1 Jesus, entretanto, foi para o monte das
Oliveiras.
2 De
madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e,
assentado, os ensinava.
3 Os
escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em
adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
4
disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante
adultério.
5 E na
lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?
6 Isto
diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia na terra com o dedo.
7 Como
insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós
estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
8 E,
tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 Mas,
ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se
retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só
Jesus e a mulher no meio onde estava.
10
Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher,
perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11
Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco
te condeno; vai e não peques mais (Jo 8.1-11).
Introdução
Rubens Lopes, pastor
batista, conta em seu livro: Um pouco de sol, uma lenda hindu, de um ladrão
que, preso, foi condenado a morte e quando estava sendo levado para a forca,
seus algozes lhe perguntaram: você tem algum último desejo? Ele disse: tenho. O
ladrão disse que tinha a capacidade de plantar uma árvore que produzia ouro. Logo
despertou o interesse de seus algozes que lhe disseram: mas então nos ensine,
antes de morrer nos de o segredo. Ele disse: eu sei o segredo, só que eu não
posso plantar, porque minhas mãos são impuras, eu fui um ladrão, eu fui
desonesto. Então, gostaria de pedir ao magistrado que plante, mas tem que ser
mãos puras, porque se as mãos não forem puras não vai funcionar. O magistrado
disse que ele também não podia porque tinha feito isto ou aquilo e queria
passar para a pessoa que estava de seu lado. A outra pessoa desconversou e
disse que também tinha feito alguma coisa não muita certa, que já havia mentido
algumas vezes, que já havia tido algumas atitudes que não eram aprovadas e que gostaria
de passar para o outro que está do seu lado. E desta maneira cada um dava uma
desculpa e ninguém tinha as mãos limpas para plantar a árvore que produzia ouro.
Então, o ladrão disse: já que não há ninguém honesto entre nós é melhor que
todos nós nos dirijamos à forca. As autoridades aprenderam a lição e
alforriaram aquele homem, perdoaram aquele homem. Uma estória que ilustra muito
bem o que estava acontecendo no texto que lemos.
Não existe nenhuma conexão
entre o tribunal dos homens com o tribunal de Deus. Obviamente, podemos afirmar
de que o tribunal dos homens é mais rigoroso do que o tribunal de Deus.
Enquanto no tribunal dos homens encontramos extrema austeridade e tremendas
injustiças, no tribunal de Deus somos privilegiados com a misericórdia e nele
podemos encontrar a verdadeira justiça. Talvez, justamente por esta causa, foi
que Davi, quando foi consultado se queria cair nas mãos dos homens ou nas mãos de
Deus, ele preferiu cair nas mãos de Deus a cair nas mãos dos homens:
13
Veio, pois, Gade a Davi e lho fez saber, dizendo: Queres que sete anos
de fome te venham à tua terra? Ou que,
por três meses, fujas diante de teus inimigos, e eles te persigam? Ou que,
por três dias, haja peste na tua terra? Delibera, agora, e vê que resposta hei
de dar ao que me enviou.
14
Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas
são as suas misericórdias; mas, nas mãos dos homens, não caia eu (2 Sm
24.13,14).
E ele estava certo em sua
decisão e em seu argumento, porque diz a Bíblia que:
16 Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão
sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se
o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta,
retira a mão. O Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu (2 Sm 24.16).
Davi encontrou misericórdia
no tribunal de Deus. Esta discrepância entre o tribunal dos homens e o tribunal
de Deus é muito bem vista quando passamos os olhos pelo mundo. Aqui, no
tribunal dos homens, vemos um Herodes no trono, um homem ímpio, um homem mau e
vemos João Batista, o maior de todos os homens nascidos de mulher, na prisão,
sendo decapitado pelo capricho de uma mulher. Enquanto no tribunal dos homens
muitos são condenadas à morte pelo simples fato de se opor aos ideais do
governante, no tribunal de Deus, mesmo um ladrão condenado no portal da morte,
ainda encontra absolvição, perdão e salvação. Enquanto no tribunal de Deus
temos a impossibilidade de o inocente ser condenado, no tribunal dos homens podemos
ver a José, mesmo inocente, indo parar na prisão, e a mulher de Potifar sendo
considerada molestada e inocentada. No tribunal dos homens Jesus, justo e
inocente, vai para a cruz, enquanto que Barrabás, um ladrão, é solto pela
petição dos homens. E em nosso texto básico, mais uma vez, encontramos a
desconexão existente entre o tribunal dos homens e o tribunal de Deus. No
severo tribunal dos homens esta mulher está condenada ao apedrejamento, mas no
tribunal de Deus, no tribunal de Jesus, no tribunal da misericórdia, ela é
perdoada e absolvida. Podemos tirar lições muito preciosas neste episódio.
