Para Refletir

Há momentos na vida difíceis de serem suportados, em que a única vontade que sentimos é de chorar, pois parecem arruinar para sempre nossa vida. Quando um destes momentos chegar, lembre-se que ainda não chegou o fim, que a sua história ainda não acabou e que ainda há esperança. Corrie Ten Boom disse: "não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo". Este amor você encontra aqui, um lugar de esperança, consolo e paz, e aqui encontrará a oportunidade de conhecer a verdadeira vida, uma vida abundante com Cristo.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

A ALIANÇA E SUA DURABILIDADE: ETERNIDADE E IMUTABILIDADE DE DEUS

Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus. Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca. Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados. Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos. Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento. Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos. Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido? Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio (Sl 90.1-12).

INTRODUÇÃO:

Quanto à durabilidade da Aliança, precisamos entender algumas coisas sobre a eternidade de Deus. Deus é infinito e nós nunca o poderemos conhecer em sua plenitude. Deus é infinito no seu Ser, nos seus atributos, nas suas qualidades, na sua santidade, no seu poder, na sua onipresença, na sua onisciência, na sua justiça, na sua santidade, na sua misericórdia. Deus extrapola toda e qualquer possibilidade de conhecimento exaustivo por parte da criatura, embora Ele nos desse a conhecer algumas coisas a respeito dele, pois Paulo fala em Romanos:

A IRA DE DEUS SE REVELA DO CÉU contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto O QUE DE DEUS SE PODE CONHECER É MANIFESTO ENTRE ELES, PORQUE DEUS LHES MANIFESTOU. PORQUE OS ATRIBUTOS INVISÍVEIS DE DEUS, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, CLARAMENTE SE RECONHECEM, DESDE O PRINCÍPIO DO MUNDO, SENDO PERCEBIDOS POR MEIO DAS COISAS QUE FORAM CRIADAS. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato (Rm 1.18-21).

Conhecemos de Deus apenas o que se pode conhecer (porque tem coisas que nós não podemos por causa da nossa limitação, pois nós somos criaturas limitadas), somente aquilo que nos foi manifestado por Ele entre nós. Conhecemos de Deus somente aquilo que podemos, porque pecadores não podem compreender o Ser Santo de Deus em sua plenitude, mas apenas algumas coisas que Deus deu a conhecer a respeito de Si mesmo.

Diante da eternidade de Deus é importante considerarmos a seguinte questão: O tempo é sempre presente para Deus, mas, quando Ele age na história humana, respeita os limites que Ele mesmo estabeleceu para sua criação: O passado, o presente e o futuro. O ser humano está preso ao tempo; por isso, Deus vê os eventos humanos dentro desses limites e atua conforme estes condicionamentos temporais, para poder oferecer seu amor, sua graça e sua misericórdia. Em todo o tempo Ele é Deus, pois assim Ele diz:

Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: QUE EU SOU DEUS, E NÃO HÁ OUTRO, EU SOU DEUS, E NÃO HÁ OUTRO SEMELHANTE A MIM; QUE DESDE O PRINCÍPIO ANUNCIO O QUE HÁ DE ACONTECER E DESDE A ANTIGUIDADE, AS COISAS QUE AINDA NÃO SUCEDERAM; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei (Is 46.9-11).

Deus se apresenta a nós usando termos humanos que expressam o passado, o presente e o futuro. E o Apóstolo Paulo entendeu corretamente a atuação de Deus no tempo, ao dizer:

VINDO, PORÉM, A PLENITUDE DO TEMPO, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos (Gl 4.4-5). E o autor de Hebreus, neste mesmo sentido, diz: HAVENDO DEUS, OUTRORA, FALADO, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo (Hb 1.1-2).

Deus, que não está preso ao tempo, observa-o na esfera humana, acompanha os acontecimentos, os avanços do tempo, para, na hora certa, agir em favor da humanidade. E se Deus age no tempo para salvar, Ele também usa este mesmo tempo para condenar, pois a Bíblia nos diz:

Porquanto ESTABELECEU UM DIA EM QUE HÁ DE JULGAR O MUNDO COM JUSTIÇA, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos (At 17.31).

É muito importante termos tudo isso em mente quando falamos da eternidade de Deus.

