de Deus.
2 – O DIREITO DOS HUMILDES DE ESPÍRITO: UM REINO
Agora
chegamos à questão decisiva: Por que os humildes de espírito são
bem-aventurados? Jesus responde: Porque deles é o Reino dos Céus. Os humildes
de espírito são os herdeiros do Reino dos Céus, pois são filhos de Deus.
Aqui na terra são os embaixadores do Senhor e do Seu Reino, lá nos céus tomarão
posse plenamente deste Reino preparado por Deus.
São
pessoas que tem consciência de não possuírem coisa alguma. Não acreditam que
são boas, não confiam em suas boas obras, não repousam em sua força nem
descansam em qualquer recurso humano. Reconhecem diante de Deus a sua
incapacidade para agradá-lo e para conseguirem quaisquer coisas por si mesmas. Diante
dos olhos mundanos, são desprezíveis, sem brio, pois o mundo sempre valoriza os
ricos, ou seja, aqueles que possuem algo. Se o mundo verifica que você nada
possui, você não representa nada para ele.
Entretanto,
para Deus, quem tem Jesus tem tudo, pois tem o Reino dos Céus. Deus dá o Reino
dos Céus aos pobres de espírito. Por estes Jesus veio ao mundo e realizou a
obra da redenção, morreu na cruz e ressuscitou para lhes dar nova vida, além de
sempre interceder por eles junto ao Pai.
Toda
a obra de redenção é oferecida gratuitamente por Jesus a todos os que
reconhecem precisar dela, pois sem ela estão condenados ao inferno. Aqueles que
pensam ser possível conseguir a salvação por suas próprias forças, por seus
próprios merecimentos, jamais verão o Reino dos Céus. A Bíblia diz:
5 ...
outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque
Deus resiste aos soberbos, contudo, aos
humildes concede a sua graça (1 Pd 5.5).
15
Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem
o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar
o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos (Is 57.15).
10
Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará (Tg 4.10).
De
fato, os humildes de espírito, segundo Jesus, possuem tudo, por isso são
bem-aventurados, pois lhes foi dado o maior dos tesouros, a pérola mais
preciosa: O Reino dos Céus.
3 – UMA DECISÃO A SER
TOMADA: SER POBRE DE ESPÍRITO OU RICO DE ORGULHO
É
muito difícil manter a humildade diante de várias situações da vida. As pessoas
que hoje tem uma excelente saúde, emprego, bens materiais, família e amigos é
muito difícil manterem-se humildes se não estiverem em convivência com Deus.
Também
muitos vivem uma falsa humildade, pois se revelam no momento em que são
prestigiados com alguma forma de poder. Alguém já disse que o poder revela quem
realmente a pessoa é. Muitos que se diziam humildes se tornaram terríveis
ditadores após assumirem o poder. Essa é a falsa humildade.
Não
é impossível para o pobre ser arrogante nem para o rico ser humilde. Muitos dos
pobres deste mundo consideram-se ricos no plano espiritual, pois não acham que
precisam ou sequer estão interessados na graça de Deus. Da mesma forma, há
muitos ricos que, na verdade, são pobres, pois não confiam em si mesmos, mas na
graça de Deus.
Neste
mundo competitivo e selvagem, dificilmente os pobres ficam ricos. E este não deve
ser o maior sonho de uma pessoa, porque aqui os ricos podem acabar pobres. Mas,
no Reino de Deus, os pobres serão ricos e nunca correrão o risco de perderem o
seu tesouro. Jesus advertiu:
19 Não
acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem
corroem e onde ladrões escavam e roubam;
20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu,
onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam;
21
porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt
6.19-21).
E
advertiu também a Igreja de Laodicéia:
17
pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim,
miserável, pobre, cego e nu.
18
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te
enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja
manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de
que vejas (Ap 3.17,18).
E
Paulo nos deixou grande exemplo de abnegação:
10
entristecidos, mas sempre alegres; pobres,
mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo (2 Co 6.10).
Para
herdar o Reino dos Céus tem que ser humilde como o Senhor Jesus foi ao ponto de
se esvaziar de sua glória, descer a Terra, tornar-se servo de todos, e morrer
na cruz do Calvário para realizar a vontade de seu Pai e nos salvar. A 4ª
estrofe do hino 68, intitulado “Necessidade”, diz:
Esforços da terra, precário destino,
Empenho dos homens, riqueza, o que for,
Não valem a bênção do reino divino;
Por isso eu preciso de ti,
meu Senhor. Amém.
A
grande multidão que seguia a Cristo eram pessoas pobres e esta grande multidão
ouvia a Cristo com prazer, porque a penúria dos pobres os traz à humildade mais
facilmente do que a confortável abundância do rico. O importante não é ser rico
ou pobre, mas ser daqueles que, possuindo pouco ou muito, tem consciência de seu
próprio vazio espiritual.
A
verdade de Jesus é diferente do conceito mundano. Não são bem-aventurados
aqueles que, segundo os padrões humanos são considerados ricos, porque esta
vida é passageira. A visão de Deus é diferente da visão humana. Para Ele, o
oposto da visão humana pode ser absolutamente verdade.
Portanto,
os mais que felizes, em primeiro lugar, de acordo com o Senhor Jesus, são os
humildes de espírito, pois o fato de reconhecerem que não possuem nenhum mérito
e nenhuma vantagem pessoal faz com que recebam da parte de Deus o próprio Reino
dos Céus. Eles não são felizes por serem pobres, mas pelo reconhecimento de sua
pobreza espiritual e necessidade da graça de Deus. É o sedento que reconhece
sua sede e sua incapacidade para saciá-la, mas está disposto a tomar
humildemente da água que o Senhor lhe dá.
Será
que entendemos que nada podemos oferecer a Deus e que nada podemos comprar
dele? Que tudo o que Ele nos dá é absolutamente de graça, pois nada merecemos?
Se pensamos assim, somos bem-aventurados, pois o Reino dos Céus é de quem assim
pensa!
Conclusão
Para
uma sociedade governada por algumas concepções errôneas a respeito do Reino de
Deus, as bem-aventuranças fazem duas afirmações básicas. Primeiro, que o Reino de
Deus não está aberto aos que se julgam virtuosos, mas ao pecador suplicante e
vazio que chega procurando por ele. Segundo, que o Reino de Deus não é para o
"poderoso" que obtêm o que deseja pela riqueza ou pela violência, mas
para uma seleção de homens pacientes, que abrem mão não somente de suas vontades,
mas até dos seus direitos em prol das necessidades dos outros.
Não
há nada mais óbvio no Sermão do Monte do que a verdade central do Evangelho de
que a salvação é pela graça de Deus. Como poderiam homens e mulheres tão
famintos de justiça e tão necessitados de misericórdia encontrar lugar num
reino governado por um sistema corrupto de lei? A justiça do Reino de Deus não
repousa num sistema de lei, mas sobre um sistema de graça. Seus santos padrões
são atingíveis pelos homens pecadores. De outra maneira, o Sermão da Montanha
haveria de ser fonte de maior desespero do que a Lei de Moisés. Que Deus nos
conserve ou nos conceda a verdadeira humildade. Amém!
Luiz
Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida.
Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
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