Vamos a elas.
01
– O QUE ESTÁ POR TRÁS DOS BASTIDORES
1 Jesus, entretanto, foi para o monte
das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou novamente para o templo,
e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
Antes de tudo precisamos
olhar para o contexto para entender o que está por detrás dos bastidores deste
acontecimento. A estas alturas os escribas e fariseus já haviam se mancomunados
com os herodianos para prenderem a Jesus:
1 De
novo, entrou Jesus na sinagoga e estava ali um homem que tinha ressequida uma
das mãos.
2 E estavam observando a Jesus para ver se o
curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem.
3 E
disse Jesus ao homem da mão ressequida: Vem para o meio!
4
Então, lhes perguntou: É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal?
Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles
ficaram em silêncio.
5
Olhando-os ao redor, indignado e
condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão.
Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada.
6
Retirando-se os fariseus, conspiravam
logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida (Mc 3.1-6).
Eles já urdiam planos
maliciosos nas caladas da noite para colocar Jesus em contradição, para terem
de que acusá-lo. Notem que no dia anterior eles tentaram de tudo para enredarem
a Jesus:
1 Passadas estas coisas, Jesus andava pela
Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo (Jo 7.1).
19 Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém
dentre vós a observa. Por que procurais
matar-me (Jo 7.19)?
Eles estavam querendo matar
a Jesus. Esta era a intenção deles, esta era a bandeira deles.
30 Então,
procuravam prendê-lo; mas ninguém
lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a sua hora.
31 E,
contudo, muitos de entre a multidão creram nele e diziam: Quando vier o Cristo,
fará, porventura, maiores sinais do que este homem tem feito?
32 Os
fariseus, ouvindo a multidão murmurar estas coisas a respeito dele, juntamente
com os principais sacerdotes enviaram
guardas para o prenderem (Jo 7.30-32).
Eles queriam matar a Jesus,
queriam prendê-lo, como não lograram êxito, agora, eles enviam guardas para
prendê-lo, e estes guardas, ao ouvirem Jesus falar, voltam aos judeus sem
Jesus, porque ficam perplexos com seus ensinos:
45 Voltaram,
pois, os guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes
perguntaram: Por que não o trouxestes?
46
Responderam eles: Jamais alguém
falou como este homem.
47
Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também vós fostes enganados
(Jo 7.45-47)?
Aí acaba aquele dia e Jesus
vai para o monte das oliveiras. Passa aquela noite ali. Diz o texto que de madrugada
voltou novamente para o templo e todo o povo ia ter com Ele e, assentado, os
ensinava:
2 De madrugada, voltou novamente para o templo,
e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
Agora é outro dia. A
multidão estava ali ao redor de Jesus para ouvi-lo, mas estes detetives da vida
alheia, estes que buscavam um motivo para colocar a Jesus em contradição,
certamente não dormiram naquela noite, pois buscando uma prova contra Jesus,
buscando um motivo para acusarem a Jesus, na calada da noite, no silêncio da
madrugada, encontraram aquilo que entendiam ser o fator básico para pegarem a
Jesus. Bisbilhotando a vida alheia, estes homens encontraram um homem e uma
mulher no ato de pecado, no ato de adultério e mais do que depressa agarraram
esta mulher. Como um objeto descartável, arrastam-na pelo meio da rua e
colocam-na de pé, diante de Jesus.
Este é o contexto da
história. Portanto, eles não estavam preocupados com a pureza do povo, não
estavam preocupados com o cumprimento da lei, mas tão somente interessados em
condenar a Jesus. Vamos ver mais sobre estes homens!