01 – A ALIANÇA E SUA DURABILIDADE:

A Aliança é eterna? Sim, claro! Não por causa do pactuante, mas por causa de seu instituidor que é eterno, que movido pelo seu imensurável amor, resolveu não por fim a ela, mas sim renová-la. Ele fez isso quando a salpicou com amor sacrificial, através da entrega de seu Filho Unigênito, em sacrifício pelos pecados do pactuante, por causa da quebra no acordo firmado.

A durabilidade da Aliança é um aspecto muito importante. Já imaginou o que teria sido de nós se ela tivesse se encerrado ali no Éden com a queda do homem? Como estaria o homem hoje? Se com a providência da redenção de alguns a coisa já está feia, complicado para o lado do pactuante, já imaginou sem ela? Todos nós estaríamos irremediavelmente perdidos para sempre. A Aliança não poderia estar sustentada no pactuante, porque além de ele ser finito ainda é imperfeito, a sua limitação está até em entender aos princípios da Aliança, quanto mais ter qualquer discricionalidade sobre ela.

Como pactuante, por estarmos presos ao tempo, compreendemos tudo de forma parcial, porque nesta vida nunca saberemos das coisas em sua plenitude, principalmente de fatos espirituais como a vida e a morte, o bem e o mal, a salvação e a condenação, Deus e o diabo. Sempre conheceremos estas coisas de forma incompleta, pois a queda no Éden nos limitou moral e espiritualmente, nos tornando impotentes e passíveis às vicissitudes da vida terrena. Até mesmo quando julgamos estar bem-informados a respeito de Deus e de seus mistérios, pelas Escrituras Sagradas, conhecemos a Ele apenas em parte.

E como seres limitados que somos, precisamos ter cuidado para não nos apresentarmos como pessoas que sabem de tudo e que tem respostas para tudo. Quando agimos assim, nos tornamos insuportáveis. Só Deus sabe tudo! O alvo da nossa vida deve ser a perfeição, claro, entretanto, por mais que queiramos viver uma vida cristã pura e perfeita, sempre estaremos suscetíveis a erros e enganos por causa do pecado e de nossas fraquezas e limitações.

Deus é eterno, infinito, ilimitado e mantenedor da Aliança. E o que significa que Deus é eterno? Eterno significa "perpétuo, sem começo e sem fim." A Bíblia fala muito da eternidade de Deus. O salmista diz:

ANTES que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, DE ETERNIDADE A ETERNIDADE, TU ÉS DEUS. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite (Sl 90.2,4).

E por ser Eterno e Soberano, o aspecto da eternidade da Aliança recai somente sobre Deus, porque somente Ele é fiel e somente Ele é eterno para manter a Aliança em vigor. Ou seja, a manutenção das condições da Aliança, no decorrer das gerações, é responsabilidade exclusiva de Deus, porque somente Ele permanece absolutamente fiel à Aliança, somente Ele permanece vivo desde a sua instituição e somente Ele tem a discricionalidade sobre ela. E é justamente por isso que a infidelidade do homem não invalida a Aliança.

Para nós, seres humanos, conceber o conceito de algo que não teve começo e que não terá fim, que sempre tem existido e que sempre existirá, não é nada fácil, pois usamos o tempo para medir tudo. No entanto, a Bíblia nunca tenta provar a existência ou a eternidade de Deus. Ela simplesmente começa dizendo: No princípio criou Deus os Céus e a Terra (Gn 1:1), indicando que no princípio do tempo registrado, Deus já existia. Os anjos, os homens, os animais e quaisquer outras criaturas tiveram início, passaram a existir a partir do momento em que foram criadas, diferente do Criador, pois uma característica que separa o Criador das criaturas é a eternidade.  Portanto, a duração do tempo, que se estende sem limite ao passado e sem limite ao futuro, Deus foi e será para sempre, pois a eternidade não é um período longo de tempo e sim um conceito que vai além do tempo e que não pode estar sujeito à medição.

Amo a expressão que Deus usou para que Moisés, homem comissionado por Deus, usasse para ir aos israelitas, com uma mensagem sua e o apresentasse ao povo. Moisés não sabia o que dizer ao povo se este lhe perguntasse qual era o nome do Deus que lhe estava enviando, afinal, passaram-se 400 anos desde a experiência de José. A resposta é muito reveladora:

Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU ME ENVIOU A VÓS OUTROS (Ex 3.14).