02
– A INTOLERÂNCIA DOS ACUSADORES
Quando olhamos para as
atitudes dos acusadores daquela mulher, fica evidente a inclemência daqueles
homens. Podemos dizer que a atitude destes acusadores são:
A
– Uma Conduta Hipócrita
O que é hipocrisia?
Hipocrisia é quando nós falamos ou fazemos alguma coisa e sentimos outra
diferente daquela que falamos e fazemos. Isto é hipocrisia. É quando fazemos um
elogio a uma pessoa verbalmente e por dentro não estamos tendo aquele mesmo
sentimento. O que acontece aqui?
1º
– Eles demonstraram um grande respeito para com Cristo
4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
Olha como eles chegam para
Jesus: Mestre. Chamam-no de mestre, mas queriam matá-lo! Não o honravam, não o
obedeciam, não o respeitavam. Estavam falando uma coisa e sentindo outra e
quando você fala uma coisa e sente outra, isto é uma contradição, isto é uma
hipocrisia.
2º
– Eles professaram um grande zelo e uma reverência pela Lei de Deus
5 E na
lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que
dizes?
Quando eles chegam para
Jesus, estão querendo dizer: Olha Jesus, a Lei de Moisés foi violada e nós
somos os guardiões da Lei, nós somos aqueles que mantêm a pureza da Palavra de
Deus, nós velamos pelo cumprimento da Palavra de Deus. Mas na verdade não era
nenhum zelo pela Palavra de Deus que eles tinham. Eles não tinham zelo pela
Lei, eles não tinham amor pelas pessoas, eles não tinham o respeito por Cristo,
eles estavam querendo usar aquela situação para pegarem a Jesus em uma condição
de contradição.
Com isso eles professam também
grande preocupação pela moralidade privada e pública. Eles dão aquela ideia de
que são os preservadores dos princípios familiares, os defensores da familiaridade
familiar. É preciso dizer, sem nenhum contorno e sem nenhum temor, de que o
adultério é um atentado contra Deus, um atentado contra o conjugue, um atentado
contra os filhos, um atentado contra o corpo, um atentado contra a Igreja, um
atentado contra a sociedade. Isto é um fato absoluto, inequívoco, mas não era
essa a motivação destes escribas e fariseus, não era por este motivo, pela
preservação dos valores da família, que eles estavam ali. Portanto, eram
hipócritas!
3º
– Eles professaram estar em uma grande dificuldade, ansiosos por receberem uma
luz e ajuda.
5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres
sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?
Eles estão chegando até
Jesus para buscarem uma saída, para buscarem uma solução, para buscarem uma resposta:
Tu, o que dizes? Ajude-nos! Nos de uma luz! Nos oriente a sair desse impasse!
Quantas vezes nós podemos cair no mesmo erro destes escribas e fariseus, de nós
estarmos demonstrando um determinado zelo aparente pelas coisas de Deus, mas
quando na verdade a nossa intenção, o nosso coração tem outros motivos escusos,
escondidos, secretos, que desonram a Deus e ofende ao nosso irmão.
B
– Uma Conduta Maliciosa
6 Isto
diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus,
inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
Que coisa perigosa quando
nós usamos a bendita Palavra de Deus não para edificar, não para consolar, não
para salvar, não para erguer as pessoas, mas quando nós lançamos mão da Palavra
de Deus como truque, como armadilha, como laço, quando nós usamos a Palavra de
Deus para atender aos nossos caprichos. Quem usa este artifício é Satanás. Ele
é quem usa a Palavra de Deus e cita a Palavra de Deus para tentar as pessoas.
Ele tentou Eva com a Palavra de Deus:
1 Mas
a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha
feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
5 Porque Deus
sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus,
sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3.1,4,5).
Ele tentou a Jesus lá no
deserto com a Palavra de Deus:
6 e
lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te
guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra
(Jo 4.6).