Essa expressão revela a verdadeira essência de Deus, sua eternidade, sua auto existência e que Ele é o Ser Supremo do Universo. Não descreve somente a eternidade de Deus, mas também sua imutabilidade, bem como a sua constância e fidelidade no cumprimento de suas promessas do passado, presente e futuro. Deus está dizendo que Ele não é apenas o que era no momento, mas que Ele continuará a ser o que tem sido e que sempre será o que é hoje.

Não havia uma apresentação de Deus mais real do que essa. Ela subentende a fidelidade de Deus que não se esqueceu, nestes últimos 400 anos, das promessas que Ele mesmo fizera aos patriarcas. Deus demonstra nesta apresentação a sua divindade. E o que é a divindade de Deus? É uma expressão que significa simplesmente que Deus não é criado, que Ele não é como nós, mas Ele é totalmente outro. Ele não é limitado como nós, Ele não é finito como nós, Ele não teve um começo e não terá fim, Ele não faz parte da sua própria criação. Ele é eterno.

Este mesmo aspecto de eternidade pode ser encontrado também na Nova Aliança, pois Jesus Cristo, Deus encarnado, também constatou a sua divindade e eternidade às pessoas do seu tempo ao declarar-lhes:

Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? RESPONDEU-LHES JESUS: EM VERDADE, EM VERDADE EU VOS DIGO: ANTES QUE ABRAÃO EXISTISSE, EU SOU (Jo 8.57-58).

É evidente que Jesus estava afirmando ser Deus em carne, porque os judeus, ao ouvir esta declaração, tentaram apedrejá-lo até a morte, pois para os judeus, declarar ser o Deus eterno era uma blasfêmia digna de morte, conforme ordenava a lei:

AQUELE QUE BLASFEMAR O NOME DO SENHOR SERÁ MORTO (Lv 24.16).

Mas Jesus não estava blasfemando ao afirmar ser Deus e ser eterno, assim como o Pai é eterno, porque essa era a mais pura verdade. E essa verdade foi declarada por João a respeito da natureza de Cristo:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, E O VERBO ERA DEUS (Jo 1.1).

O Verbo, a quem João está se referindo aqui é Jesus Cristo. É sobre Ele que João está falando. E Paulo também escreve sobre a eternidade de Cristo quando diz:

Este é a imagem do Deus invisível, O PRIMOGÊNITO DE TODA A CRIAÇÃO; POIS, NELE, FORAM CRIADAS TODAS AS COISAS, NOS CÉUS E SOBRE A TERRA, AS VISÍVEIS E AS INVISÍVEIS, SEJAM TRONOS, SEJAM SOBERANIAS, QUER PRINCIPADOS, QUER POTESTADES. TUDO FOI CRIADO POR MEIO DELE E PARA ELE. ELE É ANTES DE TODAS AS COISAS. NELE, TUDO SUBSISTE (Cl 1.15-17).

Portanto, antes dos registros dos tempos, Jesus e o Pai eram um em essência e compartilhavam, igualmente, o atributo da eternidade. Outros autores da Bíblia destacaram também a eternidade de Cristo. O autor de Hebreus, falando do sentido da confiança nas promessas de Deus, reconhece o atributo da eternidade em Jesus quando diz:

Jesus Cristo, ONTEM E HOJE, É O MESMO E O SERÁ PARA SEMPRE (Hb 13.8).

Deus é eterno, Jesus é Deus e Ele é eterno. Ser eterno não é que Deus sempre usa os mesmos meios e métodos no seu trabalho, e sim que o caráter dele nunca altera, pois de eternidade em eternidade, Ele é Deus e Ele nunca morre. Adão e Eva morreram, mas a Aliança permaneceu. Noé morreu, mas a Aliança permaneceu de pé. Moisés morreu, mas a Aliança continuou. Davi morreu, mas a Aliança prosseguiu. Jesus morreu, mas ressuscitou e está vivo e porque Ele está vivo a sua Aliança está de pé, firme, porque o Instituidor da Aliança é eterno e fiel. E Paulo também fala do atributo da eternidade de Deus quando diz:

Porque OS ATRIBUTOS INVISÍVEIS DE DEUS, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, CLARAMENTE SE RECONHECEM, DESDE O PRINCÍPIO DO MUNDO, SENDO PERCEBIDOS POR MEIO DAS COISAS QUE FORAM CRIADAS (Rm 1.20).