É por isso que aqueles que
se desviam das escrituras, em vez de pregarem a Palavra de Deus com fidelidade,
ao pregarem pela metade, ao torcerem seu conteúdo, ao darem um outro
significado que Deus não está dando na verdade, na sã interpretação, usam a
Palavra para tentar e não para salvar. Esta era a ética e a pedagogia dos
escribas e fariseus. Eles estão bajulando Jesus para tentar a Jesus:
6 Isto
diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus,
inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
Quando eles chegam e dizem:
mestre, eles estão dizendo que Jesus é um mestre, que Ele tem autoridade, mas
eles não querem ouvi-lo, eles não querem aprender, eles estão bajulando. Aquela
lisonja é falsa, aquele elogio é ardiloso, aquela bajulação é hipócrita. Eles
persistem no erro quando insistem na pergunta:
7 Como insistissem na pergunta ...
Eles mantiveram-se duros,
recalcitrantes, contumazes, sem arredar o pé da sua incredulidade e desta forma
se tornaram duplamente culpados. Eles vieram com armadilhas, eles usaram aquela
mulher como uma armadilha para pegarem a Jesus. Assim, tentaram três coisas
contra Jesus:
1ª
– Jogar Jesus Contra a Lei de Moisés
Se Jesus dissesse: não tem
que apedrejar não. Então, estaria quebrando a Lei de Moisés, estaria contra
Moisés e contra a Lei.
2ª
– Tentaram Jogar Jesus Contra a Lei Romana
Se Jesus falasse: apedrejem
esta mulher, Ele a estaria condenando a morte e somente os romanos tinham
autoridade, na época, de mandar matar. Com isso colocariam Jesus contra César.
Além do mais eles queriam desqualificar a Jesus, pois Ele estava se destacando
com um novo ensino, com um amor que até então ninguém havia demonstrado pelo
povo. Urdiram um plano, armaram um plano, pensando que jamais Jesus escaparia
daquela situação. Por isso a conduta deles foi tão maliciosa.
C
– Uma Conduta Reprovável
Sabe por quê? Primeiro
porque eles revelam-se parciais e preconceituosos. Por que eles só levaram a
mulher se foi apanhada no fragrante do adultério? Nenhuma mulher adultera
sozinha! E onde está o homem? Pois a Lei de Moisés ordena que ambos deveriam
ser apedrejados:
10 Se
um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera (Lv 20.10).
Por que levaram somente a
mulher? Por que prevalecer contra o elemento fisicamente mais frágil,
culturalmente menos favorecido? Por que não levaram o homem também? Por que
deixaram o homem escapar? Revelam, desta maneira, que na mente deles não havia
honestidade com a própria Lei de Deus, eles eram preconceituosos e parciais em
seu juízo, por esta razão, eles se tornaram mais culpados do que acusadores,
porque na verdade eles se tornam culpados pela Lei que defendem, eles se tornam
culpados pela lei da consciência. Notem:
9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se
retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando
só Jesus e a mulher no meio onde estava.
Eles foram culpados pela
dureza de seu coração. A ré saiu perdoada e eles mais endurecidos, ela absolvida
e eles condenados. A consciência não é suficiente para nos levar a Deus, a
consciência não é suficiente para nos convencer do pecado, a consciência não é
confiável tantas vezes, mas nós não podemos desprezar a consciência, até estes
homens maus, corrompidos, são atingidos pela consciência.
Eles trataram com grosseria
aquela mulher. Eles não se importaram com ela. Viram-na apenas como uma peça
descartável que se usa para um outro propósito, expuseram aquela mulher ao
opróbrio público. A lição para nós aqui é que os mais perversos são os mais
severos acusadores. As pessoas mais implacáveis na acusação não são as pessoas
mais santas, são as pessoas mais corrompidas.
Chamo a atenção para
examinarmos o nosso próprio coração, porque não estamos aqui tratando de
ímpios, de ateus, não estamos tratando de hereges, mas estamos tratando de
fariseus e escribas, as pessoas mais entendedoras da Lei de Deus naquela época,
dos religiosos mais dedicados no estudo da Palavra de Deus na época, daqueles
que arrogavam para si o título de maiores autoridades espirituais da época.
Eles usaram a autoridade espiritual deles, não para amar, não para ajudar, não
para socorrer, não para salvar, mas para condenar.
03
– A MULHER: A DOLOROSA CONDIÇÃO DA ACUSADA
3
Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida
em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi
apanhada em flagrante adultério.