Todos os homens veem e entendem esse aspecto da natureza de Deus pelo testemunho dos vários aspectos da ordem criada. O sol, a lua, as estrelas e os corpos celestes continuam em suas órbitas séculos após séculos. As estações vão e vêm em seu tempo determinado, as árvores produzem folhas na primavera e perdem-nas no outono. Ano após ano as coisas continuam, e ninguém pode parar ou alterar o plano de Deus. Tudo isso comprova o poder eterno de Deus e o seu plano para a Terra. Um dia tudo será destruído e, então, Deus criará um novo céu e uma nova terra e eles, como Ele, continuarão por toda a eternidade. Nós, que pertencemos a Cristo, mediante a fé continuaremos por toda a eternidade também, compartilhando a eternidade do nosso Deus, em cuja imagem nós fomos criados. E neste mesmo sentido de permanência da criação está a permanência da Aliança.

Deus é eterno. Jesus Cristo, instituidor da Nova Aliança é Deus e Ele é eterno. E em função deste atributo de Deus a Aliança é eterna. E por ser eterno Deus é quem administra a História de modo que todos os acontecimentos da História cumprem os propósitos de Deus. E na redenção a administração de Deus na História pode ser vista através da Aliança, sendo ela o modo de Deus administrar o seu relacionamento com a sua criação, com termos que estabelecem um compromisso de obediência a Deus.

Foi assim desde o começo. Com Adão e Eva Deus pactuou que guardassem o Sábado, deixasse o homem seu pai e sua mãe e se unisse à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne, que crescessem e se multiplicassem e os colocou no Jardim do Éden para cultivá-lo e o guardar, com um único mandamento de não comerem do fruto proibido. A Queda interferiu no processo e desestruturou o seu funcionamento que era perfeito, gerando rompimentos.

E diante da desobediência e da incapacidade do homem de atender aos propósitos para o qual fora criado, Deus não o abandonou, mas estabeleceu com ele uma Aliança. Essa Aliança da Redenção tem como base a atitude graciosa de Deus, que vai ao encontro do homem para resgatá-lo de sua prisão: O pecado! Restaurando o homem para viver e servir a Deus. Essa Aliança, que se iniciou com Adão e Eva e é apresentada no decorrer da História por meio de sucessivas renovações, que vai de Adão a Jesus Cristo, ela é eterna, porque seu instituidor é eterno. Que Deus te abençoe a entender estas coisas.

02 – A ALIANÇA E A IMUTABILIDADE DE DEUS:

A Aliança é eterna, mas ela é eterna na literalidade de seus termos? Não! Deus é eterno e Ele é imutável em seu ser, mas não o é em seu agir. Quando olhamos para as experiências pessoais dos patriarcas, dos profetas e de outros autores da Bíblia, podemos notar a diversidade existente no agir de Deus, porque Deus é infinito em seu Ser. E Ele conhece muito bem a criatura que Ele mesmo criou; sabe da mutabilidade da cultura desse ser tão prepotente! Porém, Deus, o instituidor da Aliança, o mantenedor da Aliança é imutável, Ele nunca muda em seu Ser, mas quando olhamos para as renovações da Aliança que aconteceram no decorrer da História, podemos perceber a mudança no agir de Deus e na forma do pactuante permanecer nela.

Quando digo que a literalidade dos termos da Aliança não é eterna, não estou dizendo que eles mudam em sua essência. Quando, por exemplo, guardo o domingo no lugar do sábado não estou mudando a essência e nem o sentido do termo pactuado, pois o sentido é guardar, separar um dia para descanso. Também não estou fazendo isso só porque um dia tive vontade de variar, sair dessa rotina, há uma fundamentação para isso. Os judeus priorizaram a literalidade dos termos da Aliança, tanto que rejeitaram ao seu Messias, o qual veio com outra visão da Aliança e não o aceitaram. Se Jesus tivesse a mesma visão dos judeus, quando lhe perguntaram qual era o grande mandamento da Lei, com certeza Ele responderia que era o guardar o sábado e abster-se de alimentos. Entretanto, a sua resposta foi:

Respondeu-lhe Jesus: AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, DE TODO O TEU CORAÇÃO, DE TODA A TUA ALMA E DE TODO O TEU ENTENDIMENTO. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: AMARÁS O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO. DESTES DOIS MANDAMENTOS DEPENDEM TODA A LEI E OS PROFETAS (Mt 22.37-40).