Esta mulher aproveita a
festa para cair no pecado. Era a festa dos Tabernáculos. Na festa dos
Tabernáculos, durante uma semana inteira, todas as pessoas das cidades, das
vilas, dos povoados e das regiões interioranas saiam de suas casas e iam para
Jerusalém e habitavam durante uma semana em cabanas, em tendas. Esta mulher
aproveita o momento da cidade agitada pela multidão para, quem sabe,
esgueirar-se nas sombras da noite para entregar-se ao pecado.
É interessante destacar a
associação das pessoas em relação a festas como uma porta aberta para a prática
do pecado. A maior festa popular brasileira tornou-se o momento em que a
sociedade brasileira entrega-se ao pecado sem freios, nas mais intensas
devassidões, em que tantos se entregam às drogas, a bebedeira, a impureza, a
fornicação e ao adultério.
A
– A Acusação de Seus Delatores
Diz o texto que esta mulher estava
traindo seu marido:
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua
presença uma mulher surpreendida em
adultério ...
A palavra usada aqui para
adultério é uma palavra grega específica, que trata de uma relação
extraconjugal. Ou seja, esta mulher violou os votos conjugais, ela quebrou a
aliança, ela feriu a Lei de Deus, ela transgrediu o sétimo mandamento. Ela realmente
é culpada de violar a lei de Deus.
Ela é flagrada no ato de seu
pecado. Na verdade, não havia desculpa, não havia defesa, não havia como fugir
e nem negar seu envolvimento sexual com outro homem, porque ela foi apanhada em
flagrante, no ato de seu crime, no ato de seu pecado, no ato de sua
transgressão. Mas não podemos deixar de observar o quanto o texto nos informa
que esta mulher foi humilhada publicamente. Aquela mulher foi arrastada a
força. Seus acusadores viram-na não como uma pessoa humana, não como alguém que
tinha nome, que tinha sentimentos, que tinha alma, que tinha uma família, que,
não obstante ter caído no erro, no pecado, mas que ainda era gente, que
precisava ser amada, que precisava ser respeitada, que precisava ser tratada
com dignidade. Levaram-na para o pátio do templo, em um lugar público e
fizeram-na ficar de pé diante de Jesus e da multidão que o ouvia. Expuseram-na
ao opróbrio. Esmagaram-na emocionalmente. Ultrajaram-na em público. Para
complicar a situação desta mulher, ela cometeu um pecado passível de morte, a
Lei de Moisés previa a morte para o adultério.
Agora, esta mulher está
condenada pelo tribunal da Lei. Esta mulher está condenada pelo tribunal dos
religiosos. Esta mulher está condenada pelo tribunal da opinião pública. Esta
mulher está condenada pelo tribunal de sua própria consciência. Ela não se
defende, ela era a própria figura da miséria diante do tribunal de Deus.
B
– A Misericórdia do Advogado
Já olhamos a inclemência dos
acusadores, já olhamos a dramática situação da acusada, olhemos agora a
misericórdia do advogado. Jesus demonstra que somente o homem livre do pecado
tem o direito de exercer seu juízo sobre a falta dos outros:
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se
levantou e lhes disse: Aquele que dentre
vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
Quem somos nós para
condenar? Quem somos nós para apontar o dedo? Quem somos nós para culpar? Quem
somos nós para julgar e condenar com justiça a outrem? Jesus disse:
1 Não julgueis, para que não sejais julgados.
2
Pois, com o critério com que
julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos
medirão também.
3 Por
que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está
no teu próprio?
4 Ou
como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a
trave no teu?
5
Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente
para tirar o argueiro do olho de teu irmão (Mt 7.1-5).
37 Não julgueis e não sereis julgados; não
condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;
38
dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante,
generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos
medirão também.
39
Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro
cego? Não cairão ambos no barranco?
40 O
discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem
instruído será como o seu mestre.
41 Por que vês tu o argueiro no olho de teu
irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão,
que eu tire o argueiro do teu olho, não
vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do
teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de
teu irmão (Lc 6.37-42).