Ele nem mencionou a guarda de um dia e nem a abstenção de qualquer alimento. Aliás, em seu ministério, em seus sermões, em seus ensinamentos, Ele nunca priorizou estes assuntos. Mas há um grande perigo neste assunto, pois, hoje, muitos pensam que as exigências de Deus evoluíram como evoluiu o mundo, mas elas permanecem intactas em sua essência. Ouvimos muito hoje que a Bíblia é coisa do passado, que o mundo mudou que papel aceita tudo, que as coisas não são assim tão rígidas como pensamos, que Deus vai relevar no final e assim por diante. Só que isso não é verdade.

Ora, se é na Bíblia que encontramos os termos da Aliança e ela é perpétua, por que seus termos seriam mutáveis? E se o homem não tem participação nenhuma nos termos desta Aliança, desfigurar a Bíblia ou anulá-la nos dias atuais é desclassificar os termos da Aliança. Se isso pudesse ser feito como ficariam os termos para nossos dias? Seriam elaborados por homens? Nunca! Pois os homens não são eternos e nem perfeitos. Além disso, os termos são para ele observar e guardar. Determinar seus termos não está na discricionalidade do homem, mas somente em Deus.

Lembremos que constituições de Igrejas e doutrinas não são termos da Aliança, apesar de que eles também devem estar fundamentados na Bíblia para terem valor e aceitação diante de Deus. Além do mais, dizer que os termos da Aliança caíram por terra é negar a soberania de Deus, pois nele está fundamentada a permanência da Aliança nas gerações vindouras.

Outro fator importante a ser lembrado é que a consumação da Aliança não é os nossos dias atuais, pois mesmo que estejamos vivendo um grande progresso na qualidade de vida, por outro lado, nunca vimos tantas pessoas atormentadas, sofrendo, precisando de libertação. O Evangelho continua de pé e libertando vidas, porque Jesus ainda não voltou, e ele faz isso não através de guarda de dias ou de abstenção de alimentos, mas pelo poder de Deus.

Além disso, sabemos que na consumação da Aliança não haverá mais qualquer maldição e que Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima, que Deus criará novamente todas as coisas, criará novos Céus e nova Terra, porque a consumação da Aliança é a volta do Senhor Jesus e o juízo final. E Jesus disse quando que aconteceria a consumação da Aliança:

Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; PORQUE ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA [NOVA] ALIANÇA, DERRAMADO EM FAVOR DE MUITOS, PARA REMISSÃO DE PECADOS. E digo-vos que, desta hora em diante, NÃO BEBEREI DESTE FRUTO DA VIDEIRA, ATÉ AQUELE DIA EM QUE O HEI DE BEBER, NOVO, CONVOSCO NO REINO DE MEU PAI (Mt 26.26-29).

É na eternidade que veremos a consumação da Aliança de Deus. Portanto, a Aliança continua em vigor e seus termos continuam inalterados, cabe a nós observá-los. A Aliança é eterna, mas ela não é eterna na literalidade de seus termos, porque Deus é imutável em seu Ser, mas não o é em seu agir. É difícil aceitar isso porque encontramos escrito na Bíblia:

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Ex 20.8).

Mas não encontramos outro texto dizendo assim: “Olha, até aqui vocês tem guardado o sábado, o sétimo dia da semana, porque Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, mas daqui pra frente vamos observar o domingo, o primeiro dia da semana, porque foi neste dia que o Senhor Jesus ressuscitou”. E como Deus nunca foi esclarecedor quanto à fé, senão a fé não teria sentido, podemos chegar à conclusão de alteração nos termos da Aliança analisando situações. A posição de Jesus diante dos fariseus quando estes questionaram que seus discípulos não observavam o sábado já é motivo suficiente para acender uma luz de alerta. O texto diz:

Por aquele tempo, EM DIA DE SÁBADO, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome, ENTRARAM A COLHER ESPIGAS E A COMER. Os fariseus, porém, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado. Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo: AQUI ESTÁ QUEM É MAIOR QUE O TEMPLO. Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes. PORQUE O FILHO DO HOMEM É SENHOR DO SÁBADO (Mt 12.1-8).