O que o Senhor Jesus está
querendo nos ensinar é que nós não podemos ser fariseus ao ponto de querer
exigir dos outros aquilo que nós não estamos fazendo, culpar nos outros aquilo
que nós estamos praticando, denunciar nos outros aquilo que nós mesmos estamos
fazendo, sendo intolerante com os outros e complacentes conosco mesmo, críticos
com os demais e tolerantes com nós mesmos.
Irmãos, quem de nós pode se
colocar diante do espelho da Lei de Deus e ter a autoridade de apontar o dedo?
Porque a Lei de Deus exige de nós a perfeição, pois a Bíblia diz que se você
tropeça em um único ponto da Lei você é culpado da Lei inteira e quem de nós é
perfeito, quem de nós tem o coração absolutamente desprovido de qualquer desejo
ou sentimento pecaminoso?
O apóstolo Paulo, quando ele
tratou desta questão, era um fariseu, zeloso do estudo da Lei e um dia,
examinando detidamente a Lei de Deus, ele parou para compreender que era
realmente um pecador e que o pecado era maligníssimo. Por que ele concluiu
isso? Foi quando ele pousou seus olhos no décimo mandamento da Lei de Deus. Mas
qual é a diferença dos nove primeiros mandamentos para o décimo mandamento? É
que os nove primeiros mandamentos da Lei de Deus são pecados objetivos que
qualquer tribunal da terra pode julgar. Não terás outros deuses, não farás para
ti imagem de escultura, não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, guarda o
dia do Senhor, honra pai e mãe, não matarás, não adulterarás, não furtarás, não
dirás falso testemunho, são coisas que qualquer tribunal pode julgar. Mas o
décimo mandamento é foro íntimo: não cobiçarás. É foro íntimo e nenhum tribunal
da terra pode legislar sobre foro íntimo. Ou seja, você pode ter uma auréola de
santidade na cabeça e ter um coração podre. Por esta razão, Jesus, mesmo,
percebendo que aqueles homens tinham uma aparência de justiça e de santidade,
Jesus Cristo se levanta e diz:
7 ... Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado
seja o primeiro que lhe atire pedra.
Diz a escritura que Jesus
desmascara os acusadores quando Ele, assentado ao chão, escreve na terra e
depois volta a escrever no chão. Não sei o que Jesus escreveu, mas quando você
vai para a língua grega pode notar que o verbo também é um verbo específico que
significa escrever uma sentença contra alguém. Não sei, possivelmente Jesus
estivesse escrevendo com seu próprio dedo no chão os pecados dos acusadores.
Não sei, quem sabe. Certo é que foi o suficiente para que eles fossem tomados
de uma consciência de que eles eram culpados e não tinham autoridade para
apedrejarem aquela mulher.
Jesus não expõe ao opróbrio
nem mesmo os acusadores. Jesus poderia ter exposto aqueles homens ao opróbrio,
a vergonha pública. Jesus podia descortinar o coração deles diante da multidão.
Jesus poderia desmascara-lo diante da multidão. Jesus poderiam dizer em público
quem realmente eles eram, mas Jesus não o fez. Ele é tão bom conosco a esse
ponto.
C
– A Restauração da Mulher Pecadora
10
Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher,
perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe
disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.
Aquela mulher estava
condenada no tribunal da Lei, condenada no tribunal da religião, condenada no
tribunal da opinião pública, condenada no tribunal de sua consciência, condenada
no tribunal dos homens, mas quando ela chegou diante do tribunal de Deus, o
tribunal da graça, ela encontrou perdão, ela encontrou salvação, ela encontrou
uma nova vida. Jesus chamou aquela mulher por um título honroso e amoroso:
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais
além da mulher, perguntou-lhe: Mulher,
onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
Mulher não é um termo
insensível, é um termo carinhoso, respeitoso, o mesmo termo que Jesus usou para
chamar a sua mãe. Jesus trata aquela mulher com benignidade, porque Ele não
veio para condenar, Ele veio para salvar. Ela merecia morrer, mas Jesus usa seu
poder para restaurar, porque Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido:
10 Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10).