Não houve explicações por parte de Jesus com esclarecimentos, da mesma forma que Ele o fez com a parábola do semeador, mas os Apóstolos entenderam sua mensagem, tanto que Paulo diz:

Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, OU SÁBADOS, PORQUE TUDO ISSO TEM SIDO SOMBRA DAS COISAS QUE HAVIAM DE VIR; porém o corpo é de Cristo (Cl 2.16-17).

Eles entenderam o verdadeiro sentido da Lei. Da mesma forma temos escrito na Bíblia:

NÃO COMEREIS COISA ALGUMA ABOMINÁVEL. São estes os animais que comereis: o boi, a ovelha, a cabra, o veado, a gazela, a corça, a cabra montês, o antílope, a ovelha montês e o gamo. Todo animal que tem unhas fendidas, e o casco se divide em dois, e rumina, entre os animais, isso comereis. Porém estes não comereis, dos que somente ruminam ou que têm a unha fendida: o camelo, a lebre e o arganaz, porque ruminam, mas não têm a unha fendida; imundos vos serão. Nem o porco, porque tem unha fendida, mas não rumina; imundo vos será. DESTES NÃO COMEREIS A CARNE E NÃO TOCAREIS NO SEU CADÁVER (Dt 14.3-8).

E mais uma vez, Deus, que nada esclarece, mas exige a fé, aparece em visão a um dos Apóstolos e diz:

No dia seguinte, indo eles de caminho e estando já perto da cidade, SUBIU PEDRO AO EIRADO, por volta da hora sexta, a fim de orar. Estando com fome, quis comer; mas, enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase; então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, CONTENDO TODA SORTE DE QUADRÚPEDES, RÉPTEIS DA TERRA E AVES DO CÉU. E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: LEVANTA-TE, PEDRO! MATA E COME. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! PORQUE JAMAIS COMI COISA ALGUMA COMUM E IMUNDA. Segunda vez, a voz lhe falou: AO QUE DEUS PURIFICOU NÃO CONSIDERES COMUM (At 10.9-15).

Mais uma vez não houve explicações e esclarecimentos, mas não é difícil entender o que o Senhor quis dizer para Pedro, aquele mesmo Senhor que no passado disse para não comer determinadas espécies de animais. Deus tinha uma missão para Pedro e havia um paradigma para ser quebrado.

E quanto à comida temos inúmeros textos que oferece apoio a essa doutrina da liberdade concedida pelo Senhor, de poder-se comer de tudo. Voltemos ao texto de Hebreus e veja bem o que ele diz:

Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto O QUE VALE É ESTAR O CORAÇÃO CONFIRMADO COM GRAÇA E NÃO COM ALIMENTOS, POIS NUNCA TIVERAM PROVEITO OS QUE COM ISTO SE PREOCUPARAM (Hb 13.7-9).

Nem no passado houve proveito da abstenção de comida diz o autor da carta, pois ela nunca foi capaz de redimir uma vida, mas ela prefigurava a pureza e santidade daquele que um dia morreria na cruz puro e santo. E Paulo diz quanto a isso:

NINGUÉM, POIS, VOS JULGUE POR CAUSA DE COMIDA E BEBIDA, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, PORQUE TUDO ISSO TEM SIDO SOMBRA DAS COISAS QUE HAVIAM DE VIR; porém o corpo é de Cristo (Cl 2.16-17).

Disse ainda:

NÃO É A COMIDA QUE NOS RECOMENDARÁ A DEUS, pois NADA PERDEREMOS, SE NÃO COMERMOS, E NADA GANHAREMOS, SE COMERMOS (1 Co 8.8).

Não há proveito espiritual na abstenção de comida. É isso que a Nova Aliança ensina. E se você ainda acha que isso não tem sentido, veja os princípios. Deus criou tudo puro, mas o homem manchou a criação com sua desobediência, tanto que depois dela Deus disse:

E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, MALDITA É A TERRA POR TUA CAUSA; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (Gn 3.17).