Ele veio para curar aos
enfermos e o perdão que Ele oferece não é barato, porque para perdoar aquela mulher
Ele foi à cruz, Ele deu a Sua vida. Jesus é tão maravilhoso que Ele não esmaga
a cana quebrada. Note ainda que Jesus valoriza a Lei. Ele não disse que o
pecado daquela mulher não era passível de morte. Jesus expõe a gravidade do
pecado, Ele não disse para aquela mulher que não tinha problema, porque Ele ama
ao pecador para restaura-lo, Ele revela que a Lei é santa, Ele revela que o
pecado é maligno e Ele revela seu amor incondicional àquela mulher.
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe
disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno;
vai e não peques mais.
Jesus não diminuiu a
gravidade do pecado daquela mulher. Ele não disse que ela era inocente, Ele não
disse que ela podia voltar para casa tranquila, sem problemas. Ele não disse
que ela não levasse tudo aquilo em conta. Jesus não disse que está tudo ok, que está
tudo bem, que está tudo resolvido. Jesus não trata o pecado com leviandade, Ele
não a mandou para casa como se nada tivesse acontecido, mas Jesus lhe disse:
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe
disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai
e não peques mais.
Jesus Cristo a perdoou.
Jesus a encorajou. Jesus está dizendo o seguinte: não fique mergulhada nos seus
traumas, na sua culpa, fique livre, perdoada, restaurada, tome posse da
dignidade. Um dos grandes truques de Satanás é manter as pessoas no cativeiro
da culpa mesmo depois da graça de Deus, do perdão de Deus, da restauração de
Deus na sua vida.
Jesus a exorta a não voltar ao
pecado. Jesus está mostrando aqui o que é arrependimento. Arrependimento não é
pecar e voltar a pecar e se arrepender e pecar novamente. Arrependimento é
mudança de vida, arrependimento não é sentimento, arrependimento não é choro,
arrependimento é atitude, arrependimento é romper e abandonar o pecado: vai e
não peques mais.
Conclusão
Deus É O Deus bendito, o Deus
de toda a graça. Deus É aquele que sonda mentes e corações, o Deus que sondou
os corações daqueles fariseus e escribas e viu neles uma motivação errada e com
misericórdia não os expôs ao opróbrio, mas tangeu-lhes a consciência. Deus é
aquele que sondou o coração daquela mulher arrastada, envergonhada, exposta a
humilhação pública, devolvendo a ela a dignidade da vida, a restauração, o
perdão e a salvação.
Deus sonda também o nosso
coração e sabe que todos nós estamos aquém das exigências da Lei. Nenhum de nós
consegue alcançar o padrão desta Lei. Porque a Lei é boa, ela é perfeita, ela é
espiritual, mas nós somos carnais. Dependemos da misericórdia de Deus e da
graça de Deus. Deus sempre é propício a pecadores arrependidos. Ele olha com
benignidade para nós, para aqueles que tem chorado e tem se entristecido porque
resvalaram os pés. Deus levanta, Deus restaura, Deus perdoa, Deus transforma e
Deus salva. Ele nos toca com a Sua graça e nos deixa aliviados por teu perdão,
restaurados pelo Teu Espírito, restaurados para uma nova vida que glorifica Teu
Santo nome.
Não sei como você está hoje.
Não sei por quais caminhos você tem andado. Não sei quantos deslizes e quedas você
teve. Não sei como está sua condição, mas você hoje pode ter um encontro com o
Senhor da Glória, o Senhor Jesus Cristo e Ele é o mesmo de ontem, Ele tem a
mesma autoridade e o mesmo poder. Ele também pode dizer a você: vai e não
peques mais. Eu não te condeno, mas vai e não peques mais. Jesus te oferece um
novo começo, uma nova vida, um novo reinicio para a glória de Deus, uma vida
nova para a glória de Deus.
O tribunal dos homens e o
tribunal de Deus. O tribunal dos homens é mais pesado, o tribunal de Deus é
onde encontramos graça e misericórdia, porque Deus é rico em perdoar e tem
prazer na misericórdia. Que Ele no ajude, que Ele nos abençoe, que Ele nos
console em nome de Jesus. Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia Sagrada.
Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no
Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Rev. Hernandes Dias Lopes: Mensagem O Tribunal dos Homens e o Tribunal
de Deus.
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