E assim a Bíblia fala a respeito de Cristo:

Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude E QUE, HAVENDO FEITO A PAZ PELO SANGUE DA SUA CRUZ, POR MEIO DELE, RECONCILIASSE CONSIGO MESMO TODAS AS COISAS, quer sobre a terra, quer nos céus (Cl 1.18-20).

Jesus não reconciliou com Deus apenas o homem, mas todas as coisas. Com estas palavras de Paulo a visão de Pedro torna-se mais esclarecedora:

Segunda vez, falou a voz do céu: AO QUE DEUS PURIFICOU NÃO CONSIDERES COMUM (At 11.9).

Para quem tem fé e para quem é sadio na fé, encontra na Bíblia argumentação suficiente para observar as alterações entre as fases da Aliança de Deus sem que isso lhe pese no coração e na consciência. A Bíblia nos adverte:

Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, IMITAI A FÉ QUE TIVERAM. JESUS CRISTO, ONTEM E HOJE, É O MESMO E O SERÁ PARA SEMPRE. NÃO VOS DEIXEIS ENVOLVER POR DOUTRINAS VÁRIAS E ESTRANHAS, porquanto O QUE VALE É ESTAR O CORAÇÃO CONFIRMADO COM GRAÇA E NÃO COM ALIMENTOS, pois nunca tiveram proveito os que com isto se preocuparam (Hb 13.7-9).

Se levarmos esta advertência do autor de Hebreus a sério em nossas vidas, completaremos nossa carreira fiel ao Senhor e à sã doutrina. Além do mais é muito sério as palavras finais de Apocalipse, que diz:

Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: SE ALGUÉM LHES FIZER QUALQUER ACRÉSCIMO, DEUS LHE ACRESCENTARÁ OS FLAGELOS ESCRITOS NESTE LIVRO; E, SE ALGUÉM TIRAR QUALQUER COISA DAS PALAVRAS DO LIVRO DESTA PROFECIA, DEUS TIRARÁ A SUA PARTE DA ÁRVORE DA VIDA, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro (Ap 22.18-19).

O fato de não nos abstermos de alimentos e de guardar o primeiro dia da semana não invalida a Aliança, nem nos condena e nem dos deixa fora dela. Encontramos no Novo Testamento argumentação suficiente que fundamenta esta doutrina. Também não significa que alteramos os termos da Aliança, pois isso se encaixa nos mesmos moldes do batismo que substituiu a circuncisão, contudo, não há na Bíblia um único texto que fundamente esta alteração, mas mesmos aqueles que guardam o sábado o pratica sem questionar.

CONCLUSÃO:

Por diversas vezes, as Escrituras frisam a existência ilimitada de Deus. Ao mesmo tempo, enfatizam que seus atributos são, também, eternos. Deus é o mesmo agora que era no passado e que era antes de criar o mundo. Ele sempre será o mesmo e as suas qualidades também, pois elas nunca mudam. Quando Davi pediu perdão a Deus, ele pediu baseado no eterno caráter de Deus:

Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas bondades, QUE SÃO DESDE A ETERNIDADE (Sl 25.6).

Deus é santo. Sempre foi e sempre será santo. Sua perfeita santidade não permite que Ele minta. Deus é amor. Sempre foi e sempre será amor. E por causa disso que Deus poupa ao seu povo da destruição merecida:

PORQUE EU, O SENHOR, NÃO MUDO; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos (Ml 3.6).

Homens são instáveis. Prometem uma coisa, mudam de ideia e não cumprem sua palavra. Mas quando o eterno Deus promete, Ele cumpre a sua palavra. A bondade de Deus para com os homens não tem limite, porque faz parte de quem Ele é. Tiago diz:

Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, EM QUEM NÃO PODE EXISTIR VARIAÇÃO OU SOMBRA DE MUDANÇA (Tg 1.17).

Deus é eterno, é imutável e a sua Aliança também é eterna, ela subsistiu a todas as gerações e independente de nossos conflitos doutrinários ela se sustentará pelos séculos dos séculos. Que Deus te abençoe a entender com clareza estas coisas. Amém!

Luiz Lobianco

luizlobianco@hotmail.com

Bibliografia:

Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.

Revista Palavra Viva: O Pacto da Graça. Editora Cultura Cristã.

 

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